Geórgia Santos

A conversão do homem feminista

Geórgia Santos
29 de janeiro de 2018

Existe algo que se chama lugar de fala, um conceito que acaba com a mediação condescendente. As pessoas passam a ser representantes legítimas da própria luta, como deve ser. No caso do feminismo, o lugar de fala é da mulher. Em um mundo oprimido e espremido pelo machismo, no entanto, é um alento o encontro com um homem feminista. É um alento escutar um homem defendendo o direito de uma mulher a existir com liberdade e dignidade sem associá-la à histeria. 

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O problema é tratar o homem feminista como herói e não como parceiro

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No mês passado, viralizou o vídeo em que o apresentador e humorista John Oliver confronta Dustin Hoffman. O ator foi acusado de ter assediado sexualmente uma estagiária de 17 anos durante as filmagens de A Morte do Caixeiro Viajante, de 1985, e respondeu dizendo que aquele comportamento não reflete “quem ele realmente é”. Ao que Oliver disse: “É um reflexo de quem você era.”

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HOFFMAN: Você acredita nessas coisas que você leu?

OLIVER: Eu acredito no que ela escreveu, sim.

HOFFMAN: Por que?

OLIVER: Porque ela não tem motivo para mentir.

HOFFMAN: Bom, há um motivo para ela não ter falado sobre isso por 40 anos.

OLIVER: Ohhhh, Dustin!

Nesse momento, Oliver esconde o rosto com as mãos

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O Washington Post publicou o vídeo e, em questão de horas, a internet quebrou. Pipocavam incansáveis as mensagens parabenizando Oliver pela coragem de não ignorar algo tão grave. Muitas pessoas passaram a tratar o humorista como um herói feminista. Mas tão rápido quanto sua elevação de status dentro do movimento foi a queda do mito. Quase que instantaneamente alguém lembrou que o britânico tem uma equipe de redatores predominantemente branca e masculina. Mais do que isso, há o caso de 2010, em que Irin Carmon escreveu uma crítica feminista ao The Daily Showdizendo que as mulheres que trabalhavam no programa consideravam o ambiente hostil. Na época, Oliver diminuiu a crítica reduzindo a reclamação das mulheres a boatos, o famoso “é a minha palavra contra a delas.”

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A situação de Oliver mostra, em um episódio, dois problemas fundamentais de quando tratamos de homens e feminismo na mesma sentença

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De um lado, há o impulso de tratar como heróis os homens que se posicionam ao lado das mulheres; de outro, há a necessidade de isolar homens que deslizaram no passado. Quando falo em deslizes, falo de posicionamentos impregnados pela cultura do macho, não de atos criminosos.

O tratamento do herói é equivocado porque homens feministas são nossos aliados, nossos parceiros. Se a luta é por direitos iguais, tudo o que não queremos é a figura do príncipe encantado ao resgate. Isso não significa que o comportamento não mereça atenção ou cumprimentos. Merece. Mas homens em pedestal já temos o suficiente. Por outro lado, diminuir a importância da atitude de Oliver porque ele foi tosco há sete anos é tiro no pé. Porque partimos do princípio que os homens não são capazes de evoluir e, se o fizerem, nós não vamos aceitar.

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Ora, se a ideia é que a sociedade se torne menos machista, como é possível que isso aconteça sem “homens convertidos”?

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Além do mais, nós precisamos de todas as vozes que pudermos ter. Voltando ao exemplo de John Oliver, se uma mulher tivesse tentado confrontar Dustin Hoffman sobre o mesmo assunto, teria sido chamada de esquerdopata, feminazi, grosseira, difícil, histérica. Seria falta de profissionalismo, seria vitimismo, seria deselegante, seria mimimi. É claro que ele foi moldado dentro de um sistema machista em que homens são privilegiados. Ele compartilha das falhas desse sistema e reproduz padrões desse sistema, como o fez em 2010. Mas esse sistema não vai ser vencido sem que alguns dos homens desse mesmo sistema se revoltem e se deixem transformar.

Dizer o óbvio não deveria ser um ato de coragem, e sim a norma Mas enquanto não acontece, fico feliz de termos alguém como John Oliver ao nosso lado. Nós precisamos de homens que estejam dispostos a romper a zona de conforto dos espaços masculinos, que ajam publicamente para acabar com o assédio e o machismo normalizados em nossa cultura.

Guia de Viagem

Não viajo sem – Sete itens indispensáveis em uma viagem

Geórgia Santos
27 de janeiro de 2018

Na rotina de quem viaja muito, há alguns itens indispensáveis na hora de fazer a mala. Pensando sobre eles, percebi que não se trata de uma lista imutável, pelo contrário. A experiência de uma viagem nos ensina muito, por isso frequentemente acrescento algum artigo que torna meus passeios bem mais fáceis. Não falo de documentação específica, vacinas e coisas do gênero, mas de amenidades.

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Estes são os sete itens indispensáveis em uma viagem 

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1. Travesseiro de pescoço

Era algo que eu subestimava, até me dar por vencida e comprar um. Melhor compra da vida. É muito mais fácil viajar quando a gente não acorda babando no ombro de um desconhecido. Se tu achares muito grande, olha o item 2;

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2. Casaquinho

Sabe aquela frase clássica da mãe? “Leva um casaquinho!” Então, no caso de uma viagem, é mais importante do que nunca. Você nunca sabe o ar condicionado que irá encontrar pela frente. E se tu não quiseres levar o travesseiro de pescoço, enrola o casaquinho e usa para apoiar a cabeça;

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3. Livro

Pelo menos um. Sempre há um momento em que se está em um aeroporto, sem fazer nada. Não há coisa melhor para passar do tempo do que ler. Se não for tua praia, pense em um passatempo que se adeque melhor. Música, revista etc;

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4. Algo para comer

Pode ser uma maçã, uma barrinha, uma bolachinha. Porque você pode não conseguir comer a comida do avião, ou do aeroporto. Enfim, é sempre bom ter algo por perto;

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5. Lenço umedecido

Porque mulheres não podem simplesmente sacudir, não é mesmo? É sempre bom ter um lenço umedecido por perto. Papel já resolve, mas o lenço umedecido é bom para limpar as mãos e o rosto, também. Especialmente em viagens longas;

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6. Adaptador de tomada

Eu não sei qual o acordo do inferno realizado por todos os países do mundo, mas cada um usa uma tomada diferente do outro. Sério. É ridículo. Então, se tu não quiseres ficar sem bateria no rico do celular, leve um adaptador.

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7. Celular 

Obviamente levo o celular para poder manter contato e para emergências. Mas não nos enganemos, o celular é muito mais usado para qualquer outra coisa além de um telefonema. O lance é que, atualmente, o celular substitui a câmera fotográfica para amadores, o mapa e o guia turístico. Com o GPS, não precisa mais carregar o mapinha embaixo do braço (embora, na minha opinião, ajude). Sem contar na infinidade de aplicativos que fazem as vezes do guia em papel (que eu também ainda adoro).

 

Ah, se a viagem for internacional, não esquece o passaporte =)

Foto: Pixabay

Tão série

Mindhunter – Para rever alguns conceitos

Geórgia Santos
27 de janeiro de 2018
MINDHUNTER

Na penitenciária de Vacaville, na Califórnia, Edmund Kemper  descreve como matou suas vítimas enquanto, amigavelmente, aperta a jugular de um agente do FBI. Concentrando os 140kg no indicador esquerdo, ele explica, sem alterar a voz, como sequestrou, matou e estuprou adolescentes. Sim, nesta ordem. Do alto de dois metros de altura, ainda conta como matou, decapitou e violentou a própria mãe. Sim, nesta ordem.

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Esta cena, retratada na imagem de capa, é a tônica de Mindhunter, a grata surpresa do ano passado e, na minha modesta opinião, uma das melhores séries de 2017. Confesso que, dentre tantos títulos do catálogo da Netflix, escolhi somente por causa da minha estranha obsessão com serial killers. Ou melhor, com suas histórias. Foi uma opção despretensiosa, mas que valeu a pena.

Nos anos 70, agente Holden Ford (Jonathan Groff), do FBI, se dedica a traçar um perfil psicológico para o então novo fenômeno dos assassinatos em série. A ideia é desenvolver um método que os ajude a compreender porquê a morte quando não há “motivo”. Para isso, eles passam a entrevistar assassinos já julgados e condenados a prisão perpétua ou ao corredor da morte. São todos personagens reais como o aterrorizante, estranho e simpático – sim, ele é – Ed Kemper (Cameron Britton).

A série foi criada por David Fincher  e é baseada em fatos reais. O roteiro foi adaptados do livro “Mindhunter: O primeiro caçador de serial killers americano”, de John Edward Douglas e Mark Olshaker. Douglas atuou como analista do FBI por 25 anos e foi pioneiro na elaboração de perfis psicológicos, tanto que o termo serial killer sequer existia. Apesar do realismo, Fincher não foge de uma boa dose de licença poética e suspense. São dez episódios de cerca de 40 minutos cada. Apesar da longa duração de cada capítulo, os ganchos típicos dos suspenses psicológicos prendem o espectador no sofá, com os olhos vidrados no espelho negro.

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O mais interessante, porém, é que não é uma série policial comum. Ao ponto de fazer com a gente reavalie todo um sistema interno de julgamento

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A produção da Netflix faz com que a gente abandone uma pré-concepção de que todo o crime é vazio, por maldade intrínseca. Não que não exista, mas a série é um exemplo concreto de que uma mente destruída por negligência e violência vai repetir os padrões que internalizou como normais. Afinal, não é produto de ficção. Não se engane, não é uma versão elaborada de Criminal Minds. Esqueça as grandes perseguições e os atos heróicos de Morgan e Hotchner. Mindhunter é um thriller sufocante e angustiante que nos faz questionar a própria existência e destino. Felizmente, a segunda temporada foi confirmada para 2018.

https://www.youtube.com/watch?v=7gZCfRD_zWE

ECOO

Por que é tão difícil aceitar que o aquecimento global existe?

Geórgia Santos
14 de janeiro de 2018

Eu faço essa pergunta com frequência. O planeta está entrando em colapso em função do nosso estilo de vida e, mesmo assim, há quem prefira acreditar que está tudo bem. Acham que é questão de opinião, de ideologia. Entre eles está o presidente dos Estados Unidos, o que torna a mudança ainda mais difícil. Em meio a onda de frio extremo que atinge o leste dos Estados Unidos, Donald Trump tuíta o seguinte:

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“No Leste, pode ser o Ano Novo mais FRIO de que se tem registro. Talvez a gente pudesse usar um pouco daquele bom e velho Aquecimento Global pelo qual o nosso país, mas não outros países, ia pagar TRILHÕES DE DÓLARES para se proteger”

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Mas aquecimento global não é questão de opinião, de ideologia ou conspiração dos chineses. É um fato científico. CIENTIFICAMENTE COMPROVADO. Porque acreditamos que cigarro faz mal para a saúde mas não acreditamos no aquecimento global? Como disse o astrofísico Neil Degrasse Tyson em 10 de agosto do ano passado:

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“Estranho. Ninguém está negando o eclipse solar do dia 21 de agosto nos EUA. Assim como o aquecimento global, métodos e ferramentas científicos previram o acontecimento”

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Mas afinal, por que é tão difícil acreditar que aquecimento global existe? O lance é que as mudanças climáticas são causadas, em grande parte, por indústrias milionárias que não pretendem deixar de ganhar dinheiro. E aí vamos desde a indústria do petróleo, combustíveis fósseis, até a agropecuária. Sim, aquele bifinho e aquela soja estão nessa lista. Ou seja, as grandes potências econômicas não tem interesse em mudar a configuração social que se estabelece há décadas. Todo o estilo de vida propiciado pela revolução industrial causou algum tipo de impacto no meio ambiente. Isso significa que o famoso “progresso” ocorreu às custas do planeta. E se o “progresso” é o grande responsável pelo aquecimento global, é melhor que o aquecimento global não exista.

Volto a dizer, não é questão de opinião. Em 2013, uma pesquisa reuniu 4mil artigos acadêmicos publicados ao longo de duas décadas e chegou à conclusão que 97% da literatura científica concorda com a premissa de que os humanos estão causando as mudanças climáticas conhecidas como aquecimento global. Por mais que a gente goste de dirigir e comer hambúrguer, negar que o aquecimento global existe é um retrocesso que não podemos bancar, por mais que a ignorância e a ganância de alguns tentem nos fazer acreditar.

ECOO

Faça você mesmo (DIY) – Barra hidratante natural

Geórgia Santos
8 de outubro de 2017

Eu nunca gostei de passar hidratante no corpo, por vários motivos. Acho uma mão (sim, me julguem), detesto a sensação de ficar melecada depois, demora pra absorver, não fico com a sensação de pele macia, é ruim pra vestir a roupa logo em seguida e sinto que perco um tempão. Não gosto mesmo. Simples assim. Por isso, nunca foi um hábito. Eu me decidia a começar a usar e minha determinação durava uns dois dias, no máximo. E quando descobri todas as tranqueiras que colocam nos cremes, aí sim minha antipatia só aumentou.

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Isso mudou quando eu conheci as barras hidratantes naturais

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Comprei uma barra de massagem da LUSH. A Percup é feita com manteiga de cacau e grãos de café. Natural (depois percebi que tinha fragrância artificial), cheirosa, uma delícia. Mas ainda tinha o problema da textura, ainda me sentia melecada depois de passar e, sim, continuava sendo uma mão. Até que resolvi testar outro produto da mesma marca, o Scrubee. É um hidratante e esfoliante para passar no final do banho.

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É só passar a barra em todo o corpo da mesma forma que um sabonete. Quando terminar, enxágua o excesso e seca o corpo com uma toalha, normalmente

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É perfeito. Porque se eu não tenho paciência para passar o creme, não gosto de ficar grudenta, acho difícil vestir a roupa depois de passar hidratante e perco um tempão, isso não acontece com a barrinha.

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É como passar sabonete duas vezes. Simples, fácil e a pele fica cheirosa e macia

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Eu percebi essa facilidade com o Scrubee, mas a verdade é que essa rotina pode ser aplicada a qualquer barra hidratante. Todas podem ser usadas durante o banho. E se é assim, porque não cortar o intermediário e produzir a própria barrinha em casa? Além de garantir a qualidade dos ingredientes, é BEM mais barato.

No site Um Ano sem Lixo, a Cristal Muniz ensina a fazer uma barra de massagem hidratante em casa. Eu adaptei um pouco a receita para as minhas necessidades – e você pode fazer isso também de acordo com o tipo de pele.

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Receita base

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1 parte de manteiga de cacau

1 parte de cera de abelha

1 parte de óleo vegetal (isso só é necessário se a pele for muito seca. Pode ser coco, amêndoas, semente de uva etc)

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Derreta todos os ingredientes e coloque em formas de silicone. Assim que a mistura endurecer, está pronta para uso.

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Além desses ingredientes, é possível acrescentar óleos essenciais de acordo com a necessidade do corpo ou ainda determinados grãos para ajudar na esfoliação (antes de derreter). Abaixo, alguns exemplos dos ingredientes e suas funcionalidades:

Combate à celulite – acrescente grãos de café e algumas gotas de óleo de laranja, que age como descongestionante linfático;

Problemas de pele – acrescente algumas gotas de óleo de camomila ou até mesmo a flor seca, que ajudará a esfoliar a pele de maneira delicada. A camomila é aconselhada para tratar acne, eczema, feridas, pele seca, dermatites e até reações alérgicas;

Combate à insônia – acrescente algumas gotas de óleo essencial de lavanda e algumas flores para um sono mais tranquilo. A lavanda reduz a hiperatividade e ainda age como um ótimo cicatrizante;

Má circulação – acrescente algumas gotas de óleo de alecrim e algumas folhas da erva. O alecrim estimula a circulação e ajuda a combater varizes e dores musculares;

E se a intenção é só acrescentar um aroma aconchegante, ótimo. Abuse do oleo e pétalas de rosas, canela, caramelo, enfim, seja criativa.

Afinal de contas, se a manteiga de cacau sempre salvou nossos lábios durante o pior dos invernos, porque não pode ajudar a hidratar o restante do corpo? E além de ser natural, não produz lixo =)

ECOO

Horário de verão é assunto sério

Geórgia Santos
24 de setembro de 2017

Todo mundo tem opinião sobre o horário de verão e não há unanimidade. Enquanto eu, particularmente, adoro o fato de que o dia fica maior e dá pra tomar um chopinho na calçadas às 21h, há quem considere uma desvantagem. E agora, com a intenção de acabar com o horário de verão, o governo federal reacende esse debate.

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A justificativa é que a adoção do horário de verão para economia de energia, não se justifica mais

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O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino, disse que “a avaliação é que, sob a perspectiva do setor elétrico, o horário de verão não se justifica”. Isso porque, segundo dados do governo, a economia gerada com a aplicação do horário de verão diminuiu nos últimos quatro anos. Entre 2013 e 2016, caiu de R$405 milhões para R$159,9 milhões.

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Confesso que não compreendo essa justificativa. Mesmo que a economia tenha diminuído, ela ainda existe, certo?

Por que alguém não ia querer economizar R$ 159 milhões?

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No Brasil, o horário de verão é aplicado nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, além do Distrito Federal (Brasília). De acordo com os dados divulgados pelo Ministério de Minas e Energia nos últimos quatro anos, o Brasil economizou cerca de R$1,4 bilhão. A adoção do horário de verão gerou uma economia de R$853 milhões para os consumidores. Tanto que especialistas recomendam a manutenção da extensão do dia.

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Mas a discussão está centrada em uma abordagem equivocada

Testemunhei jornalistas bradando em suas TLs sobre achar o horário de verão ótimo ou desagradável e, lamento, mas considero essa abordagem extremamente leviana. Até agora, as justificativas que apresentei se sustentam na questão financeira. Obviamente é um fator importante, mas não podemos nos esquecer que economia na geração de energia é, antes de mais nada, uma redução no impacto ambiental. Em tempos de negação da ciência e do aquecimento global, é preciso levar em conta este aspecto do horário do verão, que é uma medida adotada pela maioria dos países ocidentais, com resultados efetivos e eficazes.

Por outro lado, há cientistas que acreditam que o horário de verão contribui para o aquecimento global, e não o contrário, uma vez que o ar-condicionado permaneceria ligado por mais tempo. O problema com essa afirmação é que ela é derrubada pela redução do consumo de energia, afinal, ar-condicionado depende da mesma eletricidade que a lâmpada.

Pode não parecer, mas horário de verão é assunto sério e precisa tratado como tal, com seus prós e contras devidamente pesados. Por isso formulamos uma lista de benefícios e malefícios (formulada a partir de uma pesquisa com múltiplas opiniões), para que você possa tomar uma decisão informada caso o governo resolva consultar a população. Não pensa no choppinho no final da tarde, não pensa no dia que não termina nunca. Pensa no planeta.

BENEFÍCIOS

  • Economia de energia
  • Redução de impacto ambiental (com a economia de energia elétrica)
  • Redução no número de acidentes nos horários de pico
  • Redução no número de assaltos

MALEFÍCIOS

 

Foto: Pixabay

Geórgia Santos

A pouca-vergonha dos postais que eu trouxe da Europa

Geórgia Santos
18 de setembro de 2017

Esse episódio do fechamento da exposição Queermuseu (sim, ainda vou falar disso), me fez pensar em um hábito de viagem que tenho. Eu não coleciono postais, mas sempre que visito um museu e deparo com uma obra da qual gosto muito, faço questão de comprar um postal desse quadro ou miniatura de uma determinada escultura. Diferente de outros souvenirs que faço questão de expor em um totem na sala do meu apartamento, os postais ficam guardados.

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Eles representam um momento íntimo, em que uma obra de arte me tocou profundamente

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Os motivos variam. Em Amsterdam, foras as cores de Van Gogh que me impressionaram – com o perdão do trocadilho impressionista. Em Florença, fiquei hipnotizada com o realismo de David, de Michelangelo, governando o espaço interno da Galleria dell´Accademia. Também me tocou a beleza crua da Vênus de Botticelli, exposta na galeria Uffizi. Na minha diminuta coleção de postais também está um fragmento da Capela Sistina que me atraiu pelas cores já que, confesso, não fiquei tão impressionada com o conjunto. Me julguem, acho que tem a ver com o fato de ficar olhando para cima.

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E nessa jornada, há dois postais particularmente interessantes. Que, certamente, devem considerados DEGENERADOS por quem foi favorável ao fechamento da exposição

Isso se há lógica nesse ato tão tosco

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O primeiro eu encontrei em Paris, em janeiro de 2007. Fazia minha primeira viagem a Europa e o fazia sozinha. Fui ao Louvre, é claro, que impressiona só pela existência, mas foi no Musée D´Orsay que encontrei algo que fez com que eu ficasse muito tempo olhando para o mesmo quadro. A obra em questão era A Origem do Mundo, do pintor realista Gustave Courbet, pintada em 1866. O que me chamou a atenção não foi o traço, somente, mas sua combinação com o nome. O desenho e o nome criavam uma relação de cumplicidade em que o nu feminino em sua forma mais crua era a origem de tudo. Nada mais puro.

Curioso é que, segundo a Wikipédia, é o segundo postal mais vendido no museu. Atrás somente do Le Moulin de la Galette, de Renoir – do qual comprei um quebra-cabeça, inclusive.

O segundo a que me refiro encontrei em Madri, na Espanha, em 2011. Quando visitava o Museu do Prado e já estava relativamente entediada, dei de cara com O Jardim das Delícias Terrenas, um tríptico de Hieronymus Bosch. Na tela, ele também descreve a criação do Mundo, mas com uma perspectiva bastante diferente. Apresenta o paraíso terrestre e o Inferno nas laterais e, ao centro, celebra os prazeres da carne. O que vemos é uma orgia quase lúdica com cores vibrantes em que assistimos aos participantes desinibidos e sem culpa. São símbolos e atividades sexuais retratados sem julgamento de valor. Uma representação. Entre o bem e o mal, há o pecado. Esse quadro foi pintado em 1504.

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Quase tenho vontade de rir quando penso no retrocesso a que estamos testemunhando, de tão esdrúxulo

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A representação das artes plásticas chocam as mentes fechadas e hipócritas. “Nudez não é arte”, dizia um. “Pouca vergonha”, escrevia o outro. Me disseram inclusive que Michelangelo e Caravaggio não precisavam provocar ninguém. “Se tu é pervertida, o problema é teu, apologia à zoofilia não é arte”, disse alguém em algum momento daquele triste final de semana. Não precisamos todos gostar ou apreciar, isso não torna menos arte. Conseguimos perder, enfim, a capacidade de abstração.

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Assim estamos, perdidos em algum tempo da história

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A propósito, O Jardim das Delícias Terrenas também é um dos mais populares do museu. Também comprei um quebra-cabeça.

Geórgia Santos

Nada de leite mau para os caretas (um ensaio sobre intolerância)

Geórgia Santos
4 de setembro de 2017

Meu amado marido me deu um disco da Gal. O Profana tem na primeira faixa uma das minhas músicas favoritas de todos os tempos: Vaca Profana, de Caetano Veloso. Ouvi a canção. Ouvi de novo. E de novo e de novo. Eu amo tudo a respeito desse som e do que ele diz. Comecei a pensar no porquê quando a letra respondeu à minha pergunta. Sim.

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Respeito muito minhas lágrimas

Mas ainda mais minha risada

Inscrevo, assim, minhas palavras

Na voz de uma mulher sagrada

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Sim. É isso. Mas vai além. Eu gosto do tom de berro e desabafo tão atuais. Em tempos de ódio e intolerância, é difícil ser amoroso e tolerante, eu confesso. E essa canção me dá a licença poética que eu preciso.

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Dona das divinas tetas

Derrama o leite bom na minha cara

E o leite mau na cara dos caretas

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Sim. Derrama o leite mau na cara dos caretas. Conforme vou ouvindo a música que consegue ser baiana e global ao mesmo tempo, mais eu cedo ao caminho fácil da intolerância. A canção vai me abrindo as portas da intransigência e eu não quero ser legal com os caretas. Quero que eles provem do próprio veneno.

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Vaca de divinas tetas

La leche buena toda en mi garganta

La mala leche para los “puretas”

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Sim. Quero que eles provem do leite mau. Mas será que quero, mesmo? Será que intolerância combate intolerância? Tenho a impressão que só funciona na matemática essa história de que “negativo” com “negativo” dá “positivo”. Conforme a música vai evoluindo, Gal canta sem ressentimentos e vai acalmando minha sanha.

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Caretas de Paris e New York

Sem mágoas, estamos aí

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Sim. Caretas de Sampa e Porto Alegre, sem mágoas, estamos aí. Tá, talvez não tão sem mágoas assim, mas acho que não vou desistir de me livrar delas. Não desistirei de me livrar das mágoas nem da intolerância. E conforme a agulha vai correndo o vinil, mais me convenço de que precisamos de muito amor e paciência pra resistir a essa batalha barulhenta.

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Dona das divinas tetas

Quero teu leite todo em minha alma

Nada de leite mau para os caretas

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No final das contas, nós, não caretas, também somos cheios de falhas e inconsistências. Temos nossos vícios e cometemos nossas injustiças. Ainda não aprendemos a tolerar o diferente, mesmo que nos cubramos de razão em nome do bom senso e, vejam só, da tolerância. Também sabemos ser hipócritas. Também nos deixamos cegar. A gente também sabe ser careta.

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De perto, ninguém é normal

Às vezes, segue em linha reta

A vida, que é “meu bem, meu mal”

Deusa de assombrosas tetas

Gotas de leite bom na minha cara

Chuva do mesmo bom sobre os caretas

 

Geórgia Santos

Sobre bunda e política

Geórgia Santos
31 de julho de 2017

 

Vivo nos Estados Unidos há alguns meses por conta de uma pesquisa de doutorado na área da Ciência Política. Isso fez com que, naturalmente, eu passasse a conhecer movimentos que não nos são familiares no Brasil. Alguns interessantes, outros menos; alguns produtivos, outros desprezíveis. Faz parte. Um deles é o Alt-Right, conhecido como uma espécie de direita alternativa e que ficou “famoso” no mundo ao endossar a candidatura de Donald Trump com fervor.

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De maneira superficial, pode-se dizer que na base do seu pensamento está o nacionalismo e a supremacia branca, ou europeia como gostam de denominar com eufemismo desavergonhado. Eles defendem o nacionalismo branco

Uau! – só que não

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Fiquei intrigada e decidi pesquisar mais sobre qual é a desses caras. A verdade é que apesar do nome “moderninho” e do trocadilho batido com a tecla “alt”, esse povo representa o que há de mais antigo e retrógado do mundo. São basicamente racistas e preconceituosos, são homofóbicos, islamofóbicos, TUDOfóbicos. Com frequência, seus interesses se misturam aos do neonazismo. Delícia.

Richard Spencer é considerado um dos líderes da Alt-Right. O comediante W. Kamau Bell conversou com ele no programa United Shades of America (algo como “Tons Unidos da América”, tons se referindo aos diferentes tons de pele) e foi absolutamente brilhante. A conversa é bastante esclarecedora para quem não está familiarizado com o movimento.

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Mas afinal de contas o que tudo isso tem a ver com bunda,

dona Geórgia?

Perdão por este nariz de cera, como chamamos no jornalismo. Mas é importante para dar contexto. Acontece que durante minhas pesquisas sobre esses caras, encontrei um texto em que um ser humano falava que os Estados Unidos estavam dando um testemunho de mediocridade a partir do momento em que os americanos estavam deixando os SEIOS de lado e preferindo as BUNDAS. Sim, é isso mesmo.

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Ele dizia que POR CULPA DA ESQUERDA, o país estava ficando cheio de imigrantes latinos e de negros, e que isso estava fazendo com que os homens passassem a gostar mais de BUNDAS do que de SEIOS e que isso era sinal de decadência.

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Vocês acreditam nisso? Eu não vou colar o link aqui porque me recuso a dar mais audiência para um imbecil desses. Mas o argumento dele se organiza em torno do fato de que homens ricos, sofisticados e DE BERÇO preferem os seios das mulheres. E homens pobres e sem modos preferem a bunda, porque são primitivos e era como as mulheres atraíam os homens quando ainda não éramos Homo Sapiens Sapiens. Logo, se a preferência nacional se tornar a bunda, será um testemunho de decadência.

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Agora me diz se pode um negócio desses?

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Eu juro que comecei a rir. Aquilo era tão absurdo, tão vulgar, tão grotesco e tão pequeno que simplesmente não valia a pena. Isso que nem mencionei o quanto isso é agressivo com as mulheres, né. Mas pensei que era só um maluco berrando sozinho na internet e pronto.

Qual não é minha surpresa quando vejo um JORNALISTA da REDE GLOBO DE TELEVISÃO, conceituadíssimo (por muitos, não por mim), escrevendo isso:

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Então cá estamos, lendo que os americanos são mais evoluídos porque gostam de seios e os brasileiros merecem as merdas que acontecem com eles porque gostam de bunda

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Isso foi escrito por um jornalista do mainstream, fora do submundo dos Alt-Right na internet – e curtido por MILHARES DE PESSOAS;

Isso foi escrito pelo mesmo cara que acha que o aquecimento global é uma farsa porque faz frio no sul do Brasil;

Isso foi escrito pelo mesmo cara que acha que precisamos revisar a idade penal;

Isso foi escrito pelo mesmo cara que ficou chocado com os “maus modos” das senadoras que protestavam contra a reforma trabalhista;

Isso foi escrito pelo mesmo cara que diz que Direitos Humanos é pra defender bandido;

Isso foi escrito pelo mesmo cara que debochou DO LATIM do relator da denúncia contra Temer – e cometeu um erro ao fazê-lo;

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Isso foi escrito por um comentarista político e econômico da Rede Globo, âncora de telejornais da Globo News e que é seguido por mais de 250mil pessoas

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Então cá estamos, lendo que os problemas políticos e sociais que os brasileiros enfrentam todos os dias é culpa da bunda. E isso, claro, é culpa da esquerda. Agora me digam se não tá tudo errado nesse mundo. Ou com esse cara, pelo menos.

Foto: Pixabay

ECOO

Cinco passos para uma vida mais sustentável

Geórgia Santos
30 de julho de 2017

Há poucos dias eu conversava com meus pais sobre o problema do aquecimento global. Mais especificamente, discutíamos o fato de o iceberg gigante ter se desprendido de plataforma de gelo na Antártica. Conforma a conversa evoluiu, começamos a conversar sobre os efeitos do nosso estilo de vida. Um artigo da revista New York fala que algumas partes da terra estarão inabitáveis já nos próximos 100 anos. Mesmo os cientistas que discordam do alarmismo e questionam alguns dados ressaltam que a situação é grave. Eles afirmam, porém, que é reversível.

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Papo vai, papo vem, minha mãe perguntou: o que eu posso fazer ?

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A dúvida que ela tem é a mesma de milhares de pessoas. E assim como a dona Tude, essas milhares de pessoas acreditam que levar uma vida mais sustentável é difícil e caro. Mas é mais simples do que se imagina. Mais do que isso, é totalmente possível. Por isso nós preparamos algumas dicas para quem não sabe por onde começar.

 

Cinco passos para começar a levar uma vida sustentável

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  1. 1. Economize energia

Essa era meio óbvia, né? Nem por isso a gente se preocupa o suficiente. E eu sou a primeira a assumir a culpa por deixar todas as luzes da casa ligadas – ou pelo menos deixava, no passado.

Começa por aí, apagando as luzes; desligando aparelhos que não estão em uso; tirando os carregadores da tomada; tomando banhos mais curtos; secando a roupa no varal; lavando a roupa e a louça à mão sempre que possível. Também evite usar o ar condicionado o tempo inteiro e escolha lâmpadas que consumam menos energia.

Se quiser dar um passo adiante, comece a utilizar fontes de energia renovável, como a solar – tem até c. Essas medidas não só ajudam o meio ambiente, mas reduzem – e muito – a conta de luz no final do mês. Ser sustentável economiza até grana. E nunca é demais lembrar que vivemos uma grave crise de energia. Quem não lembra dos apagões?

  1. 2. Economize água

Há estimativas de que 50% da água consumida em uma casa seja desperdiçada. E olha, eu lembro de fazer uma apresentação no colégio cantando aquela música horrível do Guilherme Arantes, Planeta Água, para chamar atenção para o desperdício. Isso há mil anos. Será que a gente não evoluiu nem um pouquinho?

Vamos lá, precisamos tomar banhos mais curtos (estou melhorando esse item); fechar a torneira enquanto escovamos os dentes; enquanto lavamos a louça; consertando vazamentos. Sem contar que já passou a era em que era necessário lavar calçada, né? Água da chuva tá aí pra essas e outras coisas.

As nossas fontes de água potável estão se esgotando e precisamos ser responsáveis quanto a isso. A quem acha que não passa de alarmismo, lembro que o nordeste brasileiro enfrentou, em 2017, a pior seca em 100 anos. Agora mesmo, fazendeiros do sul da europa enfrentam a pior estiagem em décadas. O estado da California, nos Estados Unidos, de onde escrevo neste momento, enfrentou os piores anos de seca de sua história. Estudos atestam que foi a pior estiagem em 1200 anos. É isso mesmo, eu não escrevi errado, em MIL E DUZENTOS ANOS.

Abaixo, o vídeo do National Geographic explica: menos de 3% da água do planeta é potável; apenas 0,3% está disponível para consumo humano; e isso é tudo o que temos. E deu. 

 

  1. 3. Abandone o carro

Ande a pé ou de bicicleta sempre que possível. Além de ser saudável, é outra maneira de ser gentil com o ambiente. Se usar o carro for imperativo, opte por um modelo mais econômico, de preferencia elétrico. Parece um contrassenso, mas há maneiras de abastecer o carro em plugues alimentados por energia solar. Sem contar que é BEM mais barato que gasolina.

 

  1. 4. Evite o plástico

Esse não é simples, há plástico por tudo e em tudo. Mas também não é impossível, é só mudar alguns hábitos. Troque as mil sacolas de plástico por uma de tecido; use uma garrafa reutilizável em vez de garrafa plástica; tenha uma caneca no trabalho, além de talheres de metal; evite pedir teleentrega; coloque as frutas e verduras da feira em saquinhos de tecido; use gilete reutilizável; prefira alimentos naturais e evite os industrializados e processados.

Enfim, evite o plástico sempre que possível. Prefira as alternativas produzias em materiais naturais e biodegradáveis. Esse pequeno documentário divulgado pela ONU Brasil ajuda a compreender o problema. 

 

  1. 5. Adote uma rotina de higiene natural

Essa passa por evitar os químicos, e também é uma alternativa saudável. Opte sempre por produtos naturais, desde sabonetes; desodorantes; maquiagem; xampu e condicionador; pasta de dentes; hidratantes para o rosto e corpo e por aí vai.

 

E aí, tá afim de experimentar uma vida mais verde? Vale a pena. Ah, e não esquece de separar o lixo 😉

 

Foto: Pixabay