Do seu gênero

Oscar 2019 . “todos homens”

Évelin Argenta
23 de janeiro de 2019

Que a desigualdade de gênero está presente na política, na economia e no mercado de trabalho, você já está cansada de saber. Mas já parou para pensar como ela se manifesta nas artes? Na mais popular delas, o cinema, as mulheres ainda estão longe de conquistar um espaço igualitário em cargos de direção, por exemplo. No Oscar 2019, que teve os seus indicados revelados para todo o mundo nesta terça-feira (22), NENHUMA mulher foi indicada à estatueta de melhor direção.

E o roteiro não é novo. Nos 91 anos de existência da premiação, apenas CINCO mulheres foram indicadas ao prêmio. Apenas UMA ganhou. Quer mais? Das cinco diretoras indicadas, nenhuma é negra ou latino-americana. Só queria deixar registrado aqui que o nosso amigo word sublinhou a palavra DIRETORAS por considerar pouco usual.

Em 2018, na entrega do Globo de Ouro, ainda na esteira das manifestações do movimento #MeToo, a fala da atriz Natalie Portman ao anunciar os indicados a melhor diretor deixou bastante claro o que acontece na indústria do cinema. Natalie frisou que os indicados eram “todos homens”. A frase causou desconforto na plateia e acendeu a esperança de que ta   vez o reconhecimento ao trabalho das mulheres pudesse ter vez no Oscar daquele ano ou, quem sabe, no ano seguinte (mais conhecido como agora).

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Pois não foi o que aconteceu
Em 2019, assim como em 2009 (#10yearchallenge) temos novamente um total de ZERO diretoras indicadas

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O cenário é bastante cinzento para as mulheres na indústria cinematográfica. É o que mostra um estudo da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos. A pesquisa analisou uma base de dados de 1.100 filmes populares produzidos de 2007 a 2017. Dos 1.223 diretores envolvidos nesses projetos, apenas 4% são mulheres. São 43 diretoras em mais de MIL produções.

Nesse período, a maior porcentagem de diretoras mulheres foi registrada em 2008 (8%) e a menor em 2013 e 2014 (1,9%). A pesquisa descobriu que a situação é ainda mais grave em relação à continuidade de oportunidades para as diretoras. A maioria delas trabalha em apenas um filme: 84%. Entre os homens, esse número é muito menor: 55%.

Um das autoras da pesquisa, Katherine Pieper, escreveu: “Se você está tentando ter uma família ou trilhar um caminho em Hollywood, ter uma oportunidade a cada década não vai adiantar”. Katherine foi uma das cinco autoras da pesquisa Desigualdade em 1100 filmes populares: Examinando Retratos de Gênero, Raça / Etnia, LGBT e Deficiência de 2007 a 2017, publicada em julho do ano passado. O trabalho completo você pode acessar aí em cima, mas destacamos alguns pontos:

  • Nos 100 maiores filmes de 2017, há 4.554 personagens com fala. Só 31% eram mulheres. A proporção na tela é: 2,15 homens para cada mulher;
  • Apenas 4, dos 100 filmes mais populares de 2017, foram dirigidos por uma mulher não-branca;
  • Apenas cinco dos 100 filmes mais populares de 2017 tinham mulheres com 45 anos ou mais entre os protagonistas. Quando falamos de homens, esse número salta para 30;
  • Somente UM dos 100 filmes mais populares de 2017 tinha uma mulher negra com mais de 45 anos ocupando um papel de protagonista;
  • Nos filmes de ação/aventura menos de um quarto (24,5%) de todos os papéis com fala foram preenchidos por mulheres;
    Apenas 30,7% de todos os personagens de filmes de animação foram compostos por mulheres/meninas em 2017;
  • Comédia foi o gênero mais amigável para as mulheres em 2017. Naquele ano, 42,9% de todos os papéis foram preenchidos por alguém do gênero feminino;

Esses números se refletem em toda a indústria do cinema, de acordo com pesquisa feita pelo Centro de Estudos sobre a “Mulher na Televisão e no Cinema”, da Universidade de San Diego, também nos Estados Unidos. Em 2016, as mulheres representaram apenas 17% de todos os diretores, roteiristas, produtores, editores e cineastas nos 250 filmes americanos de maior sucesso.

O artigo, chamado “Novo estudo revela menos mulheres trabalhando nos bastidores de Hollywood” foi publicado em janeiro de 2017 e pode ser acessado na íntegra aí em cima. Aliás, o Centro de Estudos sobre Mulher na Televisão e no Cinema de San Diego tem estatísticas bem legais e recentes sobre a presença feminina na mídia. Fica a dica!

Para não falarmos somente de números e de estatísticas negativas, trago pra vocês um pouco mais da história das únicas mulheres que foram indicadas ao Oscar de melhor direção em NOVENTA E UM ANOS de premiação. E você querida leitora/leitor poderia justificar toda essa minha trabalheira e ver hoje um filme dirigido por uma mulher. Que tal?

Lina Wertmüller, por Pasqualino Sete Belezas (1975)
Quarenta e oito edições do Oscar se passaram até que a primeira mulher fosse indicada ao prêmio de direção, em 1977. Coube à diretora italiana Lina Wertmüller entrar para a história da premiação com seu Pasqualino Sete Belezas, que mistura drama e humor para contar a história de um desertor italiano que é capturado por soldados alemães durante a Segunda Guerra (1939-1945). O vencedor daquele ano foi John G. Avildsen, por Rocky: Um Lutador. Lina nunca mais foi indicada. E olha que ela dirigiu outros cinco filmes depois desse.

Jane Campion, por O Piano (1993)
Mais 17 anos se passaram até que outra mulher Mesmo depois de Wertmüller quebrar o tabu, ainda se passaram 17 anos até que uma segunda mulher fosse indicada ao Oscar de direção. No caso, a neozelandesa Jane Campion, que disputou em 1994 com O Piano, a história de uma mulher muda que nos anos 1850 é enviada à Nova Zelândia para um casamento arranjado. Campion não ganhou o troféu de direção, que ficou para Steven Spielberg, por A Lista de Schindler. Jane Campion dirigiu outros cinco filmes depois, mas nunca mais foi indicada à premiação.

Sofia Coppola, por Encontros e Desencontros (2003)
Dez anos depois de Campion, em 2004, a americana Sofia Coppola tornou-se a terceira mulher a concorrer ao Oscar de direção. Ela foi indicada por seu segundo longa-metragem, Encontros e Desencontros, estrelado por Bill Murray e Scarlett Johansson. No filme, dois americanos solitários e entediados – um homem de meia-idade e uma jovem mulher – veem seus caminhos se cruzarem durante uma viagem a Tóquio. Coppola não ganhou o Oscar de direção, que ficou para Peter Jackson, por O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei.

Kathryn Bigelow, por Guerra ao Terror (2008)
Foi apenas em 2010, na 82ª edição do Oscar, que o prêmio de direção finalmente foi entregue a uma mulher.Kathryn Bigelow fez história com Guerra ao Terror, que tornou-se O PRIMEIRO E ÚNICO longa-metragem dirigido por mulher a ganhar a estatueta de melhor filme. Guerra ao Terror acompanha três soldados americanos que têm a missão de desarmar bombas durante a Guerra do Iraque. Na categoria de direção, Bigelow, que é americana e tem 66 anos, concorreu com James Cameron, por Avatar; Lee Daniels, por Preciosa; Jason Reitman, por Amor Sem Escalas; e Quentin Tarantino, por Bastardos Inglórios.

Greta Gerwig, por Lady Bird: A Hora de Voar (2017)
Não demorou muito para ficar claro que a igualdade de gênero no cinema ainda está longe de ser alcançada. Depois da festa de Kathryn Bigelow, uma nova mulher só foi indicada ao Oscar oito anos depois. A americana Greta Gerwig concorreu com Lady Bird: A Hora de Voar. O filme narra um ano na vida de uma adolescente que, como a própria diretora, cresceu em Sacramento, na Califórnia. O troféu ficou com Guillermo del Toro (A Forma da Água), que ganhou o troféu.

Do seu gênero

Mulheres também sabem, sabia?

Évelin Argenta
11 de janeiro de 2019

Como as mulheres estão presentes na mídia? Foi para ter uma resposta para essa pergunta que comecei uma pesquisa em busca de trabalhos que retratem como a mulher aparece na imprensa. Trabalho com produção diária de notícias há quase 10 anos (eita!) e foi somente nos últimos dois que comecei a questionar a presença de mulheres como FONTE de informação.

A prevalência masculina nas agendas jornalísticas nem precisa de pesquisa para ser comprovada. Você, amigo jornalista, faça um teste. Pense em uma fonte para falar sobre o discurso do presidente Jair Bolsonaro nas relações internacionais do governo, por exemplo. Se o primeiro nome que veio a sua mente foi um nome feminino, parabéns! É de gente como você que a difusão de conhecimento precisa.

As mulheres são maioria em todos os níveis de ensino e nas bolsas de iniciação científica e mestrado do CNPq. Olhando os dados do próprio CNPq e do Inep percebi que as mulheres representam 57% do público nos cursos de graduação, 55% dos cursos de iniciação científica, 52% dos programas de mestrado e 50% no doutorado. A curva começa a inverter quando o caminho traçado é a docência.

Apesar de serem minoria durante todo o caminho acadêmico, os homens chegam à docência universitária e têm o reconhecimento à pesquisa em menos tempo. Eles lideram 53% dos grupos de pesquisa. Cinquenta e quatro por cento dos professores universitários são homens e 64% das bolsas de produtividade em pesquisa são destinadas aos homens.

Em 2018 eles chegaram ao topo da vida acadêmica aos 50 anos. Elas, aos 55. E a maternidade é apontada como uma das causas do “atraso”. Há uns dois anos, produzindo uma reportagem para retratar o número cada vez maior de mulheres que não queriam ter filhos no Brasil, conversei com a presidente da ONG Artemis, Raquel Marques. Se quiser ouvir a reportagem, ela está aqui 

Depois de uma longa conversa sobre os fatores que levam as mulheres e quererem menos filhos, ela me fez refletir sobre algo que, apesar de óbvio, ainda não tinha aparecido no meu raciocínio. Raquel disse que, normalmente, o ápice profissional das mulheres coincide com o limite biológico para gerar filhos. É que muitas de nós, aos 40 anos, estamos com a seguinte pergunta em mente: “ser a teta das galáxias na minha área ou desacelerar e ter um filho?”

Se a resposta for a primeira, você vai ser julgada como insensível e irresponsável. A Previdência precisa de seus úteros, meninas! Se você escolher a segunda opção, prepare-se. Quando você voltar ao trabalho, precisará concorrer com o seu colega que, na mesma idade que você, não terá que “deixar o trabalho” eventualmente para cuidar da cria. Ah, sim…mesmo que ele seja pai.

É por esse motivo que muitas mulheres são “esquecidas” em suas áreas de trabalho. A ideia de conhecimento foi social e culturalmente ligada ao gênero masculino.  É por isso que as agendas jornalísticas (onde estão as fontes para qualquer assunto) são predominantemente masculinas. Tem dúvida? Então olha só esse estudo feito pelo Global Media Monitoring Project (GMMP), em 2015. O Grupo de Monitoramento Global da Mídia (ufa!) analisou 22.136 relatos transmitidos jornalistas de 2.030 veículos de comunicação em 114 países. É o estudo mundial desse tipo mais recente. O resultado:

  • somente 24% das matérias de rádio, TV ou jornal de 2015 contaram com mulheres como fontes;
  • quando o assunto foi política ou economia, as mulheres representaram apenas 16% das fontes;
  • apenas 35% das notas informativas ou programas diários de televisão retrataram mulheres em 2015;
  • a seleção das fontes para o jornalismo em 2015 se concentrou nos homens. O estudo mostra que a escolha é inclinada à masculinidade ao selecionar personagens e fontes para opinião “especializada” e “testemunhos comuns”;
  • as mulheres mostram suas opiniões em três casos: como mães/donas de casa (13%), quando são apenas moradoras de uma localidade (22%) ou quando são descritas como estudantes (17%);
  • somente 4% das matérias produzidas em 2015 questionaram os estereótipos de gênero;
  • a proporção de mulheres noticiando fatos ficou muito abaixo da paridade nas editorias de política e economia. Somente 31% das notícias que abordam política e 39% das que falam de economia foram produzidas por mulheres;
  • nos noticiários de televisão, as mulheres predominam quando jovens e, conforme a idade aumenta, elas são substituídas por homens. Na faixa dos 65 anos, as mulheres desaparecem totalmente da ancoragem e da reportagem. Os homens continuam.

O estudo, como podem imaginar, é bem mais complexo e proporciona uma série de outros cruzamentos. Se você ficou curioso pode clicar nesse link e ver o levantamento na íntegra. O original é em inglês, mas existe uma versão em espanhol também.

Para contribuir com a discussão, deixo aqui um site que tenho usado muito como referência quando estou buscando uma fonte para falar de determinado assunto. É uma lista organizada por cientistas sociais, comunicadoras, historiadoras e filósofas para mostrar que #MulheresTambémSabem. O banco de dados é super acessível e colaborativo. Ele contém o nome  de professoras, pesquisadoras e profissionais especialistas em uma variedade de áreas das Ciências Sociais, Sociais Aplicadas e Humanidades.

Mulheres Também Sabem: https://www.mulherestambemsabem.com

 

Pedro Henrique Gomes

2018 em 11 filmes

Pedro Henrique Gomes
31 de dezembro de 2018

A elaboração de uma lista de melhores filmes do ano é sempre um processo que evidencia os critérios de quem a elabora, isto é, diz menos sobre os filmes do que sobre sua própria construção. Ao fazê-la, o espectador/o crítico se encontra num beco sem saída ao expor uma relação que é absolutamente pessoal. A contradição não é apenas aparente, mas concreta. Resta então costurar uma relação entre os filmes, sem a forçar, para lhe empregar algum sentido.

Minha eleição pessoal, tradicionalmente em 11 filmes, o leitor acompanha abaixo com breves comentários.

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  1. Trama Fantasma, de Paul Thomas Anderson (Estados Unidos)

É melhor dizer logo de cara que Trama Fantasma é o filme de melhor execução que Paul Thomas Anderson já realizou. A confusão de valores narrativos e temáticos que antes lhe afetavam, neste filme o enriquecem. Em primeiro lugar, Trama Fantasma assume os monstros de sua ficção ao abraçar de vez o realismo em um sentido muito evidente, qual seja, o de capturar e sublinhar certas características do tempo e do espaço sem as decorações narrativas que estavam lá em Magnólia, Embriagado de Amor, Sangue Negro e outros de seus filmes. (texto completo no link)

  1. As Boas Maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra (Brasil)

As Boas Maneiras, nova parceria de Juliana Rojas e Marco Dutra, assume a roupagem do filme de fantasia dark, repleto de motivos visuais fabulares, de imaginações que se tornam carne e sangue, de sonhos que são também outra coisa, de clara aposta estética em uma estrutura de resgate a partir de várias referências matriciais que percorrem e marcam a história das imagens (da pintura, do cinema: da luz). É precisamente, paradoxal que seja, por se movimentar entre gêneros que o filme corrige sua postura narrativa com o contrapeso que um exige do outro, deslocando as sensibilidades do espectador para o interior de seu tecido narrativo. (texto completo no link)

  1. Antes que Tudo Desapareça, de Kiyoshi Kurosawa (Japão)

Antes do mundo vir a acabar, que é o que menos importa, ele deixa seus habitantes em estado de completo aniquilamento emocional. Kurosawa domina em absoluto a arte de perverter as expectativas do espectador. Filme pensado politicamente, como sempre, no limiar entre a identificação emocional e a ironia. Provavelmente a cena final mais bela de todo o cinema no ano está aqui.

  1. A Câmera de Claire, de Hong Sang-soo (Coréia do Sul/França)

É preciso ter humildade para fazer um filme, diz uma personagem. A conversa é a matéria-prima eterna de Hong Sang-soo e o que torna seus pequenos filmes em grandes histórias. O encontro, o desencontro. Cada diálogo é uma descoberta não só da trama que vai se descortinando sutilmente, mas da própria essência de um cinema movido mais pela escuta que pela observação.

  1. 120 Batimentos por Minuto, de Robin Campillo (França)

A força do filme de Robin Campillo não é sua sensibilidade narrativa, questão de tratamento do tema. Não estamos falando de um filme que deseja partilhar a culpa com o espectador, fazê-lo simplesmente lamentar a dor do outro. Poderia ter sido diferente, como pensamento reativo, não é uma possibilidade colocada por Campillo. O problema do HIV que o filme expõe não é uma disputa sobre a direção da luta, mas sobre a canalização da energia. É preciso seguir em frente.

  1. Amante por um Dia, de Philippe Garrel (França)

Eis que Garrel, mago das relações conjugais, homem que filma no ritmo em que a vida acontece, cometeu mais um grande filme cheio de nuances que tornam a compreensão das soluções narrativas muito incertas. Isso pois ele não faz julgamentos morais. Ele mira o vacilo, a dúvida, o processo de tomada de decisão, a impostura romântica e os pensamentos avoados. É de sair perplexo após cada encontro com um de seus filmes.

  1. Uma Temporada na França, de Mahamat-Saleh Haroun (França/Chade)

As filmografias diaspóricas dos cineastas africanos, principalmente os residentes na França, têm em Mahamat-Saleh Haroun o seu expoente mais conhecido. Não é por acaso. Haroun – com Grigris (2013) e agora com este novo filme – tem a sensibilidade medida pela observação cotidiana, com um cinema dedicado aos dilemas contemporâneos dos imigrantes africanos na Europa.

  1. O Dia Depois, de Hong Sang-soo (Coréia do Sul)

A ideia de “evolução” qualitativa na obra de um artista é geralmente mal aplicada pela crítica de arte, principalmente a contemporânea. Ao analisar o cinema de Sang-soo o seu uso deveria ser ainda mais tímido, quando não simplesmente convidado a se retirar do repertório crítico. Pegue um de seus filmes e assista, embaralhe a lista e pegue outro, e assim por diante. A experiência será sempre demolidora e, sem paradoxo aqui, misteriosamente diferenciada. A razão é que Sang-soo conhece os seus motivos cinematográficos como poucos cineastas de nosso tempo – neste ano, tanto O Dia Depois quanto A Câmera de Claire deixam isso bem claro. E isso não o aprisiona, mas o liberta. Questão de critério e método.

  1. Em Chamas, de Lee Chang-dong (Coréia do Sul)

Talvez o melhor filme de Chang-dong, Em Chamas tem uma paciência insuspeita para introduzir o espectador ao mundo de seus personagens, contar de onde eles são, o que fazem, quais suas ambições e desejos. É o aspecto que mais me encanta no filme, a forma não só de usar a duração (prolongando os diálogos, segurando o corte), mas de expressá-la, fazer sentir o tempo. O seu conteúdo transborda por aí. O objetivo, claro, é chamar o espectador para aquele universo, sob o signo da dúvida, sem mastigar para ele os desdobramentos. Western, o filme seguinte desta lista (assim como Trama Fantasma, aliás), também me remete a esse controle do “peso do tempo” em cada cena. As forças não se dissipam, mas se modificam e explodem. Aí é com o espectador.

  1. Western, de Valeska Grisebach (Alemanha)

A percepção das modernas relações de classe que Western expõe é evidente: são nelas que se identificam as disputas mais árduas para a classe trabalhadora. Todavia, não se apresse o espectador, não é em Marx que Valeska Grisebach busca a explicação para os conflitos do filme, que tem como ambição colocar em crise o drama muito específico de um grupo de operários, de vários países, em uma cidade búlgara de interior. O western do título alude ao fato de que, como no faroeste clássico, alguém ou um grupo geralmente chega para impor uma transformação, seja a construção de uma ferrovia ou para explorar e dominar um pedaço de terra. Aqui, como lá, essa relação é atravessada pela ambiguidade o tempo inteiro no mesmo ritmo, sem clímax. Não há redenção possível.

  1. Infiltrado na Klan, de Spike Lee (Estados Unidos)

Com o Infiltrado na Klan, Spike Lee não deixa dúvidas: partiu para a luta armada. Para desembrulhar o racismo, o humor não se articula como gatilho retórico, mas como regime de compreensão do absurdo. É uma opção do narrador que qualifica o discurso do filme, além de oferecer dificuldades ao juízo do “filme militante” que não enxerga as tensões que circulam na sociedade para além do seu espaço de ação e luta – o que acontece muitas vezes com Ken Loach e Michael Moore, para citar alguns. Um de seus melhores!

Do seu gênero

Prefeitas são poucas e governam municípios menores e mais pobres

Évelin Argenta
12 de dezembro de 2018

O Brasil foi o primeiro país latino-americano a eleger uma mulher para comandar uma prefeitura: Alzira Soriano, na cidade de Lages, no interior do Rio Grande do Norte em 1928. Hoje, 90 anos depois, as mulheres ainda têm pouca representação política no país.

Com mais anos de estudo do que os prefeitos homens, experiência acumulada na trajetória política e com o desafio de superar grandes dificuldades em municípios pequenos e sem recursos. Esse é o perfil da maioria das prefeitas eleitas no Brasil em 2016. É o que mostra uma pesquisa recente do Instituto Alziras, uma ONG que discute a representação feminina na política, ao qual o Vós teve acesso.

Antes de falar dos resultados do estudo, que tal conhecermos um pouco sobre as eleitas no Brasil em 2016?

Naquele ano foram eleitas 649 prefeitas nos municípios brasileiros. O número acendeu um alerta, pois representou uma queda de 3% na comparação com as eleições de 2012. Mais ainda… dos 5.568 municípios brasileiros, 68% sequer tiveram candidatas mulheres ao poder executivo local.

Atualmente, menos de 12 em cada 100 municípios são governados por uma mulher. Esse número coloca o país abaixo da média de prefeitas eleitas em países da América Latina, Caribe e Península Ibérica. Nesses países, a média é de 13,4%, segundo índice medido pelo Observatório de Igualdade de Gênero da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, a CEPAL.

No Brasil a região com o maior número de prefeitas é o Nordeste do país, onde 16% dos municípios são comandados por mulheres: são 288 prefeitas. As regiões Sul e Sudeste são aquelas com a menor proporção de Prefeitas em exercício, somente 7% e 9%, respectivamente. Se o recorte for feito a partir da raça, descobrimos que apenas 3% dos municípios brasileiros são geridos por negras.

O estudo do Instituto Alziras mostra um dado interessante. Apesar de terem sob sua jurisdição apenas 7% da população, a maioria das prefeitas foi eleita em municípios com até 50 mil habitantes. Apenas uma capital brasileira é governada por uma mulher eleita diretamente ao cargo de Prefeita, Boa Vista (RR).

Mesmo administrando municípios menores e com menos recursos públicos, as prefeitas tem maior nível de formação do que os prefeitos. Enquanto 50% dos prefeitos homens eleitos em 2012 têm ensino superior, 71% das prefeitas têm essa formação. Além disso, quatro em cada 10 prefeitas têm pós-graduação.

Além de maior ensino formal do que os homens, as prefeitas, em sua imensa maioria (88%) já atuavam em causas políticas antes de serem eleitas. Trinta e dois por cento delas já tinham sido prefeitas e outros 30% vice-prefeitas. Os índices mostram o que já falamos no começo desse texto: as prefeitas mulheres têm mais anos de estudo do que os prefeitos homens e experiência acumulada na trajetória política. Isso, no entanto, não garante a elas grandes orçamentos e cidades estruturadas. O estudo coordenado pelo Instituto Alziras mostra que essas mulheres, gestoras públicas, ainda sofrem com os problemas que a maioria das mulheres sofre.

Esta parte do texto até merece um formato diferente. Elaboramos uma lista para você conseguir ver com mais clareza o que estamos falando.

53% das prefeitas já sofreu assédio ou violência política pelo simples fato de ser mulher;
30% das prefeitas já sofreram assédio e violências simbólicas no espaço político;
24% das prefeitas sofre com falta de espaço na mídia, em comparação com os políticos homens
23% das gestoras municipais diz que teve seu trabalho ou suas falas desmerecidos pelo fato de serem mulheres;
22% das prefeitas diz sofrer com sobrecarga de trabalho doméstico, dificultando a participação na política;

Sobre esse último tópico, a divisão desigual do trabalho doméstico afeta diretamente as possibilidades de participação das mulheres na política. Para se ter uma ideia, metade das prefeitas entrevistadas pelas pesquisadoras afirmam ser as principais responsáveis pelas compras de mercado em suas casas. Além disso, uma em cada cinco prefeitas destaca o trabalho doméstico dentre as principais dificuldades enfrentadas em sua carreira política.

 

A importância de leis e incentivo

O Instituto Alziras afirma que a presença de mulheres no meio político é importante para incorporar diferentes perspectivas à administração pública, daí a importância de se incentivar a maior participação de diferentes perfis. O estudo citou como exemplo desse reflexo as prefeitas que mencionaram ter entre suas prioridades ações voltadas à saúde da mulher e de gestantes e ao atendimento de mulheres vítimas de violência.

A pesquisa, no entanto, pondera que ainda é preciso mais transparência e mais empenho dos partidos para assegurar condições efetivas de competição às candidatas. Além de mais recursos, o instituto apontou uma possível relação entre o êxito eleitoral e a participação anterior das eleitas em cargos de confiança no serviço público.

Quer conhecer o estudo todo? Clica nesse link aqui 

Pedro Henrique Gomes

Supa Modo

Pedro Henrique Gomes
8 de dezembro de 2018

Saio da sessão de abertura da Mostra de Cinemas Africanos e, no percurso de volta pra casa, escrevo este texto mentalmente.

Após a sessão de Supa Modo, de Likarion Wainaina, do Quênia, participei de um debate sobre distribuição e circulação dos filmes africanos com Ana Camila, curadora da Mostra e pesquisadora, e Gabriela Almeida, incansável organizadora da edição de Porto Alegre – a primeira edição ocorreu em Salvador, dias antes. O texto abaixo contém o fluxo do pensamento. Em próximas postagens pretendo voltar ao tema e ao filme com a profundidade que merecem.

A Mostra de Cinemas Africanos, edição de Porto Alegre, segue até dia 16/12, na Cinemateca Capitólio. Programação completa na página do evento e no site da Cinemateca.

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Ainda hoje, quase 60 anos depois da emergência dos cinemas africanos, a grande maioria dos filmes continua invisível. É importante destacar que atualmente são poucos os países africanos que possuem algum tipo de incentivo através de políticas públicas voltadas ao cinema, sendo que, dos que têm, a maioria são os países que já eram independentes antes de 1960, como é o caso do Egito, do Marrocos, ao norte, e da África do Sul.

Os festivais de cinema pioneiros, como a Jornada Cinematográfica de Cartago, na Tunísia (1966), e o Festival Panafricano de Ouagadougou, em Burkina Faso, três anos depois, surgiram com o intuito de colocar o cinema na rota da distribuição e exibição, numa tentativa (bem sucedida) de romper os resquícios da dominação colonial que, é claro, não desaparece imediatamente após as independências.

Essa história, no entanto, não é linear. Em alguns países, as “estruturas de cinema” cresceram e se reduziram de modo muito específico, dadas as condições políticas de cada país. Países diversos ofereceram respostas diversas a esses problemas. Burkina Faso, por exemplo, nacionalizou, nos anos 1970, a cadeia produtiva de cinema, inclusive assumindo o controle das salas de cinema.

A Nigéria formou, nos anos 1990, uma verdadeira indústria do vídeo, com filmes lançados diretamente em DVD se popularizando ano após ano, criando uma regularidade e, a bem dizer, uma atividade participativa na economia nacional. Em quantidade de filmes, Nollywood, como é chamada a indústria nigeriana, é uma das maiores do mundo.

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Supa Modo

(ou “precisamos fazer um filme”)

História de amor e paixão pela criação de imagens, o filme de Likarion Wainaina é o cinema pulsando como energia criativa, como desejo e necessidade por imagens.

Supa Modo tematiza o próprio cinema (e sua condição de produção, circulação e exibição), trazendo-o para dentro da trama. A jovem Jo, vítima de uma doença terminal, crê que possui superpoderes. Sua família e amigos, com exceção da mãe, incentivam a jovem heroína a testar suas forças sobre-humanas constantemente. Seus amigos resolvem fazer um filme sobre isso, tendo Jo, Supa Modo, como protagonista.

Como justificaremos um filme?, pergunta um personagem ao ficar sabendo da ideia de um filme de super-herói na região onde mora. A surpresa é um tanto maior pois, provavelmente, ele deverá participar da produção. A preocupação, no entanto, diz muito sobre as angústias que, desde sempre, marcaram a feitura das cinematografias africanas.

Acreditar no cinema, em sua magia, conhecendo seus fluxos criativos, suas heranças estéticas globais, o seu referencial incontornável e, ao mesmo tempo, amarrar dramaticamente uma situação crítica com humor colocando em cena questões de cinema locais, definitivamente, não é um processo simples.

O filme negocia, internamente, esse arranjo dramático: desde o início o espectador entende a gravidade da doença de Jo. No entanto, o filme inteiro é jogado para cima, não só pelo riso, mas pela substância animada de seu espírito (do texto e da maioria das soluções visuais encontradas para resolver as cenas). Nada disso é aleatório ou acidental, pois Supa Modo pensa a encenação com absoluta e rigorosa clareza a partir dos seus temas, dos seus motivos, e não o contrário.

Se a imaginação consegue voar, então, de fato, é possível voar.

Supa Modo, de Likarion Wainaina (Quênia, 2018). Com Stycie Waweru, Marrianne Nungo, Nyawara Ndambia, Johnson Gitau Chege, Humphrey Maina, Joseph Omari.

Do seu gênero

Mesmo com maior representatividade, percentual de mulheres no Congresso está abaixo da média da população

Évelin Argenta
4 de dezembro de 2018
Brasilia DF 11 07 2018-Sessão do Congresso Plenário da Câmara dos Deputados durante sessão conjunta do Congresso Nacional destinada a deliberação da Lei de Diretrizees Orçamentárias (LDO) e créditos suplementares (projetos de Lei do Congresso Nacional nºs 13, 9, 10 e 2 de 2018).Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

As eleições de 2018 mostraram um avanço das mulheres na Câmara dos Deputados.  Em 2019 teremos 50% mais mulheres na Casa Legislativa do que havia em 2015, quando as eleitas em 2014 tomaram posse. No pleito de 07 de outubro foram eleitas 77 deputadas federais, 26 a mais do que em 2014. Isso quer dizer que a nova Câmara vai ter 15% de mulheres na sua composição.

Mesmo com a melhoria na representatividade feminina de forma geral no legislativo, a proporção de mulheres segue abaixo do encontrado na população brasileira. No país, de acordo com dados do IBGE, a cada 10 pessoas, pelo menos 5 são do gênero feminino.

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Mulheres da Câmara Federal

Segundo dados colhidos pelo Vós junto ao Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), apesar do aumento no número de deputadas federais, três estados não elegeram nenhuma mulher para o cargo: Amazonas, Maranhão e Sergipe.

No caso das Assembleias estaduais, em 2018 foram eleitas 161 deputadas, aumento de 35% em relação a 2014. São Paulo e Rio de Janeiro são os Estados que mais elegeram mulheres para a Câmara. O estado paulista terá 18 representantes mulheres, sete a mais do que no último pleito. Já o estado fluminense elegeu 12 mulheres. Em São Paulo está a deputada federal mais votada no país. A jornalista Joyce Hasselmann, do PSL – partido do presidente eleito Jair Bolsonaro – recebeu mais de um milhão de votos.

Ainda na Câmara dos Deputados, aumentou o número de negras: de 10 para 13 e de brancas: 41 para 63. Em 2019 também teremos a primeira mulher indígena no Congresso Nacional: Joenia Wapichana, da Rede, foi eleita por Roraima.

Dentro dos partidos

O PT (Partido dos Trabalhadores), que ficou com a maior bancada na Câmara, também foi o que mais elegeu mulheres: são 10 deputadas entre as 56 cadeiras que o partido conquistou. Em seguida vem o PSL (Partido Social Liberal), do candidato presidencial Jair Bolsonaro. Com nove mulheres, o PSL tem a segunda maior bancada na casa, com 52 parlamentares. Depois deles, o PSDB aparece em terceiro com maior número de mulheres na Câmara: serão oito deputadas entre os 29 eleitos.

O único partido que conquistou a paridade entre homens e mulheres foi o PSOL. O partido elegeu 10 parlamentares, cinco homens e cinco mulheres. O PTC também tem uma divisão de 50% entre os gêneros na bancada, mas elegeu apenas dois parlamentares e não atingiu a cláusula de barreira. O PCdoB, que também não atingiu a cláusula, chegou perto da paridade: cinco homens e quatro mulheres.

Família ê, família á…

Ainda segundo o Diap, pelo menos oito parlamentares eleitas em 2018 chegaram ao posto possuindo parentesco com políticos tradicionais. No Distrito Federal, por exemplo, a campeã de votos Flávia Arruda (PR) é mulher do ex-governador José Roberto Arruda. Do Espírito Santo, retornará à Câmara Federal, a empresária e música, Lauriete Rodrigues (PR), esposa do senador não reeleito Magno Malta. No Paraná, foi eleita a deputada mais jovem: Luisa Canziani (PR), que tem 22 anos. A estudante é filha do deputado Alex Canziani,que não foi eleito para o Senado Federal neste ano. No Rio de Janeiro, foi eleita Daniela do Waguinho (MDB-RJ), mulher do prefeito de Berlfor Roxo.

Outra deputada que chegará à Câmara com sobrenome tradicional na política é a advogada e empresária Jaqueline Cassol (PP), irmã do senador por Rondônia, Ivo Cassol. Entre as atuais deputadas, renovaram os mandatos: Clarissa Garotinho (Pros-RJ), filha do ex-governador Anthony Garotinho; Soraya Santos (PR), que é casada com o ex-deputado federal Alexandre Santos; e Rejane Dias (PT), a campeã de votos no Piauí (138.800), que é mulher do governador reeleito Wellington Dias.

Mulheres no Senado

Já no Senado, os dados do Diap mostram que a bancada de mulheres para os próximos quatro anos será menor do que a atual, apesar do número recorde de candidaturas no pleito. Conforme dados do Supremo Tribunal Federal, ao todo, 62 candidatas se cadastraram para tentar ocupar as 54 cadeiras. Com sete senadoras eleitas e uma vaga de suplente assumida, a Casa terá doze senadoras, uma a menos do que o grupo atual.

As sete novas senadoras que tomarão posse em 2019 são: Leila do Vôlei (PSB-DF), Eliziane Gama (PPS-MA),  Soraya Thronicke (PSL-MS),  Juíza Selma Arruda (PSL-MT),  Daniella Ribeiro (PP-PB), Drª Zenaide Maia (PHS-RN) e Mara Gabrilli (PSDB-SP).

BANCADA FEMININA *

PARLAMENTAR PARTIDO UF MANDATOS VOTAÇÃO 2018 IDADE SITUAÇÃO PROFISSÃO
Jéssica Sales MDB AC 28.717 38 Reeleita Médica
Perpetua Almeida PCdoB AC 18.374 54 Nova Professora e Bancária
Mara Rocha PSDB AC 40.047 45 Nova Empresária
Drª Vanda Milani SDD AC 22.219 65 Nova Magistrada
Teresa Nelma MDB AL 44.207 61 Nova Professora
Leda Sadala Avante AP 11.301 52 Nova Contadora
Professora Marcivânia PCdoB AP 14.196 45 Reeleita Professora de Ensino Médio
Aline Gurgel PRB AP 16.519 38 Nova Advogada
Alice Portugal PCdoB BA 126.595 59 Reeleita Química Industrial e Farmacêutica Bioquímica
Lídice da Mata PSB BA 104.348 62 Nova Economista
Profª Dayane Pimentel PSL BA 136.742 32 Nova Professora de ensino superior
Luizianne PT CE 173.777 50 Reeleita Jornalista e Professora de Ensino Superior
Celina Leão PP DF 31.610 41 Nova Administradora
Paula Belmonte PPS DF 46.069 45 Nova Empresária
Flavia Arruda PR DF 121.340 38 Nova Empresária e professora
Bia Kicis PRP DF 86.415 57 Nova Advogada
Érika Kokay PT DF 89.986 61 Reeleita Bancária
Norma Ayub DEM ES 57.156 59 Reeleita Servidora Pública Estadual
Lauriete PR ES 51.983 48 Nova Empresária e Música
Dra. Soraya Manato PSL ES 57.741 57 Nova Médica
Flávia Morais PDT GO 169.774 49 Reeleita Professora de Educação Física
Magda Mofatto PR GO 88.894 70 Reeleita Empresária
Greyce Elias Avante MG 37.620 37 Nova Advogada
Alê Silva PSL MG 48.043 44 Nova Advogada
Aurea Carolina PSol MG 162.740 35 Nova Socióloga e Cientista Política
Margarida Salomão PT MG 89.378 68 Reeleita Professora Universitária e Escritora
Tereza Cristina DEM MS 75.068 64 Reeleita Engenheira Agrônoma e Empresária
Rose Modesto PSDB MS 120.901 40 Nova Servidor Público Estadual
Professora Rosa Neide PT MT 51.015 55 Nova Professora
Elcione Barbalho MDB PA 165.202 74 Reeleita Empresária
Edna Henrique PSDB PB 69.935 60 Nova Delegada
Marília Arraes PT PE 193.108 34 Nova Advogada
Iracema Portella PP PI 96.277 52 Reeleita Empresária
Margarete Coelho PP PI 76.338 57 Nova Servidora Pública do Estado
Rejane Dias PT PI 138.800 46 Reeleita Administradora
Dra. Marina PTC PI 70.828 38 Nova Médica
Christiane de Souza Yared PR PR 107.636 58 Reeleita Empresária e Pastora
Aline Sleutjes PSL PR 33.628 39 Nova Agente Administrativo
Gleisi Lula PT PR 212.513 53 Nova Advogada
Luisa Canziani PTB PR 90.249 22 Nova Estudante
Leandre PV PR 123.958 43 Reeleita Engenheira
Daniela do Waguinho MDB RJ 136.286 42 Nova Professora
Jandira Feghali PCdoB RJ 71.646 61 Reeleita Médica e Música
Soraya Santos PR RJ 48.328 60 Reeleita Advogada
Rosângela Gomes PRB RJ 63.952 52 Reeleita Bacharel em Direito
Clarissa Garotinho PROS RJ 35.131 36 Reeleita Jornalista
Flordelis PSD RJ 196.959 57 Nova Administradora
Chris Tonietto PSL RJ 38.525 27 Nova Advogada
Major Fabiana PSL RJ 57.611 38 Nova Policial Militar
Talíria Petrone PSol RJ 107.317 33 Nova Professora
Benedita da Silva PT RJ 44.804 76 Reeleita Assistente Social
Natalia Bonavides PT RN 112.998 30 Nova Advogada
Silvia Cristina PDT RO 33.038 44 Nova Jornalista
Jaqueline Cassol PP RO 34.193 44 Nova Advogada
Mariana Carvalho PSDB RO 38.776 32 Reeleita Médica e Música
Shéridan PSDB RR 12.129 34 Reeleita Psicóloga
Joenia Wapichana Rede RR 8.491 45 Nova Advogada
Liziane Bayer PSB RS 52.977 37 Nova Pastora
Fernanda Melchionna PSOL RS 114.302 34 Nova Bancária e Bibliotecária
Maria do Rosário PT RS 97.303 52 Reeleita Professora
Angela Amin PP SC 86.189 65 Nova Professora
Carmem Zanotto PPS SC 84.703 56 Reeleita Enfermeira
Geovania de Sá PSDB SC 101.937 46 Reeleita Administradora
Caroline de Toni PSL SC 109.363 32 Nova Advogada
Adriana Ventura NOVO SP 64.341 49 Nova Administradora
Tabata Amaral PDT SP 264.450 25 Nova Cientista Política e Astrofísica
Renata Abreu PODE SP 161.239 36 Reeleita Empresária e Advogada
Policial Katia Sastre PR SP 264.013 42 Nova Policial Militar
Maria Rosas PRB SP 71.745 53 Nova Administradora
Rosana Valle PSB SP 106.100 49 Nova Jornalista
Bruna Furlan PSDB SP 126.847 35 Reeleita Bacharel em Direito e Empresária
Carla Zambelli PSL SP 76.306 38 Nova Gerente
Joice Hasselmann PSL SP 1.078.666 40 Nova Jornalista
Luiza Erundina PSOL SP 176.883 84 Reeleita Assistente Social
Sâmia Bomfim PSOL sp 249.887 29 Nova Servidora Pública Municipal
Professora Dorinha Seabra Rezende DEM TO 48.008 54 Reeleita Empresária e Professora Universitária
Dulce Miranda MDB TO 40.719 55 Reeleita Graduada em Direito

*A tabela acima foi organizada pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar e pode ser acessado através do site http://www.diap.org.br/

Pedro Henrique Gomes

Crítica – O Doutrinador

Pedro Henrique Gomes
10 de novembro de 2018

A corrupção penetrou, como doença autoimune, todos os departamentos da política nacional. Sua estrutura organizacional está profundamente corrompida, e dela é preciso desconfiar sempre. Saúde e segurança funcionam apenas como estratégias de campanha e retórica política. Os grandes políticos manipulam o sistema, jogam sujo sem pestanejar, como mafiosos. Diante de tal cenário, manifestações eclodem e a sensação de apatia infesta o ambiente, as ruas e as consciências. O sistema político precisa ser corrigido, e ele está por um fio de romper.

Após uma tragédia familiar, o policial Miguel (Kiko Pissolato) decide ser o poder de reação a esse sistema. Ele identifica o descalabro ao ver o governador do Estado, notório corrupto, escapar e, somando isso a dor e o ódio que lhe consomem violentamente, veste a roupagem do justiceiro solitário. Compreendemos seus motivos: uma bala perdida encontrou o peito de sua filha quando eles iam a um jogo de futebol. No hospital, imensas filas e corredores lotados. A criança morre antes de ser atendida. Miguel faz a conexão entre as coisas e percebe que não há outra forma de lutar contra o sistema. A corrupção é a causadora dos problemas sociais.

Esse impulso inicial, que engatilha os desdobramentos do filme dirigido por Gustavo Bonafé, se mostra aos atropelos. É apressada inclusive sua cena mais dramática (a morte da filha), esvaziada diante do esqueleto do roteiro que se faz ver a todo o momento, marcando, grosso modo, todos os pontos de virada do filme. Com essa “construção” do jogo ficcional e fantasioso (Bonafé quer claramente distanciar seu filme do “real”; prefere narrar metaforicamente) é um tanto difícil aderir ao torpor raivoso de Miguel, comprar a sua indignação ao ponto de julgá-la legítima. É respeitável o esforço da produção em buscar “limpar” as motivações ideológicas de seu personagem. Mas não há pureza possível: assassinar políticos (e apenas políticos) para aplicar um corretivo no sistema que eles gerenciam é uma opção determinada por condições materiais e ideológicas, de entendimento da resolução de conflitos que extrapola as motivações individuais do anti-herói.

A cena da morte da filha de Miguel, aliás, depõe contra o filme. Na pressa com que sua ação transcorre, está claro que foi filmada apenas para ser um elemento detonador da história, para garantir as razões do que sucederá e trazer o espectador para o lado do protagonista. Esse é o momento em que o filme de Bonafé assume, mesmo a contragosto, o seu direcionamento reacionário: esvaziar tal tragédia para cumprir uma função narrativa sem dar a ela o seu devido peso é algo para o qual não há desculpa.

São robustas as evidências de que O Doutrinador não desenvolve esforço de compreensão das tensões e dos conflitos no qual meteu os pés. A areia movediça do cinema político quase sempre puxa sem piedade o pensamento que não duvida de si mesmo, que não manifesta suas próprias contradições, bem como do “assunto” que aborda. É inviável fugir com o argumento de que não estamos diante de um filme político, mas de uma aventura brasileira no cinema de ação vertiginoso de inspiração hollywoodiana; ficção despreocupada, metafórica. O Doutrinador pretende oferecer uma representação da cena política brasileira, mas abrevia sua força com a criação de caricaturas. Isto não é trivial.

A decodificação minuciosa dos labirintos da política prescinde que se fale inclusive de “política”. É possível se recusar a preencher os requisitos normativos do cinema e assumir uma consciência criativa operando dentro do “sistema”. Preservadas as devidas proporções, o cinema clássico americano, em especial aquele cultivado pelos cineastas que vieram da Europa e na América fizeram carreira (Fritz Lang, Otto Preminger, Ernst Lubitsch, Alfred Hitchcock etc) é a evidência mais cristalina e bem-sucedida.

Há uma explicação, no entanto. Concebido como filme e como série a partir de obra dos quadrinhos, uma HQ, o filme de Bonafé é engolido pela narrativa seriada, fragmentária e refém, muitas vezes, da estrutura blocada de seus desdobramentos – essa estrutura costura a trama sempre para dar as respostas e nunca para provocar a dúvida, já que esta dura apenas até o próximo episódio. É compreensível que assim seja, todavia haveria espaço, diante de assunto tão candente, para explorar sua narrativa episódica e consequencialista, cujo ponto de virada, isto é, o momento que desperta à vida o anti-herói da história, é bastante grosseiro.

O Doutrinador, de Gustavo Bonafé (Brasil, 2018). Com Kiko Pissolato, Samuel de Assis, Tainá Medina, Marília Gabriela, Eduardo Moscovis, Helena Ranaldi, Natalia Lage, Natallia Rodrigues.

Samir Oliveira

As paradas LGBTs ecoarão resistência

Samir Oliveira
1 de novembro de 2018

Um sentimento muito forte de medo tomou conta de boa parte da população LGBT após a vitória de Jair Bolsonaro. Não é para menos. Os ódios mobilizados pelo presidente eleito fizeram desaguar o esgoto da internet. Não foram poucos os comentários celebrando a abertura de uma temporada de caça a homossexuais, pregando a morte de bichas ou até mesmo a criação de grupos de extermínio.

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Eu estou com medo. Meus amigos estão com medo. Especialmente aqueles que, assim como eu, integram a sopa de letras da comunidade LGBT

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As horas seguintes ao resultado das urnas foram de pavor. Os foguetes nas ruas pareciam comemorar o nosso fim. Em muitos lugares se ouviu barulho de tiros. Abriram a Caixa de Pandora e agora as manifestações de ódio correm soltas à luz do dia.
É impossível não ficar com medo. Mais do que impossível, é imprudente. O medo é um instinto natural de preservação. Não temos que lutar contra o medo. Temos que lutar apesar do medo. Ainda estamos elaborando o luto de uma eleição devastadora, em que o autoritarismo toma de assalto a democracia pela porta da frente, sem derrubar um prego.

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Precisamos entender como foi que chegamos até aqui. Este é o primeiro passo.

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Em seguida precisamos construir redes de acolhimento e espaços seguros para reuniões, encontros e diálogos. A organização da resistência passa também pela organização de cada um de nós, seja em partidos, em entidades da sociedade civil, em associações, em coletivos movidos por causas específicas. Cada espaço conta. Cada pessoa conta.

Ninguém pode ficar para trás. Este é o segundo passo. O terceiro passo é a nossa ação nas ruas. É lá que se dará o enfrentamento mais duro à política de Bolsonaro. É nas ruas que combateremos o ódio. E a comunidade LGBT tem seus próprios métodos para isso, sendo as paradas do orgulho a principal demonstração de força, de amor, de combatividade e de resistência diante daqueles que desejam a nossa volta ao armário.

O Rio Grande do Sul vai ter uma agenda intensa de paradas LGBTs neste final de 2018. A principal delas sem dúvida é a 22ª Parada Livre de Porto Alegre, que ocorre no dia 18 de novembro, na Redenção. Tradicionalmente o evento leva pelo menos 30 mil pessoas todos os anos para as ruas. O lema desta edição não poderia ser mais crucial: Resistir para não morrer.

Teremos pelo menos mais oito paradas até o final do ano. A maioria delas já possui data definida: Cachoeirinha (04/11), Sapucaia (11/11), Santa Maria (18/11), Porto Alegre (18/11), Caxias do Sul (25/11), Esteio (02/12), Pelotas e Rio Grande. A comunidade LGBT tem estado, junto com as mulheres, na linha de frente da resistência. Para nós, é uma questão de sobrevivência. Cada uma destas paradas deve ser um grito potente contra o projeto autoritário e intolerante de Bolsonaro. Estamos apenas começando. Onde querem armário, demonstraremos orgulho!

Reporteando

O jornalismo pós-Bolsonaro

Évelin Argenta
22 de outubro de 2018

No apagar das luzes da eleição presidencial e sem a real perspectiva de que haverá alguma mudança no resultado, precisamos pensar em como serão nossos próximos, no mínimo, quatro anos. Falo isso como mulher, cidadã, mas, acima de tudo, como jornalista.

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Precisamos estar atentos e fortes para não jogar pelo ralo toda a liberdade que conquistamos ao longo do período democrático

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A eleição de Jair Bolsonaro (PSL), depois de 28 anos no Congresso Nacional sem ter apresentado produtividade condizente com o tempo que ocupa os corredores da Câmara, tem como fator fundamental a imprensa. Sob o pretexto de ridicularizar um parlamentar que não sabia de leis, não tinha presença marcante em comissões e se orgulhava em ostentar comportamentos misóginos, homofóbicos e racistas, fomos dando voz e cara a Jair Bolsonaro. Antes desconhecido, migrando de partido em partido, hoje exerce uma atração quase gravitacional em torno de uma sigla que só existe em função de seu nome. Jair Bolsonaro é, em parte, fruto da imprensa e do discurso construído em torno da Lava Jato.

O atual processo eleitoral, disputado principalmente no território virtual das redes, talvez revele mais sobre nós do que estávamos preparados para digerir. Diferentemente das reuniões fechadas, dos discursos enlatados preparados para a televisão, o atual processo contou com a voz ativa da população. Ao final nos descobrimos misóginos, racistas, homofóbicos e altamente egoístas. Sempre fomos assim, mas agora temos um legitimador, um líder, alguém que nos guia e nos representa.

Em momentos como os que se aproximam, a imprensa terá um papel fundamental, quase pedagógico. Será nossa função, mais do que nunca, dar voz aos descalabros vindouros, fiscalizar os eleitos, contestar os generais e, acima de tudo, insistir por informação pública. A era Bolsonaro talvez inaugure no Brasil o “sistema Trump de comunicação”, em que todos os avisos, decisões, opiniões, decretos e defesas serão feitos pelas redes sociais. O twitter será a agenda oficial do presidente e o Facebook sua rede de TV particular.

O advogado Francisco Brito Cruz, que é diretor do InternetLab – um centro independente de pesquisa em direito e tecnologia que está monitorando os tipos de propaganda usados pelas campanhas durante as eleições 2018 – faz uma avaliação interessante na Folha de São Paulo nesta segunda-feira (22). Muitos pesquisadores internacionais têm discutido que as pessoas antes se alimentavam em fontes que passavam pelos protocolos jornalísticos e que agora, talvez, estejam se alimentando menos nessas fontes, o que pode ter um impacto em termos de desinformação. Os veículos profissionais têm de competir por atenção com conteúdos de propaganda política travestidos de notícia.

Se a internet será o novo território da discussão pública, aos jornalistas caberá ainda mais resistência. O acesso a documentos públicos será cada vez mais difícil e a Lei de Acesso à Informação será utilizada de maneira diária para os fins mais banais. O represamento de informações precisará entrar na nossa rotina e precisaremos estar dispostos a buscar mecanismos que nos permitam continuar trabalhando.

Só para ter uma ideia do que nos espera, cito aqui um levantamento feito pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, a Abraji. Do início deste ano até o primeiro turno das eleições, em 7 de outubro, 137 jornalistas em todo o país foram agredidos ou ameaçados enquanto trabalhavam na cobertura do processo eleitoral. Do total de casos, 62 se referem a agressões físicas e 75 a ataques e ameaças pela internet.

A pergunta dos próximos quatro anos será: Como lidar com a realidade de que o jornalismo sai desta campanha com a imagem de ser o partido de oposição? O discurso não ataca a concentração de poder da mídia ou um preconceito de classe, ataca a identidade da mídia, justamente no momento de maior crise do jornalismo como negócio. Ironicamente, nunca foi tão importante fazer jornalismo.

Pedro Henrique Gomes

Crítica – Uma Questão Pessoal

Pedro Henrique Gomes
12 de outubro de 2018

Já é guerra quando irrompe na tela a primeira imagem de Uma Questão Pessoal (2017), que Paolo Taviani assina como diretor, sozinho, após a morte do irmão Vittorio pouco depois da conclusão do filme. Sua causa formal, no entanto, guarda coerência com a sintaxe geral da obra dos Taviani.

Como Rossellini (e como Fassbinder), os Taviani demonstram interesse em depurar formalmente a imagem, em erguê-la sem empurrões forçados, isto é, sem recorrer ao caminho mais curto do filme militante ou “engajado”. Percebe-se, aqui, uma atração documental (como em César Deve Morrer, 2012, só que pelo inverso: ficção-doc aqui; doc-ficção lá) que não está restrita apenas ao fato de que sua trama tem como pano de fundo um acontecimento histórico (a Segunda Guerra Mundial, a resistência antifascista), mas ao próprio modelo perseguido por sua narrativa, que comporta duas ações temporais corrigindo uma a outra, sensibilizando-se mutuamente, preenchendo seus sentidos.

Baseado no livro Beppe Fenoglio, a trama se passa em 1943. O fascismo é ainda uma ameaça. Milton (Luca Marinelli) é membro da resistência armada estabelecida nas colinas do Piemonte. Anos antes, viveu rodeado pelo amigo Giorgio (Lorenzo Richelmy) e pela namorada Fulvia (Valentina Bellè), cuja imagem ainda vive em seus pensamentos. É uma memória viva, em fato, como a fotografia que acentua suas cores, seu calor – e também sua música, seus sorrisos.

Durante a resistência, no entanto, perdeu o amigo para os fascistas, o que é também marcado pela fotografia do filme. E não havia outra forma de dizê-lo, ou melhor, de mostrá-lo: de todo modo, o fascismo não tem cor. Ao mesmo tempo, ao regressar a um casarão onde bons tempos passaram os três, Milton descobre que talvez Giorgio teria, ele também, tido uma história de amor com Fulvia. Milton passa a perseguir este mistério passado e a tentar resolver, pelas armas (e pelo pensamento), o imbricado drama de guerra do presente. No fascismo, no entanto, só existe o agora. A ideia de história é corrigida, as diferenças são eliminadas e o pensamento desviante, quando notado, é sumariamente incendiado. É contra isso que o amargurado protagonista luta.

É rigorosamente simples a trama do filme dos Taviani, mas complexos são os dramas que ela mobiliza. Milton deve resgatar o amigo das mãos do fascismo para resolver, num só golpe, dois artifícios do mal-estar que lhe move. A violência da luta antifascista, no filme, está expressa em sua capacidade de internalização dos conflitos e não do contexto político em si, escondido sob o corpo de Milton, que vive dividido entre duas missões. A partir daí, o terreno é fértil para os Taviani explorarem as contradições do protagonista, o colocando em crise – e, ao fim e ao cabo, em lançar luz sobre como são constituídas e sustentadas as paixões dos sujeitos.

A atmosfera da luta de Milton contra os dois “sistemas” (o político e o emocional; o sistema do ódio e o sistema do amor), confere ao filme um tom que pode parecer despreocupado, mas que anseia evidenciar, justamente, esses mistérios algo insondáveis contra os quais lutamos insistentemente ao longo da vida. Para os Taviani parece que ao cinema não deve restar a tarefa pesada de restituir a ordem das coisas ou tampouco de “reescrever” a história,  mas de oferecer uma leitura que instigue o enfrentamento de nossos próprios medos.

Una questione privatta, de Paolo Taviani (Itália, 2017). Com Luca Marinelli, Lorenzo Richelmy, Valentina Bellè.