Voos Literários

Para que(m) serve uma ópera-rock farroupilha?

Flávia Cunha
1 de agosto de 2018

Um edital proposto pela Câmara de Vereadores de Porto Alegre sobre uma ópera-rock para homenagear a Revolução Farroupilha tem movimentado o meio cultural da cidade. O assunto tomou conta das redes sociais e, de uma forma geral, os artistas consideraram no mínimo insólita a postura do vereador Valter Nagelstein de fazer uma proposta que dá pouco espaço para a criação. O cineasta e músico Carlos Gerbase fez um post público sobre o assunto que vale a pena ser lido.

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Entre as críticas, está a falta de liberdade artística

Um exemplo é o fato de que até o nome do espetáculo já foi escolhido previamente: Revolução Farroupilha, uma História de Sangue e Metal. Para ser encenado, deve usar como referência apenas um livro: Revolução Farroupilha, de Luiz Coronel e Danúbio Gonçalves. Luiz Coronel defendeu a proposta, em um texto publicado pela mídia local. Porém, vale lembrar que ele ganhará 7% com direitos autorais do valor total de R$ 350 mil (cerca de R$ 24 mil). Sendo assim, seria pouco provável que ele se manifestasse contra a adaptação de sua obra para esse espetáculo.

Quando o edital foi avaliado pelo Conselho Municipal de Cultura, houve o questionamento da razão de usar apenas a obra de Luiz Coronel  para a adaptação da ópera-rock, já que existem diversos livros a respeito da Revolução Farroupilha. Entre eles, textos do consagrado Simões Lopes Neto, que já estão em domínio público e isentaria o ganhador do edital de pagar direitos autorais. Aqui tem uma matéria bem completa analisando os pontos mais críticos do edital.

Outra reflexão que proponho é sobre a obrigatoriedade do espetáculo ser uma ópera-rock. Já li críticas sobre o fato de ser um gênero datado e sem conexão com o imaginário gauchesco, criado lá na década de 1970. Porém, considero existir mais um problema para os eventuais proponentes. Os espetáculos desse tipo mais famosos, como Tommy (do The Who) e The Wall (do Pink Floyd) partiram de músicas já criadas pelas bandas para , depois, haver a adaptação para o gênero em questão.

Será que os versos de Luiz Coronel para esse livro foram pensados para virarem letras de canções?

Tirem suas conclusões a partir do trecho abaixo:

“Contemplo o rosto de Neto,

Entre vultos na galeria.

Por persianas entreabertas,

o passado dá bom dia.”

As inscrições para o edital terminam no dia 20 de agosto e as encenações devem acontecer até novembro. Cerca de dois meses para fazer arranjo, coreografias, ensaios e todos os detalhes envolvidos numa produção desse porte. Quem será que vai se aventurar nessa adaptação?

Voos Literários

Quem tem medo do feminismo negro?

Flávia Cunha
24 de julho de 2018

Vinte e cinco de julho é o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, mais uma das necessárias lutas dos movimentos negro e feminista. Sempre é preciso ter cuidado e respeito para falarmos sobre temas que não fazem parte da nossa própria realidade. Como mulher branca de classe média, apenas pelo exercício da alteridade e da sororidade posso tentar imaginar o que é ser negra em nosso país. Nesse Brasil da suposta democracia racial, em que o preconceito é velado e acaba sendo relativizado o tempo todo, até por feministas brancas. Dia desses, uma amiga negra escreveu um texto contundente, em que denunciava o racismo em determinados comportamentos masculinos. Qual não foi minha surpresa ao perceber apartes de mulheres brancas, apontando que era “apenas” machismo e tentando dizer que tinham passado por situações até piores. Me deu vergonha por essas minas do feminismo, brancas como eu, que não enxergam as dores das nossas manas negras.

Por essas e por outras situações ainda piores presentes no nosso cotidiano, recomendo a leitura de um livro corajoso e autêntico, chamado Quem tem medo do feminismo negro?, de Djamila Ribeiro, lançado em 2018. A obra conta com um relato autobiográfico e também com uma seleção de artigos publicados em seu blog da revista Carta Capital, entre 2014 e 2017.

Já na introdução, a filósofa e militante demonstra a força de sua história:

 

O feminismo negro não é uma luta meramente identitária, até porque branquitude e masculinidade também são identidades. Pensar feminismos negros é pensar projetos democráticos. Hoje afirmo isso com muita tranquilidade, mas minha experiência de vida foi marcada pelo incômodo de uma incompreensão fundamental. Não que eu buscasse respostas para tudo. Na maior parte da minha infância e adolescência, não tinha consciência de mim. Não sabia por que sentia vergonha de levantar a mão quando a professora fazia uma pergunta já supondo que eu não saberia a resposta. Por que eu ficava isolada na hora do recreio. Por que os meninos diziam na minha cara que não queriam formar par com a “neguinha” na festa junina. Eu me sentia estranha e inadequada, e, na maioria das vezes, fazia as coisas no automático, me esforçando para não ser notada.”

Djamila Ribeiro é uma das participantes da Festa Literária Internacional de Paraty, que começa nesta quarta-feira, com uma programação que tem mais mulheres do que homens.  A homenagem deste ano é para uma mulher, Hilda Hilst, uma poeta talentosa e mas que, em vida, teve pouco reconhecimento do público e da crítica.  É o segundo ano consecutivo que a Flip dá mais espaço para a presença feminina e negra. O fato é mérito da curadoria do evento, feita pela jornalista Joselia Aguiar.  Algo a ser comemorado em um panorama sociopolítico por vezes sombrio para quem é a favor dos direitos humanos e da igualdade de gênero e racial.

Foto: Cássia Tabatini

Voos Literários

O melhor e o pior da Copa e suas inspirações literárias

Flávia Cunha
17 de julho de 2018

Canarinho Pistola – Virou meme, ganhou destaque nos noticiários e o resultado desastroso do Brasil em campo em nada abalou o amor dos internautas ao mascote do Brasil.

Livro pistola em homenagem ao CanarinhoA Raiva, de Blandina Franco e José Carlos Lollo. Obra, ganhadora do prêmio Jabuti de 2015, é originalmente destinada ao público infantojuvenil. Mas pessoas de todas as idades precisam saber como lidar com esse sentimento tão intenso. Pra completar, a obra aborda o assunto com humor (tudo a ver com o Canarinho) e ilustrações bem bonitas.

Mick Jagger e seu pé frio – A má fama como torcedor ronda o vocalista dos Rolling Stones desde a Copa de 2014. Mas depois da Inglaterra ser eliminada com a sua presença no estádio na Rússia, a Internet não perdoou. Seu filho brasileiro bem que tentou defendê-lo, mas se tem algo que não adianta é tentar lutar contra esse tipo de brincadeira virtual. E, vamos combinar que nesse caso, é algo que não parece maldoso.

Livro em homenagem a Mick Jagger – Um roqueiro com tanto tempo de atividade já ganhou várias biografias, assim como os Stones. Mick a vida louca e o gênio selvagem de Jagger, do jornalista norte-americano Christopher Andersen, é uma obra que agradará quem gosta de saber detalhes pessoais de seus ídolos.

Neymar, Cristiano Ronaldo e o limite da vaidade – Tem quem defenda o menino Neymar e sua preocupação excessiva com a autoimagem, usando como justificativa o fato de Cristiano Ronaldo ser igual (ou ainda mais narcisista). O problema em questão é que, mesmo com salário astronômico e dois cabeleireiros o acompanhando durante a Copa, Neymar não obteve o resultado esperado em campo.  

Sugestão de leitura sobre a vaidade – O clássico O Retrato de Dorian Grey, de Oscar Wilde. O enredo mostra o protagonista em situações que o levam a ser cada vez mais arrogante e egocêntrico. Mas não espere um livro moralista, porque, afinal, trata-se de Oscar Wilde, um gênio rebelde das Artes.

Protesto feminista em plena Copa – Em uma competição masculina, uma manifestação feita por mulheres chamou a atenção. O grupo Pussy Riot invadiu o campo na final da competição para protestar contra o governo russo e a falta de liberdade no país.

Manifestação tem a ver com literatura – O ato foi organizado em homenagem a Dmitri Prigov, poeta dissidente da União Soviética, que morreu há 11 anos justamente nessa data (15 de julho). O escritor retratava em seus textos o “Policial”, uma representação da ditadura do Estado soviético.

A França vencedora e a necessária reflexão sobre xenofobia e racismo – O bicampeonato da seleção francesa na Copa suscitou debates que vão muito além das análises desportivas. A vitória deveu-se à atuação de um time formado em grande parte por imigrantes ou descendentes de africanos. O que chama mais atenção é o fato de a maioria dos franceses ser abertamente contra à presença de pessoas de outras nacionalidades em seu país, seja em campo ou fora dele. O comportamento preconceituoso está infelizmente presente em diversos países europeus, nos Estados Unidos e também no Brasil.

Duas obras para saber mais sobre o assunto e poder debater em alto nível com preconceituosos  de plantão:

Direitos Humanos e Hospitalidade – A proteção internacional para apátridas e refugiados, de Gustavo Oliveira de Lima Pereira

A obra analisa, a partir do viés do Direito Internacional, a questão dos direitos humanos e discute, com profundidade, conceitos como cidadania, soberania, democracia e tolerância. Um assunto pertinente em um mundo com cerca de 47 milhões de refugiados e outros 12 milhões de pessoas sem cidadania.

Direitos Humanos e Xenofobia: Violência internacional no contexto dos imigrantes e refugiados, organização de Cristiane Feldmann Dutra e Gustavo de Lima Pereira

Uma coletânea de artigos para entender e poder questionar a inutilidade das atuais as políticas migratórias restritivas. Medidas que dificultam a permanência regular de imigrantes em um determinado país mas não restringem a entrada dessas pessoas, criando, assim, um negócio lucrativo e ilegal, para os coiotes e agentes corruptos dos governos. Uma obra de resistência feita por quem realmente entende do assunto.

Livros sobre xenofobia e direitos humanos sugeridos pela socióloga e doutoranda  em Sociologia Aline Passuelo de Oliveira, especialista em sociologia das migrações, deslocamentos populacionais forçados, refugiados, conflitos armados e os impactos nas populações locais.

Voos Literários

Batalha literária . Inglaterra x Colômbia

Flávia Cunha
3 de julho de 2018

Inspirada pelas oitavas de final da Copa do Mundo, proponho uma espécie de super trunfo de livros dos países classificados . E este é o último duelo, afinal, as quartas já começam na próxima sexta-feira. Para a escolha das obras, criei o seguinte critério: escritores contemporâneos e ainda em atividade. E neste final, dois países famosos pelos prodigiosos escritores e escritoras.

Representante da Colômbia . Andrea Cote, 37 anos

Minibiografia . Professora universitária, fotógrafa e ensaísta, Andrea lançou seu primeiro livro de poesias em 2003. Logo obteve reconhecimento, com premiações e traduções de suas obras para outros idiomas, algo difícil de ocorrer com quem escreve poemas. De acordo com especialistas, sua escrita tem elementos que assinalam a urgência de seus fantasmas pessoais e a necessidade de transformar a experiência em palavra.

Livro escolhido para essa batalha . Puerto Calcinado, ainda sem tradução para o português

Motivo da escolha . É difícil a gente dissociar a literatura colombiana de García Márquez e seu realismo fantástico. Por isso mesmo, a intenção foi destacar um estilo literário completamente diverso do de Gabo. A poesia de Andrea Cote é forte e envolvente, com uma sonoridade que atrai os leitores que gostam de ler poemas em voz.

Bônus:  

Puerto quebrado

Si supieras que afuera de la casa,

atado a la orilla del puerto quebrado

hay un río quemante

como las aceras.

Que cuando toca la tierra

es como un desierto al derrumbarse

y trae hierba encendida

para  que ascienda por las paredes,

aunque te des a creer

que el muro perturbado por las enredaderas

es milagro de la humedad

y no de la ceniza del agua.

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Representante da Inglaterra . Zadie Smith, 42 anos

Minibiografia . Nascida em um distrito de Londres, é descendente de ingleses e jamaicanos. Formada em Literatura Inglesa pela Universidade de Cambridge. Lançou seu primeiro romance com 24 anos. Dentes Brancos obteve sucesso imediato. A fama repentina provocou um bloqueio criativo na escritora, que conseguiu vencer o problema algum tempo depois.

Livro escolhido para essa batalha . O caçador de autógrafos, de 2002 (o primeiro depois do bloqueio criativo)

Motivo da escolha . A trajetória do caçador de autógrafos é narrada com maestria por Zadie Smith. Como pano de fundo, a globalização e a miscigenação presente na Europa do século XXI. O protagonista, por exemplo, é filho de uma mãe judia e de um chinês convertido ao judaísmo. A cultura de massa e a supervalorização das celebridades também é um dos temas desse romance.

Bônus . “Como os filmes de Woody Allen, este livro é uma grande piada judaica: a busca do amor e o medo da morte são tratados com muito humor e ironia.” – The Sunday Telegraph

Voos Literários

Batalha Literária . Suécia x Suíça

Flávia Cunha
3 de julho de 2018

Inspirada pelas oitavas de final da Copa do Mundo, proponho uma espécie de super trunfo de livros dos países classificados. Essa fase da competição está chegando ao fim, mas a gente segue por aqui. Para a escolha das obras, criei o seguinte critério: escritores contemporâneos e ainda em atividade. Na primeira batalha de hoje, temos o que o público do futebol gosta de chamar de clássico do IDH.

Representante da Suécia . Camilla  Läckberg, 43 anos

Minibiografia . Licenciada em Economia, atuou na área até resolver fazer um curso de escrita criativa e lançar romances policiais. Foi muito bem-sucedida em sua mudança de carreira e foi considerada a escritora sueca do ano em 2004 e 2005. Seus livros foram traduzidos para 35 idiomas e vendidos em 50 países.

Livro .  A Princesa de Gelo, de 2003, lançado no Brasil em 2010

Motivo da escolha . Romances policiais fazem um sucesso enorme nos países nórdicos europeus, mesmo com índices de criminalidade baixíssimos. Para quem gosta do gênero, a obra vale a pena. O enredo mostra a escritora Erica Falck que retorna à sua cidade natal e acaba envolvendo-se na investigação da morte de uma amiga de infância, um suposto suicídio.

Bônus . A escritora é conhecida como a Rainha Europeia do Crime, sendo considerada a nova Agatha Christie. O livro A Princesa de Gelo foi adaptado para a televisão sueca. A obra integra uma série de diversos em que a escritora é a protagonista.

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Representante da Suíça . Joël Dicker, 33 anos

Minibiografia . Formado em Direito pela Universidade de Genebra, o escritor lançou seu primeiro livro aos 25 anos. Logo alcançou a fama mundial, chegando a ultrapassar nomes como Dan Brown na lista dos mais vendidos. O autor escreve em francês e, por isso, já recebeu alguns prêmios representativos da área nesse país europeu.

Livro . A verdade sobre o caso Harry Quebert, de 2012

Motivo da escolha . O livro é um fenômeno editorial e seu enredo chegou a ser comparado a obras de Truman Capote. O livro é um romance policial e uma história de amor, também misturando ao texto relatórios policiais e trechos de entrevistas. A obra é considerada uma grande crítica aos Estados Unidos.

Bônus . O autor esteve na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), em 2014. Aqui no Brasil, A verdade sobre o caso Harry Quebert recebeu algumas críticas negativas, como uma publicada na revista Veja. Toda a unanimidade é burra, como diria Nelson Rodrigues. Então, o mais adequado é ler as mais de 500 páginas desse romance e, depois disso, termos nosso próprio veredito.

Voos Literários

Batalha literária . Bélgica x Japão

Flávia Cunha
2 de julho de 2018

Dando continuidade aos embates literários, escolhi autores bem diferentes entre si. Inspirada pelas oitavas de final da Copa do Mundo, proponho uma espécie de super trunfo de livros dos países classificados nessa fase da competição. Para a escolha das obras, criei o seguinte critério: escritores contemporâneos e ainda em atividade. Um teve sua obra reconhecida pelo maior prêmio literário mundial, e, o outro, é aclamado por fãs da cultura pop.

Representante da Bélgica, Hermann Huppen, 79 anos

Minibiografia . Veterano criador de HQs, tem uma legião de fãs ao redor do mundo. Começou a carreira como desenhista e logo decidiu também escrever o argumento de suas histórias. Teve como inspiração o belga Hergé (1907-1983), criador do personagem Tintim.

Livro escolhido para essa batalha . Caatinga, lançado mundialmente na década de 1990.

Motivo da escolha . Uma história em quadrinhos lançada na Bélgica tendo o cangaço como ponto de partida é, no mínimo, motivo para curiosidade. O enredo se passa na década de 1930, no Nordeste brasileiro. Dois irmãos tentam vingar a morte do pai, assassinado por um rico fazendeiro da região. Perseguidos pelos capangas do latifundiário, eles são resgatados por cangaceiros, foras-da-lei que escondem-se no sertão.

Bônus . A obra foi premiada, inclusive no Brasil. Por aqui, o livro foi lançado pela Editora Globo e está esgotado. Mas é possível encontrá-la em sebos online.

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Representante do Japão, Kazuo Ishiguro, 63 anos

Minibiografia . O escritor ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2017. Japonês radicado em território britânico desde a infância, recebeu influência das duas culturas. Depois de ter o sonho de ser músico frustrado, resolveu dedicar-se à literatura. Seu plano de ter reconhecimento mundial deu certo e sua obra já foi traduzida para 28 idiomas.

Livro escolhido para essa batalha . O Gigante Enterrado, de 2015

Motivo da escolha . É uma mistura interessante de melancolia e magia, em um tom onírico. O épico inspira-se na lenda do rei Arthur, que influencia diretamente a cultura britânica. O enredo também tem dragões, monstros e seres mágicos, o que pode agradar a quem gosta de obras no estilo de Game of Thrones e O Senhor dos Aneis.

Bônus . O clima soturno já fica claro ao leitor no capítulo de abertura da obra:

“Uma névoa gelada pairava sobre rios e pântanos, muito útil aos ogros que ainda eram nativos daquela terra. As pessoas que moravam ali perto — e pode-se imaginar o grau de desespero que as teria levado a se estabelecer num lugar tão soturno — teriam razão de sobra para temer essas criaturas, cuja respiração ofegante se fazia ouvir muito antes de seus corpos deformados emergirem da neblina.”

Voos Literários

Batalha literária . Brasil x México

Flávia Cunha
2 de julho de 2018

Passo longe do ufanismo de achar os brasileiros melhores em tudo apenas pela nacionalidade. Por isso, acho difícil saber quem ganharia a batalha literária Brasil e México. Inspirada pelas oitavas de final da Copa do Mundo, proponho uma espécie de super trunfo de livros dos países classificados nessa fase da competição. Para a escolha das obras, criei o seguinte critério: escritores contemporâneos e ainda em atividade. As duas competidoras são de peso e com trajetórias relevantes fora de suas obras. 

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Represente do Brasil . Clara Averbuck, 39 anos

Minibiografia: Gaúcha radicada em São Paulo há alguns anos, Clara foi da primeira geração de escritores a perceberem a Internet como um canal de divulgação para textos literários. A escritora tem uma legião de fãs em suas redes sociais e assumiu publicamente uma batalha a favor do feminismo e das causas LGBT. Não esconde seu posicionamento político de esquerda e mesmo assim tem espaço para escrever colunas remuneradas em veículos da grande mídia.

Livro escolhido para essa batalha: Máquina de Pinball, seu primeiro romance publicado, em 2002

Motivo da escolha: O enredo é corajoso ao mostrar uma protagonista feminina com uma postura junkie, inconsequente e totalmente livre do ponto de vista sexual. A personagem Camila está longe de ser uma heroína e isso é absolutamente libertador para quem acha que livros escritos por mulheres precisam ser necessariamente sensíveis e delicados.

Bônus: O livro virou peça de teatro. Também foi adaptado para o cinema, com o título de Nome Próprio. A escritora não gostou do resultado do filme. Ainda assim, considero que vale a pena conferir o longa-metragem.

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Representante do México . Laura Esquivel, 67 anos

Minibiografia . Professora por formação,  em determinado momento de sua vida acabou escrevendo roteiros para televisão e cinema. A ideia de um roteiro virou um romance, que deu início a uma carreira literária de sucesso. Já consagrada como escritora, elegeu-se deputada em 2015, pelo Movimento de Regeneração Nacional, partido de esquerda

Livro escolhido para essa batalha . Como Água para Chocolate, seu romance de estreia, lançado em 1989

Motivo da escolha . O livro traz uma curiosa combinação de gastronomia e amor, sem cair em clichês. As metáforas culinárias são o ponto alto do livro, assim como a dicotomia entre a tradição mexicana e o desejo de rompê-las. O que poderia ser apenas mais uma história de amor proibido, vai muito além disso.

Bônus . O livro foi adaptado para o cinema em 1992, É considerado um dos 100 melhores filmes mexicanos de todos os tempos e recebeu diversos prêmios. Como Água para Chocolate ganhou uma sequência literária em 2016, chamada O Diário de Tita. Laura Esquivel na época desse lançamento anunciou que o enredo se encerraria como uma trilogia, então resta esperar pelo fim dessa história.

Voos Literários

Batalha literária . Croácia x Dinamarca

Flávia Cunha
1 de julho de 2018

Nesse domingo de Copa do Mundo, vamos à segunda  batalha literária. Inspirada pelas oitavas de final, proponho uma espécie de super trunfo de livros dos países classificados nessa fase da competição. Para a escolha das obras, criei o seguinte critério: escritores contemporâneos e ainda em atividade. 

Represente da Croácia . Dubravka Ugresic, 69 anos

Minibiografia . Professora de literatura russa, deixou a Croácia em 1993, após ser perseguida por suas críticas ao governo vigente no país na época. Foi tachada de “bruxa, puta e traidora” por seus posicionamentos políticos. Viveu durante um tempo em Berlim até ir morar definitivamente em Amsterdam.

Livro escolhido para essa batalha . O Museu da Rendição Incondicional, traduzido para a língua portuguesa em 2011.

Motivo da escolha . A obra retrata o período de exílio da escritora na Alemanha. O relato é considerado um dos mais relevantes livros lançados na Europa nas últimas décadas. 

Bônus . Em uma entrevista, a escritora comentou sobre a verdadeira caça às bruxas que enfrentou em seu país de origem. Ela avaliou que sempre existiu uma hostilidade contra mulheres intelectuais, escritoras e pensadoras e que esse sentimento ressurge mais fortemente em momentos mais críticos, como em crises políticas.  “Nessas situações, as mulheres são sempre as mais vulneráveis.”

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Represente da Dinamarca . Peter Hoeg, 61 anos

Minibiografia . Antes de dedicar-se à literatura, o escritor nascido em Copenhague teve diferentes ocupações. Foi marinheiro, dançarino e ator, além de praticar esgrima e montanhismo. Ter experiências tão variadas acabou servindo de combustível para contar histórias e essas vivências acabam aparecendo em seus livros.

Livro escolhido para essa batalha . Senhorita Smilla e o Sentido da Neve, lançado em 1992.

Motivo da escolha . Uma protagonista feminina forte em uma trama de suspense já é de chamar a atenção. Situado na Groenlândia, o enredo mostra um cotidiano completamente desconhecido para  a maior parte dos leitores brasileiros.

Bônus . O livro traz frases emblemáticas, como essa: ”Não há ser humano que não fique aliviado quando alguém o obriga a falar a verdade.” A obra ganhou uma adaptação para o cinema, em uma coprodução da dinamarquesa, sueca e alemã.

Voos Literários

Batalha Literária . Espanha x Rússia

Flávia Cunha
1 de julho de 2018

Hoje é domingo e é dia de futebol. E a gente tá nessa também é claro. Inspirada pelas oitavas de final da Copa do Mundo, proponho uma espécie de super trunfo de livros dos países classificados nessa fase da competição. Para a escolha das obras, criei o seguinte critério: escritores contemporâneos e ainda em atividade. Vamos às duas competidoras dessa batalha.

Represente da Espanha . María Dueñas, 54 anos

Minibiografia . A escritora espanhola era professora universitária especializada no estudo da língua inglesa até consagrar-se como uma romancista mundialmente famosa. Atualmente, suas obras já foram traduzidas para mais de 35 idiomas e é um dos destaques literários espanhóis da atualidade.

Livro escolhido para essa batalha . O Tempo entre Costuras, publicado em 2009.

Motivo da escolha: O livro retrata a guerra civil espanhola, ocorrida entre 1936 e 1939, sob a perspectiva feminina. A história da protagonista Sira Quiroga é entrelaçada com acontecimentos e histórias reais, o que dá mais força ao relato.

Bônus: O enredo do livro virou uma série em 2013, com figurinos e elenco que fazem jus à obra original. Para os interessados em conferir a adaptação, o seriado está disponível na Netflix.

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Representante da Rússia . Victor Pelevin, 55 anos

Minibiografia: O escritor é um dos autores russos contemporâneos com mais representatividade mundial desde o fim da União Soviética. Com inúmeros prêmios em sua trajetória literária, sua obra é reconhecida por mesclar a cultura pop com elementos de ficção científica.

Livro escolhido para essa batalha . A metralhadora de argila, lançado em 1996.

Motivo da escolha: Os delírios oníricos em que o protagonista da obra está imerso acaba sendo a base de uma reflexão sobre os dilemas russos enfrentados com o fim do regime soviético. No fim das contas, os questionamentos apresentados no enredo são universais e servem como ponto de partida para reflexões pessoais dos leitores.

Bônus: Os delírios do protagonista são intercalados por alucinações relatadas por outros personagens. “Nada existe de verdade, tudo depende daquele que olha”, é um das frases mais emblemáticas desse livro.

Voos Literários

Batalha literária da Copa . Uruguai x Portugal

Flávia Cunha
30 de junho de 2018

Na segunda batalha do Voos Literários, vamos a dois competidores com trajetórias bem distintas  – assim como Uruguai e Portugal em Copas do Mundo – mas que tem curiosas relações com suas respectivas nacionalidades. No gramado, o Uruguai levou a melhor em 2018. Mas como será no papel? Inspirada pelas oitavas de final da Copa do Mundo, proponho uma espécie de super trunfo de livros dos países classificados nessa fase da competição. Para a escolha das obras, criei o seguinte critério: escritores contemporâneos e ainda em atividade. Vamos às duas competidoras dessa batalha.

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Representante do Uruguai . Carmen Posadas, 64 anos

Minibiografia .  Começou sua carreira como escritora com livros infantojuvenis e consagrou-se na literatura adulta, tendo recebido diversos prêmios ao longo de sua trajetória.  Nascida em Montevideu, também tem cidadania espanhola, após muitos anos morando na Europa. Sua obra é apreciada por leitores de língua espanhola de diferentes países e já foi traduzida para 21 idiomas.

Livro escolhido para essa batalha . As Moscas Azuis, lançado em 1996

Motivo da escolha . É o primeiro romance dessa grande escritora. Além disso, tem um enredo bem interessante. O protagonista, um homem decidido a suicidar-se acaba envolvido na tentativa de resolver a trama de um assassinato.

Bônus . Carmen Posadas também é reconhecida como articulista, tendo ganho em 2017 o prêmio Rei da Espanha de Jornalismo pelo artigo Sonhar em Espanhol.

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Representante de Portugal, José Mario Silva, 46 anos

Minibiografia . Apesar de ter nascido em Paris, o escritor foi levado pelos pais com poucos meses de vida para morar em Portugal, onde segue residindo. Licenciado em Biologia, trabalha como jornalista desde 1993.  Publicou poesias e contos.

Livro escolhido para essa batalha . Efeito Borboleta e outras histórias, de 2010

Motivo da escolha . Ganhei um exemplar dessa obra durante uma aula do professor Luis Augusto Fischer, na UFRGS, em 2013, ano em que ele foi escolhido como patrono da Feira do Livro de Porto Alegre. Desde então, tem um lugar especial na minha biblioteca pessoal.

Bônus . Apenas os minicontos no fim do livro já valem a leitura. Entre eles, destaco meu preferido:

“Noções de geometria afectiva

Os triângulos amorosos nunca são equiláteros.”