Raquel Grabauska

Atenção aos sinais

Raquel Grabauska
25 de maio de 2018

Meu filho mais novo sempre teve algumas questões sensíveis que nos colocavam no limite entre manha / necessidade / vontade. Aqui sempre foi uma casa de muitos colos, de carinho, de conversa. Começou uma fase de chiliques que ficamos sem saber como lidar. Qualquer cheiro mais forte, irritava. Sair de casa e dar de cara com o sol, irritava. Barulho então, qualquer som mais alto ou pessoa falando muito, irritava.

Estávamos todos em frangalhos. Muitas variáveis, todos pisando em ovos. Até que tivemos que levar o mais velho na oftalmologista. Aproveitamos a ida e consultamos os dois. Pela reação que ele teve ao pingar a gota no olho, a médica já me alertou: tem grau.

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Fomos na expectativa de que o mais velho precisaria de óculos. Saímos chorando: o mais velho por não precisar de óculos, o mais novo por não estar enxergando por causa da pupila dilatada e eu chorando por causa do diagnóstico.

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Há uma diferença grande de grau entre um olho e outro. Então é como se um olho não tivesse aprendido a enxergar. A instrução é de começar o uso de óculos imediatamente. Esperar três meses e torcer para que os óculos façam o olho aprender a ver. Caso não seja suficiente, em três meses terá que fechar o olho bom para obrigar o outro a focar. Isso foi há três semanas. O início foi bem difícil. Ele não reconheceu os personagens dos desenhos na TV. Na rua foi mais fácil. Em três dias já vimos uma mudança incrível no humor. O cansaço que a falta de visão estava gerando foi transformado em energia. Hoje, ele me falou sobre estar triste que os olhos não funcionam. Mas está usando os óculos, o tempo todo. Aprendeu até a limpar as lentes sozinho.

A oftalmologista disse que isso se trata até a criança ter seis, sete anos. Depois não há o que fazer. Vimos com uma folga de dois anos para tratar. Agora é esperar e torcer. Eu resolvi escrever sobre isso como uma forma de alerta. Independente do problema, precisamos estar sempre atentos aos sinais que as crianças mostram e eventuais mudanças de comportamento. Isso pode indicar algum problema que sequer imaginamos.

Raquel Grabauska

Supermanhê! – 14 habilidades que as mulheres adquirem com a maternidade

Raquel Grabauska
27 de abril de 2018

Tava aqui em casa numa pose esdrúxula tentando alcançar bem o dente que tá nascendo na boca do meu filho para uma bela escovação quando pensei no tanto de coisas que tinha aprendido nos últimos sete anos em função de ser mãe. Nem tanto em coisas que aprendi, mas em talentos que fui obrigada a desenvolver. Fiquei com vontade de criar uma história em quadrinhos. Por enquanto, pensei nisso.

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Super-Habilidades que adquirimos com a chegada dos  filhos

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Contorcionismo – ao tentar escovar os dentes, trocar fraldas;

Velocidade – ao ver o filho em situação de perigo, como uma queda;

Virar o incrível Hulk – ao mexerem com o filho da gente;

Super audição – ouvir o choro ao longe no meio de várias crianças  e saber que aquele choro é o do filho;

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Mandei para algumas super mães que conheço e elas contribuíram

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Originalidade – ter certeza de que o que nossos filhos fazem nenhuma outra criança jamais fez. Mirna Spritzer, mãe da Laura;

Malabarista –  equilibrar filho, compras, e muito mais!!! Carina Moresco – mãe do Felipe, Pedro e Laura;

Motivacional – mesmo que tenha tido um dia péssimo, a carinha do filho te alegra. Ana Cláudia,  mãe do Dudu;

Habilidades artísticas –  cantar para acalmar choro, principalmente no carro, no uber. Ana Karla, mãe do Valentim

Disfarce – não tô chorando. Vika Schabbach, mãe da Isadora;

Sentidos hiper aguçados – paladar (nos transformamos nas melhores testadoras de alimentos ). Audição – reconhecemos a respiração dos nossos filhos e,  no reconhecimento, já temos o diagnóstico: alergia, gripe, resfriadinho comum. Tato – nada nos escapa, qualquer mudança na temperatura. Ou mesmo mínimas alterações na pele. Vanessa Balula, mãe da Dora;

Super vampira –  Quando não dormir a noite  passa a ser uma rotina e não uma escolha. Natalia Giacometti , mãe da Duda;

Premonição:  montar a mochila pra sair de casa com roupa de frio, de calor, outro par de meia, repelente. Carolina Hilário, mãe da Teresa e do Francisco;

Criadora de narrativas imaginárias, usando elementos do dia a dia, uma peneira, colher, panela viram cenários de histórias pra entreter quando tentamos cozinhar. Bárbara Fraga, mãe do Giuseppe;

Imunidade ao nojo: limpar cocô, pegar a comida que a criança estava comendo desistiu no meio enquanto está dirigindo… Ana Cláudia Milani, mãe do João Francisco;

É muito poder mesmo, né? Quando nasce uma criança, nasce uma mãe, isso é verdade. Os super poderes a gente adquire!

Raquel Grabauska

Casa de ferreiro…

Raquel Grabauska
20 de abril de 2018

Eu escrevo histórias. Histórias para crianças, histórias que ouvi, contos, adoro. Quando estava grávida do meu primeiro filho, imaginava tudo o que ia fazer com ele. Os passeios, as brincadeiras, a bagunça. Mas o que eu mais sonhava mesmo era com as histórias que iria inventar pra ele. Com as histórias que iríamos criar juntos.

Ele nasceu. Brincadeiras, passeios, bagunça. Tudo aconteceu melhor do que eu esperava. Comecei a ler histórias pra ele desde muito cedo. Ele era bebezinho e lembro de uma moça que limpava o aeroporto parar ao meu lado e ficar me observando contar história pra ele. Quando acabei, ela perguntou: “mas ele entende?” Conversei com ela e, no final da conversa, ela confessou: nunca leram pra mim. E ficou ali, ouvindo a história conosco.  Aquilo me comoveu muito e desde esse dia li com mais paixão ainda. Temos uma combinação de ler três histórias por noite.

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Só que a minha tão sonhada vontade de inventar as histórias, nunca passou disso: vontade. A história mesmo,  nunca chegou!

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Meu marido inventa mil histórias. No outro dia, as crianças pedem pra contar a mesma de novo. Ele tenta relembrar, eles vão corrigindo os detalhes esquecidos. Comigo, não sei o que acontece. Até começo a inventar. Nos dias bons, consigo ir até a terceira frase e logo chego ao fim.

Quando escrevo uma história, ela sai rápida, como se já estivesse toda comigo. Ainda bem que eles gostam das histórias lidas pela mamãe e das inventadas pelo papai!

Raquel Grabauska

Qual a quantidade ideal de filhos?

Raquel Grabauska
16 de março de 2018

Uma amiga muito querida dia desses me confidenciou que estava triste por ter sido posta contra a parede por não querer o segundo filho. A Cunhada – que não tem filhos – disse para ela que era muito egoísmo criar um filho só.

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Fiquei pensando sobre ter dois filhos. O segundo filho traz uma mudança estrondosa pra família

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O primeiro já traz, claro. Mas, numa situação confortável,  um tu consegue dividir com o companheiro. Se vocês tão passeando e a cria precisou de colo, reveza. Se tem dois, os dois estarão com o colo ocupado. Dei um exemplo bobo, mas é isso que acontece com tudo. É muito lindo a relação de irmãos. É lindo ver o amor multiplicar. Mas não é fácil. Vejo muita gente querendo ter o segundo filho pelos motivos que a cunhada falou. Muitas!

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Tenho conversado com muita gente, muitas famílias, muitas mães. E vejo gente que tem/ teve o segundo filho, pra quem a vida vira um inferno

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A questão financeira é muito importante. Não dá pra pensar que a gente não vai dar bola pro colégio. E vai precisar de roupa, de comida, de sapato. Médico, plano de saúde. Brinquedo. Lavar roupa, pentear… Vai sim. Conheço muitas famílias com irmãos que não se falam. E muitas famílias com um filho só que estão sempre atentos às necessidades desse filho. De todos os tipos!

O mundo ia ser mais leve se cada um cuidasse da sua vida. Ter um filho é lindo. Ter dois, também é. Não ter, é uma opção. Que pode ser linda também. Qual a quantidade ideal de filhos? Não existe.

Raquel Grabauska

Música de gente grande pra todo mundo ouvir

Raquel Grabauska
9 de março de 2018

Uma das muitas coisas boas que aprendi com meus irmãos mais velhos foi ouvir música. Mais que tudo, ouvir música boa. Eu lembro da sensação de confiança que eu tinha. O que eles ouviam, eu sabia que deveria parar e ouvir também. Cantava as músicas muitas vezes sem nem fazer ideia do que tava sendo dito.

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Como foi com a Rita Lee: “se a Débora quer que o Gregor lhe pegue”

Essa era a minha versão, cantada com todo o entusiasmo.

A dela era: “se a Deborah Kerr que o Gregory Peck”

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Muitas dessas músicas boas faço questão de mostrar aos meus filhos. Flutuo feliz e emocionada quando vejo eles gostando e cantando também. Acho que a mais óbvia de todas, mas que figura em todas as listas é O Leãozinho. E segue:

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Mestre Jonas, de Sá e Guarabyra
A Lenda do Pégaso, de Moraes Moreira e Jorge Mautner
O Vira – ou, na nossa versão, “O gato preto cruzou a estrada”
Vida de Cachorro – também conhecida por nós como “Vamos embora cachorrinho”
Peixinhos do Mar, do Milton Nascimento – melhor chamada de “Quem me ensinou a nadar”
Borboleta, de Marisa Monte – mais fofamente conhecida por “Borboleta pequenina”
Pombo Correio, do Moraes Moreira
Acabou Chorare, dos Novos Baianos

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Recentemente descobri essa de DaniBlack feat. Milton Nascimento

Raquel Grabauska

Primeiro dia de aula

Raquel Grabauska
2 de março de 2018

Mãos suadas, ansiedade, cadernos novos, mochila organizada. Expectativa a milhão!

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Muita novidade, ansiedade, mil coisas pra assimilar!

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Falando do meu filho que começou no primeiro ano? Não! Tô falando de mim! Ele foi mega feliz. Ficou tímido nos dois primeiros minutos e depois me dispensou. Assim, sem mais nem menos. Dispensou mesmo! Minha ansiedade dissipou e meu sorriso encontrou o dele. Estamos prontos!

Época que dá vontade de encontrar os amigos, mais do que nunca. Amigos que estão com os filhos começando a escola, que trocaram de escola… estamos todos no mesmo barco.

Têm os pais que vibram com a chegada do fim das férias. Tem os pais que choram num cantinho achando que ainda é cedo para separar do filhote. Tem de tudo. Mas os filhos crescem. E isso é para todos! Bom início de ano letivo para todos!

Raquel Grabauska

Palpiteiros de plantão

Raquel Grabauska
23 de fevereiro de 2018

Ano de 2018. São muitos anos de humanidade. Muitos. Já inventaram a roda, penicilina, café expresso, protetor solar… Talvez seja por ver essa evolução do mundo que me choque tanto o comportamento das pessoas.  Especialmente o dos palpiteiros! Nuuuuuussa! Haja paciência com os palpiteiros. Sou uma pessoa paciente. Mas me sinto o ser mais involuído do mundo perto de um palpiteiro. Tenho vontade de dizer todas as coisas que não se deve dizer e fazer todas as coisas que não se deve fazer quando sou abordada por um palpiteiro.

Dia desses chegamos num lugar público. Bem público. A praia, na verdade. Em dois segundos uma família veio e ficou íntima. Eu gosto de gente. Gosto mesmo. Mas…

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Já começamos assim: “É a primeira vez das meninas na praia?”

“Meninos”, disse eu.

“Meninos?!!!!”

“Sim, meninos. São meninos cabeludos.”

Silêncio de meio segundo seguido de um “hannnnn”

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Sério? Já inventaram até máquina de pão e as pessoas ainda se importam com o cabelo dos outros????

Pensei em ir mais pro fundo do mar, em busca de privacidade. Uma onda safada nos aproximou novamente. Mais perguntas, forçando uma aproximação. Os guris tinham viajado durante a noite, dormido mal, nadaram a manhã inteira, viajaram mais duas horas de carro. E estavam no mar! Felizes, como é pra ser. Não estavam interessados em perguntas e respostas. Estavam deslumbrados, como se fosse a primeira vez. Pra quem não mora na praia, acho que toda vez parece a primeira vez.

Dois segundos mais de conversa, poucas respostas minhas e zero dos guris. E eles são bem queridos. O intruso solta: “ah, esse é bem mais solto que o outro!” Se referindo ao meu filho mais novo.

Mergulhei pra não mergulhar o intruso. Dar um caldinho não seria má ideia… mas meus filhos estavam ali e não gosto de dar mau exemplo. TPM na escrita à parte, porque ó céus???? Qual a necessidade de se meter tanto? Vai fazer um castelo de areia, vai.

Raquel Grabauska

Fases

Raquel Grabauska
16 de fevereiro de 2018

Meus dois filhos andavam bem difíceis. Tudo era motivo pra briga, manha, choramingos mil. E sempre que eles saem do prumo, revejo como estamos por aqui. Se saímos da rotina, eles sentem. Se estamos tensos, eles sentem. Se … eles sentem. E se desorganizam. Há que se respirar fundo pra cessar o motivo inicial e recomeçar a funcionar com calma. Fácil não é.

No auge de um dia em que tive vontade de sair correndo a pé pra África, perguntei pro meu filho mais velho, que estava na 83 manhã da manhã (isso era perto das 9h!) o que estava acontecendo. Perguntei não, dei um mega discurso. Ele, que até então disparava um chilique por minuto, me disse:

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“Mamãe, tu tem que entender que eu tô numa fase muito difícil.”

Entre a vontade de rir e a certeza de que estava sendo enrolada, perguntei: qual fase?

“A fase dos dentes”

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Assim, sem enrolar, miar. Só lúcido, analítico. Sensível e conhecedor de si mesmo. Não vou dizer que foi um tapa de luva. Foi mesmo um mega soco com aquelas luvas de boxe que tu vê o atingido ir caindo pelo ringue lentamente até se espatifar no chão. Ele tem seis anos e dois dentes nascendo ao mesmo tempo. Lembrei de que ele sempre foi o bebê mais doce do mundo. Quando nasciam os dentes, era muito sofrimento, choro, irritação.

E naquele dia ele virou meu bebê novamente. E depois virou a pessoa mais madura que já vi. Se dar conta de um processo desses, conseguir assimilar e expressar, é para os grandes. Me senti pequena, inábil como mãe e completamente insensível. Pedi desculpas e ando conversando com a fada do dente…

Raquel Grabauska

O melhor brinquedo para dar para uma criança 

Raquel Grabauska
9 de fevereiro de 2018

 Férias chegando, arrumação de mala, aquela função toda. Uma amiga também estava precisando de férias e não teria como sair da cidade. Ofereci pra ela e o filho ficarem em nossa casa. Me dei conta que o filho dela é mais velho que os meus.

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Comentei que não sabia se ele ia se interessar pelos brinquedos dos guris.

Ao que ela me respondeu: tu sabe qual o brinquedo que uma criança gosta?

Enquanto eu estava no hummmm… ela disse: outra criança

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Isso fez tanto sentido pra mim, me desmontou, me remontou, me fez sorrir e trouxe leveza. Já vi crianças deixando o brinquedo de lado e indo brincar com a caixa. Ahhhh, mas ter um amigo pra brincar, não tem coisa melhor.

Outra amiga está passando um tempo fora do país. Não muito tempo a ponto de colocar o filho na escola, nem tão pouco a ponto de não precisar ter amigos novos. Quando me contou do quanto está gostando da viagem, a única ressalva era a falta de amigos para o filho brincar.

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Quando ficamos morando fora por seis meses, raros os dias em que meus guris não falassem nos amigos. E teve dias em que até brincadeira através da internet as mães dos amigos  eu promovemos, porque a saudade era gigante

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Agora estamos em férias numa pousada. Os guris fizeram amizade de cara. O outro menino foi embora uns dias após a nossa chegada e deu pra ouvir os corações rachando. Ao mesmo tempo, foi lindo de ver os irmãos tão próximos, brincando, estando ali um para o outro. Brigando, dizendo coisas duras. Reconciliando depois. Assim como fazem os bons amigos.

Raquel Grabauska

Hoje chorei comprando manga

Raquel Grabauska
2 de fevereiro de 2018

Estávamos no carro e na estrada, vimos duas crianças vendendo frutas numa banquinha improvisada. Janeiro, Nordeste, perto de 36 graus. Sol escaldante. E vi um dos sorrisos mais lindos do mundo.

Me pareceram duas irmãs. Felizes com a venda. A mais velha foi me dar o troco, eu disse que não precisava. O olhar feliz entre as duas me desmontou. Era pouco o troco. Quis ter dado mais. Muito mais. Quis tirar as meninas dali. A mais nova das irmãs regulava de idade com meu filho mais velho. Que segundos atrás regateava conosco um presente que queria. E eu vinha explicando que não iria dar, que fazia poucos dias que ele havia ganhado um brinquedo, que a vida… e apareceram as meninas vendendo manga.

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Meus meninos ficaram espantados com as crianças trabalhando. Já nos ouviram falando mil vezes sobre, mas nunca tinham visto de perto

De tão perto

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Fiquei pensando no quanto o lugar onde nascemos define quem somos. As oportunidades, o que seremos. O que o futuro nos reserva, não sabemos. Mas hoje me doeu pensar no futuro daquelas meninas. Não me permiti sentir pena delas. Quero admirá-las. Admiro. Pequenas valentes. Nosso carro retomou o caminho e as lágrimas puderam cair. Aquele sorriso vai me iluminar por muito tempo.