Meus dois filhos andavam bem difíceis. Tudo era motivo pra briga, manha, choramingos mil. E sempre que eles saem do prumo, revejo como estamos por aqui. Se saímos da rotina, eles sentem. Se estamos tensos, eles sentem. Se … eles sentem. E se desorganizam. Há que se respirar fundo pra cessar o motivo inicial e recomeçar a funcionar com calma. Fácil não é.
No auge de um dia em que tive vontade de sair correndo a pé pra África, perguntei pro meu filho mais velho, que estava na 83 manhã da manhã (isso era perto das 9h!) o que estava acontecendo. Perguntei não, dei um mega discurso. Ele, que até então disparava um chilique por minuto, me disse:
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“Mamãe, tu tem que entender que eu tô numa fase muito difícil.”
Entre a vontade de rir e a certeza de que estava sendo enrolada, perguntei: qual fase?
“A fase dos dentes”
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Assim, sem enrolar, miar. Só lúcido, analítico. Sensível e conhecedor de si mesmo. Não vou dizer que foi um tapa de luva. Foi mesmo um mega soco com aquelas luvas de boxe que tu vê o atingido ir caindo pelo ringue lentamente até se espatifar no chão. Ele tem seis anos e dois dentes nascendo ao mesmo tempo. Lembrei de que ele sempre foi o bebê mais doce do mundo. Quando nasciam os dentes, era muito sofrimento, choro, irritação.
E naquele dia ele virou meu bebê novamente. E depois virou a pessoa mais madura que já vi. Se dar conta de um processo desses, conseguir assimilar e expressar, é para os grandes. Me senti pequena, inábil como mãe e completamente insensível. Pedi desculpas e ando conversando com a fada do dente…
