Voos Literários

E se a geração de 1968 for às ruas protestar contra Bolsonaro?

Flávia Cunha
28 de março de 2021

“Os jovens terão que ficar em casa e torcer pelos avós. Assim o jornalista José Trajano define a ideia, surgida nas redes sociais, de que a geração de 1968 vá às ruas protestar contra o governo Bolsonaro. A referência etária se deve ao fato de que as possíveis manifestações ocorreriam após a vacinação em massa dos idosos no Brasil. Confira a entrevista completa aqui

Protesto contra os desmandos bolsonaristas

A possibilidade de protestos promovidos por quem lutou contra a ditadura militar me parece um sopro de esperança. Além disso, seria muito simbólico que os atos contra a condução irresponsável e criminosa da pandemia pelo governo federal fossem promovidos pela faixa etária acima de 60 anos.

Valorização dos idosos

Primeiro, por demonstrar o quanto o preconceito etário precisa ser combatido. Muitos jovens, mesmo sendo progressistas, esquecem ou desvalorizam as lutas promovidas pela geração de 1968. Não apenas pelo que fizeram no passado, mas também por isso, os idosos de hoje devem ser tratados com dignidade.  E essa deve ser uma pauta prioritária da esquerda brasileira, hoje e sempre.

Eliminação dos “menos aptos”

Segundo, porque há um discurso eugenista em relação à velhice desde que a pandemia começou no Brasil. Um dos argumentos escrotos é de que os idosos deveriam estar fora do grupo prioritário de vacinação. O motivo? Não serem mais produtivos do ponto de vista econômico. Para agravar essa situação, diante do colapso do sistema de saúde brasileiro, há uma nova perseguição aos mais velhos. Existem lideranças políticas da extrema-direita defendendo que idosos não recebam tratamento médico. Por esse entendimento insano, a prioridade de atendimento seria apenas a vida dos mais jovens e “aptos”. A justificativa velada é, novamente, de que aposentados seriam um fardo para a sociedade. O que, sabemos, está longe de ser verdade. Na atualidade, muitas famílias estão sendo sustentadas por pensões e aposentadorias, após a escalada do desemprego e a precarização das relações de trabalho dos últimos anos.

Protestos observando protocolos

Sendo assim, há motivos de sobra para que a combativa geração de 1968 retorne ao seu papel de protagonismo político. Claro, desde que haja toda a segurança para evitar novas contaminações pelo coronavírus. A ressalva já foi feita pelo próprio Trajano, em suas redes sociais

“Quanto a ideia de sair às ruas depois de 20 dias após ter recebido a segunda dose, usando máscaras e tentando observar o máximo de distanciamento social possível, só o faremos se cientistas derem sinal verde. Caso contrário, esperaremos para por o bloco na rua e gritar GENOCIDA!”

Desinformação e preconceito etário

Após a divulgação da notícia sobre uma possível manifestação promovida pela geração de 1968, uma onda de desinformação começou a circular. Houve o entendimento, equivocado, que a referência seria às pessoas nascidas naquele ano, que estariam sendo chamadas de “velhas” (Novamente, observamos o preconceito etário, mesmo entre esquerdistas). 

Por isso, considero necessário recomendar algumas leituras para a compreensão de um ano tão importante historicamente. 1968 pode, inclusive, servir de inspiração para o sombrio momento atual.  

1968: O ano que não acabou, de Zuenir Ventura

 A obra é uma referência no Brasil sobre o assunto e teve uma edição especial em 2018. No prefácio dessa nova edição, o autor comenta:

“Apesar da resistência do atraso, o Brasil é, inegavelmente, melhor do que era em 1968. As mudanças de costumes e comportamentos foram tantas — e produzidas ao mesmo tempo — que estão sendo responsabilizadas pela atual onda de conservadorismo que grassa aqui e no mundo, ou seja, tenta-se culpar o avanço dos anos 1960 pelo retrocesso dos anos 2000.”

Zuenir Ventura também destaca o quanto a falta de vivência e conhecimento contribui para que a o regime militar brasileiro seja exaltado na atualidade:

“[…] há entre os que não viveram os tempos de ditadura militar a falsa impressão de que, graças à ordem armada, não existia corrupção como a que se verifica atualmente no país. Um episódio apenas para desfazer esse engano: em 1968, o governo chegou a instalar uma Comissão de Investigações para confiscar os bens adquiridos de maneira ilícita por militares e agregados. Como se não fosse suficiente, em 1970 o Coordenador da Oban (braço clandestino da repressão) propôs ao Comando do II Exército uma Oban específica contra a corrupção, que não era percebida pela sociedade porque uma implacável censura impedia que a imprensa noticiasse.” 

1968: Quando a Terra Tremeu, de Roberto Sander

Sinopse: 1968 é um ano-chave para a história mundial e brasileira, repleto de episódios emblemáticos, como o Maio Francês e a Primavera de Praga, na Europa, e a Passeata dos Cem Mil e a imposição do temido AI-5, num Brasil subjugado pelo regime militar. A abordagem do jornalista Roberto Sander neste livro, contudo, não se limita aos acontecimentos políticos que tão profundamente marcaram o período. […] m 1968 – Quando a Terra tremeu, Roberto Sander explora histórias saborosas e surpreendentes sobre ciência, moda, comportamento, esporte e cultura em geral, daquele que foi um ano ainda mais complexo, assombroso e sedutor do que se sabe.

1968: Eles só queriam mudar o mundo, de Regina Zappa e Ernesto Soto

Sinopse: Um verdadeiro almanaque ilustrado da geração que disse não ao conformismo Do movimento estudantil às trincheiras do Vietnã, das comunidades hippies às passeatas pelos direitos civis, esse livro narra os principais eventos políticos e culturais e as mudanças de comportamento da época, no Brasil e no mundo. Organizado mês a mês, traz histórias saborosas, personagens emblemáticos, as músicas mais tocadas, os filmes que deram o que falar naquele ano, além de depoimentos e entrevistas com personalidades que viveram intensamente o momento. E mais: moda, Beatles, feminismo, astrologia, arte, teatro, política, entre outros temas, em textos assinados por especialistas. 

Imagem:  Twitter/Reprodução

 

Voos Literários

Uma carta às vítimas da pandemia

Flávia Cunha
21 de março de 2021

Alerta de gatilho:

Se você está com dificuldades de lidar com a perda de uma pessoa querida em função da pandemia, procure o auxílio de um especialista. Existem muitos profissionais e entidades atendendo, de forma gratuita e online, desde março de 2020, em diferentes cidades brasileiras. A pandemia e suas consequências também são grandes desafios para a saúde mental.  Não fique só. Busque ajuda.

Um recado para quem partiu

Vocês, que até agora somam quase 300 mil vítimas da pandemia no Brasil, não cairão no esquecimento. Tenho certeza que as pessoas sensíveis que aqui ficaram não deixarão isso acontecer. Para que vocês sejam para sempre lembrados, foram criados memoriais virtuais. São realizadas homenagens. Pois quem ainda tem humanidade dentro de si não consegue deixar de fazer parte de um luto coletivo ainda sem prazo para acabar.

Homenagens

Confesso ser difícil escrever para quase 300 mil pessoas diferentes. Mas acho que um recado importante é garantir que todos, independente de suas trajetórias em vida, deixaram saudade. A cada dia, nós, os sobreviventes, lemos, com lágrimas nos olhos, os relatos comoventes de histórias de vidas interrompidas pela mesma doença. Por isso, choramos pelos nossos mortos e pelos mortos que não conhecemos em vida.

Empatia e solidariedade

Lamento dizer aos que não estão entre nós, que vivemos em um Brasil cada vez mais triste e desamparado. Assistimos, com ódio e impotência, um presidente irresponsável que debocha do sofrimento do povo. Um governante que não demonstra pesar por vocês, as vítimas dessa grande incompetência e falta de articulação por parte do Executivo federal. 

Um recado final

Mas a questão, sabemos, vai além da política. Precisamos dar apoio aos mais fragilizados pelo luto. Pois tantas perdas resultam em uma dor difícil de lidar. Essa carta é uma pequena homenagem a  vocês, que não já estão neste plano. E uma tentativa de consolo a quem sofre com isso. 

Com amor e respeito,

Flávia

PS: Deixo, abaixo, duas sugestões de leitura aos enlutados. Espero que sejam úteis.”

 

Escrever pode ser terapêutico

Para quem sofre com uma perda recente, uma forma de extravasar a dor é escrevendo. Uma inspiração literária para refletir sobre essa forma de lidar com o luto é a obra Cartas de amor aos mortos,  de Ava Dellaira. Laurel, a protagonista desta narrativa, é motivada, por uma professora, a criar textos para alguém que já se foi. A partir desta tarefa escolar, a personagem escreve para personalidades como Amy Winehouse e Kurt Cobain. Até entender que precisa expressar a dor pela perda de alguém muito mais próximo.

Luto infantil

Se o luto já é difícil para adultos, o processo é ainda mais sensível para crianças, que têm dificuldade para entender a finitude da vida. Muitas vezes, na tentativa de preservar a inocência dos pequenos, há um silenciamento sobre o assunto. Porém, ao não explicar o conceito de morte e não abordar a perda de um familiar, a reação infantil pode ser de medo, insegurança ou culpa. Para ajudar a falar sobre o assunto, sugiro o livro O vovô não vai voltar?, de Carmem Beatriz Neufeld e Aline Henriques Reis. Também abordamos o delicado tema do luto infantil no podcast Cantinho da Leitura, do Vós.

Imagem: Debby Hudson/Unsplash

 

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BSV Especial Coronavírus #49 Ministro novo, política velha

Geórgia Santos
17 de março de 2021

A primeira morte por coronavírus aconteceu há um ano, no Brasil. E agora chegamos à marca de 280 mil vidas perdidas em função da Covid-19 no país. E o que o governo federal e o presidente da República estão fazendo? Colocando um ministro novo e fazendo uma política velha. 

Pouco, ou quase nada. Depois de dizer que máscaras não funcionam, que lockdown é inútil, que não vai se vacinar, depois de recusar milhões de doses de vacinas, depois de fazer absolutamente tudo para que o vírus continue circulando, Jair Bolsonaro resolveu trocar o Ministro da Saúde. De novo.

A primeira sondagem foi com a médica Ludhmilla Hajjar, que se mostrou favorável à necessidade do lockdown regionalizado e contrária ao tratamento precoce. Ela, que já poderia parecer suspeita a uma parte da população por aceitar conversar com Bolsonaro, virou alvo da outra metade. Bolsonaristas ameaçaram inclusive a integridade física da médica, segundo ela contou em entrevista à Globonews. E qual foi a resposta do presidente com relação a isso? Que faz parte.

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O novo ministro da saúde, então, é o médico Marcelo Queiroga. O cardiologista afirmou à CNN que lockdown só deve ser aplicado em “situações extremas”
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Se isso não é situação extrema, não sabemos o que é. Para termos dimensão da gravidade do momento, conversamos com o Dr. Alexandre Zavascki, médico infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre  e professor da UFRGS, que ressalta o papel fundamental do presidente na desinformação.

Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no SpotifyItunes e Castbox

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BSV Especial Coronavírus #48 Lula lá?

Geórgia Santos
10 de março de 2021

Lula tinha certeza que esse dia chegaria

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O dia a que Luiz Inácio Lula da Silva se refere é o dia em que o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu anular as condenações do ex-presidente petista na Operação Lava Jato. Como se não bastasse, o ministro Gilmar Mendes resolveu retomar a discussão sobre a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro. No dia seguinte.

Depois de anos, Lula convocou uma coletiva para falar justamente sobre a anulação das condenações. Mas ao contrário do que muitos esperavam, o tom não foi de raiva, ódio ou ressentimentoNo pronunciamento desta quarta-feira (10), Lula mostrou uma face humana, conciliadora, que dialoga com os mais pobres, que se solidariza com os parentes dos mortos pelo coronavírus. O discurso do petista se opõe frontalmente ao de Jair Bolsonaro. Na forma e no conteúdo. Contrasta com a posição raivosa que, infelizmente, estamos habituados a ouvir. Eleva o nível do debate político e deixa de lado grosserias, ameaças, termos chulos. Mas nao se exime de críticas, pelo contrário. Acerta Bolsonaro na jugular e defende a vacina.

Lula não fala em 2022, não diz se será ou não candidato, afinal, essa decisão faz com que ele possa disputar as eleições, mas a disputa está lançada e parece que Bolsonaro entendeu o recado.

Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no SpotifyItunes e Castbox

 

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BSV Especial Coronavírus #47 O pior momento da pandemia – e como lidar com ele

Geórgia Santos
3 de março de 2021

Nesta semana, na primeira semana de março de 2021, o Brasil vive o pior momento da pandemia de coronavírus. Na última terça-feira (2) recorde de mortes. Mais de 1700 pessoas perderam a vida. Vítimas da Covid -19. Vítimas da irresponsabilidade e incompetência e descaso de Jair Bolsonaro.

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Uma manchete da folha de São Paulo desta quarta-feira (3) diz que, “alegre, Bolsonaro promove almoço bem descontraído, com leitão, em dia de recorde de mortes por Covid-19
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Os brasileiros foram abandonados à própria sorte. atordoados por desinformação, há quem não use mais máscara, quem não se preocupe com a nova variante – mais cruel, mais letal -, há quem não veja problema em aglomerar, fazer festa, deixar tudo aberto. Os brasileiros foram abandonados pelo presidente Jair Bolsonaro. Fomos abandonados por quem tem responsabilidade LEGAL pela crise sanitária que vivemos. Sim, legal, porque ele é o presidente. O presidente que não compra vacinas, o presidente negacionista, o presidente que promove cura falsa, o presidente que MENTE compulsivamente.

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Então temos de nos apegar uns aos outros. Por isso, esse episódio é, também, sobre como resistir. Sobre o importante e necessário mutirão de amor que pode salvar vidas
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Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no SpotifyItunes e Castbox

 

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BSV Especial Coronavírus #45 O abandono da cultura

Geórgia Santos
17 de fevereiro de 2021

Chegando perto da marca de um ano desde a primeira morte por coronavírus no Brasil, resolvemos mostrar, com depoimentos e entrevistas, como essa pandemia afetou as pessoas de forma diferente. No último episódio, mostramos a situação precária dos motofretistas e entregadores de delivery.

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Nesta semana, vamos falar sobre os profissionais da cultura
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Os artistas são tratados por vagabundos pelo governo federal e apoiadores. Não é segredo para ninguém. Jair Bolsonaro disseminou muita desinformação sobre artistas e a Lei Rouanet – antes, durante e depois da eleição. Já presidente, acabou com o Ministério da Cultura. O terceiro secretário, Roberto Alvim, caiu porque fez um discurso praticamente plagiando Goebbels. Sim, o ministro da propaganda de Adolf Hitler. Depois, veio Regina Duarte com a missão de “pacificar” a relação entre a classe artística e o governo federal. Não funcionou.  Agora temos Mário Frias, o eterno galã de malhação. Apagado e que, para variar, também não faz absolutamente nada pela cultura do país ou pela classe artística.

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E com este governo ATENTO ao setor, não é surpresa que os trabalhadores da cultura estejam entre os profissionais que mais sofreram o impacto financeiro causado pela pandemia de coronavírus no Brasil
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E nós não estamos falando de Caetano, Zeca Pagodinho ou Roberto Carlos. Estamos falando de milhares de artistas, roadies, técnicos, operadores de som e luz e até motoristas que dependem da indústria da cultura para sobreviver e foram abandonados.

Para compreender melhor o cenário, ouvimos a assessora Bebê Baumgarten; a produtora cultural Luka Ibarra; o ator Alvaro Rosa Costa; e a cantadora Gabriela Lery.

Participam as jornalistas Geórgia Santos e Flávia Cunha, que também é responsável pela produção, ao lado de Igor Natusch. Você também pode ouvir o episódio no SpotifyItunes e Castbox

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Voos Literários

Três leituras para o Carnaval da pandemia

Flávia Cunha
12 de fevereiro de 2021
“Tô me guardando pra quando o Carnaval chegar.”

É o que canta Chico Buarque em uma famosa canção. Mas no Brasil da pandemia, teremos que nos guardar muito mais, até podermos participar de festejos carnavalescos sem risco à nossa saúde e a dos outros. Este feriadão não-oficial em 2021 terá muita gente trabalhando. Ainda assim, haverá quem tirará uns dias de folga. Mas sem folia, já que oficialmente os festejos de Carnaval foram cancelados Brasil afora.

Sugestões literárias

Para quem estiver com horas livres nos próximos dias, selecionei três livros com temáticas diversas. Uma obra trata sobre o Carnaval do passado, outra publicação contém reflexões importantes a respeito da pandemia. Também trago como sugestão um best-seller sobre busca espiritual, em um momento no qual precisamos ter resiliência e paciência para aguardar a vacinação em massa no Brasil. 

Metrópole à Beira-Mar, de Ruy Castro

Com o subtítulo O Rio moderno dos anos 20, a obra aborda, entre outros assuntos, o Carnaval de 1919. O festejo, pós-gripe espanhola, deixou a cidade maravilhosa tomada por uma espécie de frenesi, sendo ainda hoje considerado o maior Carnaval de todos os tempos.  Ruy Castro comenta, no prólogo do livro, a respeito da sensação vivida no Rio do século passado: 

“O Carnaval de 1919 seria o da revanche — a grande desforra contra a peste que quase dizimara a cidade.”  

Em uma comparação com a pandemia do coronavírus, muitas pessoas acreditam que o mesmo acontecerá no Brasil quando tudo isso for (finalmente) coisa do passado.

Reflexões sobre a pandemia, organizado por Maria de Lourdes Borges, Evânia Reich e Raquel Cipriani Xavier

A publicação é para quem deseja se aprofundar nos aspectos filosóficos decorrentes do grave problema de saúde pública que ainda  enfrentamos. O livro, com 15 ensaios, é uma iniciativa do Núcleo de Ética e Filosofia Política do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A obra está disponível para download gratuito aqui.

Comer, Rezar e Amar, de Elizabeth Gilbert

Essa indicação é uma das minhas leituras “de conforto” deste mês de fevereiro. O livro, que deu origem a uma conhecida adaptação cinematográfica estrelada por Julia Roberts, é uma odisseia em busca do autoconhecimento. Em um verão brasileiro no qual não devemos viajar, é uma delícia percorrer as ruas de cidades italianas com a protagonista ou acompanhar seus esforços para fazer meditações na Índia. O tom está longe da autoajuda ou do encontro fácil com a felicidade, o que me agradou bastante. 

Por fim, desejo um bom Carnaval a meus leitores, seja em frente à televisão vendo desfiles de anos passados ou lendo um bom livro. O importante é manter com a saúde mental em dia e longe de aglomerações.

Imagem: Arte sobre foto de David Mark/Pixabay

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BSV Especial Coronavírus #44 A luta por sobrevivência do Brasil que anda de moto

Geórgia Santos
10 de fevereiro de 2021

Estamos há quase um ano vivendo a pandemia do novo coronavírus no Brasil e mais, muito mais, de 200 mil pessoas já perderam a vida em função da Covid-19. E como estamos chegando perto dessa marca de um ano, nós resolvemos mostrar, com depoimentos e entrevistas, como essa pandemia afetou as pessoas de forma diferente. Em meio a mobilização de olhar, de forma justa, para os profissionais de saúde, fragilizados e agredidos publicamente, outros trabalhadores passaram ao largo das atenções midiáticas e sociais. E é deles que vamos falar nos próximos quatro episódios.

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Neste semana, falamos sobre a luta por sobrevivência do Brasil que anda de moto. Vamos falar dos motofretistas e entregadores de delivery
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Para diminuir o contato entre as pessoas, em diversas cidades, como Porto Alegre e São Paulo, apenas atividades essenciais foram mantidas funcionando durante alguns meses de 2020. Shoppings, comércio de rua, escolas, universidades, tudo fechado. Em casa, muitos recorreram ao delivery e compras online.

Comida, pacotes, presentes, eletrônicos, medicamentos. O Brasil andou de moto e bicicleta durante alguns meses de 2020. Mas ainda que na maioria das cidades do Brasil o trânsito tenha se reduzido, a situação para os motofretistas e entregadores não mudou para melhor.

Na Palavra da Salvação, Flávia Cunha traz a coluna Breque dos apps: o espírito da revolta.

Participam Geórgia Santos, Flávia Cunha e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no SpotifyItunes e Castbox

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Janeiro: uma página em branco?

Flávia Cunha
31 de janeiro de 2021

Descobri, recentemente, a existência de uma campanha mundial sobre saúde mental chamada Janeiro Branco. A inspiração para o nome seria o fato de o primeiro mês do ano ser como uma página em branco.  Neste sentido, os primeiros 31 dias do novo ciclo seriam um momento para criar metas e refletir a respeito de mudanças. Em anos anteriores, realmente janeiro parecia ser este período de pausa, pois tudo funcionava mais lentamente.

Mas não em 2021.

Em meio à uma pandemia conduzida por um governo irresponsável, o brasileiro consciente não teve descanso em pleno janeiro, não importa se branco ou da cor que for. A realidade nos atropela. Falta de oxigênio em hospitais, denúncia de superfaturamento (ou descaso com a fome da população) no episódio do leite condensado (e chicletes, não esqueçamos). O presidente? Ele prefere dar risada e mandar a imprensa enfiar as latas de leite condensado “naquele lugar”, mostrando, mais uma vez, que nada entende da liturgia do cargo que ocupa.

Negação ou irresponsabilidade?

Há quem prefira, em meio à atual conjuntura, seguir a vida normalmente, em festas clandestinas e praias superlotadas. A alegação é que se a pandemia não for colocada em segundo plano, ficaremos tristes. Mas será mesmo que viver em negação é a saída para o equilíbrio emocional, enquanto ultrapassamos a marca de 220 mil mortes oficiais pela covid 19 em território brasileiro? 

O desafio de manter a sanidade mental

Sem dúvida, além da epidemia provocada pelo coronavírus, estamos vivendo uma epidemia de ansiedade e depressão. Já falei sobre esse assunto por aqui mais de uma vez. Retorno agora com a perspectiva do novo ano, que mal começou e já nos apresenta um cenário desolador. É notória a necessidade de ainda manter, a longo prazo, protocolos com os quais já não aguentamos mais lidar, como máscaras, álcool gel e distanciamento, enquanto a vacinação não for aplicada em massa no Brasil.

Diante deste panorama, ainda é necessário manter a saúde mental em ordem para garantir a sobrevivência. Pois no Brasil da desigualdade, quem não ficou desempregado precisa ter resiliência para seguir trabalhando. Afinal, os boletos não param de chegar e as cobranças profissionais, também não. 

Diante de tamanhos descalabros impostos pelo Brasil pandêmico bolsonarista, o grande desafio é ficarmos equilibrados em 2021.

Uma sugestão para alcançar este objetivo é não se cobrar tanto. É ter A coragem de ser imperfeito, título do livro de Brené Brown. A pesquisadora entrevistou milhares de mulheres e homens para entender o funcionamento de mecanismos como vergonha e vulnerabilidade, pelo ponto de vista profissional, amoroso e familiar.

Não fingir ser perfeito é libertador

Na prática, é melhor ser imperfeito e reconhecer, em uma situação profissional, que não sabe determinada questão do que mentir. Ou, em caso de um erro, é melhor ficar vulnerável e pedir desculpas do que seguir fingindo que está certo, conforme destaca a pesquisadora:

Imagine o estresse e a ansiedade de não saber o que se está fazendo, mas tentar convencer um cliente de que sabe, de não ser capaz de pedir ajuda e de não ter ninguém com quem conversar sobre o seu problema. É assim que perdemos funcionários. É muito difícil continuar motivado nessas circunstâncias. A pessoa começa a poupar esforços, a não se importar mais, e acaba jogando a toalha. Depois da minha palestra, um dos mentores do grupo se aproximou de mim e disse: ‘Trabalhei com vendas durante minha carreira toda e posso lhe garantir que não há nada mais importante do que ter a coragem de dizer ‘Eu não sei’ e ‘Errei’. Ser honesto e transparente é a chave do sucesso em todas as áreas da vida.’”

Aparentemente, na política brasileira, honestidade e transparência não são características usuais. Mas certamente temos no poder um presidente que será lembrado, no futuro, pela má educação e dificuldade em reconhecer erros. A empáfia e falta de noção de fazer um discurso com palavrões está longe de ser uma demonstração de força. Forte mesmo é aquele que reconhece equívocos. Porém, para isso, é preciso haver autocrítica e vontade de evoluir. Coisas que Bolsonaro e seu clã parecem não ter nem um pouco.

Para conhecer mais sobre as pesquisas de Brené Brown:

Para saber mais sobre o Janeiro Branco, que está em sua oitava edição, clique aqui.

Imagem: World-fly / Pixabay 

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BSV Especial Coronavírus #42 Impeachment de Bolsonaro?

Geórgia Santos
27 de janeiro de 2021

No episódio desta semana, vamos falar de impeachment. Calma, vamos especificar, porque entre Estados Unidos e os cinco anos do golpe institucional contra Dilma Rousseff se aproximando, é importante esclarecer. Vamos falar sobre o impeachment de Bolsonaro – ou, pelo menos, da possibilidade de Jair não terminar os dois anos de mandato que lhe restam. 

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Não, o processo não foi aberto. Por enquanto, ainda é um sonho. Mas, pela primeira vez desde 2018, é um sonho que pode ser concretizado
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No último final de semana, manifestações pelo país pediam a saída de Jair Bolsonaro. Editoriais de jornais tradicionais, que antes apoiaram “Paulo Guedes”, agora também pedem a saída do presidente da República. Enquanto isso, os crimes de responsabilidade são empilhados no Palácio do Planalto.  O ministro da saúde, Eduardo Pazuello já está sendo investigado pela responsabilidade no caos da saúde de Manaus. Rodrigo Maia já acena com a palavra crime. Aliados parecem estar pulando da barca. E há evidências escancaradas de que o governo federal rejeitou milhões de doses de vacinas contra o coronavírus.

O que está faltando, então, para o Impeachment de Bolsonaro? Mais crimes? Pressão popular? Apoio do Centrão à causa? Vontade política de Rodrigo Maia? O alinhamento dos astros? O Faustão sair da Globo? Opa.

Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no SpotifyItunes e Castbox

Vós Pessoas no Plural · BSV Especial Coronavírus #42 Impeachment de Bolsonaro?