Igor Natusch

Marchezan segue a trilha do conflito, e abre caminho para coisa pior

Igor Natusch
2 de agosto de 2017
Foto: Luciano Lanes / PMPA

Entrando em seu oitavo mês de mandato, Nelson Marchezan Jr. tem deixado bem clara a disposição de seguir uma trilha de conflito, com poucas margens para conciliação. E o faz de uma forma não necessariamente truculenta, jogando com o imaginário de seu eleitorado cativo e consolidando, ao invés de enfraquecer, a imagem de pessoa dinâmica e dedicada a soluções, sem concessões e sem desperdício de tempo. Não é o único a adotar tal fórmula, nem o mais destacado, muito menos um inovador – mas seu exemplo é útil para entender alguns aspectos (bastante preocupantes, creio eu) da política atual.

Na última semana, a prefeitura de Porto Alegre lançou uma série de projetos e ideias que mudam radicalmente aspectos importantes da relação da população com a cidade.

Eliminar a gratuidade da segunda passagem de ônibus, propor que idosos e estudantes paguem mais do que hoje pagam para se deslocar, legalizar a deplorável prática do parcelamento de salários, aumentar os valores do IPTU, entregar à iniciativa privada serviços de água e esgoto – tudo isso proposto com pouca ou nenhuma discussão prévia com a sociedade.

Algumas dessas mudanças contradizem declarações dos tempos de campanha, outras sequer haviam sido ventiladas antes de virarem projetos de lei. E tudo que as sustenta é um slogan simplificador, muito mais vago do que parece: a afirmação de que estamos em grave crise financeira e é preciso agir rápido para que as coisas não fiquem ainda piores. É uma agenda que nunca foi exposta às claras, nem mesmo aos vereadores da base aliada, que periga virar lei sem que se conheça suas implicações e sem que haja certeza que a cidade concorda com ela. Ilegal não é, por certo, mas não é nada transparente.

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Diante de críticas que, certas ou erradas, nada têm de desonestas ou ilegítimas, a resposta de Marchezan e de sua gestão tem sido fomentar um confronto permanente, ainda que edulcorado com toques de populismo de internet

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Ao fazer vídeos dançando e editar decretos fictícios que, em meio ao pretenso bom humor, trazem críticas pouco veladas aos oponentes políticos, o prefeito opta por angariar simpatia ao invés de convencer no embate de ideias. Não se dirige à população, mas sim ao grupo que o elegeu, reforçando os elementos de aproximação entre eles – em especial os que remetem à antipatia contra os inimigos de esquerda.

Todo questionamento à atual gestão é imediatamente arremessado aos pecados de gestões anteriores e/ou de inimigos comuns, quando não atribuído diretamente a uma desonestidade, política ou intelectual, de quem traz as questões. Em certo sentido, a campanha eleitoral não acaba nunca – e se a necessidade de escolher um lado está sempre presente, anula-se a ideia de governar para todos, já que a oposição nunca abandona o cenário político.

Repito: Marchezan não é o criador dessas coisas, tampouco um inovador nesse sentido. É, para o bem e para o mal, só mais um. Ou é muito diferente o que João Dória tem feito sistematicamente em São Paulo, parecendo mais preocupado com Lula e o PT do que com a cidade que governa? É muito diferente do que José Ivo Sartori faz no Rio Grande do Sul, propondo extinção de fundações sem jamais explicar o benefício que tal medida traria e tentando arrancar da população o direito de decidir, em plebiscito, se topa ou não vender suas principais estatais? Diferencia-se tanto assim das medidas de Michel Temer na esfera federal, promovendo a toque de caixa e sem debate prévio drásticas mudanças na legislação sob a alegação de que é preciso “modernizar” para “retomar o desenvolvimento”?

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No coração da dita democracia brasileira crescem práticas que são pouquíssimo democráticas. E elas se multiplicam na medida em que há uma falência de princípios importantes para a democracia: a transparência, o debate, a coletividade

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Na medida em que o processo eleitoral deixa de ser uma escolha coletiva e passa a ser uma mera legitimação de grupo, andamos rumo à exceção. E dizer isso não é dizer que Marchezan, ou Dória, ou Temer (ou mesmo Lula, por exemplo, que andou por trilhas semelhantes em vários momentos e parece seduzido pela ideia de fazê-lo uma vez mais) são fascistas ou autocratas. Eles apenas estão, desejosos ou não, conscientemente ou não, pavimentando o terreno. Entenderam, de forma consciente ou instintiva, o caldo de cisões do nosso tempo, e o usam a favor de suas agendas. Se não temos certeza de como agir diante disso tudo, que ao menos não nos falte o alerta: isso pode nos criar problemas bem maiores do que um prefeito querendo governar sozinho.

Foto: Luciano Lanes / PMPA

Geórgia Santos

Sobre bunda e política

Geórgia Santos
31 de julho de 2017

 

Vivo nos Estados Unidos há alguns meses por conta de uma pesquisa de doutorado na área da Ciência Política. Isso fez com que, naturalmente, eu passasse a conhecer movimentos que não nos são familiares no Brasil. Alguns interessantes, outros menos; alguns produtivos, outros desprezíveis. Faz parte. Um deles é o Alt-Right, conhecido como uma espécie de direita alternativa e que ficou “famoso” no mundo ao endossar a candidatura de Donald Trump com fervor.

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De maneira superficial, pode-se dizer que na base do seu pensamento está o nacionalismo e a supremacia branca, ou europeia como gostam de denominar com eufemismo desavergonhado. Eles defendem o nacionalismo branco

Uau! – só que não

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Fiquei intrigada e decidi pesquisar mais sobre qual é a desses caras. A verdade é que apesar do nome “moderninho” e do trocadilho batido com a tecla “alt”, esse povo representa o que há de mais antigo e retrógado do mundo. São basicamente racistas e preconceituosos, são homofóbicos, islamofóbicos, TUDOfóbicos. Com frequência, seus interesses se misturam aos do neonazismo. Delícia.

Richard Spencer é considerado um dos líderes da Alt-Right. O comediante W. Kamau Bell conversou com ele no programa United Shades of America (algo como “Tons Unidos da América”, tons se referindo aos diferentes tons de pele) e foi absolutamente brilhante. A conversa é bastante esclarecedora para quem não está familiarizado com o movimento.

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Mas afinal de contas o que tudo isso tem a ver com bunda,

dona Geórgia?

Perdão por este nariz de cera, como chamamos no jornalismo. Mas é importante para dar contexto. Acontece que durante minhas pesquisas sobre esses caras, encontrei um texto em que um ser humano falava que os Estados Unidos estavam dando um testemunho de mediocridade a partir do momento em que os americanos estavam deixando os SEIOS de lado e preferindo as BUNDAS. Sim, é isso mesmo.

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Ele dizia que POR CULPA DA ESQUERDA, o país estava ficando cheio de imigrantes latinos e de negros, e que isso estava fazendo com que os homens passassem a gostar mais de BUNDAS do que de SEIOS e que isso era sinal de decadência.

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Vocês acreditam nisso? Eu não vou colar o link aqui porque me recuso a dar mais audiência para um imbecil desses. Mas o argumento dele se organiza em torno do fato de que homens ricos, sofisticados e DE BERÇO preferem os seios das mulheres. E homens pobres e sem modos preferem a bunda, porque são primitivos e era como as mulheres atraíam os homens quando ainda não éramos Homo Sapiens Sapiens. Logo, se a preferência nacional se tornar a bunda, será um testemunho de decadência.

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Agora me diz se pode um negócio desses?

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Eu juro que comecei a rir. Aquilo era tão absurdo, tão vulgar, tão grotesco e tão pequeno que simplesmente não valia a pena. Isso que nem mencionei o quanto isso é agressivo com as mulheres, né. Mas pensei que era só um maluco berrando sozinho na internet e pronto.

Qual não é minha surpresa quando vejo um JORNALISTA da REDE GLOBO DE TELEVISÃO, conceituadíssimo (por muitos, não por mim), escrevendo isso:

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Então cá estamos, lendo que os americanos são mais evoluídos porque gostam de seios e os brasileiros merecem as merdas que acontecem com eles porque gostam de bunda

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Isso foi escrito por um jornalista do mainstream, fora do submundo dos Alt-Right na internet – e curtido por MILHARES DE PESSOAS;

Isso foi escrito pelo mesmo cara que acha que o aquecimento global é uma farsa porque faz frio no sul do Brasil;

Isso foi escrito pelo mesmo cara que acha que precisamos revisar a idade penal;

Isso foi escrito pelo mesmo cara que ficou chocado com os “maus modos” das senadoras que protestavam contra a reforma trabalhista;

Isso foi escrito pelo mesmo cara que diz que Direitos Humanos é pra defender bandido;

Isso foi escrito pelo mesmo cara que debochou DO LATIM do relator da denúncia contra Temer – e cometeu um erro ao fazê-lo;

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Isso foi escrito por um comentarista político e econômico da Rede Globo, âncora de telejornais da Globo News e que é seguido por mais de 250mil pessoas

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Então cá estamos, lendo que os problemas políticos e sociais que os brasileiros enfrentam todos os dias é culpa da bunda. E isso, claro, é culpa da esquerda. Agora me digam se não tá tudo errado nesse mundo. Ou com esse cara, pelo menos.

Foto: Pixabay

Raquel Grabauska

Filhos de vidro

Raquel Grabauska
28 de julho de 2017

Está chegando ao fim uma das experiências mais ricas da minha vida. Desde fevereiro estamos morando na Alemanha. A cidade é Erlangen. Pequena e universitária, um lugar tranquilo e bom demais pra viver em família.

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Chegamos aqui uns, vamos embora outros. Muita transformação. Pra mim, a maior foi o aprendizado que tive com os pais/mães/cuidadores/professores alemães. Sem dúvida. Eles criam as crianças para serem independentes desde muito cedo

Muito independentes, muito cedo. Claro, isso tem o lado bom e o lado ruim, como quase tudo na vida

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Vi em duas situações diferentes bebês de colo chorarem por um tempo imenso. Uma num ônibus. O bebê visivelmente incomodado no carrinho. Chorava copiosamente. A irmã pequena ao lado, olhava pela janela como se nada tivesse acontecendo e nos premiava com um dos sorrisos mais doces que já vi. A mãe nada fazia. Nada mesmo. Pensei que não cabia a mim julgar. Visivelmente ela não dormia há dias. Ela parecia muito cansada. Não sei o que ela estava passando. Se tinha problema como o marido, se perdera o emprego ou o que podia estar errado em sua vida. Tentei não julgar. Mas confesso que foi bem difícil. Julguei, sim. Não consigo pensar em deixar um bebê chorar por 30 minutos e não fazer nada.

A outra situação foi numa praça. Uma cuidadora com três crianças. Dois brincavam felizes e soltos na areia e o bebê no carrinho. Chorava muito. A cuidadora entregava uma pá daquelas de brincar na areia. Ele parava de chorar por cinco segundos e  recomeçava. Foi assim por umas duas horas. Usei todo meu auto-controle pra não me meter. Tá, auto-controle e minha impossibilidade de argumentar em alemão com uma senhora de seus sessenta anos.

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Por outro lado, cheguei aqui com duas crianças de vidro. Eles pensavam em cair e já estávamos, meu marido e eu, dando colo e querendo impedir o sofrimento que poderia acontecer.

Super protetores

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Aprendemos a deixar que eles resolvam as coisas que pensamos eles têm capacidade pra resolver. E tentar. E errar. E pedir ajuda quando precisam. Aprendemos a confiar mais neles. Na força deles. Eles nos ensinaram um montão de coisas. São muito mais fortes do que jamais pensamos. Não foram poucas as vezes em que quis chorar vendo meu filho com seus seis aninhos cair um tombo homérico da bicicleta sem rodinhas que ele usou pra aprender a andar aqui. Caiu, se machucou feio. A gente por perto. Ele caía e já do chão nos dizia: tô bem. Lindo, forte. Ensinando aos pais a ver o filho aprender a andar de bicicleta.

Essa confiança que os alemães dão às crianças é impressionante. Ensinaram aos nossos filhos, ensinaram principalmente aos pais dos nossos filhos.

Raquel Grabauska

As crianças e os bebês

Raquel Grabauska
21 de julho de 2017

O nosso filho mais velho tem seis anos, um irmão de três e ainda me pede mais outro irmão. Antes  de termos ele, perdemos um bebê aos três meses de gestação.

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Ele ouviu eu contar essa história (que eu achei que ele não tava ouvindo), me perguntou apavorado: mamãe, como tu PERDEU um bebê?

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Depois de um tempo ele falou: pensando bem, até que foi bom tu ter perdido aquele bebê, mamãe. Porque tu fica com o mano no colo, o papai comigo. Quem iria segurar o bebê? Meu carinho e respeito aos pais de gêmeos. Pais de trigêmeos pra cima, merecem um altar!

Nosso filho mais novo tem três anos. Acha os bebês adoráveis. Fomos almoçar na casa de uma amiga que tem um bebê de três meses. Ela foi tomar um banho e fiquei com o bebê.  Ele fez carinho, gostou e logo quis mudar de assunto.  Me disse: mamãe, ele não te gostando do teu colo. Ele precisa ir pra cama dele.

Eu sempre converso com os guris sobre o que vou escrever aqui na semana. A partir da conversa eles fazem as ilustrações. Hoje o Benjamin me ouviu e disse: é, mamãe. Tá bom assim, só eu e o mano. Esses são os meus meninos. Me fazem rir e me emocionam (também me irritam muitas vezes, mas sobre isso falo outro dia)

Igor Natusch

Pela volta dos meio-campistas ao debate político

Igor Natusch
20 de julho de 2017

Como qualquer apreciador de futebol minimamente interessado sabe, o jogo acontece no meio de campo. É importante defender bem, marcar gols é obviamente fundamental, mas pouca coisa acontece sem uma boa transição, alguém que dê cadência às ações, que observe os extremos do gramado e busque agir de forma a conectá-los da melhor forma possível.

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Talvez até aconteça um gol que outro na ligação direta, mas é um bom trabalho dos meias que deixa o jogo mais eficiente, taticamente desafiador e agradável ao olhar

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Falta meio de campo na nossa atual discussão política. E não apenas no aspecto mais óbvio, na gritaria maluca e transbordante de rótulos pobres que domina as redes sociais e de lá transborda para as ruas do mundo real: está faltando meias de qualidade na nossa esfera pública, em nossos espaços de debate e opinião.

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Temos, de um lado e de outro, colunistas e comentaristas jogando demasiado para a torcida, afastando aos berros a investida adversária, gritando e dando socos no ar cada vez que chutam a bola para a linha de fundo. Uma comemoração espetacular e chamativa, mas que no fundo não indica vitória alguma

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Nenhuma jogada elaborada acontece nesse gramado. Os gritos de guerra são cada vez mais primários, e boa parte das atuais estrelas do debate político parecem ter encontrado na reprodução dessas torpezas uma tática de jogo simplória, mas eficaz. São favoritos de suas respectivas torcidas, mas pouco ou nada fazem para trazer qualquer equilíbrio ao jogo em que atuam. Ao contrário: vivem da oposição, tanto faz se primária ou francamente destrutiva, e incentivam o rompimento em uma gritaria cada vez menos serena, dois extremos onde a única ligação possível é o chutão.

Não que seja problema ter opiniões claras e sólidas, ao contrário. O topo do muro é um lugar abominável para qualquer um que valorize o pensamento. O que nos falta é pessoas que peguem a bola do lado de lá e a carreguem para o lado de cá?—?ou, dizendo de forma mais clara, gente que discorde do outro lado sem tratá-lo como um ajuntamento de desonestos ou imbecis.

O simples consumo de opiniões confirmatórias não nos levará a lugar algum. Não é possível afastar a jogada dos discordantes o tempo todo: às vezes é preciso ouvir o que dizem e pensar, sem ódio, sobre o que nos leva a discordar deles. Até para termos mais certeza de nós mesmos, do que é realmente importante em nosso pensar. Existem pontos de intersecção, sempre, em qualquer grupo humano que se possa imaginar?—?e enxergá-los não é fraquejar no debate, mas justamente buscar nele o que pode nos levar além da simples oposição, o que nos confronta com nós mesmos e vai nos deixando menos cheios de certezas (e, quase como consequência, um pouco mais ponderados e tolerantes) no processo.

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Rótulos são um lixo. Gostar ou não do Lula é pouco para detestar alguém. Ninguém é só “petralha” ou “coxinha”, ninguém está plenamente errado e ninguém se encontra em posição que permita a soberba, o deboche ou a condescendência

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Quem resume os outros busca atalhos para a própria incompreensão. Emburrecemos todos, sempre que escorregamos para esse estratagema. Se a tentação de transformar a política em futebol é tão irresistível, lembremos ao menos de onde a disputa no gramado é mais rica e cerebral: na faixa central do gramado, onde se pensa a partida e se busca as soluções que levem ao resultado desejado. Esse jogo dos últimos tempos, convenhamos, anda insuportável de assistir.

Originalmente publicado em dezembro de 2015
Foto: Márcio Cabral de Moura

Geórgia Santos

Quando o Instagram deprime

Geórgia Santos
17 de julho de 2017

Eu larguei o Facebook de mão há muito tempo. É muita tese e lição de moral e mensagens de anjinhos pra o meu gosto. O Twitter é minha rede social preferida, uso basicamente como meu personal gatekeeper. Facilita o acesso às informações de múltiplos portais e empresas de comunicação. Sem contar que não tem espaço pra textão – apesar de o mimimi correr solto. E eu sempre gostei do Instagram. Tá ali, espalhando fotinha bonita pra o mundo e reduzindo a possibilidade de blá blá blá.

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Mas de uns tempos pra cá, a existência do Instagram me deprime e, às vezes, faz com que eu fique de mal comigo

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Isso porque se o meu feed estiver correto, enquanto eu estou sentada em frente ao computador trabalhando ou estudando, a maioria das pessoas ganha dinheiro se divertindo. Enquanto eu estou acima do peso, a maioria das pessoas é sarada. Enquanto eu luto contra espinhas e linhas de expressão (sim, as duas coisas ao mesmo tempo), a maioria das mulheres tem uma pele maravilhosa e impecável. Eu mencionei os abdomens e os drinques?

É verdade que tem sido uma ferramenta interessante de empoderamento e aceitação pra algumas mulheres, como Allison Kimmey, que admiro demais. Mas o que mais vejo é a perfeição esfregada em minha cara. E ao que tudo indica, eu não estou sozinha nesse complexo de instagranidade.

Um relatório divulgado pela UK’s Royal Society for Public Health (RSPH) and the Young Health Movement mostra o impacto das redes sociais na saúde mental de jovens entre 14 e 24 anos. O estudo revelou que o Instagram é a mais prejudicial das redes sociais quanto o assunto é ansiedade, depressão, autoestima e problemas com a própria imagem corporal – seguido por Snapchat e Facebook. Os pesquisadores indicam que os famosos filtros são parte do problema. Algumas meninas inclusive mencionaram que se sentem mais feias que absolutamente todo mundo. Algo que prejudica inclusive o sono das adolescentes.

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Ficar stalkeando também não ajuda quando o assunto é desencanar

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Segundo o estudo, passar horas com o telefone em mãos só agrava o problema, óbvio. Aparentemente, adolescentes que passam mais de duas horas na rede social tem maiores chances de desenvolver algum distúrbio de ansiedade relacionado à autoestima e imagem corporal.

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Lembro da tortura que é passar pela adolescência e não ter a cara e o corpo de quem vai estar na Vogue do próximo mês. E o Instagram não deve melhorar isso…

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É claro que eu exagerei quando falei do impacto que causa em mim. Apesar de ainda ser insegura com relação ao meu corpo (estou trabalhando nisso, no corpo e no psicológico), os meus quase 30 anos me ajudam a perceber que eu não posso me resumir a isso, ao meu tamanho. Sou mais que minhas estrias e celulites. E se eu uso filtros, o resto da humanidade também usa.

Tudo isso pra dizer que talvez a gente precise de menos Instagram e mais vida real. Não é boicote, longe disso, eu ainda gosto de postar minhas fotos por lá e de acompanhar amigos queridos. Inclusive tento postar algo todos os dias sobre experiências positivas que tenho ou simplesmente porque estou me sentindo bem. Só acho que talvez a gente possa usar menos filtros, afinal, não é uma opção na hora de encarar o mundo. E a gurizada que está crescendo diante da tela de um celular precisa saber que a maioria das pessoas não é igual à Kendall Jenner, não tem a pele da Gigi Hadid e não tem o abdômen da Bella Falconi. E tá tudo bem.

Fotos: Pixabay

Raquel Grabauska

Pequeno roteiro de passeios com criança na Europa

Raquel Grabauska
14 de julho de 2017

Aqui em casa,  a gente faz tudo meio em volta dos guris. Levamos em conta a vontade deles na hora de decidir pra onde vamos. À medida que estão crescendo, estamos aprendendo a fazer o caminho do meio: cuidar deles sem deixar de cuidar de nós também. Mas não é fácil, por isso divido com vocês este pequeno roteiro de passeios com criança na Europa.

Estamos desde fevereiro morando na Alemanha, quase chegando a hora de voltar pra casa. A cidade em que estamos é linda. É pequena, então é de uma tranquilidade… As praças são maravilhosas! Aqui na Alemanha, em todas as cidades que fomos, só ir pra praça já é um super passeio.

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Fomos pra Munique, Stuttgart, Nuremberg, Bamberg, Benshein, Frankfurt e Berlim. Passamos em Insbruck, na Áustria – ver os Alpes é divino. Também fomos pra Bolonha e Rovigo, na Itália 

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De tudo o que vimos, conto aqui o que mais nos fascinou

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  • Museu do trem em Nuremberg. São 3 museus num só. Tem a Kibala, uma parte do museu dedicada só pras crianças. Andam de trem, se vestem de maquinista, lindo! Tem o museu do trem para os adultos, onde a gente vê trens de verdade, dos antigos aos modernos. Junto tem o Museu da Comunicação;
  • Em Frankfurt tem o Experimenta, um museu só para crianças, de experimentações. São 4 andares onde se pode mexer em tudo! Ficamos 6 horas! E os guris queriam ficar mais;
  • Bamberg é linda, nada de especial para fazer, o que acaba sendo mais especial ainda! Andar pela cidade e ver o rio é um deslumbre. Andar por andar, contemplar, aproveitar. Os guris amaram um totem que tem no centro, ele se divide em 3 partes e as crianças ficando brincando de forjar diferentes figuras. Simples e muuuuuito divertido. Tem também uma parte de pedras, como se fosse uma piscina de pedras, onde fica correndo água. Fomos num dia frio, os guris loucos pra se enfiarem. Vamos voltar agora que está quente!
  • Em Munique tem o Deutsches Museum, um museu que todo mundo adora, mas depois de ir nesses que podia mexer em tudo, os guris não se entusiasmaram muito,  por ser só de olhar. Pretendemos voltar outro dia sem tanta expectativa.
  • Perto daqui de Erlangen, em Zirndorf, tem o Playmobil Fun, imperdível! Um parque onde tu brinca com tudo! Sem filas. Onde tu olha tem um brinquedo disponível. Tem dinossauros, navio pirata, travessia, castelo. Já fomos duas vezes e queremos mais uma!
  • Em Nuremberg fomos no zoológico. É uma mistura de sensações. Os animais são fascinantes, as crianças ficaram maravilhadas. Mas nós, os adultos, sofremos um pouco vendo os bichos presos. Mas é incrível. Tem uma área onde as crianças podem dar comida (que eles vendem em máquinas) para as cabras. Isso rendeu metade do passeio. Ficamos 5 horas lá;
  • Em Amsterdan, tem o Museu do Van Gogh – vale pra qualquer idade. Vimos desde bebês até crianças grandes contemplando. Algumas tinham blocos de desenho e ficavam desenhando em frente aos quadros, emocionante. Também tem o Nemo: Museu de ciência e experimentos. Uma loucura!

Isso é um pouquinho do que fizemos aqui. Esperamos continuar esses passeios!

*A ilustração é do Benjamin. A Família na Kibala.

Raquel Grabauska

Férias da criançada+pais em férias = pais de cabelo em pé

Raquel Grabauska
7 de julho de 2017

O que fazer com a criançada em férias se os pais não estão em férias?

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Alguns programas legais pra fazer no mês de julho

  • Em dia de chuva – Museu da PUC – dá pra ficar hoooooras lá, tem muita coisa pra ver.
  • Em dia de sol: convidar os amigos para um piquenique num parque. A praça do DMAE é uma boa pedida!
  • Uma festa do pijama: convidar os amigos e se preparar para não dormir!
  • Uma festa à fantasia – pode ser em qualquer hora do dia, música, um lanche e cada uma com a fantasia que mais gostar.
  • Oficina de culinária – convidar os amigos e preparar guloseimas gostosas.

Se não gostou de nenhuma das dicas, leva os filhos lá no Espaço Cuidado Que Mancha. Preparamos uma programação especial de férias!

Raquel Grabauska

Quem ensina o que quer…

Raquel Grabauska
30 de junho de 2017

Criar filhos, educar, ver crescer é lindo. Mas dá um trabalho!!!

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Um trabalho quase sempre gostoso. Aquele serzinho ali tem personalidade, vontade. É uma pessoa. Mesmo. Então tu diz uma coisa pra ele. Ele ouve. Ele interpreta. Parece telefone sem fio.

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Tu diz: Que rua barulhenta. Ele ouve: Tá uma manhã muito cinzenta. Então, entre o que a gente ensina e como eles aprendem, tem um longo caminho. Caminho esse que pra nós tem sido divertido

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Eu sempre estimulo os guris a darem oi pra pessoas. Não gosto de ficar obrigando, mas sempre dou exemplo. Principalmente com as pessoas idosas. Acho lindo eles cumprimentarem e derreto quase sempre com o sorriso que se abre do outro lado. Hoje passou uma velhinha por nós, tinha jeito de triste. Os guris estavam lanchando, estávamos na praça. Os dois ficaram quietos, só olhando. Eu dei oi, ela sorriu. Eles quietos. Eu disse: filho, porque não deu oi? O Benjamim respondeu: mamãe, tu precisa saber o que tu quer, ou eu dou oi ou eu não falo de boca cheia, não sei o que fazer!

*Os guris quase sempre fazem as ilustrações aqui da coluna. Hoje expliquei pro Benjamin sobre o que ia escrever e pedi, como de costume, que ele desenhasse o que tinha entendido. Ouvi: não tô com vontade. Posso desenhar um tigre? E ta aí a ilustração, dando mais sentido ao que falei.

Igor Natusch

Fala de Michel Temer não é sobre Deus, mas sobre quem pode mantê-lo vivo

Igor Natusch
28 de junho de 2017
Brasília - O presidente Michel Temer fez um pronunciamento no qual contestou a denúncia apresentada ontem (26) pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Hoje, a política brasileira é um atoleiro, onde cada passo nos deixa mais cobertos de constrangimento e, por mais que andemos, parece impossível avançar. A cada minuto extra sendo governados por Michel Temer, um presidente acusado pelo Procurador-Geral da República de crime comum, cometido no exercício do mandato, mais fundo pisamos no barro pútrido, mais desastrosa se torna nossa jornada pela infâmia política.

E essa inundação parece ter alcançado um nível especialmente alto com o surreal pronunciamento de Temer, concedido na tarde de terça-feira, 27 de junho de 2017. Uma fala assustadora em vários níveis, que vão muito além do insólito “não sei como Deus me colocou aqui” – uma frase tão cara de pau que já virou meme, com toda justiça.

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Antes de tudo, um desafio de compreensão se impõe. A quem, no fim das contas, Michel Temer desejava falar?

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Ao povo brasileiro, junto ao qual goza de uma impopularidade quase sem paralelos no Brasil democrático, certamente que não. Afinal, em nenhum momento dirigiu ao povo palavras de tranquilidade, esperança ou convicção – aliás, quase poderíamos dizer que não dirigiu ao povo palavra alguma. Ao alto empresariado, talvez? Mas de que jeito, se mencionou as tão trombeteadas reformas apenas de passagem, se não trouxe nenhum indicativo de melhora econômica, sequer um dividendo positivo de sua tragicômica viagem para Rússia e Noruega foi capaz de enumerar?

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Pretendendo vender a imagem de estadista ultrajado por acusações falsas, Temer só fez desnudar sua incapacidade de liderar um Estado. Ou existe qualquer coisa de líder em alguém que, diante da angústia de uma nação, dedica toda a sua fala a, mal e porcamente, defender a si mesmo?

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Nada disso: o discurso de Temer só faz sentido quando se olha para o Congresso Nacional. É a ele, ou ao que resta de apoio dentro dele, que Temer dirigiu suas palavras de frágil defesa, ao mesmo tempo que posicionou-se de forma clara em uma guerra contra o Ministério Público e a Polícia Federal. “Querem parar o país”, disse o presidente, e ao dizer tal coisa falava não ao detentores do poder econômico, mas aos deputados e senadores que podem salvá-lo da investigação no Supremo. Estou com vocês, é isso que Temer quis dizer, o tempo todo, com tal ânsia que a mal-disfarçada mensagem saltava o tempo todo para fora das entrelinhas. Estou com vocês, meu inimigo é o mesmo, estejam comigo e juntos lutemos até o fim. Querem parar o país, ora pois.

Só assim faz sentido a ausência de justificativas ou perspectivas, as ilações que comete enquanto diz que não as cometeria, os torpes comentários sobre Rodrigo Janot, o procurador Marcelo Miller e a JBS. Não explica o conteúdo de sua conversa com Joesley Batista, não justifica ter sido flagrado em mentira sobre a viagem de jatinho com um “bandido notório”, não faz mais que tergiversar sobre a gravação que, segundo perícia da PF, não foi adulterada como alega. Não entra nesses méritos simplesmente porque não é essa sua estratégia.

A luta é outra: parar de derreter no Congresso, onde até companheiros de sigla (e não estou falando de Renan Calheiros) não se constrangem mais em avacalhá-lo publicamente.

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Sem a maioria na Câmara e no Senado, Temer não tem nada – e fala grosso para tentar deter a debandada, demonstrar que está pronto para brigar por si e, por tabela, em nome deles

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Chama uma claque um tanto patética para aplaudi-lo (com direito a ridículos gritos de “bravo!” por parte de Darcísio Perondi) e elogia o “quórum suficiente para uma sessão na Câmara”, agradecendo pelo “apoio extremamente espontâneo”. É falso e patético, mas não é desprovido de função.

O cadáver político que é Michel Temer vem apodrecendo em público desde a revelação devastadora da gravação feita por Joesley. Já são 40 dias em que sua presença é um misto de infâmia, desaforo e constrangimento. A disposição, evidente quando diz que a denúncia é “uma ficção” calcada em “provas armadas”, é insistir em submeter o país a uma presença que quase ninguém tolera mais, sem brandir sequer as tais reformas estruturantes como desculpa. A briga é para salvar a pele, e a instituições que funcionem no raio que as parta. Curioso perceber que, em meio a tanta dissimulação e delírio, a fala de Michel Temer não deixa de ter uma distorcida forma de sinceridade.

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil