Raquel Grabauska

Pequeno roteiro de passeios com criança na Europa

Raquel Grabauska
14 de julho de 2017

Aqui em casa,  a gente faz tudo meio em volta dos guris. Levamos em conta a vontade deles na hora de decidir pra onde vamos. À medida que estão crescendo, estamos aprendendo a fazer o caminho do meio: cuidar deles sem deixar de cuidar de nós também. Mas não é fácil, por isso divido com vocês este pequeno roteiro de passeios com criança na Europa.

Estamos desde fevereiro morando na Alemanha, quase chegando a hora de voltar pra casa. A cidade em que estamos é linda. É pequena, então é de uma tranquilidade… As praças são maravilhosas! Aqui na Alemanha, em todas as cidades que fomos, só ir pra praça já é um super passeio.

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Fomos pra Munique, Stuttgart, Nuremberg, Bamberg, Benshein, Frankfurt e Berlim. Passamos em Insbruck, na Áustria – ver os Alpes é divino. Também fomos pra Bolonha e Rovigo, na Itália 

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De tudo o que vimos, conto aqui o que mais nos fascinou

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  • Museu do trem em Nuremberg. São 3 museus num só. Tem a Kibala, uma parte do museu dedicada só pras crianças. Andam de trem, se vestem de maquinista, lindo! Tem o museu do trem para os adultos, onde a gente vê trens de verdade, dos antigos aos modernos. Junto tem o Museu da Comunicação;
  • Em Frankfurt tem o Experimenta, um museu só para crianças, de experimentações. São 4 andares onde se pode mexer em tudo! Ficamos 6 horas! E os guris queriam ficar mais;
  • Bamberg é linda, nada de especial para fazer, o que acaba sendo mais especial ainda! Andar pela cidade e ver o rio é um deslumbre. Andar por andar, contemplar, aproveitar. Os guris amaram um totem que tem no centro, ele se divide em 3 partes e as crianças ficando brincando de forjar diferentes figuras. Simples e muuuuuito divertido. Tem também uma parte de pedras, como se fosse uma piscina de pedras, onde fica correndo água. Fomos num dia frio, os guris loucos pra se enfiarem. Vamos voltar agora que está quente!
  • Em Munique tem o Deutsches Museum, um museu que todo mundo adora, mas depois de ir nesses que podia mexer em tudo, os guris não se entusiasmaram muito,  por ser só de olhar. Pretendemos voltar outro dia sem tanta expectativa.
  • Perto daqui de Erlangen, em Zirndorf, tem o Playmobil Fun, imperdível! Um parque onde tu brinca com tudo! Sem filas. Onde tu olha tem um brinquedo disponível. Tem dinossauros, navio pirata, travessia, castelo. Já fomos duas vezes e queremos mais uma!
  • Em Nuremberg fomos no zoológico. É uma mistura de sensações. Os animais são fascinantes, as crianças ficaram maravilhadas. Mas nós, os adultos, sofremos um pouco vendo os bichos presos. Mas é incrível. Tem uma área onde as crianças podem dar comida (que eles vendem em máquinas) para as cabras. Isso rendeu metade do passeio. Ficamos 5 horas lá;
  • Em Amsterdan, tem o Museu do Van Gogh – vale pra qualquer idade. Vimos desde bebês até crianças grandes contemplando. Algumas tinham blocos de desenho e ficavam desenhando em frente aos quadros, emocionante. Também tem o Nemo: Museu de ciência e experimentos. Uma loucura!

Isso é um pouquinho do que fizemos aqui. Esperamos continuar esses passeios!

*A ilustração é do Benjamin. A Família na Kibala.

Guia de Viagem

Globalização – Medo, Preconceito e Visão

Ana Martins
1 de março de 2017

Globalização ou não? É esta a escolha dos eleitorados europeus em 2017. Paira ainda no ar a poeira do terramoto político de 2016 no Ocidente. Ao longo deste ano, vamos ver onde a poeira irá assentar. Por cá, aguardam-se ansiosamente os resultados da onda de eleições que começa já em março nos Países Baixos, passando por França em maio e pela Alemanha em setembro – três países onde a extrema-direita tem hipóteses de chegar ao poder. Depois da reviravolta do Brexit e das eleições americanas, teme-se o pior na Europa. Mas pode ser que do caos instalado por aquela nuvem de poeira possa ainda emergir um projeto europeu com novo alento.

“Inflamam-se os sentimentos recalcados pela moral prevalente; promete-se um regresso às origens idealizadas, a um passado que nunca existiu; culpam-se as elites e os imigrantes por um presente terrível que também não existe”

Bem antes do aberrante fenómeno Trump atingir os EUA, a retórica populista e os movimentos nacionalistas que alimenta já vinham ganhando tração na Europa. Inflamam-se os sentimentos recalcados pela moral prevalente; promete-se um regresso às origens idealizadas, a um passado que nunca existiu; culpam-se as elites e os imigrantes por um presente terrível que também não existe. A única coisa que existe, aliás, é o medo de que o populismo se faz valer. Esse, sim, é bem real. E é esta a realidade ignorada, ridicularizada e esquecida pela qual os partidos de centro estão agora a pagar.

“Não admitir a pertinência de cenários alternativos não é argumento, é arrogância”

Bem vistas as coisas, também o centro europeu se serviu da retórica do medo ao fazer a apologia do status quo como direção única e óbvia para os membros da UE. Não admitir a pertinência de cenários alternativos não é argumento, é arrogância. É uma oportunidade perdida para realçar as vantagens da direção que é posta em causa pelos partidos de protesto – neste caso os valores da diversidade e do mercado livre bem como uma visão favorável à globalização – que se tornaram “dogma morto”, usando a expressão de John Stuart Mill.

Pluralismo e liberdade de expressão

As ideias do pluralismo e da liberdade de expressão defendem-se, em parte, precisamente para garantir que o que se aceita como verdade o seja por convicção, não por preconceito. Afinal de contas, quem não consegue defender em debate os valores que lhe são incutidos pela sociedade, não sabe porque os defende de todo. Limitar-se a chamar todas as visões contrárias de ultrapassadas, perigosas e “deploráveis” é já uma desistência do que se pensa defender, e é ignorar o grão de verdade que outras posições podem conter.

O medo é real. O terrorismo existe. A diversidade implica perda de homogeneidade. Uma sociedade aberta convida constante transformação e adaptação. Há razões válidas para as pessoas preferirem o que lhes é familiar ao que lhes é desconhecido. Há também boas razões para vivermos em países com economias abertas, que trazem prosperidade, desenvolvimento e variedade e lidam conscientemente com os desafios que estas implicam.

Talvez Trump tenha sido a melhor coisa que aconteceu à perspetiva da globalização. Talvez a sua administração histérica e caótica enfraqueça o apelo do que os seus homólogos defendem na Europa. Talvez os defensores europeus do nacionalismo, encorajados pela sua vitória, caiam na arrogância que fez os seus rivais perderem território. E talvez estes rivais, agora sensíveis aos medos dos europeus, ofereçam uma visão convincente de uma Europa aberta – entre si e ao mundo.