Tão série

Game of Thrones – O que esperar do primeiro capítulo

Geórgia Santos
16 de julho de 2017

O inverno está chegando, finalmente. E não, não me refiro à massa de ar polar que deve arrefecer o clima no sul do Brasil. Falo, obviamente, de Game of Thrones, umas das mais aclamadas séries da atualidade – e de outros tempos também.

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Logo vamos matar a curiosidade, mas enquanto isso, que tal tentar decifrar as pistas que a HBO vem dando nas últimas semanas?

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A estreia desta sétima temporada é similar à anterior, afinal, não há livro que a preceda. As Crônicas de Gelo e Fogo tem “apenas” cinco livros e o sexto e sétimo volumes ainda não foram escritos. Ou seja, não sabemos como a saga da Guerra dos Tronos continua.

A HBO vem dando algumas pistas vagas sobre o que deve acontecer no primeiro capítulo, que vai ao ar hoje à noite. Como não fomos convidados para a pré-exibição, que aconteceu em Los Angeles na última quarta-feira, só nos resta tentar decifrar o mistério.

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Episódio 61 – “Dragonstone” / “Pedra do Dragão”

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Jon (Kit Harington) organizes the defense of the North. Cersei (Lena Headey) tries to even the odds. Daenerys (Emilia Clarke) comes home.

Jon (Kit Harington) organiza a defesa do Norte. Cersei (Lena Headey) tenta igualar as probabilidades. Daenerys (Emilia Clarke) volta para casa.

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Retomando da última temporada, Jon Snow foi nomeado Rei do Norte. Como não poderia ser diferente, ele está tentando unir as forças que estavam divididas sob o reinado de Ramsay Bolton. O problema é que ele tem Mindinho em seu caminho, que está fazendo de tudo para afastar Sansa de Jon – provavelmente com o intuito de faze-la assumir o reino e destronar o (meio) irmão.

Mas afinal, contra o que ou quem o Norte precisa ser defendido? Juntando algumas teorias aqui e ali, podemos pensar no mais provável. Para ele, o maior inimigo está do outro lado da muralha. Por outro lado, desde a queda dos Boltons, Cersei sabe que já não tem amigos no norte e Jon pode estar armando uma defesa contra um possível ataque vindo das Terras Ocidentais.

Quanto a Cersei, não é segredo que ela está cercada por inimigos, logo, tentar igualar as (suas?) chances não é propriamente uma surpresa. A surpresa deve estar em COMO ela fará isso. Qual será o truque na manga, desta vez? Acredito que ela não consiga fazer nada sem a garantia de pelo menos um aliado, portanto, aposto que a tentativa de igualar as probabilidades é justamente a busca por uma nova aliança. Euron deve ser o nome que ela procura.

Daenerys voltar pra casa também não é propriamente uma grande novidade, afinal, a vemos sentada no trono no trailer que foi divulgado há mais de um mês. Trono do castelo que era a casa dos Targaryen.

Não é muito, mas ajuda a passer a ansiedade pelo novo episódio. Enquanto isso, dá uma curtida no trailer.

Tão série

Três maratonas para curtir durante as férias de julho

Geórgia Santos
8 de julho de 2017

As férias de julho estão aí, trazendo com elas o friozinho do inverno. E nada combina melhor com o inverno do que passar horas em frente à televisão – embaixo de um cobertor, claro. E comendo pipoca, óbvio. Por isso, pensamos em três maratonas para curtir durante as férias. São séries que estrearam no último mês no Netflix e que acomodam essa necessidade urgente de deixar a marca do bumbum no sofá.

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House of Cards

Já discutimos a nova temporada de House of Cards por aqui, e como se uma indicação não bastasse, aqui vai a segunda. Tem estômago para encarar um político de moralidade dúbia dando um jeitinho na legislação e contornando a Constituição para permanecer no poder? Não, eu não estou falando do Temer, só do casal Underwood. A maratona é perfeita para as férias de Julho, afinal, frieza é o que não falta. Prepara o cobertor!

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Orange Is The New Black

A nova temporada começa três dias após a morte de Poussey Washington (Samira Wiley), é de partir o coração. Mas mais do que isso, as detentas abordam temas que tem permeado a nossa realidade durante uma rebelião, como o movimento Black Lives Matter. A gente vê, através das grades da Penitenciária de Litchfield, o preconceito do nosso mundo enquanto mulheres tentam encontrar sua voz. É possível verVale cada minutinho, cada grão de pipoca.

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GLOW

Toda a exuberância da década de 80 transborda em GLOW – Gorgeous Ladies of Wrestling. Em tradução livre, Damas Maravilhosas da Luta. A série retrata os desafios de Ruth Wilder (Alison Brie), uma atriz cuja última chance em Hollywood é participar de um programa de TV sobre luta feminina. Collants, drogas, meias de lurex e mais um monte de coisas inapropriadas e engraçadas. A trama toda é baseada em uma história real, de um programa real.

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Arrested Development está de volta (em 2018)

Geórgia Santos
18 de junho de 2017

Nesta semana visitei Balboa (a ilha e a península), na Califórnia. O lance é que não tem como não lembrar de Arrested Development ao ver essa placa, pois é lá que grande parte da série se passa.

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Mas o lance mais lance, mesmo, é que o serviço de streaming Netflix confirmou a tão esperada quinta temporada da série para 2018 e para nooooooooossa alegria. O retorno desse (já) clássico da TV americana mantém o estilo e o formato, já que o criador original, Mitchell Hurwitz, está de volta. Além disso, o elenco regular é exatamente o mesmo das temporadas anteriores.

Arrested Development gira em torno de Michael Bluth (Jason Bateman) e sua (mais do que) excêntrica família. Ele é o primogênito de George Bluth Sr. (Jeffrey Tambor), notório por fraudar absolutamente tudo o que é possível em seus empreendimentos imobiliários e ser preso já no primeiro capítulo, e Lucille (Jessica Walter), uma socialite egocentrica e péssima mãe que oscila entre ser superprotetora e super negligente. Michael ainda é pai solteiro e cria, sozinho, o filho George-Michael (Michael Cera). Sim, o nome dele é esse.

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O desafio desse cara é manter os negócios funcionando após a prisão do pai e tentar impedir que a família mimada gaste o que eles já não tem.

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Após as contas da família e da empresa serem congeladas, ele percebe o quanto seus estranhos irmãos George Oscar Bluth II (Will Arnett), Buster Bluth (Tony Hale) e a irmã Lindsay Funke (Portia de Rossi) gastam. Sem contar no bizarro cunhado, Tobias (David Cross) que teve sua licença de psiquiatra cassada e agora persegue carreira no teatro (e toma banho de short jeans). Os dois tem uma filha, Maeby (Alia Shawkat) – que em inglês soa como Talvez.

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“Foi indicada a 25 Emmy Awards e venceu seis, aclamada pela crítica”

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Originalmente, Arrested Development foi ao ar por três temporadas na Fox, entre 2004-2006. Apesar de nunca ter alcançado grandes índices de audiência, a série se tornou referência como uma das melhores de todos os tempos. Tanto que foi indicada a 25 Emmy Awards e venceu seis, aclamada pela crítica. Hoje é uma das queridinhas do público cult, tanto que a Netflix resolveu contratar o elenco para uma quarta temporada em 2013. E agora, cá estamos no aguardo da próxima etapa.

Em um comunicado no mês passado, Hurwitz disse que “em conversas com executivos da Netflix, nós todos sentimos que histórias sobre uma família narcisista e de comportamento errático no ramo imobiliário – e seus desesperados abusos de poder – não são representadas adequadamente na TV”, em uma clara e cômica referência à família Trump.

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“Eu sou tão agradecido a eles por esse sonho se tornar realidade e poder trazer os Bluths de volta à vida, George Sr., Lucille e as crianças; Michael, Ivanka, Don Jr., Eric, George-Michael, e quem eu estou esquecendo? Ah, Tiffany. Eu disse Tiffany?”

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Se ainda não viu Arrested Development, todas as temporadas estão disponíveis na Netflix.

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House of Cards está de volta

Geórgia Santos
3 de junho de 2017

“I will not yield”

Frank Underwood, House of Cards

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“Eu não vou ceder!” É assim que Frank Underwood (Kevin Spacey) começa a quinta temporada de House of Cards, determinado a continuar sentado no Salão Oval da Casa Branca. Custe o que custar, é claro.

A série não está apenas na minha lista das melhores séries da vida mas também aparece como uma das melhores produções de todos os tempos segundo as revistas Time e Rolling Stone, por exemplo. E para alegria de todos e felicidade geral da nação (escolha a sua), o MEU malvado favorito está de volta. E eu diria mais sociopata do que nunca, mas a verdade é que está sombrio como sempre.

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Os novos episódios já estão disponíveis na Netflix. E haja retina para aguentar tantas horas em frente à tela, sem piscar. Porque é exatamente o que eu tenho feito nos últimos dias.

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House of Cards pode parecer inofensiva diante da realidade, seja ela Temer ou Trump. Afinal, o que os roteiristas podem inventar que seja surreal o suficiente para prender nossa atenção e, ao mesmo tempo, não reproduzir manchetes dos jornais que lemos todos os dias? Mas eu não apostaria nisso.

É verdade que há similaridades com o que tem acontecido no mundo – você vai ver como Frank pretende lidar com estrangeiros –, mas não são intencionais (a série foi gravada antes de Trump assumir) e o dark place de House of Cards está mais escuro do que nunca. Sem contar que, na minha opinião, basear críticas negativas à essa temporada porque “a realidade a torna sem relevância” é risível. Por pior que Trump seja, não parece que assassinatos sejam rotina. Variety diz que a série “ganha pontos pela relevância mas se arrasta com um interminável e aterrorizante cinismo – como se já não tivéssemos o suficiente disso”. Ou seja, até ano passado a série era incrível porque era provocadora e agora deixou de ser interessante porque temos cinismo o suficiente na vida real? Fala sério.

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Não acho que seja o melhor momento da série, mas é interessante, atraente e traz a tensão, o absurdo (espero) e as belíssimas atuações de Spacey e Wright, exatamente como as temporadas anteriores.

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A quinta temporada começa de onde parou, Frank e Claire (Robin Wright) disputam a presidência dos Estados Unidos como companheiros de chapa contra o republicano Will Conway (Joel Kinnaman), herói de guerra e governador de Nova York. Enquanto isso, o país sofre com a instabilidade na iminência de uma guerra após um cidadão americano ser decapitado por terroristas domésticos (quarta temporada).

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E Frank está adorando e aproveitando a situação para levar o pânico xenófobo ao limite. Ele se alimenta do medo. Ele gera o medo.

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Com essa tática, Underwood espera provar que ainda é o homem mais poderoso e necessário do mundo, vencer as eleições e desviar a atenção de jornalistas e inimigos políticos que estão perto de descobrir alguns – somente alguns – de seus desvios. A série ainda traz as tramas paralelas que envolvem a sexualidade de Frank e o estranho arranjo que ele fez com Claire e seu amante; dúvidas, vazamentos, traições e, claro, assassinatos.

Então não, não concordo com as críticas de que a série perdeu o seu mojo graças à aterrorizante realidade. Isso sim é cinismo.

E como diria Underwood no final do primeiro episódio:

“You have nothing to be afraid of”

“Você não tem nada pelo que temer”

 

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Especial Dia das Mães – Modern Family

Geórgia Santos
13 de maio de 2017

Depois de oito temporadas e inúmeros Emmys e Globos de Ouro, o sucesso de Modern Family é inegável. Não é exatamente uma série sobre mães e filhos, eu sei. Mas então por que falar dela justamente hoje? Explico. Porque acho que ela aborda maternidade de uma maneira saudável ao invés de exibir aquela imagem clichê que mostra a mãe como uma mulher perfeita ou como a fonte de todos os problemas dos filhos. Geralmente, é o tal do oito ou oitenta. Mas não em Modern Family.

A série mostra o turbulento dia-a-dia de três núcleos da – nada convencional – família Pritchet, O que nos interessa, no entanto, são as mães. Ao menos por hoje. E, nesse caso, são dois tipos bastante diferentes de mãe. De um lado temos Gloria (Sofía Vergara), a mãe superprotetora, que elogia o filho o tempo inteiro e tem certeza de que ele é a criatura mais maravilhosa do mundo. E faz tudo isso ao mesmo tempo em que sufoca o rebento e o isola do mundo real. De outro, temos Claire (Julie Bowen), bastante pragmática, que não hesita em julgar e esfregar o mundo real na cara deles. Tudo isso ao mesmo tempo em que ajuda com o trabalho de Ciências e faz cupcakes pra feira da escola.

As duas exibem uma característica que quase todas as mães tem em comum: aquele amor doido e incondicional pelos filhos

Mas o que me interessa é que as duas exibem outras características das quais quase todas as mães compartilham: elas se frustram, elas ficam com raiva, elas ficam cansadas, elas se irritam quando os filhos sabem de mais ou quando sabem de menos; não gostam quando as meninas usam roupa muito curta ou esquecem de passar maquiagem; se preocupam se os filhos saem muito, se preocupam se os filhos não saem; ficam doidas se os filhos não estudam, ficam doidas se os filhos estudam demais. E às vezes isso é demais.

Claire e Gloria nos mostram que as mães querem mandar tudo à merda, às vezes. E elas tem toda a razão.

As duas acertam e erram com seus filhos e normalizam essa humanização da família. E eu acho isso extremamente saudável. Todo mundo comete erros, e todo mundo tenta acertar enquanto isso também.

Há mães que erram mais, é verdade, como DeDe (Shelley Long), mãe de Claire e Mitchel (Jesse Tyler Ferguson). Ela bagunçou legal a cabeça dos dois, o que mostra que às vezes as mães simplesmente não conseguem lidar com a situação – ou não querem. E, às vezes, não há mãe na parada. Lily (Aubrey Anderson-Emmons) é criada pelos pais Mitchel e Cameron (Eric Stonestreet) e vai muito bem obrigada, tudo isso porque é cercada de muito amor e carinho. Afinal, é isso o que importa, né?

Enfim, Modern Family nos faz pensar sobre muitas coisas, eu acho. Tem casal com diferença de idade, tem casal homossexual, tem casal “tradicional”, tem estrangeiros, tem criança adotada, tem criança gênio e outra bem longe disso, tem gente bonita e outras nem tanto. E tem maternidade. Só falta uma coisa para Modern Family ser perfeita no quesito evolução humana na contemporaneidade: uma mulher que não queira ser mãe.

 

 

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Soundtracks – Canções que marcaram a história

Geórgia Santos
29 de abril de 2017
USA. Alabama, Montgomery. The Great Freedom March. Martin Luther KING Jr. led a group of marchers from Selma to Montgomery to fight for black suffrage.

“An artist’s duty, as far as I’m concerned, is to reflect the times.

Nina Simone

Em tradução livre, Nina Simone diz que o dever do artista, até onde ela sabe, é retratar o período em que vive. Obviamente é uma afirmação da qual um pintor ou um poeta podem se apropriar, mas ela se referia à música. A sua arte, a arte que ela levava tão a sério. Não sei se essa frase foi a inspiração de Dwayne Johnson (ele mesmo, The Rock) para produzir o programa “Soundtracks – Songs that defined history”, mas certamente é a isso que o programa se refere.

A nova produção da CNN, é um tributo ao que a música é capaz de fazer em uma sociedade em constante movimento

 

A ideia é identificar a trilha sonora de grandes acontecimentos de nosso tempo, identificar ou relembrar as “Canções que marcaram a história”, como diz o título. No primeiro episódio, ouvimos Nina Simone e Stevie Wonder, entre outros, durante a luta pelos direitos civis. Sete décadas de protestos por um mundo melhor; no segundo episódio, Billy Joel e o seu “New York State of Mind” após o 11 de setembro e Bruce Springsteen externando toda a dor de um povo em um álbum.

O programa foca em eventos históricos para a população norte-americana, já que é exibido nos Estados Unidos, mas isso não significa que não possa ser apreciado por um outsider. Afinal, a luta pelos direitos civis na década de 60 em solo americano foi também a luta da população negra de todo o mundo por uma sociedade mais justa e igual. Martin Luther King Jr é um herói da humanidade e, ainda hoje, todos os que batalham contra o racismo querem gritar “Mississipi Goddam”.

O primeiro episódio mostrou que o protesto está na voz de todos os inconformados e a música nos ajuda a verbalizar as reivindicações e a imortalizá-las

 

 

Já o segundo episódio mostra o quanto a música pode mexer com nossas emoções. Pode curar, mas também pode abrir uma ferida

 

Ainda há seis episódios pela frente – ao menos dessa primeira temporada – e, confesso, estou ansiosa. É raro ver uma produção com tamanha qualidade e sensibilidade. Sem cair no clichê, no óbvio. Sem recorrer ao mais fácil. Mas cavando fundo no que a nossa sociedade tem de mais dolorido e papel da música para na constante rotação da terra.

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Black-ish

Geórgia Santos
15 de abril de 2017

Black-ish é uma mistura de tudo o que eu adoro: é engraçada, bem escrita e apresenta uma dura crítica à sociedade contemporânea sem pesar. A série de Kenya Barris está redefinindo o significado de sitcom.

Não precisa ser vazio para ser engraçado e não precisa ser pesado para ser relevante.

A série parte da premissa de que quando um negro norte-americano atinge um determinado status social, passa por uma espécie de branqueamento. Por isso o “ish”, em Black-ish, que em tradução livre seria algo como “Mais ou menos negro.” Ou seja, é difícil se manter conectado às origens e mais complicado ainda manter a família ciente de onde veio e do motivo pelo qual é importante lembrar disso.

Andre (Dre) Johnson Sr (Anthony Anderson) é um rico executivo do ramo da Publicidade e é casado com a médica Rainbow (Bow) Jhonson (Tracee Ellis Ross), com quem tem cinco filhos. A cada episódio, um dilema sobre como lembrar da relevância de sua origem e, principalmente, o longo caminho trilhado até aqui. Um bom exemplo pra quem nunca viu a série é o episódio em que Dre percebe que os filhos não sabem que Barak Obama é o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos. No mundo das crianças, isso é absolutamente normal. Obama é o único presidente que conhecem, afinal de contas. Chocado, o pai compreende que a família precisa saber do tortuoso caminho até a vitória do democrata em 2008 e valorizar o que ele representa.

Ele enfrenta, então, o dilema central: será que ele está desconectando os filhos de sua herança cultural ao oferecer os privilégios que ele não teve na infância?

Black-ish é diferente e nos mostra uma família tentando entender o mundo do qual faz parte, inclusive com suas brigas e dilemas morais. E o fato de ser sobre uma família negra não é acidental, é a identidade da série. Fala sobre racismo, sobre estereótipos, sobre brutalidade policial, Black Lives Matter, dilemas sobre relacionamentos entre negros e brancos e, em meio a isso tudo, encontra humor para divertir o telespectador brincando a duração (loooonga) dos cultos e com o fato de que Dre vê racismo em todo canto, pra citar alguns.

É, também, uma ótima oportunidade para nós, brancos, abrirmos os olhos de uma vez por todas. Eles simplesmente atacam temas sensíveis em todos os episódios e funciona: Obama ama, Trump considera racista. Isso diz muito.

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Mês das Mulheres – The Good Wife

Geórgia Santos
18 de março de 2017

 

O nome não parece ter a ver com empoderamento feminino, afinal, a premissa da “boa esposa” é herança da sociedade machista. Mas The Good Wife é o oposto disso. Ao longo de sete temporadas, a advogada Alicia Florrick (Julianna Margulies) se afasta daquilo que todos esperam dela: o estereótipo de bela, recatada e do lar.

Evolução da “boa esposa”

No primeiro episódio da primeira temporada, vemos uma Alicia pálida, mal vestida e com cara de dona de casa suburbana. Vemos uma esposa humilhada enquanto fica ao lado do marido, o procurador-geral que teve um caso com outra mulher e se envolveu em um escândalo de corrupção. Isso faz com que ela precise/queira mudar sua vida: ela volta a advogar e toma as rédeas da própria vida. Encontra um antigo amor dos tempos de faculdade, começa a trabalhar no escritório do bonitão e está armada a cama. Só precisamos deitar.

A trama tem tudo que a gente precisa pra não desgrudar os olhos da televisão: crimes, política, intrigas, sexo, affairs, mentiras, traições, mais crimes, mais intrigas e mais crimes. E sexo. E mentiras. E mais traições.

 

Com o passar do tempo, Alicia e a série amadurecem o suficiente para que fiquemos viciados na história dessa mulher poderosa que é uma mãe-dona-de-casa-que-trabalha-fora-e-é-casada-mas-não-é-e-ama-dois-caras-ao-mesmo-tempo-mas-não-tem-certeza-e-está-crescendo-profissionalmente-mas-talvez-não-saiba-lidar-bem-com-isso-ou-saiba. Ufa. Eu sei que ficou grande, mas na série também é assim, tudo ao mesmo tempo agora.

Mulheres poderosas

E não é somente Alicia. Temos Diane Lockhart (Christine Baranski), uma advogada fodona e Democrata até a alma, constantemente lutando contra os conservadores e pelos direitos da mulher, como regularização do aborto. Temos Kalinda Sharma (Archie Panjabi), uma mulher misteriosa e independente que não deixa que ninguém diga como viver a vida.

Então, se tu ainda não viu, corre pra assistir The Good Wife. A série está disponível no Netflix e vale cada clicada. É uma história de empoderamento e emancipação, uma história crua e real sobre os degraus que a mulher precisa subir ou escalar para conseguir ser vista. Eu não vou dar spoiler, mas se tu não te importa com isso, dá uma olhada neste texto da Time sobre o último episódio da série e entenda a evolução de uma personagem que estava em busca de si.

A série acabou, mas o nosso amor, não. Dá uma olhada no recap da primeira temporada e me diz se não é de viciar?

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Mês da Mulher – Maratona Grace and Frankie

Geórgia Santos
4 de março de 2017

Entramos no belíssimo e colorido mês de março, também conhecido como aquele período de trinta dias em que as mulheres são celebradas por sua maravilhosa existência. Nós agradecemos, embora haja muita hipocrisia envolvida nessa celebração. Mas isso é assunto para outra hora. De qualquer forma, decidimos entrar no ritmo nesta valorosa coluna: vamos falar sobre séries em que as mulheres arrasam e começamos por Grace and Frankie.

“Não são duas velhinhas tentando encontrar sentido na vida. São duas tiazonas gatas que estão de volta à pista, se é que me entendem”

Em Porto Alegre, o primeiro final de semana de março começou chuvoso e perfeito para uma maratona. Mas vale assistir a todos os episódios de Grace and Frankie mesmo em um local ensolarado. A série da Netflix traz ninguém mais ninguém menos que Jane Fonda (Grace) e Lily Tomlin (Frankie) para contar a história de duas mulheres da faixa dos 70 anos que precisam recomeçar suas vidas. E não, o problema não é aposentadoria ou viuvez. Não são duas velhinhas tentando encontrar sentido na vida. São duas tiazonas gatas que estão de volta à pista, se é que me entendem. E elas fazem isso sofrendo, chorando, rindo, se divertindo e inventando lubrificantes naturais de inhame para facilitar o sexo.

Enredo

Acontece que seus respectivos maridos, representados por Martin Sheen e Sam Waterston, revelam às duas que são gays. Não para por aí: os dois, que são amigos há quarenta anos, contam que estão apaixonados e que tem um caso há duas décadas. As esposas, em choque, vão parar na casa de Praia que os casais tem em comum e são obrigadas a conviver.

As duas se odeiam e não poderiam ser mais diferentes. Grace é uma empresária aposentada que criou sua própria linha de cosméticos. Extremamente bem-sucedida, é perua que se alimenta de alface e luz e consome quantidades importantes de Dry Martinis – minha perdição, diga-se de passagem. Frankie, por sua vez, é uma artista plástica, sem apego às coisas materiais. Vive de maneira natural, consome orgânicos, medita e come muito, especialmente quando bate a larica da quantidade importante de maconha que fuma.

A combinação é bombástica e hilária. E isso que eu nem falei do chá de peiote que faz as duas viajarem legal ao redor de uma fogueira à beira-mar. Junte os filhos à essa loucura e o que temos é uma série engraçada e ao mesmo tempo profunda.

Ser mulher aos 70

Se é difícil ser mulher aos trinta ou em qualquer idade –e não, não é mimimi de feminista, é somente a realidade – imagine depois dos 70. Essas duas precisam enfrentar o mundo e dizer que sim, mulheres idosas também transam, também tem desejos, também querem tomar porres, também querem fumar maconha, também sofrem quando se sentem invisíveis, também choram quando são feridas, também tem paranoias, sentem medo e querem viver.

Já são duas temporadas, com 13 episódios cada uma, de cerca de 40 minutos. Vale a pena cada segundo – especialmente o episódio em que há um pinto mecânico no quintal. E não, não falo do filho da galinha.

A terceira temporada de Grace and Frankie estreia em 24 de março. Até lá, assiste às duas primeiras e dá uma olhada no trailer aí embaixo.

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Santa Clarita Diet – A única dieta que segui até o fim

Geórgia Santos
18 de fevereiro de 2017

Eu amo Bloody Mary. O drinque desprezado por brasileiros e brasileiras é dos meus favoritos. É picante. É intenso. É forte. É vermelho. Mas Sheila, a personagem de Drew Barrymore em Santa Clarita Diet, a nova série do Netflix, leva a devoção ao Bloody Mary a um outro patamar: com real blood – sangue de verdade.

A série retrata uma mulher de meia idade absolutamente comum e sem graça. Sheila é uma entediante corretora de imóveis que acha que rapidinhas são para cães de rua. Ela não fala palavrões, veste-se impecavelmente em tons neutros e atura ofensas do chefe com um sorriso no rosto. Ela vive em Santa Clarita, na California, com o marido Joel (Timothy Olyphant) e a filha Abby (Liv Hewson). São um casal bastante comum, com uma filha tão comum quanto sua relação.

“Ela vomita muito. Muito. Tipo muito, como frisa um colega de trabalho. Ela vomita tanto que vomita o coração”

A vida é bastante pacata. Até que Sheila encarna o exorcista e vomita uma gosma verde no carpete de uma casa que está mostrando a possíveis compradores. Ela vomita muito. Muito. Tipo muito, como frisa um colega de trabalho. Ela vomita tanto que vomita o coação. E é aí que uma série normalzinha sobre uma família de comercial de margarina se transforma em uma comédia de humor negro sobre zumbis e a hipocrisia permanente na qual estamos imersos.

Sheila transforma-se em um zumbi e só consegue comer carne crua. Carne de gado, de frango, essas coisas que toda a família tem em casa – exceto pelo tempo de forno, que difere um pouco das donas de casa comuns. Até que em um rompante de quem é guiado somente pelo instinto experimenta carne humana e não consegue voltar atrás.

As cenas podem ser bastante gráficas. A imagem da amiguinha do E.T. debruçada sobre um homem estripado pode ser muito chocante. Especialmente se notarmos que ela está com os intestinos do dito cujo na boca. Mas passado o choque, o que se tem é uma produção divertidíssima e inteligente. Sheila e o marido percebem que precisam matar outras pessoas para que ela possa sobreviver. Ainda assim, tentam manter a normalidade. E assim o público é brindado com uma mãe de família fazendo sua caminhada matinal enquanto bebe um smoothie de orelhas e nariz. Isso, sim, é um Bloody Mary.

“A Netflix usa da mais fina e ao mesmo tempo escrachada ironia para criticar a família americana “perfeita”

Ao mesmo tempo em que traz o elemento dos zumbis, um clássico de filmes de terror e de séries consagradas como The Walking Dead, a Netflix usa da mais fina e ao mesmo tempo escrachada ironia para criticar a família americana “perfeita”. Santa Clarita Diet é, também, uma crítica à sociedade das aparências: queremos o sangue do vizinho enquanto trocamos sorrisos e receitas de Brownie.

Em resumo, é a única dieta que segui até o fim – devorei os dez capítulos em um só dia. E não se preocupe, os pés e fígados que Drew Barrymore devora com tanto afinco são feitos de gominha de açúcar. Nhami.

Assista ao trailer