“I will not yield”
Frank Underwood, House of Cards
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“Eu não vou ceder!” É assim que Frank Underwood (Kevin Spacey) começa a quinta temporada de House of Cards, determinado a continuar sentado no Salão Oval da Casa Branca. Custe o que custar, é claro.
A série não está apenas na minha lista das melhores séries da vida mas também aparece como uma das melhores produções de todos os tempos segundo as revistas Time e Rolling Stone, por exemplo. E para alegria de todos e felicidade geral da nação (escolha a sua), o MEU malvado favorito está de volta. E eu diria mais sociopata do que nunca, mas a verdade é que está sombrio como sempre.
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Os novos episódios já estão disponíveis na Netflix. E haja retina para aguentar tantas horas em frente à tela, sem piscar. Porque é exatamente o que eu tenho feito nos últimos dias.
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House of Cards pode parecer inofensiva diante da realidade, seja ela Temer ou Trump. Afinal, o que os roteiristas podem inventar que seja surreal o suficiente para prender nossa atenção e, ao mesmo tempo, não reproduzir manchetes dos jornais que lemos todos os dias? Mas eu não apostaria nisso.
É verdade que há similaridades com o que tem acontecido no mundo – você vai ver como Frank pretende lidar com estrangeiros –, mas não são intencionais (a série foi gravada antes de Trump assumir) e o dark place de House of Cards está mais escuro do que nunca. Sem contar que, na minha opinião, basear críticas negativas à essa temporada porque “a realidade a torna sem relevância” é risível. Por pior que Trump seja, não parece que assassinatos sejam rotina. Variety diz que a série “ganha pontos pela relevância mas se arrasta com um interminável e aterrorizante cinismo – como se já não tivéssemos o suficiente disso”. Ou seja, até ano passado a série era incrível porque era provocadora e agora deixou de ser interessante porque temos cinismo o suficiente na vida real? Fala sério.
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Não acho que seja o melhor momento da série, mas é interessante, atraente e traz a tensão, o absurdo (espero) e as belíssimas atuações de Spacey e Wright, exatamente como as temporadas anteriores.
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A quinta temporada começa de onde parou, Frank e Claire (Robin Wright) disputam a presidência dos Estados Unidos como companheiros de chapa contra o republicano Will Conway (Joel Kinnaman), herói de guerra e governador de Nova York. Enquanto isso, o país sofre com a instabilidade na iminência de uma guerra após um cidadão americano ser decapitado por terroristas domésticos (quarta temporada).
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E Frank está adorando e aproveitando a situação para levar o pânico xenófobo ao limite. Ele se alimenta do medo. Ele gera o medo.
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Com essa tática, Underwood espera provar que ainda é o homem mais poderoso e necessário do mundo, vencer as eleições e desviar a atenção de jornalistas e inimigos políticos que estão perto de descobrir alguns – somente alguns – de seus desvios. A série ainda traz as tramas paralelas que envolvem a sexualidade de Frank e o estranho arranjo que ele fez com Claire e seu amante; dúvidas, vazamentos, traições e, claro, assassinatos.
Então não, não concordo com as críticas de que a série perdeu o seu mojo graças à aterrorizante realidade. Isso sim é cinismo.
E como diria Underwood no final do primeiro episódio:
“You have nothing to be afraid of”
“Você não tem nada pelo que temer”

