Depois de oito temporadas e inúmeros Emmys e Globos de Ouro, o sucesso de Modern Family é inegável. Não é exatamente uma série sobre mães e filhos, eu sei. Mas então por que falar dela justamente hoje? Explico. Porque acho que ela aborda maternidade de uma maneira saudável ao invés de exibir aquela imagem clichê que mostra a mãe como uma mulher perfeita ou como a fonte de todos os problemas dos filhos. Geralmente, é o tal do oito ou oitenta. Mas não em Modern Family.
A série mostra o turbulento dia-a-dia de três núcleos da – nada convencional – família Pritchet, O que nos interessa, no entanto, são as mães. Ao menos por hoje. E, nesse caso, são dois tipos bastante diferentes de mãe. De um lado temos Gloria (Sofía Vergara), a mãe superprotetora, que elogia o filho o tempo inteiro e tem certeza de que ele é a criatura mais maravilhosa do mundo. E faz tudo isso ao mesmo tempo em que sufoca o rebento e o isola do mundo real. De outro, temos Claire (Julie Bowen), bastante pragmática, que não hesita em julgar e esfregar o mundo real na cara deles. Tudo isso ao mesmo tempo em que ajuda com o trabalho de Ciências e faz cupcakes pra feira da escola.
As duas exibem uma característica que quase todas as mães tem em comum: aquele amor doido e incondicional pelos filhos
Mas o que me interessa é que as duas exibem outras características das quais quase todas as mães compartilham: elas se frustram, elas ficam com raiva, elas ficam cansadas, elas se irritam quando os filhos sabem de mais ou quando sabem de menos; não gostam quando as meninas usam roupa muito curta ou esquecem de passar maquiagem; se preocupam se os filhos saem muito, se preocupam se os filhos não saem; ficam doidas se os filhos não estudam, ficam doidas se os filhos estudam demais. E às vezes isso é demais.
Claire e Gloria nos mostram que as mães querem mandar tudo à merda, às vezes. E elas tem toda a razão.
As duas acertam e erram com seus filhos e normalizam essa humanização da família. E eu acho isso extremamente saudável. Todo mundo comete erros, e todo mundo tenta acertar enquanto isso também.
Há mães que erram mais, é verdade, como DeDe (Shelley Long), mãe de Claire e Mitchel (Jesse Tyler Ferguson). Ela bagunçou legal a cabeça dos dois, o que mostra que às vezes as mães simplesmente não conseguem lidar com a situação – ou não querem. E, às vezes, não há mãe na parada. Lily (Aubrey Anderson-Emmons) é criada pelos pais Mitchel e Cameron (Eric Stonestreet) e vai muito bem obrigada, tudo isso porque é cercada de muito amor e carinho. Afinal, é isso o que importa, né?
Enfim, Modern Family nos faz pensar sobre muitas coisas, eu acho. Tem casal com diferença de idade, tem casal homossexual, tem casal “tradicional”, tem estrangeiros, tem criança adotada, tem criança gênio e outra bem longe disso, tem gente bonita e outras nem tanto. E tem maternidade. Só falta uma coisa para Modern Family ser perfeita no quesito evolução humana na contemporaneidade: uma mulher que não queira ser mãe.
