Distanciamento social e as carreatas Fora Bolsonaro
Flávia Cunha
24 de janeiro de 2021
Tenho vivido em distanciamento social relativamente rígido desde março de 2020. Îsso, claro, graças ao privilégio de poder trabalhar de forma remota nas minhas funções como produtora cultural e jornalista. Depois de quase um ano sem ir a locais com aglomeração de pessoas em razão da pandemia, fui convidada por uma amiga a ir na manifestação “Fora Bolsonaro”, neste sábado, dia 23. Após essa provocação, fiquei durante um tempo refletindo sobre a possível incoerência entre defender o distanciamento social e sair de casa para um protesto.
Cheguei à conclusão que eram atividades essenciais (e urgentes):
Pressionar para tirar do poder um presidente que demonstra tamanho descaso na condução de uma pandemia.
Sair às ruas para demonstrar a insatisfação com a falta de organização para vacinar a população.
Lutar para o retorno do auxílio emergencial já que milhares de pessoas passam fome com o fim do benefício,
Com isso em mente, resolvi comparecer ao protesto, ainda que a convocação tenha sido para uma carreata e eu indo a pé, por não ter carro. Os organizadores do ato em Porto Alegre contabilizaram a adesão de pelo menos 1 mil veículos, que se concentraram no Largo Zumbi dos Palmares para depois percorrerem as ruas de diferentes bairros da capital gaúcha. Os protestos, em forma de carreatas, foram realizados em dezenas de cidades brasileiras e na maioria das grandes capitais.
Uma avaliação pessoal do protesto
Em Porto Alegre, os pedestres, como eu, ficaram no local da concentração. Posso garantir que a quantidade de carros era realmente grande. Porém, não sei se o número total de adesão chegou a 2 mil veículos, como vi em algumas postagens mais otimistas nas redes sociais. Mas, ao contrário do que afirmam os defensores de Bolsonaro, o protesto não era apenas de partidos políticos, sindicatos e movimentos sociais. Havia muitos idosos dentro dos veículos e pessoas ostentando cartazes visivelmente improvisados. O que, na minha opinião, é uma comprovação do quão genuíno é o sentimento de revolta de parte da população com o presidente da República e seu governo repleto de incompetência, desorganização e desprezo pela vida humana.
Haverá resultados?
Voltei para casa satisfeita por ver tanta gente engajada na luta por exigir a abertura de um processo de impeachment contra Bolsonaro. A pressão surtirá efeito no Congresso Nacional? Sinceramente, não sei. Se a opção por carreatas foi elitista, conforme vi algumas pessoas de esquerda comentando, também não consigo avaliar com exatidão. Acredito que tenha sido a alternativa mais segura neste momento para demonstrar insatisfação com o governo. Ainda que tenha sido, de certa forma, excludente para quem, como eu, é pedestre e não pôde acompanhar a manifestação em sua integralidade.
Distanciamento social precisa continuar
Afora necessários protestos e saídas essenciais para comprar comida, por exemplo, aconselho, a quem puder, que prossiga em distanciamento social. Considero ser a atitude mais sensata, enquanto a vacinação não for realizada em massa no Brasil. Mesmo que quem mantenha-se em casa, seja taxado de radical, medroso ou exagerado. Os adjetivos são muitos e podemos colocar nessa lista também o termo “comunista”, mesmo que a quarentena tenha sido recomendada em países onde os governos estão muito longe do espectro político de esquerda.
Aos resilientes do distanciamento social
Como incentivo aos que permanecerão em casa por muito tempo com o compromisso pessoal de evitar a propagação do coronavírus, recomendo a leitura do e-book gratuito Porto Alegre em Quarentena. A obra é uma coletânea com o registro poético dos primeiros meses da pandemia, a partir do olhar de escritores que moram na capital do Rio Grande do Sul. São diferentes estilos e temáticas diversas.
Porto Alegre em Quarentena
A diversidade presente na obra é um registro histórico do ano que passou. O conteúdo varia desde a sensação em si de isolamento, até temas sociais urgentes que vieram à tona nos últimos meses, como a luta antirracista. Na apresentação do livro, os organizadores Camilo Mattar Raabe e Diego Grando comentam: “Os poemas aqui reunidos formam, enfim, um retrato de um tempo e de uma cidade: um 2020 que corre estranho, uma Porto Alegre onde estamos sem estar.”
Um poema para encerrar
Entre todos os poemas, destaco Disperato Incantabile – Afflito ma non troppp de Diego Grando, por reflitir o espírito dessa pandemia sem fim:
“lorem ipsum fecha a porta / tem miojo no jantar / nostradamus / vós travais / eles trovam por wi-fi / quem tem boca fica em casa / não tem cão caça com live / pandeguices / isquemias / esqueminhas confirmados / rivotril no dry martini / gardenal com aperol / hoje a rave clandestina é num galpão em ivoti / lorem ipsum segue o baile / vai à merda e volta atrás / como lidar / em tempos de / seno b cosseno a / cloroquina mon amour / no dos outros é refresco / quem furar o isolamento / não vai preso no quartel / vem roçar essa mãozinha / marinada em álcool gel / vem roçar na minha tela / ou eu faço um escarcéu / lorem ipsum vai no super / estocar papel higiênico / tem entrega que é do bem / tem delivery do mal / tomar sol na basculante / já virou lugar-comum / tomar água do chuveiro / não é novo nem normal / dormir cedo / acordar tarde / dormir tarde / acordar cedo / google meet / zoom zoom zoom / não passou um avião / lorem ipsum coisa e tal”
Para baixar o livro, de forma gratuita, clique aqui. Mais detalhes sobre a obra podem ser conferidos em matéria do site Literatura RS.
BSV Especial Coronavírus #41 Vai Trump, vem vacina
Geórgia Santos
20 de janeiro de 2021
A vacina, finalmente, chegou ao Brasil e a imunização começou nesta semana. Agora, finalmente, a gente vai respeitar a necessidade de distanciamento social enquanto parte da população é vacinada. O momento que todos os que acreditam na ciência esperavam. O momento que todos os que levam informação a sério esperavam. O começo do fim da pandemia.
Logo após a aprovação, pela Anvisa, das vacinas de Oxford em parceria com a FioCruz e da Sinovac em parceria com o Butantan, não se ouviu falar em Jair Bolsonaro. Nem depois de a enfermeira Mônica Calazans ser a primeira vacinada no país. Não. O grande estadista só se manifestou no dia seguinte e pra falar da inauguração de uma obra. Quando falou, se referiu ao momento mais importante deste 2021 com a expressão APESAR DA VACINA.
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Se dependesse de Jair Bolsonaro, não teríamos vacina, apenas a mentira de que o tratamento precoce funciona
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Aliás, quando dependemos de Jair Bolsonaro, ele rejeitou 50 milhões de doses da vacina de Oxford, 40 milhões da Sinovac. Quando dependemos de Jair Bolsonaro, ele rejeitou as vacinas.
Mas este é um episódio de esperança. E pra coroar esse sentimento maravilhoso, hoje, dia 20 de janeiro, é a posse de Joe Biden como o novo presidente dos Estados. É o fim da era Donald Trump e, quem sabe, o começo de um período em que a humanidade tenha algum valor.
Participam do programa os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
Mas não termina por aí, porque o episódio inédito na história da política dos Estados Unidos andou dando ideias a Jair Bolsonaro.
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O presidente do Brasil disse que se a eleição não for no papel em 2022, se ainda houver urna eletrônica, aqui “pode acontecer pior” que nos EUA
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O problema é que enquanto Bolsonaro se preocupa com 2022, o coronavírus avança no Brasil, deixando um rastro de mais de 200mil mortos e poucas perspectivas de vacina no curto prazo. O ministro da saúde, Eduardo Pazzuelo, é a cara da tragédia. Segundo ele, vamos nos vacinar “no dia D, na hora H”.
Para discutir esses e outros assuntos participam as jornalistas Geórgia Santos e Flávia Cunha e os jornalistas Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
BSV Especial Coronavírus #39 Razões para ficarmos atentos
Geórgia Santos
6 de janeiro de 2021
No episódio desta semana, trazemos razões para ficarmos ainda mais atentos ao Brasil do novo ano.
Antes de mais nada, o constante descaso do governo de Jair Bolsonaro com a pandemia de coronavírus. No último final de semana, o estadista mergulhou no mar de uma praia aglomerada onde foi saudado por uma horda de negacionistas.
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O Reveillon da Covid foi forte
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O ministro da saúde, general Eduardo Pazzuello, não se manifesta publicamente há duas semanas e a vacina não está nem perto de chegar, temos nem seringa.
O Reino Unido, que já está vacinando a população contra a Covid-19, entrou em lockdown. Por aqui, o presidente diz que a vacina transforma em jacaré, estimula aglomeração e não faz absolutamente nada para impedir que a pandemia se agrave. Enquanto isso, a disputa à presidência da Camara dos Deputados está acirrada. Há quem fale em frente ampla? Será?
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E para finalizar, ainda vamos falar em resoluções. Qual a tua?
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Participam do programa os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
Epidemia de empobrecimento . Fim do auxílio emergencial deve recolocar milhões em situação de pobreza
Geórgia Santos
31 de dezembro de 2020
Por Flávia Cunha, Geórgia Santos, Igor Natusch e Tércio Saccol
“Me diz uma coisa: o que é que se perdeu não comendo manteiga, isso, que é mais um pirão de batatas do que manteiga? Ela não responde. — E o gelo?… pra que é que se precisava de gelo?… Faz-se uma pausa. Ele continua: — Gelo… manteiga… Quanta bobice inútil e dispendiosa… — Tu queres comparar o gelo e a manteiga com o leite? — Por que não? — Com o leite?! Ele desvia a cara de novo. — Não digo com o leite — acrescenta depois — mas há muito esbanjamento. — Aponta o esbanjamento. — Olha, Adelaide (ele se coloca decisivo na frente dela), tu queres que eu te diga? Outros na nossa situação já teriam suspendido o leite mesmo. Ela começa a choramingar: — Pobre do meu filho… — O nosso filho não haveria de morrer por tão pouco. Eu não morri, e muita vez só o que tinha pra tomar era água quente com açúcar. — Mas, Naziazeno… (A mulher ergue-lhe uma cara branca, redonda, de criança grande chorosa)… tu não vês que uma criança não pode passar sem leite?”
Em “Os Ratos”, Dyonélio Machado apresenta o protagonista Naziazeno durante o que o autor chama de “pega” com o leiteiro, que exige pagamento pelo leite de todo dia. Naziazeno contemporiza e tenta se convencer de que leite não é importante, de que não é necessário, mas ele sabe que não é assim que a banda toca. Ele precisa dar um jeito. A situação de Naziazeno em 1935 se repete, hoje, com milhões de brasileiros que foram beneficiados com o programa de auxílio emergencial criado pelo governo federal para ajudar as famílias mais vulneráveis durante a pandemia do novo coronavírus, que chegou ao Brasil em março.
De abril a dezembro, foram repassados cerca de R$ 322 bilhões em parcelas iniciais de R$ 600 e pagamentos “extras” de R$300. Estima-se que 70 milhões de pessoas receberam pelo menos um pagamento..
“Era um dinheirinho que dava para fazer algumas coisinhas, né? Não muito, mas ajudava.” A diarista Denise Basílio da Costa, de 30 anos, foi aprovada para receber o auxílio emergencial no início da pandemia. O valor mensal era destinado principalmente à compra de itens de alimentação para os filhos Vitória, de 10 anos, Vitor, 6 anos, e Lucas, de 4. Ela o marido, Cristiano, de 24 anos, ainda contaram com eventuais doações de cestas básicas ao longo dos últimos meses. “Meu marido faz bicos, como limpeza de pátios. A gente vai se virando, mas não sei como vai ser agora”, lamenta. Ela reconhece que não sabe como ficará o sustento da família com o fim do auxílio emergencial. “Esse dinheiro vai fazer falta, vai mesmo”.
Inúmeros fatores contribuem para a incerteza e ansiedade sobre o desempenho da economia, e o impacto na vida das pessoas, especialmente as mais vulneráveis. O fim do auxílio ocorre em um momento em que o desemprego atinge mais de 14 milhões de brasileiros, um índice de 14,3%, provocado, principalmente, pela gradual busca por vagas no mercado por trabalhadores que não estavam procurando. O desempenho da criação de vagas, no entanto, ainda depende da confiança do empresário, algo que não está acontecendo, em meio a indefinições sobre vacina e políticas fiscais. O Índice de Confiança do Empresário do Comércio fechou o ano de 2020 na menor pontuação desde 2017 (102 pontos).
Sem auxílio e com retomada mais lenta do que o necessário, o brasileiro ainda lida com inflação em alta em setores prioritários. No caso dos alimentos, a alta é de 17,46% – a maior desde outubro de 2003, em parte pela favorabilidade para exportações e, em outra, pelo aumento do consumo. E os mais pobres sofrem mais. Estudo do Banco Central (BC) divulgado em dezembro (17) mostrou justamente o impacto do auxílio emergencial na inflação dos mais pobres. A pesquisa mostrou que o benefício concedido pelo governo em razão da pandemia da Covid-19 elevou os preços da cesta de alimentos de quem ganha entre um e três salários mínimos.
O economista Ely José Mattos, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), explica que o auxílio causou um impacto considerável do ponto de vista do consumo.“Por exemplo, se a gente olhar carne de primeira e carne de segunda. Quando a gente pensa no movimento inflacionário da carne, por exemplo, esse dois tipos de carne tendem a caminhar mais ou menos juntos. Agora não aconteceu isso. A carne de segunda teve uma elevação relativamente mais acentuada que a carne de primeira. Ou seja, a gente teve uma pressão que é oriunda, sim, do aumento do consumo das famílias em função da renda. Cabe lembrar que os R$600 mensais, para muitas famílias, foi uma renda maior do que elas costumava receber regularmente antes da pandemia. São famílias que tem poder de poupança muito baixo, elas gastam esse dinheiro, afinal de contas, são famílias mais pobres e precisam usar esse dinheiro. Só que com a chegada desagrada extra, isso levou a uma pressão inflacionária.”
Além do reflexo no preço dos alimentos, o índice usado para reajustar aluguéis já passa de 23% ao ano. Para piorar, a inflação para classe de renda muito baixa – a mesma que não terá mais acesso ao benefício do governo – é quase três vezes a de renda alta, segundo dados do Ipea divulgados em novembro. Uma equação de difícil solução, sobretudo em meio a aumento do número de mortes e endividamento em alta.
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O IMPACTO DA PANDEMIA
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Pesquisa realizada pelo Datafolha a pedido do C6 Bank mostrou o quanto os brasileiros foram afetados pela pandemia sob o ponto de vista financeiro. O estudo mostra, ainda, que os brasileiros foram afetados de maneira desigual –segundo os dados da pesquisa, as classes C, D, e E foram as mais atingidas.
Para a maioria dos brasileiros, mais especificamente para 67% dos entrevistados, a questão financeira foi motivo de estresse e ansiedade desde o início da pandemia. A maior parte dos brasileiros com mais de 16 anos precisou cortar gastos pessoais e com a família e 58% afirmam que a renda familiar diminuiu. Quase a metade da população precisou adiar despesas. E entre os integrantes das classes C, D e E, os impactos financeiros foram mais comuns do que nas classes AB.
A suspensão dos contratos de trabalho atingiu 20% da população, impactando tanto assalariados como profissionais autônomos e free-lancers. Foi o caso do Tiago Rosa, de 34 anos, que é autônomo e não conseguiu manter o ritmo do trabalho. “Eu e minha esposa, Julia, conseguimos o auxílio. O valor até foi suficiente para pagar as contas e a alimentação nossa e do Caio (11) e da Elisa (5)”, pondera. Antes da pandemia, ele tinha o próprio negócio, uma empresa de transporte de bandas para shows e eventos. “Levava músicos para shows em Porto Alegre, região metropolitana e às vezes até para outros Estados. Com a pandemia, meu negócio parou. Até consegui fazer alguns trabalhos em lives, mas não tem como comparar com os ganhos que eu tinha antes”, comenta. O projeto para 2021 é voltar a ser motorista de aplicativo, uma ocupação que havia abandonado principalmente pelo medo de assaltos e por ter investido em sua empresa. “Mas é o jeito agora,” resume.
Em situação similar à do Tiago, a pesquisa do C6Bank e Datafolha indica que cerca de um terço da população economicamente ativa e assalariada afirma que teve redução de salário durante a pandemia provocada pelo novo coronavírus, o que representa 9% da população brasileira com 16 anos ou mais. Além disso, 43% dos entrevistados desempregados informaram que perderam o emprego durante a pandemia do Coronavírus.
Os números mostram a relevância do auxílio emergencial para a população mais vulnerável. Ainda, de acordo o economista Ely José Mattos, mostram a importância do benefício para o desempenho da economia brasileira em 2020. “O Banco Central projeta uma queda de PIB entre 4,5 e 5% pra 2020. Lá em junho nós apostávamos em quedas de 7%, porque o cenário era muito preocupante. O auxilio emergencial robusto, sem dúvida, ajudou a manter a dinâmica do varejo, do consumo básico. A gente teve, de fato, um componente de dinamismo econômico muito significativo. E foi fundamental pra manter as pessoas distantes de situações de muita necessidade e muita vulnerabilidade nesse período incerto e de tanto deslocamento das atividades econômicas. Tanto do ponto de vista do emprego quanto do ponto de vista de dinâmica. Então o auxilio emergencial foi fundamental.”
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DESIGUALDADE
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O Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV Social) divulgou um estudo chamado “Covid, Classes Econômicas e o Caminho do Meio: Crônica da Crise até Agosto de 2020”, que mostra que, em meio à pandemia de covid-19, o auxílio emergencial contribuiu para a queda temporária da pobreza no país. Segundo a FGV, a pobreza é caracterizada pela renda domiciliar per capita de até meio salário mínimo (R$522,50). A comparação feita com os dados fechados de 2019 aponta que 15 milhões de brasileiros saíram da linha de pobreza até agosto, uma queda de 23,7%. Mesmo havendo 50 milhões de pobres após a queda, foi o nível mais baixo de toda a série estatística. Com isso, de acordo com reportagem da jornalista Cássia Almeida publicada no jornal O Globo a partir de cálculo inédito do sociólogo Rogério Barbosa, a desigualdade brasileira chegou no menor nível histórico.
A questão é que a desigualdade no Brasil vinha aumentando desde 2016, e o fim do auxílio emergencial pode levar a desigualdade de volta ao patamar da década de 1980. Segundo reportagem publicada no jornal O Estado de São Paulo, o índice de pobreza – neste caso caracterizada por uma renda de até um terço do salário mínimo (R$348) – caiu de 18,7% em 2019 para 11% em 2020. Mas sem o benefício do governo, de acordo com o sociólogo Rogério Barbosa, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), esse indicador pode chegar a 24%. Isso coloca quase um quarto de toda a população brasileira em situação de pobreza.
Apesar de se ventilar a ideia de um reforço do Bolsa Família, o economista Ely José Matos não enxerga a possibilidade de o governo federal financiar um novo auxílio.
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“Não consigo enxergar uma repetição do que aconteceu esse ano, nós não temos caixa pra isso. Mas se não tiver nada, a gente vai ver a volta de um percentual significativo da população de baixa renda para patamares abaixo da linha de pobreza, o que é terrível.”
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E essa discussão, segundo ele, maquia a realidade. “Porque quando a gente discute pobreza no brasil, a gente fala em pobreza crônica, não pobreza transiente, que é quando se entra na momento de crise e depois sai. Aqui está acontecendo o inverso. A gente tem uma situação de pobreza crônica, o auxílio emergencial resgatou, e assim que acabar, as pessoas voltam”, explica.
A perspectiva traçada pelo economista mostra um cenário dramático para 2021. Ainda mais dramático. Com uma taxa de desemprego alta, uma recuperação incerta. “Para se ter uma ideia, o (ministro da economia) Paulo Guedes declarou que aconselharia não dar o 13º do Bolsa Família pela questão fiscal. A gente vai precisar de algo mais criativo”, diz o professor Ely Mattos.
Mas se não se pode contar com o auxílio, se não se pode contar com o governo, o brasileiro vai precisar se virar. Não que seja novidade, a criatividade no povo do Brasil é famosa. Mas nao tem nada de bonito ou romântico nisso. É cruel. Porque mais do que nunca o brasileiro vê a necessidade de tirar leite de pedra, como Naziazeno. A educação financeira é um caminho – talvez o único caminho – além da solidariedade.
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EDUCAÇÃO FINANCEIRA
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É preciso cuidado para falar sobre educação financeira diante do fim do auxílio emergencial. Porque para quem está abaixo da linha da pobreza, parece uma brincadeira de mau gosto discutir prioridades, orçamento familiar ou planilhas de gastos. Tanto é assim que o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Jr, alerta para o fato de que a teoria pode não ajudar, por exemplo, quem passa fome. “A teoria é muito bonita, diz que para aumentar a renda tem que aumentar as horas de trabalho e se qualificar. E do lado da despesa, trabalhar o orçamento. Mas para esse público, essas teorias tem valor próximo de zero. Porque eles tem extrema dificuldade de melhorar qualificação, e mesmo que conseguissem, demoraria um tempo razoável e, é claro, custaria mais dinheiro. E fazer orçamento para se gastar R$300 por mês? Tudo é prioridade.”
A questão é quando a gente pensa em educação financeira, logo imagina pessoas com muito dinheiro e investimentos. Mas a educadora financeira Cíntia Senna, ensina que ela pode ser aplicada também em famílias mais vulneráveis e de baixa renda. “Todos precisamos desse conhecimento, independente de quanto a gente ganha, escolaridade ou qualquer questão externa.”
Segundo Cíntia, diante do fim do auxílio emergencial e a falta de perspectiva de um novo benefício ou mesmo uma melhora na economia, a primeira coisa a se fazer é olhar ao redor, para a própria comunidade, vizinhos e amigos. “A gente tem que começar a observar o que é possível ser feito diante da realidade de cada um. E se perguntar, como está a minha comunidade, meu bairro, o que se pode fazer em conjunto. Pode ser importante olhar pra dentro da comunidade e observar quais as necessidades e ver o que cada um pode contribuir.E em troca disso receber um recurso financeiro ou até encontrar novas possibilidades.”
O músico e cozinheiro Felipe Santos de Souza, de 44 anos, reativou o trabalho com gastronomia para conseguir pagar as contas depois de o setor de entretenimento começar a sofrer os impactos da pandemia, especialmente com o cancelamento de shows. Apesar de ter sido aprovado para receber o auxílio emergencial, o valor não foi suficiente para manter as contas da família em dia. “Resolvi vender comida congelada como uma forma de complementar a renda para além do auxílio”, conta. Mais recentemente, começou a trabalhar pintando apartamentos. E é com essa ocupação que pretende se sustentar no ano que vem. “Também pretendo enxugar mais ainda os gastos. Mas, certamente, é um dinheiro que fará falta, já que os shows, que eram minha principal fonte de renda, não têm data para serem retomados no Rio Grande do Sul.”
Mas nem todo mundo consegue encontrar novas possibilidades e pagar as despesas básicas se torna motivo de uma angústia profunda. Naziazeno não conseguia comprar leite. A Denise, que aparece no início da reportagem, agora não sabe se vai conseguir comprar comida.
Cíntia explica que o supermercado é responsável por 60% das despesas das famílias brasileiras. Ou seja, em média, 60% da renda, independente de qual seja, é utilizada para a compra de alimentos que, como mostra o início da reportagem, é fortemente impactada pela inflação. Mas mesmo assim, mesmo nessas condições, a educação financeira pode ajudar. “Além de olhar marcas e pesquisar preços, a gente precisa sempre olhar o que tem dentro de casa e ir até o supermercado com uma lista pronta e ciente da quantidade se precisa. Também é importante estabelecer um limite de gastos e observar o que eu preciso para a semana, e não para o mês. Porque pode haver diferença de preços em determinados produtos que, ao final de 30 dias, podem impactar consideravelmente o orçamento da casa”, explica. Mas essas são medidas convencionais, que se aplicam a famílias que tem o orçamento apertado mas que, apesar da dificuldade, tem condições de se organizar sem passar necessidade ou fome.
Para famílias mais vulneráveis, Cíntia sugere medidas menos ortodoxas e que, de novo, envolvem a comunidade. “Todas as famílias precisam de comida e precisam fazer as compras. Então, procure fazer algo em conjunto. Organize com os vizinhos um dia para as compras. Os produtos podem ser comprados em conjunto e, assim, é possível negociar com o supermercado para se fazer uma compra única e ter acesso a algum desconto pela quantidade que está sendo comprada. Assim,é possível dividir e ter um custo bem menor. Isso pode ser feito em atacadões, que tem preços mais em conta. São estratégias que podem ser utilizadas para reduzir o valor da compra.” Segundo Roque Pellizzaro, presidente do SPC, a força das comunidades é muito importante nesse momento. “Esse lado cooperativo é muito nosso, muito do Brasil.”
Em momentos de crise como esse, muitas pessoas recorrem a empréstimos consignados com longos prazos de pagamento. No momento, até pode parecer uma boa ideia, mas o que pode resolver os problemas no curto prazo pode se tornar um problema maior no médio e longo prazo. Por isso, outra lição importante da educação financeira é fugir do crédito fácil. “Nós tínhamos muitas pessoas desbancarizadas no Brasil, fora do sistema financeiro. Por causa do auxilio emergencial, a gente enxergou essas pessoas. Mas nem todas são informadas e isso faz com que a oferta de crédito seja atrativa para esse público. E o aumento no nível de endividamento tem a ver com isso.”
O presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Jr, explica que é importante ter muitocuidado com qualquer promessa de facilidade exagerada. “Eu sempre me preocupei com essa questão do empréstimo consignado. Em tese, é uma coisa muito boa, porque como ele reduz o risco, ele teria que reduzir o juro. E o consignado nasceu com a ideia de melhorar esse viés do risco e oferecer juros mais atrativos, mas isso foi desvirtuado com o tempo. Tudo em excesso é muito perigoso e essas ofertas de crédito com juro muito alto são muito perigosas.”
Roque explica que o mais importante, em momentos de vulnerabilidade como esse do fim do auxílio emergencial, é não pegar um empréstimo com o único fim de pagar uma dívida antiga. “O empréstimo só vai ser bom se você for gerar uma nova riqueza com ele e, com essa nova riqueza, pagar o empréstimo e ainda sobrar um dinheirinho”, explica.
O recomendável, então, com relação a dívidas antigas,é renegociar com o credor. “Você vai vai conseguir uma taxa de juro muito mais barata do que tomando um empréstimo. Então, se você tem uma dívida, vá até o credor e diga: “eu não vou poder pagar. Vamos renegociar, eu vou precisar de seis meses, um ano.” O credor vai fazer, porque ele já está sem receber.”
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“Não tenha vergonha de procurar um credor. É melhor para você e paro o seu crédito uma renegociação do que ficar um tempo sem pagar e pagar tudo à vista com dinheiro emprestado.”
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Além de dívidas antigas, porém, há as contas que se acumulam todos os meses. Nesse caso, Pellizzaro sugere estabelecer prioridades. “O que eu preciso consumir todos os dias? Energia, água e alimentos. Ninguém vive sem isso. Essas são as prioridades. Então é importante manter as contas em dia ara não ter corte de luz e água e renegociar outras dívidas eventuais como compras antigas e parceladas. Não se pode pagar conta velha com dinheiro que você tem só pra comida.”
A educação financeira é algo que o brasileiro sempre exerceu muito pouco, de acordo com Roque Pellizzaro.E ela, sozinha, não resolve a profunda desigualdade à qual o Brasil é submetido desde sempre. Tampouco é capaz de mover famílias que estão abaixo da linha da pobreza para uma situação mais confortável. Mas ela pode auxiliar famílias vulneráveis em momentos de crises mais agudos como o que se avizinha em 2021. Cíntia Senna lembra que, a partir deste ano, a educação financeira deve fazer parte do currículo de todas as escolas. Mas até que exista uma cultura de planejamento nas famílias brasileiras, há recursos que podem ser utilizados.
O primeiro passo, para qualquer família, segundo Pellizzaro, é organizar um orçamento familiar. Por menor que seja a renda. Porque isso facilita mover os recursos conforme a necessidade. “Vamos supor que a pessoa reserve R$20 por mês para gastar com remédios. Mas ela ficou doente e precisou gastar R$50. De onde ela vai tirar os outros R$30? Se isso não estiver no papel, fica muito difícil reorganizar o orçamento em situações de crise ou emergência. Eu sei que fica muito difícil para pessoas com baixa escolaridade, mas hoje há aplicativos e outras ferramentas que podem auxiliar.
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CANAIS DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA NO YOUTUBE
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Nath Finanças . A Nath Finanças se dedica à educação financeira para pessoas pobres e de baixa renda. A proposta do canal é falar sobre o tema de maneira fácil e prática, justamente para quem nunca estudou ou não tem familiaridade com o assunto.
Me poupe – A Nathalia Arcuri explica de forma didática as questões complexas do sistema financeiro e dá dicas para quem, por exemplo, está endividado.
Instituições financeiras – Algumas instituições financeiras, como o C6 e o Itaú, tem canais no Youtube que auxiliam as pessoas que, por exemplo, precisam cortar despesas. E o melhor é que não precisa ser correntista para acessar o conteúdo.
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APLICATIVOS
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Minhas Economias . O aplicativo permite que o usuário organize entradas e saídas por meio de categorias. Assim, é possível controlar receitas e despesas em grupos e controlar o impacto sobre a renda mensal. O aplicativo Minhas Economias pode ser baixado gratuitamente tanto no Google Play quanto na App Store.
Guia Bolso . É um dos aplicativos de controle financeiro mais utilizados no país. O grande diferencial é a sincronização com a conta bancária do usuário. Ou seja, ele coordena o planejamento de gastos com a movimentação financeira, com as entradas e as saídas de recursos. O GuiaBolso pode ser baixado de graça no Google Play e na App Store.
Organize . É ideal para quem quer monitorar o quanto ganha e o quanto gasta. A ferramenta dispõe de um painel com as principais despesas do usuário e o quanto elas representam no orçamento total. O aplicativo Google Play e na App Store. O serviço também tem versão web.
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PLANILHAS
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Pra quem tem dificuldade com aplicativos, o ideal é apostar em uma planilha, que pode ser feita até em uma folha de caderno. Abaixo estão alguns modelos que facilitam o começo do trabalho.
Nath Finanças . A Nath finanças preparou uma planilha que pode ser acessada aqui e é perfeita para quem está começando a fazer o orçamento da casa.
Google Planilhas . Essa opção é menos intuitiva, mas é bastante eficiente. É similar ao Exel, mas é gratuito e dispoe de modelos prontos para organização financeira.
Segundo Pellizzaro, esse é um momento de transição bastante difícil. “Nós vimos essa dificuldadejá com a redução do auxilio de R$600 para R$300, nos primeiros dois meses houve um impacto especialmente no comércio, no comércio mais popular. A gente deve ter agora, no início de 2021, algo similar. Sé que com impacto ainda maior”, lamenta.Apesar de 2021 trazer uma expectativa melhor em função da possibilidade de vacina – possibilidade, porque, ao contrário de outros países, até agora, não há um plano concreto de vacinação no Brasil –não há nenhuma perspectiva de, já no primeiro trimestre, nós teremos uma vida social normal.
Por isso, enquanto ações de educação financeira ainda caminham, a solidariedade segue sendo uma força poderosa em tempos de crise. Não para reduzir desigualdades, mas para ajudar quem precisa. Para matar a fome.
Se você nos perguntar por onde andamos ao longo de 2020, a resposta é que nos desesperávamos. Desesperadamente gritamos em português. Gritamos de medo, por revolta, angústia, ansiedade, incerteza, dor, luto, desalento, desespero, desesperança, dúvida e mais medo.
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Desesperadamente gritamos em português por mais cuidado, mais emprego, renda, saúde, educação, mais atenção, remédios, mais médicos, empatia, respeito, máscaras, comida
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Mas não nos ouviram. O ano de 2020 fica marcado na historia do mundo como o receptáculo da pior pandemia dos últimos cem anos. E presentemente, nós, brasileiros, não podemos nos considerar sujeitos de sorte. Porque 2020, por estas bandas, fica marcado na história como o ano em que fomos abandonados à própria sorte.
Mais de 190mil brasileiros morreram vítimas do coronavírus, principalmente, porque o governo de Jair Bolsonaro escolheu ser guiado pela ignorância. Mais de 190mil famílias passaram o Natal de luto também porque o governo de Jair Bolsonaro escolheu não combater a pandemia. Mais de 190mil famílias não estão sãs, salvas e fortes porque o governo de Jair Bolsonaro escolheu ironizar medidas de proteção, incentivar o consumo de medicação não aprovada para combater a Covid-19, desacreditar as vacinas que chegam como um sopro de esperança.
Mais de 190mil brasileiros sangraram demais e pagaram a conta por termos escolhido uma pessoa que não é apenas despreparada para governar o nosso país, mas que é imoral, sádica e não, não está nem aí para a pátria, para Deus ou para qualquer família que não seja a dele.
De todas as vezes em que o brasileiro quis que um ano acabasse, o desejo nunca foi tão sincero. Mas emprestando a letra da canção de Belchior que virou o hino desta pandemia, chegamos ao último episódio do ano com o alívio de que pelo menos agora a gente já não pode sofrer no ano passado.
2021 se avizinha. Sim, com esperança, porque estamos juntos.Participam do programa os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, concede entrevista coletiva após anúncio do Plano Nacional de Operalização de Vacinação contra a Covid-19.
Pra que essa ansiedade, essa angústia?
A recente declaração do ministro da Saúde ocorreu em um delicado momento, no qual o Brasil registra 183 mil mortos – na contagem oficial – devido à pandemia de covid-19. Ao tentar adivinhar quais seriam as eventuais razões para ele ter falado essa frase infeliz, podemos imaginar que Eduardo Pazuello talvez seja um homem muito paciente. Ou, de repente, esteja levando sua vida de uma maneira tão normal que realmente não veja motivos para ansiedade ou angústia. O fato é que muitos aguardam que um cronograma efetivo de vacinação nacional seja (finalmente) apresentado à população e colocado em prática.
Mas há motivos ou não para sentirmos ansiedade e angústia?
De acordo com o dicionário Aurélio, o significado ligado à psicologia da palavra ansiedade é: “condição emocional de sofrimento, definida pela expectativa de que algo inesperado e perigoso aconteça, diante da qual o indivíduo se acha indefeso.”
De uma certa forma, Pazuello tem razão. Não há nada inesperado na falta de articulação do governo federal e nas falas cada vez mais caricatas do presidente Bolsonaro em relação ao suposto risco das vacinas (“Se virar jacaré, é problema seu!”).
O medo é justificável
Mas há, sim, um perigo no fato dessas pessoas estarem no governo federal durante a pior crise sanitária mundial dos últimos 100 anos. Por isso, a ansiedade. Que, conforme o dicionário Aurélio, também pode ter o significado figurado de “ausência de tranquilidade, medo, receio”.
Como ficaremos tranquilos ao ver as vacinas sendo aplicadas em habitantes de outros países enquanto aqui no Brasil o que vemos é esse festival de insanidades?
Inquietude diante da sensação de ameaça
Já a angústia citada pelo ministro é mais complexa e densa em seus diversos sentidos. Novamente recorrendo ao Aurélio, angústia é a “condição de quem está muito ansioso, inquieto”. O dicionário também cita uma das possibilidades filosóficas do termo. “Sentimento de ameaça que, para Kierkegaard (1813-1855), não se consegue determinar nem medir, sendo próprio da condição humana.”
E o que pode ser mais ameaçador do que a perspectiva de ficarmos à mercê de um governo displicente em plena pandemia? Voltando à fala do ministro, me parece que, além de ser descontextualizada no aspecto político e administrativo, também demonstra uma falta de noção na sua própria área de atuação. Saúde mental é coisa séria, Pazuello, e não deve ser menosprezada.
Dicas de Leitura
Mas, enquanto a vacinação não vem no Brasil, precisamos de boas leituras, que possam nos ajudar a lidar com a ansiedade.
Breve análise: A obra, da mesma autora de Mentes Perigosas, está na sua segunda edição, que foi atualizada e ampliada. No livro, a psiquiatra aborda o tema com uma linguagem acessível para o público em geral. A especialista também aponta possíveis maneiras de lidar com a ansiedade.
Indicação da bibliotecária Gislene Sapata Rodrigues
Breve comentário: Este é um livro bastante atual, já contendo referências à pandemia e como o atual momento pode desencadear crises de ansiedade. A psicóloga, especialista em psicologia clínica, tem consultório em Porto Alegre/RS.
Trecho da obra: “Segundo o DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais) o Transtorno de Ansiedade compreende vários outros sintomas que se caracterizam principalmente pelo medo. Claro que o medo desencadeia algumas alterações comportamentais e até mesmo fisiológicas.
A pessoa acometida por um medo exacerbado, pode desenvolver uma crise de pânico, apresentando sintomas como taquicardia, dificuldade respiratória, sensação de sufocamento parando na emergência de um hospital. Geralmente, quem sofre da Síndrome do Pânico tem acompanhamento psicoterápico e psiquiátrico, portanto, nesse período de pandemia, no caso de uma crise, deve procurar ajuda junto aos profissionais que lhe acompanham, evitando uma emergência de hospital.”
Indicação da jornalista Katia Hoffmann
Sugestão 3 – Título: Livre de Ansiedade
Autor: Robert L. Leahy
Breve comentário: A obra contém uma abordagem cognitivo-comportamental a respeito do assunto, além de sugerir maneiras de tentar lidar com a ansiedade. O autor é considerado um dos mais respeitados terapeutas nessa área da psicologia e é professor titular do Instituto de Psicologia da USP. Aqui tem um artigo completo a respeito do livro.
Autores: Dennis Greenberger e Christine A. Padesky
Breve Comentário: Outra sugestão de livro com abordagem cognitivo- comportamental, a obra ensina técnicas para procurar conter pensamentos disfuncionais e controlar a mente. Conforme a sinopse, “A mente vencendo o humor ensina estratégias, métodos e habilidades que se mostraram úteis na abordagem de perturbações do humor como depressão, ansiedade, raiva, pânico, ciúme, culpa e vergonha. “
Indicação da jornalista Lu Thomé
2020: um desafio para a saúde mental
No fim das contas, temos muitas razões para estarmos com “essa ansiedade, essa angústia” citadas pelo ministro da Saúde. O ano de 2020 foi desafiador também para a saúde mental em uma escala global, mas especialmente no Brasil, onde vivemos uma verdadeira epidemia de ansiedade. No Vós, já tratamos sobre o assunto em uma reportagem especial. Clique aqui para ler.
BSV Especial Coronavírus #36 O preço da incompetência de Bolsonaro
Geórgia Santos
16 de dezembro de 2020
No início do ano, a esperança era passar o Natal e o Ano Novo com a família reunida. Mas a incompetência de Bolsonaro não permitiu. O coronavírus venceu. A incompetência de Bolsonaro está na morte de mais de 180mil pessoas por coronavírus no país.
Enquanto isso, o ministro da saúde, General Eduardo Pazzuello, participou de festinha, sem máscara, na casa do governador de Brasília, Ibaneis Rocha. Com direito a karaokê e Zezé di Camargo.
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O máximo que o Ministério da Saúde faz é transmitir uma missa no canal do SUS
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Ah, mas tem o plano nacional de vacinação, não? Não. O governo convidou um grupo de 36 especialistas para montar a estratégia e inclusive cita o nome dos pesquisadores no documento de 93 páginas. O problema é que esqueceram de comunicar os pesquisadores, que ficaram sabendo do plano pela imprensa. Ou seja, o governo afirmou que os 36 cientistas endossavam o plano, mas eles sequer tiveram acesso ao documento. Pensa que acabou? Não. De acordo com reportagem da Folha de São Paulo, em reunião com Pazuello, pesquisadores tiveram microfones silenciados e não puderam falar.
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O mundo começa a ser vacinado, profissionais da saúde dançam de alegria nos Estados Unidos, e nós estamos aqui, esperando um governo inepto e criminoso assistir à população brasileira. Estamos à merce da incompetência de Bolsonaro
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Ah, e ainda tem o novo Fundeb e a ABIN, a Agência Brasileira de Inteligência, a serviço de Flávio Bolsonaro, filho do presidente. É mole? 2020 não dá folga nem dezembro. E não tem indicativo de que 2021 será melhor. A falta de planejamento e a incompetência cobram seu preço.
Participam do programa os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
BSV Especial Coronavírus #35 A vacina que o Brasil não quer
Geórgia Santos
9 de dezembro de 2020
Finalmente, uma vacina. Finalmente, uma luz no fim do túnel. O Reino Unido começou a vacinar a população contra a Covid-19 na última terça-feira, 8. Os britânicos estão sendo imunizados com a vacina da farmacêutica norte-americana Pfizer e da empresa alemã de biotecnologia BioNTech. Margaret Keenan, uma senhora de 90 anos, Margaret Keenan, foi a primeira a receber a dose da vacina que o Brasil não quer – pelo menos o governo age como se não quisesse.
Por aqui, o presidente da República Federativa do Brasil, um país em que mais de 178 mil pessoas morreram em função da Covid-19, não faz nada. Não, faz sim. Jair Messias Bolsonaro inaugurou uma exposição com as roupas que ele e a primeira-dama, Michelle, usaram na posse.
O governo de São Paulo anunciou que pretende começar a imunização com a CoronaVac em janeiro.A vacina está sendo desenvolvida no Brasil pela chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. Mas depende da aprovação da Anvisa. E não nos esqueçamos que Bolsonaro colocou militares na Anvisa para controlar as vacinas.
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É quase como se ele não quisesse que a pandemia acabe
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Participam do programa os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
BSV Especial Coronavírus #30 Bolsonaro contra a vacina
Geórgia Santos
28 de outubro de 2020
A pandemia ainda não acabou e está muito longe de ser controlada. Prova disso é embate nonsense de Jair Bolsonaro contra a vacina, que configura mais uma negligência do governo em um país em que mais de 157mil pessoas já morreram vítimas do coronavírus.
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Ele diz que não entende o motivo de haver uma corridapela vacina contra a COVID-19
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Ele ainda diz que não entende o motivo de não se investir em uma cura em vez de procurar a vacina. E, como se não bastasse, ele voltou a defender o uso de medicamentos sem comprovação científica contra o coronavírus.
No final das contas, o que pesa para o posicionamento de Bolsonaro sobre a vacina é uma retórica que mescla negacionismo com xenofobia. Por outro lado, há uma conjuntura desfavorável para o Bolsonaro. Argentina mudou de governo “no meio do caminho”, Chile deve fazer uma reforma constitucional, Bolívia elegeu um presidente de esquerda e, principalmente, há a possível mudança de comando dos Estados Unidos, onde, ao que tudo indica, o democrata Joe Biden será eleito presidente. Tudo indica, portanto, que o negacionista Bolsonaro ficará isolado.
E ainda há o aniversário de 75 anos de Luiz Inácio Lula da Silva. Participam do programa os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.