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BSV Especial Coronavírus #73 Terceira via entre protestos e jantares

Geórgia Santos
15 de setembro de 2021

Nesta semana, a terceira via entre protestos e jantares. Porque além do encontro de homens empoeirados, vamos falar dos protestos contra Jair Bolsonaro no último dia 12.

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Afinal, a política brasileira parece estar girando em torno da terceira via, que agora ganha um reforço mofado com a entrada de Michel Temer. Em vídeo divulgado nesta semana, André Marinho, filho do empresário Paulo Marinho – aquele que apoiou Bolsonaro em 2018 e prestou depoimento sobre o trio “Rachadinha, Flávio e Queiroz” – aparece imitando e ridicularizando o presidente da República em um  jantar na casa do especulador Naji Nahas. A imitação de Marinho provocou gargalhadas nos convidados, entre eles, Michel Temer, o novo fetiche da terceira via; o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, o presidente do Grupo Bandeirantes, Johnny Saad; e o jornalista Roberto Dávila, da Globo News.

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Aliás, girando em torno, não, andando em círculos, porque dizem que todo mundo quer uma terceira via, mas ninguém conhece esse todo mundo. Tanto que, no último domingo, 12, os protestos que pediam uma terceira via foram um fracasso de público.

Mas pera aí, os protestos não eram contra o presidente? Em teoria, sim, mas as faixas e os pixulecos eram bem objetivos: nem Bolsonaro, nem Lula. Logo, eram manifestações pela terceira via. Tanto que vimos Dória, Ciro, Leite e Mandetta desfilando e discursando. Há quem culpe o PT pelo fracasso. Mas bora desapegar da síndrome de Power Ranger, ninguém é criança aqui. Esperar que o PT apoie uma manifestação que infla boneco do Lula vestido de presidiário é um pouco demais.

E só pra gente não ficar um episódio inteiro sem falar das barbaridades de Jair Bolsonaro, ele agora resolveu fazer carinho nas Fake News e dizer que fazem parte da vida.  Disso nós já sabíamos, não é mesmo? Ainda mais depois do fiasco com os caminhoneiros na semana passada, que não acreditaram no áudio de Bolsonaro e comemoraram um falso estado de sítio. Pane no sistema, como diria Pitty. 

Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no SpotifyItunes e Castbox

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BSV Especial coronavírus #63 500mil motivos para gritar Fora Bolsonaro

Geórgia Santos
23 de junho de 2021

Nesta semana, vacina superfaturada e 500mil motivos para gritar Fora Bolsonaro

Depois de o governo de Jair Bolsonaro ignorar dezenas de emails da Pfizer e recusar, inclusive, um desconto, documentos do Ministério das Relações Exteriores mostram que o governo federal comprou a vacina indiana Covaxin por um preço 1.000% maior do que era anunciado pela própria fabricante. O Estadão teve acesso a um telegrama sigiloso da embaixada brasileira em Nova Délhi de agosto do ano passado que informava que o imunizante produzido pela Bharat Biotech tinha o preço estimado em US$ 1,34 por dose.

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Sabe quanto o governo brasileiro pagou? $15 por unidade. Pela cotação de fevereiro, o Ministério da Saúde pagou $80,70. A mais cara das seis vacinas adquiridas até agora
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Mas o escândalo da vacina superfaturada não para por aí. Porque há indícios de que o presidente Jair Bolsonaro foi alertado sobre um possível esquema. O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), irmão de um servidor do Ministério da Saúde, disse que conversou pessoalmente com Bolsonaro sobre as suspeitas de corrupção. O presidente, por sua vez, disse que levaria o caso à Polícia Federal, mas o parlamentar não teve mais retorno e as vacinas foram compradas.

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Tudo isso acontece na semana em que o Brasil chega a o terrível e trágico número de 500 mil mortos por Covid-19
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Um número que poderia ter sido evitado. Um número que é muito mais que um número. Um número que é feito de gente, de sofrimento, de famílias destruídas, de pais sem filhos, filhos sem mães, homens sem irmãs, mulheres sem amigos. E o presidente não foi capaz de dizer nada.

Jair Bolsonaro esperou dois dias para se manifestar. E apesar de dizer que lamenta as mortes, a reação aos jornalistas foi outra. Por essas e outras que no último sábado, dia 19, o país gritou FORA BOLSONARO. E nós, no Benita Sois Vós, fazemos coro.

Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol.  Você também pode ouvir o episódio no SpotifyItunes e Castbox

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Voos Literários

Distanciamento social e as carreatas Fora Bolsonaro

Flávia Cunha
24 de janeiro de 2021

Tenho vivido em distanciamento social relativamente rígido desde março de 2020. Îsso, claro, graças ao privilégio de poder trabalhar de forma remota nas minhas funções como produtora cultural e jornalista. Depois de quase um ano sem ir a locais com aglomeração de pessoas em razão da pandemia, fui convidada por uma amiga a ir na manifestação “Fora Bolsonaro”,  neste sábado, dia 23.  Após essa provocação, fiquei durante um tempo refletindo sobre a possível incoerência entre defender o distanciamento social e sair de casa para um protesto.

Cheguei à conclusão que eram atividades essenciais (e urgentes):

Pressionar para tirar do poder um presidente que demonstra tamanho descaso na condução de uma pandemia.
Sair às ruas para demonstrar a insatisfação com a falta de organização para vacinar a população. 
Lutar para o retorno do auxílio emergencial já que milhares de pessoas passam fome com o fim do benefício, 

Com isso em mente, resolvi comparecer ao protesto, ainda que a convocação tenha sido para uma carreata e eu indo a pé, por não ter carro. Os organizadores do ato em Porto Alegre contabilizaram a adesão de pelo menos 1 mil veículos, que se concentraram no Largo Zumbi dos Palmares para depois percorrerem as ruas de diferentes bairros da capital gaúcha. Os protestos, em forma de carreatas, foram realizados em dezenas de cidades brasileiras e na maioria das grandes capitais.

Uma avaliação pessoal do protesto

Em Porto Alegre, os pedestres, como eu, ficaram no local da concentração. Posso garantir que a quantidade de carros era realmente grande. Porém, não sei se o número total de adesão chegou a 2 mil veículos, como vi em algumas postagens mais otimistas nas redes sociais. Mas, ao contrário do que afirmam os defensores de Bolsonaro, o protesto não era apenas de partidos políticos, sindicatos e movimentos sociais. Havia muitos idosos dentro dos veículos e pessoas ostentando cartazes visivelmente improvisados. O que, na minha opinião, é uma comprovação do quão genuíno é o sentimento de revolta de parte da população com o presidente da República e seu governo repleto de incompetência, desorganização e desprezo pela vida humana.

Haverá resultados?

Voltei para casa satisfeita por ver tanta gente engajada na luta por exigir a abertura de um processo de impeachment contra Bolsonaro. A pressão surtirá efeito no Congresso Nacional? Sinceramente, não sei. Se a opção por carreatas foi elitista, conforme vi algumas pessoas de esquerda comentando, também não consigo avaliar com exatidão. Acredito que tenha sido a alternativa mais segura neste momento para demonstrar insatisfação com o governo. Ainda que tenha sido, de certa forma, excludente para quem, como eu, é pedestre e não pôde acompanhar a manifestação em sua integralidade.

Distanciamento social precisa continuar

Afora necessários protestos e saídas essenciais para comprar comida, por exemplo, aconselho, a quem puder, que prossiga em distanciamento social. Considero ser a atitude mais sensata, enquanto a vacinação não for realizada em massa no Brasil. Mesmo que quem mantenha-se em casa, seja taxado de radical, medroso ou exagerado. Os adjetivos são muitos e podemos colocar nessa lista também o termo “comunista”, mesmo que a quarentena tenha sido recomendada em países onde os governos estão muito longe do espectro político de esquerda.

Aos resilientes do distanciamento social

Como incentivo aos que permanecerão em casa por muito tempo com o compromisso pessoal de evitar a propagação do coronavírus, recomendo a leitura do e-book gratuito Porto Alegre em Quarentena. A obra é uma coletânea com o registro poético dos primeiros meses da pandemia, a partir do olhar de escritores que moram na capital do Rio Grande do Sul. São diferentes estilos e temáticas diversas. 

Porto Alegre em Quarentena

A diversidade presente na obra é um registro histórico do ano que passou. O conteúdo varia desde a sensação em si de isolamento, até temas sociais urgentes que vieram à tona nos últimos meses, como a luta antirracista. Na apresentação do livro, os organizadores Camilo Mattar Raabe e Diego Grando comentam: “Os poemas aqui reunidos formam, enfim, um retrato de um tempo e de uma cidade: um 2020 que corre estranho, uma Porto Alegre onde estamos sem estar.”

Um poema para encerrar

Entre todos os poemas, destaco Disperato Incantabile – Afflito ma non troppp de Diego Grando, por reflitir o espírito dessa pandemia sem fim:

“lorem ipsum fecha a porta / tem miojo no jantar / nostradamus / vós travais / eles trovam por wi-fi / quem tem boca fica em casa / não tem cão caça com live / pandeguices / isquemias / esqueminhas confirmados / rivotril no dry martini / gardenal com aperol / hoje a rave clandestina é num galpão em ivoti / lorem ipsum segue o baile / vai à merda e volta atrás / como lidar / em tempos de / seno b cosseno a / cloroquina mon amour / no dos outros é refresco / quem furar o isolamento / não vai preso no quartel / vem roçar essa mãozinha / marinada em álcool gel / vem roçar na minha tela / ou eu faço um escarcéu / lorem ipsum vai no super / estocar papel higiênico / tem entrega que é do bem / tem delivery do mal / tomar sol na basculante / já virou lugar-comum / tomar água do chuveiro / não é novo nem normal / dormir cedo / acordar tarde / dormir tarde / acordar cedo / google meet / zoom zoom zoom / não passou um avião / lorem ipsum coisa e tal”

Para baixar o livro, de forma gratuita, clique aqui. Mais detalhes sobre a obra podem ser conferidos em matéria do site Literatura RS.

Imagens: Facebook / Reprodução

 

Voos Literários

Os canalhas não suportam poesia (e solidariedade)

Flávia Cunha
1 de maio de 2020

Os canalhas no poder não suportam poesia, arte, solidariedade e empatia. Os canalhas no poder não suportam senso crítico, estado de bem-estar social e apoio governamental para minimizar os danos da pandemia no combate à miséria e ao desemprego.

Os canalhas no poder não suportam comércio fechado e trabalhadores em segurança em casa. Os canalhas no poder não respeitam as vítimas de um vírus mortal. Não suportam humanidade.

Os canalhas no poder são misóginos, machistas e precisaram ser pressionados no Congresso para dar uma renda emergencial diferenciada às milhares de mães solo que precisam garantir o sustento de seus filhos. Os canalhas no poder não se importam com as aglomerações e filas nas agências bancárias de trabalhadores informais desesperados. Os canalhas no poder enxergam apenas como um gasto esse auxílio emergencial e não como um direito, por estarmos vivendo um grave problema sanitário. Os canalhas no poder só se importam como eles mesmos. 

E agora, o que faremos?

Poesia. No sentido literal e artístico.

Ou poesia metafórica, com ações solidárias e manifestações contra o governo. Que o feriado do Dia do Trabalhador sirva como inspiração para pensarmos estratégias para essa luta.  Porque se governo e grandes empresários priorizam somente a economia, cabe, a nós, a resistência. 

Quem é o autor dos cartuns

São de Rafael Corrêa as imagens usadas nesse texto.  O cartunista, ilustrador e designer gráfico  já ganhou mais de 50 prêmios nacionais e internacionais. Desde abril de 2018, o cartum sobre os canalhas que não suportam poesia circula pelas redes sociais, muitas vezes sem crédito.  Em entrevista à coluna Voos Literários, o cartunista comentou que chegou a receber ameaças na época das eleições, por ter feito campanha contra o então candidato Jair Bolsonaro. Mas isso não fez ele desanimar. Continua firme e forte com seu trabalho durante a pandemia. “Está sendo um desafio. Me sinto na obrigação de fazer um retrato ilustrado deste período histórico. A função do cartunista não é só a de fazer rir, mas também de registrar seu tempo, como um cronista mesmo.” 

 

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Imagens: Reprodução/Facebook