Raquel Grabauska

Quando o filho menor cresce

Raquel Grabauska
14 de dezembro de 2019
Hoje foi o primeiro dia de aula do meu filho mais novo. Ele tem cinco anos. Até agora sempre ficou perto de mim.
Vantagens e desvantagens de se ter uma escola de arte …

 

A escolha da escola para o filho mais velho foi árdua. Sou a mãe chata, o terror de qualquer diretora. Eu quero saber de tudo, reclamo dos pais que estacionem em fila dupla, converso sobre as coisas com as quais não concordo e sobre as que eu concordo também.

Já até mudei ele de escola, até que cheguei em um lugar onde ele foi muito bem recebido. Mais que isso, respeitado. Como ser humano. Como criança. Com um ser que pensa e sente. Agora é a vez de o segundo ir. Mesma escola, claro.

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Essa escola trabalha com multi-idade. As turmas se agrupam de 3 em 3 anos. Então, primeiro, segundo e terceiro ano, juntos. Meus filhos serão colegas
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Terão dois dias de vivencia nessa semana. O menor estava temeroso. Como iria para escola se ele não sabe matemática? O maior, aclamando o irmão. “Se acontecer qualquer coisa, eu te protejo, mano. ” O menor desistindo de ir. O maior achando chato e dizendo que não quer mais que estudem juntos.

Um pai e uma mãe com olhos arregalados. E lá foram eles. Chorei. É claro que chorei. Chorei por sentir tanto amor. Por confiar. Eles cresceram. Eu também cresci hoje. Agradeço a este espaço que permite que eu seja uma mãe chata. E que permite aos meus filhos cresceram no seu tempo.

Na foto: Benjamin e Tom, no primeiro dia de aula do menor

Raquel Grabauska

Mães empreendedoras

Raquel Grabauska
6 de dezembro de 2019

A maternidade é linda. É sim. Mas o que acontece coma gente… Dar conta do filho,  de tomar banho, escovar os dentes e seguir vivendo. E para muitas de nós, uma das angústias que surge é o trabalho.

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Como conciliar o trabalho e a maternidade?

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Pois tem uma iniciativa rolando em Porto Alegre que é de uma lindeza. Uma feira de mães empreendedoras organizada por um grupo de mães incríveis. Daniela Garcia, Andressa Gabriele da Silva e Tanise Matheus. O Clube de Mães foi criado por uma mãe que já não participa mais com o intuito de reunir mulheres com filhos de idades parecidas (era algo bem pequeno). Com o crescimento, essa mãe sentiu a necessidade de chamar as amigas para ajudar a moderar o grupo. Uma delas foi a Daniela Garcia, que depois chamou outras e assim por diante. Hoje, o grupo tomou outra proporção e já  somos mais de 20mil mães de vários lugares – mas a maior parte é da região Sul.

A feira será no Espaço Cuidado Que Mancha, na Rua Damasco, 162, em Porto Alegre.  serve para nos conhecermos pessoalmente e nos reunirmos, além de fomentar os negócios  entre mães! As feiras/eventos do Clube de Mães são sempre um sucesso e, apesar de amarmos a função, nem sempre damos conta de organizar esses eventos com a frequência que gostaríamos!

Raquel Grabauska

A desigualdade pelos olhos de uma criança

Raquel Grabauska
17 de novembro de 2019

Faz tempo que tenho o hábito de ter comida no carro para quem pede na rua. Nos últimos meses, aumentou muito o número de pedintes. Tenho explicado para os meus filhos o que acontece no mundo. Explicado sobre a desigualdade. Explicado que não julguem. Explicado o impacto de não nascer “no lugar certo”, “na hora certa”.

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Esses dias, eu estava no carro com meu filho de cinco anos. Ele, com a lancheira na mão, disse:
“Mamãe, se a gente encontrar um morador de rua, vou dar meu lanche.”
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Eu quase tive um troço. Achei lindo. Ao mesmo, fiquei triste. Fiquei triste por perceber que ele, com cinco anos, entende tanto desse assunto. E seguiu.

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“Mamãe, ufa que nós temos casa, né?”
“Ufa, filho!”
“Mamãe, porque os moradores de rua não pedem pros trabalheiras fazerem casa pra eles?”
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O que responder depois disso? A lógica dele é perfeita. As pessoas precisam de casa e comida. Me comoveu a sensibilidade desse menino. Quero poder votar em algum político que tenha essa visão de mundo.

Raquel Grabauska

Criança precisa brincar, criança deve brincar

Raquel Grabauska
12 de julho de 2019

Disse o presidente Jair Bolsonaro sobre trabalhar quando era criança:

“Não fui prejudicado em nada. Quando um moleque de nove, dez anos vai trabalhar em algum lugar, tá cheio de gente aí ‘trabalho escravo, não sei o quê, trabalho infantil’. Agora quando tá fumando um paralelepípedo de crack, ninguém fala nada”.

Eu poderia falar sobre a taxa de desemprego no país, que, segundo o IBGE, atingiu 12,5% e representa um número de mais de 13 milhões de adultos sem trabalho. Eu poderia falar sobre a precariedade das escolas, ou sobre a evasão escolar. Também segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, mais de um milhão de jovens entre 15 e 17 anos, por exemplo, estavam fora da escola no ano passado. Eu poderia falar sobre tantas outras coisas.

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Meu pai sustentava nossa casa. Quando eu tinha 11 anos, ele ficou muito doente. E permaneceu doente até eu ter 17 anos, quando ele faleceu. Passou a maior parte desse tempo em hospitais, internado. A minha mãe ficava bastante tempo com ele – e eu também. Isso significa que durante um grande período da minha infância – e toda a adolescência – eu passei trabalhando e/ou em um hospital. Sem vitimismo, é só a minha história. Eu sei como é.

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Mas senhor presidente, vai chupar um prego, por favor!

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Criança precisa brincar. Criança deve brincar. É direito. É o que faz com que se cresça, é como elaboramos as ideias, é o que nos torna adultos com capacidade de aproveitar a vida. E não é aproveitar a vida fumando crack, senhor presidente. É assumindo responsabilidades, descobrindo o prazer de trabalhar.

Meus filhos brincam muito. Criamos um Espaço de Brincar para crianças. Fazemos espetáculos infantis. Podemos não ter os bolsos cheios. Mas temos ideias, criatividade e uma vontade de viver que são impagáveis.

Bônus: Relatório Estimativa Globais do Trabalho Infantil – Organização Internacional do Trabalho (OIT)

 

Raquel Grabauska

Vontade de outono

Raquel Grabauska
26 de abril de 2019

Hoje eu caminhei na rua. Vestido leve, sentindo o vento. Gosto de sentir o vento e a sensação de quase frio do outono. Pensei que queria um mundo de outono. Sem verão, sem inverno. Na primavera nem pensei, confesso. Um mundo sem extremos. Quando vi que o meu desejo pra hoje era o outono, senti vontade imensa de chorar.

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Fazia tempo que eu não sentia desejo de algo tão simples

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Ontem passei por uma rua onde uma pessoa estava sendo morta num assalto. Com meus dois filhos pequenos. Polícia, sirene, viatura na contramão. Pânico. E eu só queria ver se a academia de artes marciais era legal pra eles. Desejei não ter saído, desejei que eles não tivessem visto tudo aquilo, desejei que o rapaz não tivesse sido baleado, desejei que o outro rapaz não tivesse atirado, desejei que a família do rapaz que morreu não sofresse. Desejei dar colo pra mãe dele.

Dias atrás uma amiga querida infartou. Desejei que não tivesse infartado. Mãe de dois meninos, 6 e 9 anos. Desejei que não sofressem. Testes para morte cerebral. Desejei que os testes dessem esperança. Desejei que ela visse os filhos crescerem. Desejei que o companheiro tivesse sua companhia para seguirem viajando, sendo parceiros, existindo como a família querida que admiro.

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Desejei que não conhecer a história da Marielle, pois só conheci depois da sua morte
Desejei não saber de Brumadinho, de Mariana
Desejei não chorar pela África
Desejei não chorar por Suzano

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Hoje quando desejei o outono, me senti egoista. Depois tive vontade de sentar e chorar. Saudade do tempo em que a gente podia desejar coisas simples.

Raquel Grabauska

21 anos da Mulher Gigante . de pais para filhos

Raquel Grabauska
18 de janeiro de 2019
Porto Alegre, 20/09/2014 Esoetáculo "A Mulher Gigante" do Grupo Cuidado que Mancha Local: Sala Álvaro Moreira, Porto Alegre/RS Foto: Cristine Rochol

Ontem fizemos um espectáculo lá no Espaço Cuidado Que Mancha. Era a festa de comemoração dos três anos da casa e 21 anos da Mulher Gigante. Íamos fazer na praça, mas ficou um chove/para/chove e acabam fazendo duas sessões no nosso mini-auditório. Uma casa cheia de pais e filhos. Muitos pais eram crianças quando esse espetáculo estreou. E foi lindo de ver os pais reavivando suas lembranças, a emoção tomando conta, por estar ali de novo, por estar ali mostrando o novo.

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Dia desses escrevi sobre o medo que dá quando a gente vê o filho cometer os mesmo erros que nós. E hoje acordei pensando nisso, na singeleza que é mostrar as coisas boas, construir memórias juntos. Saber que daqui a 20 anos, é disso que ele lembrarão.

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Fiquei extremamente emocionada ao ver cada fama se abraçando, cada historia que vinha ser contada pra gente, cada olho brilhando. O olho curioso de quem tava vendo a primeira vez e o olho emocionado de quem tinha visto. São tempos difíceis para a cultura. Bem difíceis. Tenho visto colegas talentosos que sofrem por não conseguir viver da sua arte. Sei o esforço que faço pra manter meu trabalho. Sei o sono que perco, os momentos em que sou menos disposta brincar com meus filhos por causa de uma conta ou orçamento. Mas dias como o de onde me fazem sentir um oásis no meio disso tudo. Agora vou esperar a festa dos 30 anos pra ver quem vai ter neto já…

E pra quem quiser fazer nosso novo trabalho nascer, segue o financiamento no Catarse.

* Foto da Cristine Rochol

Raquel Grabauska

Desativei as notificações do WhatsApp

Raquel Grabauska
12 de janeiro de 2019

Tenho me perguntado muito como vai ser quando os meninos tiverem celular. Meu filho de sete anos perguntou se poderia ter um quando completasse dez. Glup, pensei eu. Fiz cara de que tava preparada pra uma conversa normal e perguntei: porque tu precisa? Ele: porque quase todos os meus colegas têm.

Discurso sobre as diferenças entre as pessoas, os tipos de família, as escolhas. Ressaltando que devemos respeitar as escolhas diferentes, mas que por motivos x, y e x, na nossa era assim.

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Discurso, discurso, discurso. Tem horas que ser mãe dá uma canseira… porque eu não tenho a menor ideia do que responder. Ou se tô fazendo a coisa certa. É sempre aquela sensação de ter pulado de um avião e não saber se o paraquedas vai ou não abrir.

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Enquanto eu falava, meu celular apitou umas 512 vezes. E meu olho queria ir conferir o que tinha acontecido. Era algo importante? Era do trabalho? Era um orçamento? Era? Era?

E daí me enxerguei. Preciso ter uma relação mais saudável com meu telefone. Desativei as notificações do WhatsApp e sou bem mais feliz. Ainda olho bastante, faz parte do meu trabalho. Mas vejo no meu tempo, e não porque o celular mandou eu olhar.

Raquel Grabauska

Educação Financeira

Raquel Grabauska
4 de janeiro de 2019

Finanças sempre foi uma coisa complicada pra mim. As contas eu sei fazer bem, mas administrar nunca foi o meu forte. A gente comete muitos erros, e quando se tem filhos, sabe que vai errar, que eles vão errar. Há uma vontade danada de que os erros deles não sejam os mesmos que os nossos.
Os guris ( 4 e 7 anos) andavam pedindo brinquedos. Só que o fervor do brinquedo novo era efêmero. Alguns dias e lá tava o pobre brinquedo atirado num canto.
Nesse fim de ano pedi pra eles separarem três brinquedos cada um para doarmos pra outras crianças. Quando vi, separaram quatro sacolas. E brinquedos bons, daqueles que eu quase disse para não dar. Fiquei orgulhosa deles e agradecida por me ensinarem esse tipo de generosidade.
Vínhamos dando mesada, para cada um o valor em R$ correspondente a sua idade. Mas nós mesmos, os pais, às vezes esquecíamos de dar ou facilitávamos a compra de um brinquedo.
Ao ver a quantidade de coisas adquiridas e ao vê-los mega felizes desenhando, brincando com uma caixa, brincando sem brinquedo algum, percebemos que estávamos falhando nesse quesito.
Instituímos com eles a mesada fixa, com nosso comprometimento em pagar em dia, desde que eles façam as tarefas deles na semana.
Tem funcionado bem. Essa semana meu filho mais velho me disse: “mamãe, eu vi um brinquedo que é um absurdo! R$ 119,00 por uma coisinha de nada!”. Ele tá entendendo como funciona. E seguiu: eu não vou gastar meu dinheiro nisso pra brincar um pouquinho e depois não dar bola”.
Num mundo tão consumista, sei que o caminho é longo. Eu realmente andava aflita com isso. Não sou de compras. Reaproveito muita coisa, estou sempre doando também.
Hoje mesmo entregamos para uma creche um carregamento imenso de brinquedos, roupas, panelas e outras costas que arrecadamos entre nós e com amigos.
A educação financeira passa sim pelo dinheiro, é claro. Mas tem mais que isso. Muito mais. Vamos aprendendo.

Raquel Grabauska

O que meu filho vai ser quando crescer?

Raquel Grabauska
28 de dezembro de 2018

Lembro que adorava ler, quando pequena,  a revista Mad. Tinha uma parte em especial: um quadro com a imagem do que os pais achavam que o filho seria e outro com o filho no futuro, sendo algo absolutamente diferente. Hoje, alguns seriam impublicáveis. Totalmente politicamente incorretos.

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Bom, qual pai/mãe não sonha com o futuro dos filhos? Meu filho mais velho tem sete anos. Ele já “foi ser”: baterista, cientista, matemático e engenheiro da Lego que moraria na Alemanha. Possivelmente, já teve outras carreiras que foram descartadas nesses anos todos.

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Quando ele tocava bateria, eu, mãe artista, me emocionava, exibia, orgulhava. Quando começou a fazer contas de cabeça com seus míseros 7 aninhos, o pai, das Exatas, não cabia em si de felicidade. A cada troca de profissão, novos planos e expectativas. E a torcida silenciosa dos pais pra ver se o guri vai para as Humanas ou Exatas.

Pelo que conheço dele, pelo que conheço de nós, tanto faz. Meu pai queria que eu fosse nutricionista. Morreu no ano em que fiz vestibular para teatro. Antes de eu fazer, que fique claro. Não foi de desgosto, fiquem calmos. Muitas pessoas ficaram com pena: eu era uma boa aluna, com potencial. Como gastei toda aquela inteligência fazendo teatro?

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Eu não sei o que teria feito se meu pai estivesse vivo no vestibular. Não sei se teria tido coragem. A mãe respeitava minha decisão. Não torcia, mas respeitava. Meus irmãos me incentivaram. Eu fiz no impulso.

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Quando vejo meus filhos crescendo, fico torcendo para diminuir minha expectativa. Porque quando a gente está crescendo, a nossa expectativa em relação a nós mesmos já é imensa. Só nesse ano, meu filho começou uma escola nova, aprendeu a ler, teve que extrair dois dentes e depois disso ainda teve dois dentes moles que não caem nunca. Já pensou?! Como dar conta de tudo isso?

Quando vejo que ele já tem sete anos, vejo que ele só tem sete anos. Está crescendo e é uma criança. E vai errar, e vai bater cabeça, e vai… é lindo e difícil. Vou torcer pra que ele cresça bem. Que tenha a sorte de ter pessoas leais por perto. A minha parte eu estou fazendo: deixar ele crescer sendo ele.

*A imagem da capa é de um robô que mexe braços e pernas. Foi construído pelo nosso ilustrador mirim, Benjamin, de sete anos. 

Raquel Grabauska

Papai noel existe?

Raquel Grabauska
21 de dezembro de 2018

Duas coisas me chocaram muito quando era pequena: descobrir como se faz um bebê e descobrir que o Papai Noel não existe. Ops. Espero que nenhuma criança esteja lendo. Sobre a primeira, falaremos outra hora…

A gente sempre acaba sabendo de uma história triste sobre a descoberta da não existência do bom velhinho. Essa semana mesmo ouvi uma.

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“Minha mãe fica sequeladada quando tá com sono. Quando era pequena, perguntei pra ela, que tava quase dormindo: Mãe, é verdade que papai noel não existe? E ela: Sim, é verdade. Segui: Nem a Fada do Dente? Nem. E o Coelhinho da Páscoa? Também não.” A mãe com sono contou TODA a verdade para a filha de cinco anos.

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Hoje mesmo meu filho me viu com dois presentes na mão. Comprei para meu irmão e cunhada. Ele perguntou para quem era. Eu respondi imediatamente: pro tio e pra tia. Ele: porquê? Eu respondi imediatamente: presente de Natal, ué? Ele: mas não é o Papai Noel quem dá? Eu: …

Ele tem sete anos. Sei que é o último Natal em que vai acreditar no Noel. E daí é certo que o de 4 também vai descobrir. Nunca fomos entusiastas do Natal, mas é divertido ver a fantasia que isso gera. Na nossa família, o Natal tem sido uma data em que nos reunimos para ficar juntos, e é bem bom. Somos uma família pequena, escolhemos passar essa data juntos. E é um dos dias mais bonitos do ano. Eu, que nunca gostei do Natal, agora espero esse dia numa ansiedade quase igual à das crianças que esperam o tão sonhado presente.

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Mas explicar para os filhos o porquê de pedir que eles doem brinquedos para as crianças que não têm presentes, sendo que o Papai Noel traz pra eles, é uma coisa que me faz querer fugir. A mistura das emoções que essa época e o cansaço do ano nos trazem.

 

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Faz uns anos que vi esse vídeo onde a Elke Maravilha conta sobre a origem do Natal. Sempre me emociona.

E dia desses vi um post em que a mãe consegue transformar a descoberta da inexistência do Papai Noel em um momento lindo com o filho.