OUÇA Bendita Sois Vós #27 A normalização do absurdo
Geórgia Santos
2 de agosto de 2019
No episódio cinco da segunda temporada do Bendita Sois Vós, os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha e Igor Natusch discutem a normalização do absurdo. O debate acontece a partir das declarações mentirosas e preconceituosas do presidente Jair Bolsonaro que, entre outras coisas, mentiu que a jornalista Miriam Leitão era guerrilheira; disse que a Ancine precisa de filtro; chamou os governadores nordestinos de “paraíbas”, de forma pejorativa; afirmou que ninguém passa fome no Brasil; e ainda relativizou o trabalho infantil.
No Sobre Nós, com direção de Raquel Grabauska, as palavras da escritora Carolina de Jesus sobre a fome em reprodução de um episódio da temporada passada.
Disse o presidente Jair Bolsonaro sobre trabalhar quando era criança:
“Não fui prejudicado em nada. Quando um moleque de nove, dez anos vai trabalhar em algum lugar, tá cheio de gente aí ‘trabalho escravo, não sei o quê, trabalho infantil’. Agora quando tá fumando um paralelepípedo de crack, ninguém fala nada”.
Meu pai sustentava nossa casa. Quando eu tinha 11 anos, ele ficou muito doente. E permaneceu doente até eu ter 17 anos, quando ele faleceu. Passou a maior parte desse tempo em hospitais, internado. A minha mãe ficava bastante tempo com ele – e eu também. Isso significa que durante um grande período da minha infância – e toda a adolescência – eu passei trabalhando e/ou em um hospital. Sem vitimismo, é só a minha história. Eu sei como é.
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Mas senhor presidente, vai chupar um prego, por favor!
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Criança precisa brincar. Criança deve brincar. É direito. É o que faz com que se cresça, é como elaboramos as ideias, é o que nos torna adultos com capacidade de aproveitar a vida. E não é aproveitar a vida fumando crack, senhor presidente. É assumindo responsabilidades, descobrindo o prazer de trabalhar.
Meus filhos brincam muito. Criamos um Espaço de Brincar para crianças. Fazemos espetáculos infantis. Podemos não ter os bolsos cheios. Mas temos ideias, criatividade e uma vontade de viver que são impagáveis.