Nós US

O carvão não voltará tão cedo

Sacha
11 de outubro de 2017
(you can read this article in English here)

O Brasil é afortunado em ter uma abundância de fontes de energia renováveis, fazendo com que a rede brasileira seja uma das mais limpas entre todos os grandes países do mundo. Já os Estados Unidos não contam com o mesmo luxo. Lá, o carvão mineral foi o principal recurso energético nas usinas do país até 2016, ano em que foi ultrapassado pelo gás natural. A queda do carvão, em suma, é devida às forças do mercado. O preço dos combustíveis fósseis tem caído drasticamente nos últimos anos. Junto com isso, avanços tecnológicos têm contribuído a uma queda ainda maior no preço dos renováveis.

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Tudo isso é relevante por causa da reversão do Clean Power Plan (Plano para Energia Limpa) instaurado no mandato de Obama

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O que a administração de Trump pretende conseguir com a reversão do Clean Power Plan é uma revitalização da indústria de carvão mineral, que tem sofrido grandes quedas em produção e receitas. Isto pode ser visto como apelo a dois dos princípios mais importantes para Trump: a lealdade e a negação da mudança climática. Primeiro, porque os mineiros de carvão e chefes dessa indústria foram entre os primeiros a dar apoio absoluto à candidatura de Trump. Segundo, simplesmente porque o carvão é altamente poluente. O carvão mineral tem as taxas de emissão mais altas de todas as formas de produção elétrica. O pensamento é simples: retirar os regulamentos da indústria para a aplacar e dar um golpe simultâneo à ciência climática e às políticas de Obama.

O problema com isso é que a deterioração da indústria de carvão é devida a uma queda de demanda por causa da viabilização de tecnologias mais eficientes e menos poluidoras. O gás natural tem desenvolvido no meio do fluxo do preço de petróleo para ser uma opção mais barata e flexível, com o benefício de poluir menos do que outros combustíveis fósseis. Energia solar e eólica têm beneficiado de caídas nos custos de produção e operação. Isso é fruto de avanços tecnológicos, principalmente com silicone. Devido a isso, 2016 foi o ano em que o gás natural ultrapassou o carvão em volume de produção. Assim, virou a fonte principal de energia nos Estados Unidos pela primeira vez na história.

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O carvão foi expulso do ápice pelo mesmo mercado que o colocou aí

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Por certo, a indústria de energia solar emprega mais do que o dobro de funcionários que emprega a indústria de energia de carvão mineral. A solar, juntamente com outras fontes renováveis de energia, tem a vantagem de poder empregar pessoas em qualquer parte do país. Carvão, no entanto, depende de extração limitada a poucas regiões. Enquanto caírem os preços, haverá cada vez mais incentivos de instalar renováveis, com ou sem subsídios. Ao contrário, a indústria de carvão necessitará de subsídios para sobreviver durante a implosão do setor.

O carvão também está sendo eliminado por uma indústria elétrica cada vez mais diversificada. Sem depender de uma única fonte para a maioria de produção, o risco de flutuações repentinas de preço é reduzido. Sustentabilidade é apenas mais economicamente segura. É melhor não ficar à espera que volte com força, por mais que Trump e os seus votantes o gostassem.

Imagem: Patrick Moore
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Coal’s Not Coming Back Any Time Soon

Sacha
11 de outubro de 2017
(pode ler este artigo em português aqui)

Brazil is fortunate in having abundant sources of renewable energy, making its grid one of the cleanest among large countries in the world. The United States is less fortunate in this regard. Coal served as the primary energy resource in power plants across the country until 2016, when it was overtaken by natural gas. The decline of coal is due, in sum, to market forces. The price of fossil fuels has dropped dramatically in recent years. Along with that, technological advances have contributed to an even greater drop in the price of renewables.

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All of this is relevant because of the Trump administration’s recent reversal of the Clean Power Plan instated under Obama

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What the Trump administration intends to set in motion by reversing the Clean Power Plan is revitalize the coal industry, which has seen dramatic declines in production and revenue. This can be seen as an appeal to two of Trump’s most important tenets: loyalty and denial of climate change. First, because coal miners and industry bigwigs were among the first unwavering supporters of the Trump campaign. Second, simply because coal is highly polluting. It is the highest-emitting of all energy sources. The thought behind this is simple: remove the regulations on the industry to appease it and hit back against climate science and Obama’s policies simultaneously.

The problem here is that the coal industry’s deterioration is spurred by lowering demand as a result of cleaner, more efficient technologies becoming more readily available. Natural gas has developed in the wake of fluctuating oil prices to become a much more affordable and flexible option, with the benefit of polluting less than both coal and oil. Solar and wind energy have seen dramatic declines in their costs of production and operation. This is the fruit of technological advances, especially with silicone. Because of this, 2016 saw natural gas overtake coal as the main source of energy production in the United State for the first time ever.

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Coal has been kicked out of the top spot by the same market that put it there

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Indeed, solar power alone employs over twice the amount of workers than the entire coal industry. It, along with other renewable energy sources, has the advantage of being able to employ workers anywhere in the country, instead of relying on region-specific extraction. As prices continue to drop, incentives to install more renewables will continue to rise, with or without subsidies. On the contrary, the coal industry will require subsidies in order to extend its practical lifespan somewhat longer as the industry implodes.

Coal is also being eliminated by an electric industry in ever-increasing diversification. Not relying on one source for the majority of production puts the market at lower risk for sudden price fluctuations. Sustainability, simply put, is more economically sound. Don’t expect it to come roaring back, however much Trump and his voters would like it to.

Image: Patrick Moore
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A extraordinária política de sempre

Sacha
19 de abril de 2017
(you can read this article in English here)

Vivemos em tempos únicos, num cenário político sem precedentes.  A definição de era extraordinária. Descrevo os dias atuais? Não, você entendeu errado. A política de sempre é a política extraordinária. Até com um tal presidente Donald Trump dos Estados Unidos da América.

Os acontecimentos no mundo não deixam de surpreender, a política também

Muito se tem falado sobre o aumento no risco de conflitos com Donald Trump liderando o país mais rico e militarmente potente do mundo. Isto não deixa de ser uma verdade. Porém, o lado que mais interessa é a ideia de que representa uma divergência profunda do status quo. Em maior ou menor grau, o risco de conflito na escala mundial é um constante desde o fim da Segunda Guerra Mundial, para não esquecermos da Guerra Fria e os diversos conflitos do século XX. Até o medo de guerra nuclear por causa de instabilidade de algum regime não é nada novo. No nosso mundo, já vivemos as mesmas tensões que hoje se apresentam com tanto apelo.

A política resume-se na ação e reação a estes eventos da história. A Crise dos mísseis de Cuba foi, no seu momento, o evento da mais alta tensão política no mundo, com o mais alto risco de guerra nuclear, num cenário de vários pontos potenciais de conflitos na mesma escala. A política surpreende-nos tanto quanto o resumo dos eventos que provoca.

O cenário político transforma-se conforme estes acontecimentos, tornando cada momento o mais incerto e arriscado de sempre

Um dos fundamentos da política é que os atores—os políticos, os regimes, os países como entidades monolíticas—respondem com respeito aos seus próprios interesses. Isto é, agem de acordo com o que consideram promover o seu bem-estar. Simples assim, certo? Não, é mais complicado.

A balança de poder no mundo depende de balanças de poder cada vez mais pequenas. Dois países mantêm a paz ou entram em conflito dependendo da correspondência ou não dos seus interesses internos. Um país mantém um regime estável se conseguir uma balança entre os interesses da sociedade civil e a classe político-militar. E continua assim. Em cada escala, uma balança diferente. A política responde, no seu fundo, a todas estas balanças, fazendo decisões para tentar resolvê-las.

É por isso que cada momento, especialmente com os avanços na tecnologia, é e sempre será o momento mais arriscado da história. Ontem parece estável quando amanhã não tem garantias, deixando de lado o que possa ter negado as garantias antes.

Vivemos a evolução de ideias nada novas

Trump não foi um gênio de garrafa que apareceu do nada. É, na verdade, apenas a evolução de pensamentos e ideologia já existente faz décadas nos Estados Unidos. Bill O’Reilly saiu do ar agora neste ano de 2017 depois de 21 longos anos cuspindo as palavras da ideologia que hoje domina na Casa Branca. O Partido Republicano experimentou cessar todas as atividades do governo por causa do orçamento em 1995, 18 anos antes do mesmo ato causar um escândalo de instabilidade impensável. E mais.

O único que há é uma evolução, em todos os lados, de ideias e pensamentos velhos. É verdade que nunca tivemos uma pessoa de tamanha inexperiência, com tal comportamento, com tais conflitos de interesse na Casa Branca. O que sucede, contudo, tem uma história da qual devemos aprender melhor.

Image: Miral Akbulut
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The Extraordinary Politics of Ever

Sacha
19 de abril de 2017
(pode ler este artigo em português aqui)

We live in unique times, in a political environment without precedents, the definition of an extraordinary era. Am I describing nowadays? No, you’ve just misunderstood. The politics of ever are extraordinary politics. Even with one certain President of the United States Donald Trump.

What happens in the world doesn’t cease to surprise, politics too

A lot is said about the increased risk of conflict with Donald Trump leading the richest and militarily strongest country in the world. This doesn’t cease to be the truth, but, what’s more pressing is the idea that it represents a profound divergence from the status quo. To a greater or lesser degree, the risk of world conflict has been a constant since the end of World War II, lest we forget the Cold War and the many conflicts of the 20th century. Even the fear of nuclear war due to some regime’s instability, thus, is nothing new. In our world, we have lived through the same tensions that today are brought up with such force.

Politics can be resumed in the action and reaction to events in history. The Cuban Missile Crisis was, in its moment, the moment of greatest political tention in the world, with the highest risk of nuclear war, in a climate of many points of potential conflict at a similar scale. Politics surprises us as much as the summary of the events it provokes.

The political climate transforms itself according to these events, making each moment the most uncertain and risky ever

One of the fundaments of politics is that the actors—politicians, regimes, countries as monolithic entities—respond according to their own interests. That is, they act based on what they consider to promote their own well-being. Simple. Right? It’s complicated.

The balance of power in the world depends on continually smaller balances of power. Two countries maintain peace or enter into conflict depending on the overlap or not of their internal interests. A country maintains a stable regime if it achieves a balance between the interests of civil society and the military and political classes. And so on. At every scale, a different balance. Politics responds, at its core, to all of these balances, making decisions on how to resolve them.

That is why each moment, especially with advances in technology, is and always will be the riskiest moment in history. Yesterday seems stable when tomorrow is not guaranteed, setting aside that which may have negated yesterday’s guarantees.

We live in an evolution of ideas that are not at all new

Trump was not a genie in a bottle that came out of nowhere. He is, in truth, just the evolution of thoughts and ideology that already existed for decades in the United States. Bill O’Reilly was cancelled now in 2017 after 21 long years spitting the words of the ideology that now dominates in the White House. The Republican Party tried out shutting the government down in 1995, 18 years before the same act would cause an unthinkable scandal of instability. And so on.

The only thing there is is an evolution, on all parts, of old ideas and thoughts. It’s true that we’ve never had a person of such inexperience, with such a temperament, with such conflicts of interest in the White House. What follows, however, has a history from which we ought to learn better.

Image: Miral Akbulut
Catraqueanas

Origem, Identidade e os dois lados do muro

Gustavo Mittelmann
4 de abril de 2017

Esse espaço deveria falar de inovação, tecnologias, audiovisual e internet. E eu tinha um texto pronto para postar ontem relacionando os grandes telões verticais ao lado do palco no Lollapalooza e a coluna que escrevi no dia 13 de fevereiro falando dessa tendência. Mas ontem o metrô explodiu na Rússia, e achei que já estava na hora de falar sobre um assunto que vem martelando na minha cabeça há algum tempo. Hoje, o ataque químico na Síria me fez ter certeza de que preciso falar de algo mais relevante; que não interessa se as telas estão de pé, se os corpos estão deitados no chão.

“Me identifiquei com ele na difícil posição de ter orgulho das origens e, ao mesmo tempo não me identificar com a comunidade na qual deveria estar inserido”

Há alguns meses, participei de um encontro de 20 anos da formatura da minha turma do Colégio Israelita Brasileiro de Porto Alegre. Saí de lá tomado por frustrações e questionamentos. Lembrei do meu avô, que, há quase um século, saiu de uma de nossas sinagogas dizendo que jamais colocaria os pés lá de novo, porque aquilo se tratava de negócios e não de religião. Me identifiquei com ele na difícil posição de ter orgulho das origens e, ao mesmo tempo não me identificar com a comunidade na qual deveria estar inserido. E não só por observar essa aspiração quase maçônica de funcionamento.

Cegueira unilateral

Antes que você se pergunte qual a relação da minha crise de identidade com os atentados, eu explico: está no ódio, na intolerância, na falta de senso de justiça e na cegueira unilateral. É absolutamente inadmissível que a segunda geração depois dos guetos e do holocausto se posicione de forma confortável do lado fora do muro. É revoltante ver um médico judeu pedir uma estátua ao invés de condenação para outro médico, soldado do exército israelense, que atirou contra a cabeça de um palestino ferido e rendido.

“O dever de todo judeu dessa e de todas as próximas gerações é questionar; é destruir os muros e romper as barreiras”

É desencorajador ver estes, que são descendentes como eu, louvarem o muro de Gaza, o muro de Trump ou qualquer outra forma concreta ou abstrata de segregação. Ao contrário do que ouvi das mesmas pessoas da minha turma, não é dever moral de todo judeu defender o Estado de Israel. O dever de todo judeu dessa e de todas as próximas gerações é questionar; é destruir os muros e romper as barreiras. É enxergar a questão territorial como tal, e não como uma disputa religiosa, porque não é.

Não nos regozijemos, vaidosos, com os milhões de russos, milhares de etíopes e judeus de outras nacionalidades acolhidos por Israel. Um povo tantas vezes expatriado tem que ter a humanidade de olhar para os outros e não apenas para si; perceber que também está negando pátria a seres humanos.

Não sejamos arrogantes de achar que o fato de ter os Estados Unidos como padrinho e financiador desde o surgimento, faz com que Israel seja sempre e indubitavelmente o lado certo. Este é o lado que interessa a eles até o momento. Como assim já foram Saddam Hussein e até mesmo o Estado Islâmico. Questionemos. Sempre.

“A bagagem que carregamos deve nos fazer aprender e crescer, e não ser desculpa para replicar qualquer malefício que tenhamos sofrido”

Eu tenho muito orgulho de onde venho mas, para mim, e certamente pro meu avô, judaísmo não é um pacote ideológico, político ou territorial. De fato, não considero nem mesmo o aspecto religioso do judaísmo o principal. O que deveria nos unir são os mais de cinco mil anos de uma cultura de superação, aceitação, integração e diálogo. A bagagem que carregamos deve nos fazer aprender e crescer, e não ser desculpa para replicar qualquer malefício que tenhamos sofrido. A história está feita, mas o futuro é nossa responsabilidade. Por isso, repito: eu tenho muito orgulho de onde venho; mas não gosto do caminho que estão seguindo. Afinal, não existe lado certo em um muro.

Guia de Viagem

Globalização – Medo, Preconceito e Visão

Ana Martins
1 de março de 2017

Globalização ou não? É esta a escolha dos eleitorados europeus em 2017. Paira ainda no ar a poeira do terramoto político de 2016 no Ocidente. Ao longo deste ano, vamos ver onde a poeira irá assentar. Por cá, aguardam-se ansiosamente os resultados da onda de eleições que começa já em março nos Países Baixos, passando por França em maio e pela Alemanha em setembro – três países onde a extrema-direita tem hipóteses de chegar ao poder. Depois da reviravolta do Brexit e das eleições americanas, teme-se o pior na Europa. Mas pode ser que do caos instalado por aquela nuvem de poeira possa ainda emergir um projeto europeu com novo alento.

“Inflamam-se os sentimentos recalcados pela moral prevalente; promete-se um regresso às origens idealizadas, a um passado que nunca existiu; culpam-se as elites e os imigrantes por um presente terrível que também não existe”

Bem antes do aberrante fenómeno Trump atingir os EUA, a retórica populista e os movimentos nacionalistas que alimenta já vinham ganhando tração na Europa. Inflamam-se os sentimentos recalcados pela moral prevalente; promete-se um regresso às origens idealizadas, a um passado que nunca existiu; culpam-se as elites e os imigrantes por um presente terrível que também não existe. A única coisa que existe, aliás, é o medo de que o populismo se faz valer. Esse, sim, é bem real. E é esta a realidade ignorada, ridicularizada e esquecida pela qual os partidos de centro estão agora a pagar.

“Não admitir a pertinência de cenários alternativos não é argumento, é arrogância”

Bem vistas as coisas, também o centro europeu se serviu da retórica do medo ao fazer a apologia do status quo como direção única e óbvia para os membros da UE. Não admitir a pertinência de cenários alternativos não é argumento, é arrogância. É uma oportunidade perdida para realçar as vantagens da direção que é posta em causa pelos partidos de protesto – neste caso os valores da diversidade e do mercado livre bem como uma visão favorável à globalização – que se tornaram “dogma morto”, usando a expressão de John Stuart Mill.

Pluralismo e liberdade de expressão

As ideias do pluralismo e da liberdade de expressão defendem-se, em parte, precisamente para garantir que o que se aceita como verdade o seja por convicção, não por preconceito. Afinal de contas, quem não consegue defender em debate os valores que lhe são incutidos pela sociedade, não sabe porque os defende de todo. Limitar-se a chamar todas as visões contrárias de ultrapassadas, perigosas e “deploráveis” é já uma desistência do que se pensa defender, e é ignorar o grão de verdade que outras posições podem conter.

O medo é real. O terrorismo existe. A diversidade implica perda de homogeneidade. Uma sociedade aberta convida constante transformação e adaptação. Há razões válidas para as pessoas preferirem o que lhes é familiar ao que lhes é desconhecido. Há também boas razões para vivermos em países com economias abertas, que trazem prosperidade, desenvolvimento e variedade e lidam conscientemente com os desafios que estas implicam.

Talvez Trump tenha sido a melhor coisa que aconteceu à perspetiva da globalização. Talvez a sua administração histérica e caótica enfraqueça o apelo do que os seus homólogos defendem na Europa. Talvez os defensores europeus do nacionalismo, encorajados pela sua vitória, caiam na arrogância que fez os seus rivais perderem território. E talvez estes rivais, agora sensíveis aos medos dos europeus, ofereçam uma visão convincente de uma Europa aberta – entre si e ao mundo.

Geórgia Santos

Oscar 2017 – O erro não precisava ter sido agora

Geórgia Santos
27 de fevereiro de 2017

Houve erros em edições anteriores do Oscar, mas nenhum como o que ocorreu no último domingo. Faye Dunaway e Warren Beatty anunciaram La La Land como vencedor na categoria de melhor filme quando, na verdade, o ganhador era Moonlight. Bafão.

Mas a culpa não foi dos eternos Bonnie and Clyde, e sim de um dos responsáveis pelos envelopes. Acontece que um funcionário da empresa responsável pela contagem dos votos entregou o papel errado a Beatty.  O veterano claramente ficou confuso ao ler o conteúdo do envelope, mas a confusão foi interpretada como uma tentativa de fazer graça. Não era. Ele tinha em mãos o envelope de melhor atriz, cuja vencedora era Emma Stone, de La La Land. Daí o problema.

Mas erros acontecem. Geralmente não no anúncio de melhor filme do Oscar, mas acontecem. Só não precisava ter sido neste ano. Não neste ano.

Críticas a Trump

O tempo todo, a cerimônia foi permeada por críticas ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (ainda é estranho dizer isso, por sinal). Todas merecidas. Meryl Streep foi a estrela, com sua atuação superestimada; Gael García Bernal, que é mexicano, declarou ser contra “qualquer tipo de muro” que possa dividir as pessoas; e Asghar Farhadi, o diretor iraniano que levou o prêmio de melhor filme estrangeiro com O Apartamento, enviou uma mensagem em que afirmava não estar presente “por respeito às pessoas do meu país e dos outros seis países que foram desrespeitados pela lei dos Estados Unidos, que proíbe a entrada no país”.

Portanto, também foi uma cerimônia bastante política. Sem contar com as sacadas interessantíssimas de Jimmy Kimmel ao longo da premiação, que chegou a mandar um tuíte a Donald Trump, perguntando se ele estava acordado – já que ainda não havia se manifestado sobre os recados dados pelos artistas.

“Absolutamente todas as manifestações contra Trump foram legítimas e fundamentadas”

 

Até que o erro aconteceu e era basicamente tudo o que Trump queria e precisava. Segundo ele, a confusão aconteceu porque eles estavam mais focados em política que na festa em si. Não deixa de ter certa razão, afinal, alguém se distraiu em algum momento. Por outro lado, absolutamente todas as manifestações contra Trump foram legítimas e fundamentadas. Tudo o que foi dito naquele palco foi com base nos atos espúrios do presidente dos EUA. E todos sabem disso.

Por isso esse erro não poderia ter acontecido agora. Porque tirou a força dos protestos emocionantes que testemunhamos na noite de domingo e que mereciam ser destaque na mídia internacional. O acontecido serviu para que o presidente voltasse ao Twitter com recadinhos infames à imprensa norte-americana. Isso depois de banir repórteres das coletivas de imprensa com base naquilo que ele gosta que seja dito ou não. Como bem disse John Stewart, está na hora de a mídia romper o relacionamento com Donald Trump, deixar de lado essa obsessão, sem mimimi, e procurar um hobby. Ele recomenda jornalismo.