Voos Literários

Feminismo para quê? (Ou a sororidade em tempos de coronavírus)

Flávia Cunha
20 de março de 2020

“A situação de penúria, principalmente das pessoas mais pobres, era gravíssima. Muitas famílias gripadas passaram a não ter nenhuma renda, visto que estavam impossibilitadas de trabalhar. Sem nenhuma lei que protegesse os operários, estes se viram à mercê da caridade pública para suprirem suas necessidades mais básicas.”

1918 – A Gripe Espanhola: Os Dias Malditos, João Paulo Martino

A situação enfrentada por operários no Brasil com a pandemia de gripe espanhola guarda paralelos com o momento atual. No início do século 20, não havia direitos para garantir o sustento dos trabalhadores. Em 2020, o cenário brasileiro já assustador na mescla de crise financeira, desemprego, informalidade e precarização das relações de trabalho está claramente agravado com a pandemia do coronavírus. 

Em um panorama tão desolador, as desigualdades sociais escancaram-se de forma explícita. Ainda vivemos em uma sociedade que as mulheres ganham menos que os homens, apesar das conquistas adquiridas nos últimos anos. Pesquisa recente revela que apesar de trabalharem mais horas e terem um grau de escolaridade maior, as trabalhadoras recebem menos. A média de rendimento feminino é de 76,5% do que um homem ganha. (Veja mais dados da pesquisa aqui.)

Para tentar reduzir essas desigualdades já existentes e agravadas pela recomendação de quarentena, foram criadas iniciativas para ajudar mulheres desempregadas, autônomas ou que atuam no mercado informal. Uma delas é o grupo público Boleto + 1, criado nessa semana no Facebook, e que já conta com cerca de 10 mil membros. A ideia é auxiliar mulheres que precisem de apoio para pagar contas, oferecer serviços ou dar sugestões de como conseguir manter os pequenos negócios em meio ao risco de contaminação pelo Covid-19. Homens podem participar do grupo, desde que a postura seja de ajuda às necessitadas, como uma forma de compensar a histórica desigualdade salarial entre os sexos.

VIOLÊNCIA

Não bastasse o efeito colateral do desamparo financeiro agravado pela pandemia, muitas ativistas feministas têm alertado para o aumento da violência doméstica devido à quarentena recomendada para evitar o contágio pela doença. Um levantamento divulgado há poucos dias pela ONU revela que, em dados globais, 28% dos entrevistados consideram justificado que maridos cometam agressões físicas contra as próprias esposas. Mas no Brasil, esse percentual chega a assustadores 77,95%. Fiquemos atentos: mulheres que vivem relacionamentos abusivos agora podem estar isoladas sofrendo agressões físicas ou psicológicas. Se ouvir, uma briga de vizinhos da sua casa, chame a polícia. A solidariedade também reside em não sermos indiferentes nesse momento.    

POPULAÇÃO DE RUA

O feminismo também busca a redução das desigualdades sociais. Se puder ajude as pessoas em situação de rua, com mantimentos, itens de higiene pessoal ou doando recursos para projetos já existentes que atendem essa população.

SAÚDE MENTAL

Por fim, apesar desse texto começar com a citação de um livro sobre a gripe espanhola, recomendo leituras mais leves. A gigante Amazon, por exemplo, disponibilizou centenas de e-books gratuitos. Cuidar do próprio equilíbrio emocional e da saúde mental nesse momento ansiogênico é fundamental. Se puderem façam o isolamento social, além de seguir as já conhecidas recomendações de lavar as mãos e usar álcool gel. Cuidem-se!

Imagem: Juraj Varga/Pixabay

 

Voos Literários

Feminismo para quê? (Quem mandou matar Marielle?)

Flávia Cunha
13 de março de 2020
“Os estereótipos associados ao que é ser uma mulher e as expectativas sobre como devemos nos comportar são facetas do discurso institucional e hegemônico ainda profundamente conservador e reacionário. Registra-se que tal movimento ganha força no momento atual; basta olhar, por exemplo, para o resultado das eleições nos EUA e no plebiscito do Reino Unido, entre outros exemplos possíveis. Em escala internacional, guerras, interdições, perseguições, separações voltam a aparecer e se marcam como impedimentos e controles cada vez maiores do outro, da outra, do corpo que não compõe o grupo social de poder, que tende a ser “colocado para fora”, ou “impedidos”, pelas classes dominantes de conviver com suas “diferenças” na cidade. Com a falácia da narrativa de ‘crise econômica’, busca-se derrubar os direitos conquistados e, uma vez feito, serão as mulheres negras e pobres, moradoras das periferias, principalmente das favelas, que estarão ainda mais vulneráveis à violência e ao racismo institucional impregnado nos poros da formação social brasileira.”
Marielle Franco, no livro Tem Saída? Ensaios Críticos Sobre o Brasil, lançado em 2017, no capítulo A emergência da vida para superar o anestesiamento social frente à retirada de direitos: o momento pós-golpe pelo olhar de uma feminista, negra e favelada.

Muitas pessoas consideram que Marielle foi vítima de um feminicídio político. Foi brutalmente assassinada pela condição de mulher negra favelada, como se auto intitulava. Além disso, sua atuação na política primava pela luta a favor das mulheres, dos negros, da comunidade LGBT, além de atuar fortemente contra as milícias.

Quem mandou executar Marielle naquele 14 de março de 2018 provavelmente não imaginava que, dois anos depois, ela estaria mais presente do que nunca. As investigações de seu brutal assassinato e o do motorista Anderson Gomes seguem nos noticiários. Foi homenageada aqui e no Exterior. Um documentário foi lançado na plataforma de streaming da Globo, sendo que o primeiro episódio foi exibido em rede nacional. O nome de Marielle também segue ecoando em manifestações pelo Brasil.

Mas tentam macular sua memória. Inventaram mentiras a seu respeito, tentaram fazer ligações de sua trajetória ao tráfico de drogas e seguem relativizando com argumentos desconexos a importância dada à seu assassinato. A violência contra essa mulher segue, mesmo após sua morte. Nessa semana, denunciei um comentário de uma postagem no Facebook em que aparecia o rosto Marielle como se estivesse no cartaz de um filme, com a grotesca legenda: “Fácil de matar”. Tamanha falta de humanidade não deveria ser habitual no jogo político brasileiro. 

MULHERES NA POLÍTICA

Enquanto ocupou seu espaço como vereadora pelo PSOL do Rio de Janeiro, Marielle destoava da maioria de seus pares, homens brancos héteros. Isso porque a política brasileira é mais um terreno desigual para as mulheres no Brasil. De acordo com levantamento de 2016, 87% do total de vereadores no país eram homens. Um dos motivos apontados para essa desigualdade é a divisão sexual do trabalho, que faz com que mulheres tenham menos tempo para a militância política. 

Como ela escreveu no capítulo do livro Tem Saída?, os conservadores têm estereótipos sobre o que é ser mulher e expectativas sobre o comportamento feminino. Porém, a vereadora Marielle Franco não se comportava de forma submissa e dócil como esperavam seus pares masculinos. Não tolerava ser desrespeitada. 

Seguir lutando pelo feminismo, como ela, é uma forma de manter seu legado.

E enquanto o crime não for esclarecida, seguiremos perguntando:

Quem mandou matar Marielle?

Imagem: Renan Olez/ Câmara de Vereadores do Rio

Voos Literários

Feminismo para quê? (Ou quem lava louça em casa)

Flávia Cunha
6 de março de 2020

Esse é o primeiro de quatro textos com sugestões de leituras e provocações a respeito da necessidade do feminismo nos dias atuais. Na estreia dessa série, sera abordada a divisão de tarefas domésticas entre homens e mulheres.

Com o avanço do conservadorismo nos últimos anos no Brasil, cada vez mais se menospreza a importância do movimento feminista para que as mulheres tenham adquirido mais direitos enquanto cidadãs, além de terem obtido independência e autonomia nas relações sociais e também no ambiente doméstico. Ao ler cada vez mais comentários femininos dizendo que “não precisam de feminismo para nada”, “feministas são mal-amadas” ou “feminazis com sovacos peludos”, considero necessário fazer um rápido resgate do quanto comportamentos hoje vistos como naturais foram conquistas adquiridas por meio da luta de mulheres que foram, no seu tempo, chamadas de radicais ou loucas.

Direito ao voto. Usar calças compridas. Andar de bicicleta. Viajar desacompanhada.
Morar sozinha. Ter autonomia sobre o próprio corpo, mesmo dentro do casamento.
Direito ao divórcio. 

Todos esses exemplos já foram, em algum momento, considerados inadequados ou proibidos para mulheres ocidentais. Uma das precursoras da segunda onda do movimento feminista, Betty Friedan, lançou em 1963 o livro A Mística Feminina. A ativista entrevistou norte-americanas que seguiam os preceitos sociais vigentes nos anos 1940 e 1950, sendo em sua esmagadora maioria donas-de-casa, atormentadas por não terem uma vida própria e dedicarem-se apenas a suas famílias. 

No final da obra, Betty Friedan questiona:

“Quem sabe o que será a mulher quando finalmente livre para ser ela mesma? Quem sabe qual a contribuição da sua inteligência quando esta puder ser alimentada sem sacrifício do amor? Quem sabe das possibilidades do amor quando o homem e a mulher compartilharem não só dos filhos, do lar, de um jardim, da concretização de seu papel biológico, mas também das  responsabilidades e paixões do trabalho que constrói o futuro humano e traz o pleno conhecimento da personalidade? Mal foi iniciada a busca da mulher pela própria identidade. Mas está próximo o tempo em que as vozes da mística feminina não poderão abafar a voz íntima que a impele ao seu pleno desabrochar.”

O leitor mais cético pode argumentar que o livro de Betty Friedan está ultrapassado, que em pleno século 21 não precisamos de feminismo para nada, já que agora as mulheres estão em pé de igualdade com os homens. Mas será mesmo? Se pegarmos o singelo item divisão de tarefas domésticas, poucas mulheres estão livres da sobrecarga de tomar para si essa atividade (não remunerada e invisível) e precisar conciliar esse trabalho com seus empregos.

Em O homem infelizmente tem que acabar, da escritora gaúcha Clara Corleone, lançado no final de 2019, ela cita como as mulheres – mesmo as mais “fodonas”- seguem em geral sendo as cuidadoras das relações, da casa e da família:

“Não há fator biológico que justifique as mulheres estarem sempre pensando na administração da casa e os homens, não. É completamente cultural. A mulher é educada para cuidar – cuidar do lar, cuidar do corpo, cuidar do marido, cuidar dos filhos, cuidar dos relacionamentos. Por isso a mulher normalmente tem a saúde melhor que o homem, por exemplo, e por isso a mulher tende a ser mais delicada nas relações. […] Mulheres trabalham muito com esse conceito de cuidado, por mais agressivas/ da pá virada, esse negócio de cuidado gruda na gente. Normalmente somos nós que deixamos o emprego quando alguém da família fica doente. Isso diz muito sobre a forma como somos educadas.”

Por isso, espero que a mulherada ativista siga protestando por esse e outros motivos (fim violência contra a mulher e feminicídios, direito ao aborto, igualdade salarial…). Mudanças só acontecem quando pessoas saem de suas zonas de conforto e questionam os padrões vigentes. E isso não tem a ver com esquerda ou direita. Os famosos esquerdomachos estão aí para provar isso. Eles querem que os proletários de todo mundo se unam por melhores condições de trabalho, desde que, em casa, a esposa siga lavando a louça, cuidando de suas roupas e sendo a responsável pela faxina. Aos meus leitores de esquerda do sexo masculino, alerto que repensar pequenas atitudes é a verdadeira revolução.

Às mulheres cis e trans, desejo um 8 de março de muita luta e de conscientização da importância do feminismo na nossa sociedade.

“Ser feminista continua sendo defender a maioria silenciosa das mulheres, ajudá-las a libertarem-se e adquirir seus direitos.” – Isabel Allende, escritora chilena

Imagem: Achim Thiemermann/Pixabay

Voos Literários

Pagu: 10 vezes transgressora

Flávia Cunha
13 de dezembro de 2019

Há quase 60 anos, em 12 de dezembro de 1962, Patrícia Galvão, a Pagu, partia desse plano. Porém, seu legado permanece, tanto suas obras literárias como pela sua trajetória marcada por posturas arrojadas e corajosas. Destacarei 10 momentos em que essa escritora, nascida em 1910, demonstrou a grandiosidade de sua personalidade, que a levou a ser pioneira em diversas áreas.

  1. Estilo à frente do seu tempo – No auge de seus 20 anos, Patrícia Galvão chamava a atenção pelas roupa ousadas, maquiagem acentuada e cabelo arrepiado. Ela era apenas uma estudante nessa época, mas já destacava-se das mulheres de sua geração por usar minissaia e roupas com transparências. Além disso, fumava e falava palavrões. Foi nessa época que ganhou o apelido de Pagu, por um equívoco do poeta modernista Raul Bopp, que achava que seu sobrenome era Goulart.
  2.  Abandona a imagem de musa do modernismo e torna-se ativista política – Muito jovem, Pagu torna-se uma protegida dos modernistas Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade. Virou uma espécie de musa inspiradora do movimento modernista. Até que Oswald separa-se de Tarsila para ficar com Pagu, um escândalo na tradicional sociedade paulistana. Porém, ao invés de acomodar-se na situação de mulher casada com um escritor famoso, ela encontra no ativismo político um ideal de vida e acaba levando Oswald a também interessar-se pelo comunismo
  3. Viveu um relacionamento aberto com Oswald de Andrade – O casamento com Oswald, que durou até 1935, é marcado pela sinceridade completa, em que a infidelidade é tolerada. Porém, quando Pagu engravida do primeiro filho, precisa lidar com os relatos de Oswald sobre as relações com outras mulheres. Ela revela seu sofrimento a respeito da situação no livro Paixão Pagu (A autobiografia precoce de Patricia Galvão) , um romance epistolar dirigido a seu segundo marido, o escritor Geraldo Ferraz.  Casou-se com Ferraz em 1941 e ficou com ele até sua morte, em uma relação marcada pela cumplicidade e confiança. Juntos, escreveram, em 1945, o romance A Famosa Revista, uma crítica ao Partido Comunista, com o qual ambos haviam rompido.
  4. Vira operária por convicções ideológicas – As ideias marxistas tornam-se uma convicção tão profunda em Pagu, que ela resolve abandonar a área literária e tornar-se uma proletária no sentido estrito da palavra. Entre outros empregos, foi operária em duas fábricas
  5. É considerada a primeira presa política do Brasil republicano – Sua prisão ocorreu em 1931, durante um comício com trabalhadores na Praça da República. Antes de sua prisão, amparou nos braços o estivador negro Herculano de Souza, morto devido à repressão policial. Esse incidente é citado por Rita Lee na letra da música “Pagu”, no verso “Sou Pagu indignada no palanque”.  Ao longo de sua vida, Pagu foi presa 23 vezes devido às suas ligações com o comunismo
  6. Publicou o primeiro romance proletário brasileiro – Depois de sua experiência como operária, Pagu escreve Parque Industrial, publicado sob o pseudônimo de Mara Lobo. O romance não agradou o Partido Comunista, que o considerou “pornográfico e feminista”.
  7. É considerada a primeira mulher cartunista do país – Na década de 1930, publicou no jornal O Homem do Povo, de Oswald de Andrade, as tirinhas Malakabeça, Fanika e Kabeluda. Ela criava os desenhos e os argumentos, de conteúdo subversivo e feminista. 
  8. É jornalista em plena década de 1940 – Pagu sobreviveu durante grande parte de sua vida como jornalista, tendo dedicado-se de forma mais sistemática a publicações na imprensa a partir da década de 1940. Vale lembrar que, nessa época, a maior parte das mulheres era dona de casa e poucas dedicavam-se a profissões dominadas por homens, como era o jornalismo nesse período. Sua obra jornalística está sendo estudada na Universidade de Yale e deve ser publicada em formato de livro, conforme informações divulgadas em seu site oficial.
  9. Primeira escritora brasileira a publicar literatura policial  – Sob o pseudônimo de King Shelter, publicou contos policiais na década de 1940. Outra área predominantemente masculina que Pagu adentrou sem pudores. Seus contos policiais, publicados originalmente na revista Detective, foram reunidos e lançados, em 1998, no livro Safra Macabra.
  10. Foi candidata a deputada na década de 1950 – Ainda mantendo seu ativismo político mas fora do Partido Comunista, Pagu tenta ser deputada pelo Partido Socialista Brasileiro. Não foi eleita, mas demonstra mais uma vez sua postura feminista, já que em pleno século 21 ainda são poucas as mulheres na política. No Congresso Nacional do século 21 aproximadamente 10% do total de eleitos são mulheres,

Além dos livros citados, usei como referência para balizar esse texto a dissertação de mestrado Um Caminho à Liberdade: O Legado de Pagu, de Sarah Pinto de Holanda,  do Programa de Pósgraduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, de 2014.  

Algumas homenagens a Pagu:

  • Pagu Vida e Obra, livro organizado por Augusto de Campos 
  • Eternamente Pagu, de 1988, longa-metragem dirigido por Norma Bengell
  • Pagu, música de Rita Lee

Imagens: Reprodução/Internet

Voos Literários

Pelo fim da violência

Flávia Cunha
29 de novembro de 2019

Dentre as inúmeras datas que nos lembram do quanta falta avançarmos enquanto sociedade, está a de 25 de novembro, dia internacional de enfrentamento à violência contra a mulher. O assunto não deixa de ser abordado pela grande mídia, mas os noticiários em geral se detém em aspectos particulares de cada caso. O horror de Eliza Samúdio ter sido devorada por cães a mando do ex-amante, as fortes imagens do circuito interno de um elevador onde uma advogada foi espancada violentamente pelo marido. Depois, foi jogada do edifício de alto padrão no Paraná onde morava. Não resistiu. Cito esses exemplos porque me chocaram especialmente. Mas se os números são necessários para convencer o leitor desse texto a respeito da urgência de abordarmos este tema, vamos a eles. O levantamento mais recente, divulgado em março de 2019, aponta que foram registrados 4.254 homicídios dolosos de mulheres em 2018. Conforme o Monitor da Violência, uma mulher é morta a cada duas horas no Brasil.

Em 2017, a tipificação do crime de feminicídio foi questionada pelo então deputado Jair Bolsonaro, que classificou o assunto como “mimimi”. Nessa semana, a ministra  da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, contradisse a fala de dois anos atrás do agora chefe da nação, ao afirmar que “existem mulheres que são mortas apenas pelo gênero”.  Antes, fez uma questionável performance, ficando em silêncio durante uma coletiva de imprensa sobre o assunto.

Mas qual é a tipificação do feminicídio e por que  ele incomoda alguns homens?

No Brasil, o crime de feminicídio foi definido legalmente desde a entrada em vigor da Lei nº 13.104 em 2015, que alterou o art. 121 do Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848/1940), para incluir o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio.

Assim, segundo o Código Penal, feminicídio é “o assassinato de uma mulher cometido por razões da condição de sexo feminino”, isto é, quando o crime envolve: “violência doméstica e familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher” […] pena prevista para o homicídio qualificado é de reclusão de 12 a 30 anos.

Ao incluir o feminicídio como circunstância qualificadora do homicídio, o crime foi adicionado ao rol dos crimes hediondos (Lei nº 8.072/1990), tal qual o estupro, genocídio e latrocínio, entre outros.

Fonte:  Dossiê Femicídio da Agência Patrícia Galvão

E quais seriam possíveis caminhos para modificar esse panorama de violência contra a mulher?

Considero que o essencial é conseguirmos sair do lugar-comum dos noticiários sensacionalistas, que apenas ressaltam a crueldade particular de cada crime e não tentam entender as causas que levam tantas mulheres a serem assassinadas por maridos, namorados ou ex-cônjuges. Nesse sentido, trago algumas reflexões interessantes do livro O Feminismo é Para Todo Mundo, de bell hooks. (A autora, feminista e negra, prefere a grafia de seu nome com letras minúsculas.) Apesar dela referir-se aos Estados Unidos em seus textos, considero que os conceitos e questões abordadas podem ser úteis para qualquer país ocidental.

No capítulo Pelo Fim da Violência, a pensadora apresenta um conceito diferente do usual. Ao invés de violência doméstica, ela prefere utilizar o termo violência patriarcal:

A violência patriarcal em casa é baseada na crença de que é aceitável que um indivíduo mais poderoso controle outros por meio de várias formas de força coercitiva. Essa definição estendida de violência doméstica inclui a violência de homens contra mulheres, a violência em relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo e a violência de adultos contra crianças. O termo ‘violência patriarcal’ é útil porque, diferentemente da expressão ‘violência doméstica’, mais comum, ele constantemente lembra o ouvinte que violência no lar está ligada ao sexismo e ao pensamento sexista, à dominação masculina. Por muito tempo, o termo violência doméstica tem sido usado como um termo ‘suave’, que sugere emergir em um contexto íntimo que é privado e de alguma maneira menos ameaçador, menos brutal, do que a violência que acontece fora do lar. Isso não procede, já que mais mulheres são espancadas e assassinadas em casa do que fora de casa.”

Em outro trecho do mesmo capítulo, a autora destaca que apesar da violência contra a mulher ser condenada pela sociedade, as causas dessa violência acabam sendo rechaçadas quando o argumento é o sexismo. Ela considera que o próprio feminismo pode ter contribuído, sem querer, para essa resistência ao assunto:

Em um esforço zeloso de chamar atenção para a violência de homens contra mulheres, pensadoras feministas reformistas ainda escolhem frequentemente retratar como vítimas sempre e somente mulheres. O fato de que vários ataques violentos contra crianças seja cometido por mulheres não é igualmente destacado e visto como outra expressão de violência patriarcal. Sabemos agora que crianças são violentadas, não somente quando são o alvo direto de violência patriarcal, mas também quando são forçadas a testemunhar atos violentos. Se todas as pensadoras feministas tivessem expressado ter se sentido ofendidas pela violência patriarcal perpetrada por mulheres, colocando isso em pé de igualdade com a violência de homens contra mulheres, seria mais difícil para o público ignorar a atenção dada à violência patriarcal, por enxergá-la como pauta antihomem.”

Mas como fazer para que as causas da violência contra a mulher deixem de ser consideradas uma pauta “antihomem’? A escritora bell hooks procura responder essa questão no capítulo Masculinidade Feminista:

Uma visão feminista que adere à masculinidade feminista, que ama garotos e homens e exige, em nome deles, todos os direitos que desejamos para garotas e mulheres, pode renovar o homem norte-americano. Principalmente, o pensamento feminista ensina a todos nós como amar a justiça e a liberdade de maneira a nutrir e afirmar a vida. Claramente, precisamos de novas estratégias, novas teorias, diretrizes que nos mostrarão como criar um mundo em que a masculinidade feminista prospere.”

Definitivamente, o feminismo precisa ser para todo mundo!

Imagem: Reprodução/Internet

Voos Literários

Vinicius, as feias (e as bonitas) não te perdoam

Flávia Cunha
30 de outubro de 2019

Recentemente, umas das páginas de humor e deboche que eu mais gosto, Ajudar o Povo de Humanas a Fazer Miçanga, postou esse meme sobre Vinicius de Moraes.    

A frase, infeliz, sobre a beleza ser fundamental é do poema Receita de Mulher, publicado pelo poetinha em 1957. Para minha surpresa, vi comentários, inclusive femininos, defendendo Vinicius, dizendo que a frase estava fora de contexto, uma das maiores desculpas para justificar erros do presente e do passado. Mas vamos lá, em que contexto Vinicius de Moraes falou esse verso pavoroso? Pois foi justamente na abertura do poema: 

“As muito feias que me perdoem //  Mas beleza é fundamental // É preciso //  Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso // Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture // Em tudo isso”.

Vamos pensar junto com o poeta lá no fim da década de 1950. Ele defende que a mulher precisa ser bela, ter qualquer coisa de flor e de dança. Então, além de bonita, a mulher ideal da poética de Vinicius precisa ser delicada e graciosa. Tudo bem, Vinicius, a liberação sexual feminina ainda não era uma realidade e o feminismo engatinhava no mundo. O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, tinha sido lançado em 1949. Porém, a obra no Brasil ainda tinha pouca repercussão na época em que Vinicius ficava tentando ensinar às mulheres como ser ou se comportar.

Na Internet do século 21, algumas pessoas afirmaram que o poema em questão falava em “beleza interior”. Pois sou obrigada a discordar, não por implicância, mas porque os versos em si são bastante claros ao apontar apenas aspectos físicos femininos, como no trecho a seguir:

“Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos, então  // Nem se fala, que olhem com certa maldade inocente. Uma boca // Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência. // É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos // Despontem, sobretudo a rótula no cruzar as pernas, e as pontas pélvicas // No enlaçar de uma cintura semovente. // Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras // É como um rio sem pontes. Indispensável // Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida // A mulher se alteia em cálice, e que seus seios // Sejam uma expressão greco-romana, mais que gótica ou barroca.”

Como um todo, o poema é mesmo uma receita, com instruções para as mulheres. Porém, é uma receita bastante cruel, já que as feias que perdoem o poeta, mas beleza seria fundamental. Mesmo com a ressalva de tantas décadas que nos separam da publicação desse texto, sabemos que a ditadura da beleza segue firme e forte. O Brasil continua campeão no ranking de cirurgias plásticas e a obsessão feminina pelo corpo perfeito ainda permanece bem maior do que a masculina. 

Claro que a discussão começa com uma brincadeira virtual. Porém, julgo necessário ressaltar. Mesmo que Vinicius de Moraes estivesse lindo em qualquer foto, ele não teria o direito de julgar a aparência alheia. Mas, na década de 1950, não havia essa visão. Tanto que um dos poetas mais consagrados do país escreveu, publicou e ficou famoso e respeitado mesmo com letras de música e poemas bastante questionáveis para a nossa visão contemporânea. Sigo admirando o poetinha, ele deixou um legado inegável para a poesia e a música brasileira. Mas não dá para passar pano para esse verso. 

“Vinicius que me perdoe,

Mas respeitar a aparência de todas as mulheres é que é fundamental.”

O poema completo está disponível no site oficial do escritor.

 

 

Voos Literários

Fábula Feminista: As Rainhas dos Animais

Flávia Cunha
22 de outubro de 2019

Vocês já repararam como as fábulas, em geral, exaltam os machos e esquecem de contar sobre o papel das fêmeas na Natureza? Foi pensando em contar histórias com um olhar diferente do tradicional para seu filho de 5 anos que a jornalista gaúcha Clarissa Barreto criou o livro infantil Fábula Feminista: As Rainhas dos Animais. A obra tem ilustrações de Amarilis Lage e projeto gráfico de Clarissa San Pedro e está com financiamento coletivo aberto até 12 de novembro. Para colaborar, clique aqui.

Clarissa conta que o desejo de criar um livro para crianças surgiu quando estava escrevendo uma reportagem para a revista Superinteressante sobre golfinhos.  Ao pesquisar para uma matéria, descobri que as orcas são uma sociedade matriarcal e fiquei curiosa em conhecer outras.  Outro caso que encontrei são os bonobos, espécie de macaco  super ‘paz e amor’.  Ao contrários dos violentos chimpanzés, entre os bonobos são as fêmeas que mandam. “

Como produtora editorial, tive a oportunidade de conhecer o projeto da jornalista antes mesmo dele ir para a tela do computador. Em uma reunião, a Clarissa me pediu uma avaliação sobre a ideia.  Ao pensar em uma fábula feminista e no impacto positivo que isso geraria no público infantil, não tive dúvidas em apoiar a iniciativa. O enredo tem um enredo literário para chamar a atenção da criançada e suavizar todos os dados científicos coletados pela jornalista, acostumada a escrever para o público adulto. 

Depois desses ajustes iniciais, a agora escritora encontrou uma ilustradora e uma designer para tornar o livro uma realidade. Assim, temos uma equipe feminina para um projeto empoderador. Para quem for apoiar o projeto (apoiem!), não precisa nem questionar: o livro também é destinado para meninos. Até porque não conheço nenhuma mãe com dúvidas em levar sua filha ao cinema para assistir às aventuras de Simba e cia., do famoso Rei Leão.   

Voos Literários

Voos Literários Entrevista: Clara Corleone

Flávia Cunha
1 de outubro de 2019

A coluna Voos Literários inaugura um espaço para entrevistas com a atriz e escritora Clara Corleone, que lança no dia 3 de outubro seu livro de estreia: O Homem Infelizmente Tem que Acabar – crônicas, deboches e poéticas. O bate-papo aconteceu na semana passada e durou cerca de 1 hora, em um café no Bom Fim, um dos bairros de Porto Alegre reconhecidos pela resistência cultural e centro da vida e obra de Clara Corleone, de 33 anos. 

Clara começou a escrever nas redes sociais e ganhou visibilidade (e seguidores) de forma despretensiosa. Seus textos abordam empoderamento feminino, relações amorosas e sua atribulada rotina de trabalho dividida entre a ONG Minha Porto Alegre, o estúdio Otto Desenhos Animados e a atuação como hostess no Bar Ocidente durante os finais de semana.

A seguir, um resumo da conversa, em que a Literatura e o amor pela escrita foi se mesclando a assuntos complexos e necessários como a violência contra a mulher, aceitação corporal e feminismo.

 

Ser escritora

“O que mais amo fazer é escrever. Mas não sabia como transformar meus textos postados no Facebook em um livro, de forma que fizesse sentido. Até que surgiu o convite, por parte da Editora Zouk, para que isso acontecesse. Foi um processo rápido, ao longo de alguns meses em 2019. O livro só aconteceu graças ao trabalho de edição feito pela Zouk e pela Joanna Burigo [fundadora da Casa da Mãe Joanna e mestre em Gênero, Mídia e Cultura].

Título polêmico

 “O título do livro – O Homem Infelizmente Tem que Acabar – foi uma ideia minha e o defendi apesar do receio de que pudesse afastar da leitura o público masculino. Mas acho que esse nome tem o deboche e a ironia que costumo colocar nos meus textos. Mulheres heterossexuais solteiras e casadas entendem perfeitamente ao que me refiro.” 

Inspiração

“Eu gosto de imaginar que meu livro possa ser uma porta de entrada para o feminismo. Penso naquela adolescente que foi rejeitada por um babaca e pode, a partir da leitura dos meus textos, entender que ela tem valor em si e não ficar dependendo da opinião do cara por quem ela se apaixonou e está sofrendo. Se servir para isso, eu vou ficar muito feliz.” 

Influências

Patrícia Melo, com sua linguagem verborrágica sem dúvida me influenciou. Nos diálogos e no jeito de fazer graça das pequenas coisas do cotidiano penso que tem a ver com as minhas leituras de Luis Fernando Verissimo. E Caio Fernando Abreu me inspirou e me inspira muito na escrita.”

Exposição da vida privada

“Muita gente imagina que me conhece só por ler meus textos, mas a verdade é que penso bastante antes de escrever. Tudo que escrevo aconteceu mesmo, não é ficção. Mas tenho o cuidado de não expor sem necessidade as pessoas envolvidas nas situações relatadas e também a minha vida pessoal.”

Política

“Percebo o quanto o cenário político tem afetado meus amigos. E é por isso que resolvi expor minhas angústias sobre o governo Bolsonaro nas redes sociais e nos meus textos. É uma forma de quem me lê perceber que não está sozinho.”

Feminismo

“O feminismo é uma temática presente nas minhas crônicas por estar presente na minha vida. E claro que é importante a gente falar sobre aceitação corporal e de problemas como anorexia e bulimia. Mas precisamos refletir que lutar para acabar com a violência contra a mulher é a bandeira mais importante do feminismo. E essa consciência atingí ao trabalhar na ONG Minha Porto Alegre, em que vi dados assustadores sobre violência contra a mulher, que acabaram mudando a minha percepção  sobre o que é mais relevante dentro do feminismo. [confira dados sobre feminicídio e violência contra a mulher aqui]. A proibição do aborto também é uma questão que prejudica muito mais as mulheres pobres e por isso precisamos lutar pela sua descriminalização.

Privilégios

“Sou branca, hétero e cis e é desse lugar que ocupo na sociedade que escrevo. Mas não podemos deixar de pensar no quanto a vida de outras mulheres é mais difícil. Mulheres negras e periféricas, por exemplo. Ou mulheres com deficiência física, que sofrem mais violência física do que as outras.”

Sexo

“Ainda causar espanto que mulheres escrevam sobre sexo é uma mostra do quanto o machismo ainda está presente na nossa sociedade. Homens não precisam justificar-se para abordar esse tema. Bukowski é um bom exemplo disso. Mas como diz a Clara Averbuck [escritora gaúcha radicada em São Paulo, feminista e libertária em seus livros], não faço escrita confessional porque não estou confessando algo que me arrependo. Essa ideia de escrita ‘confessional’ é um termo usado pela crítica apenas para escritoras.” 

Novos projetos literários

Meu sonho é escrever um romance que mostrasse a verdadeira história da mulher solteira, sem os estereótipos das séries de televisão e das comédias românticas de Hollywood. Mas talvez isso demore para acontecer, porque sinto que para escrever uma narrativa longa preciso estudar mais e estar preparada para esse projeto. Mas o sonho existe e espero que um dia aconteça. De repente, antes eu lance mais crônicas antes de publicar um romance.”

Confira um trecho do livro O Homem Infelizmente Tem Que Acabar, de Clara Corleone.

Voos Literários

Carnaval, nudez e feminismo

Flávia Cunha
5 de março de 2019

Pensem comigo: qual a principal diferença da nudez das musas do Carnaval carioca e de feministas peladonas nas manifestações do Dia Internacional da Mulher?

A mais gritante é o padrão de beleza apresentado por quase a totalidade das mulheres que são destaques nas grandes escolas de samba do Rio de Janeiro. Já as manifestantes que decidem ficar nuas em protestos em geral têm corpos comuns, com seios que podem ser caídos pela ação do tempo, com barrigas que podem não ser chapadas por exercícios físicos e procedimentos estéticos e com axilas que podem, para o horror dos conservadores, não serem depiladas. Digo podem porque esse estereótipo da feminista peluda, mal amada e que não se importa com a estética corporal também é excludente.

O que me indigna não é a beleza das divas do Carnaval  – cada um cuida do seu corpo do jeito que achar melhor. O que enraivece é a normalização da nudez nos desfiles transmitidos pela televisão e repercutidos nos portais da Internet em notícias sobre a boa forma feminina.

A nudez feminina é permitida, desde que siliconada.

A nudez feminina é concedida, desde que nos padrões.

Também não quero dizer com isso que o Carnaval é uma festa do patriarcado.  Cada vez mais surgem blocos femininos e feministas, com mulheres não somente adornando com sua beleza a folia, mas também sendo protagonistas da batucada. Também se consolidam alas com integrantes plus size, o que tenho minhas dúvidas se é algo bom, por deixar as “gordinhas” e “barrigudinhas” separadas das mulheres com “beleza padrão”.

Nessa busca por uma referência literária para esse desabafo carnavalesco e feminista achei dois livros interessantes.

O primeiro é um clássico da terceira onda feminista: O Mito da Beleza, de Naomi Wolf.  No trecho selecionado, há uma ponderação sobre essa falácia de que as mulheres não podem ser bonitas E inteligentes:

A cultura estereotipa as mulheres para que se adequem ao mito nivelando o que é feminino em beleza-sem-inteligência ou inteligência-sem-beleza. É permitido às mulheres uma mente ou um corpo, mas não os dois ao mesmo tempo. Uma alegoria comum que ensina esse fato às mulheres é a ligação entre uma feia e uma bonita: Lia e Raquel no Antigo Testamento, Maria e Marta no Novo; Helena e Hermia em Sonho de uma noite de verão; Anya e Dunyasha em O jardim das cerejeiras de Tchecov; Violeta e Dulçurosa Suíno em Ferdinando; Glinda e a Bruxa Má do Oeste em O Mágico de Oz; Mary e Rhoda em The Mary Tyler Moore Show; e assim por diante. A cultura machista parece se sentir melhor ao imaginar duas mulheres juntas se elas puderem ser definidas como um fracasso e um sucesso de acordo com o mito da beleza.

O outro livro é Ao Acaso – Mulheres Livres, Mamilos Polêmicos, da ilustradora brasileira Manuela Cunha Soares. A obra é constituída por desenhos, como a imagem de capa desse texto. O livro é uma ode à diversidade e à beleza que rompe padrões e estereótipos e está disponível para download gratuito no formato e-book.  Confiram mais alguns belos desenhos de Manuela.

Acredito que a nudez como libertação ainda é uma utopia em um país com tantos feminicídios como o Brasil. Mas também já houve um tempo em que as mulheres votarem era uma utopia e foi preciso a luta das sufragistas para que o voto feminino fosse uma realidade.

Por isso, o  dia 8 de Março deve ser um dia de luta por um mundo com menos desigualdade e opressão.  Vamos às ruas?

 

Imagem: Reprodução/ Ilustração Manuela Cunha Soares

 

 

 

PodCasts

Sobre Nós #13 A fuga

Geórgia Santos
14 de dezembro de 2018

No Sobre Nós, Raquel Grabauska e Angelo Primon fazem uma homenagem à Clarice Lispector com o conto “A Fuga”.  Ela faria 98 anos no dia 10 de dezembro de 2018. O trabalho é também uma provocação a algumas das ideias ventiladas no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos.