Raquel Grabauska

Minha infância e a infância dos meus filhos

Raquel Grabauska
31 de agosto de 2018

Muitas vezes me pego pensando no quão boa é a vida que meus filhos têm. Eles são realmente privilegiados. Muito. Tem um tanto disso que é sorte, tem um tanto que é decisão nossa como pais, tem um tanto que é da vida. De vez em quando eu dou choques de realidade.

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Esses dias um deles começou a dar meu discurso sobre as pessoas que não tem comida ou oportunidade. Eu comecei e ele foi falando junto e disse: tu sempre diz isso, mamãe.
Eu falei: sempre digo e sempre vou dizer.

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Eu recebi muito amor quando era pequena. Tive uma mãe muito amorosa. Meu pai era uma pessoa dura. Do seu jeito, mostrava que se importava conosco, mas a dureza era constante. Já o amor da mãe transbordava, e isso era quase tudo que eu precisava. Passamos por bastante privação, tive poucas oportunidades de fazer programas legais em família, passeios e outras coisas que todos deveriam poder. Quando vejo meus filhos Tendo a vida que têm, fico com o coração cheio. Eles têm uma vida linda. Imagino que as lembranças da infância serão incríveis.

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Eles têm pais amorosos e presentes. Somos pais privilegiados também. Um tanto de sorte, um tanto de opção nossa. Uma série de fatores que nos fazem felizes por estarmos juntos

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Mas me preocupo e até me assusto quando eles estão descontentes. A vontade que tenho é de contar o que vivi, que não foi fácil, porque foi comigo, fui em quem sentiu. Mas que não é nada comparado ao que se vê por aí. Parâmentro é tudo. Não quero assustar, mas quero que saibam a vida linda que têm.

Sei que posso tentar fazer o melhor, que nunca vai ser o suficiente. Eles vão sempre ter do que reclamar. Assim como eu fiz com minha mãe. A semana toda passei cantando essa música.

Gosto mais da versão na voz da mãe dela, mas achei pertinente ser a filha cantando..

Raquel Grabauska

Programa de família

Raquel Grabauska
17 de agosto de 2018

Sempre que viajamos priorizamos os programas que serão possíveis para os nossos filhos. Eles têm sorte por terem pais que não gostam de shopping. Brincadeiras à parte, gostamos de nos divertir vendo eles se divertirem. Agora que estão crescendo, temos conversado a respeito de vermos coisas diferentes, ter outras experiências, novas vivências.

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Uma das coisas que testamos foi levá-los nas férias que passamos em Montevidéu para uma visita guiada ao Teatro Solis

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Aproveitamos que meu irmão, minha cunhada e sua mãe estariam junto  – para caso precisássemos amordaçar os guris, digo, caso precisássemos de apoio. Confesso que entrei meio sem respirar. A guia falava em um espanhol mega rápido, estava bastante quente dentro do prédio, ocasionando um festival de tirar roupas.  Era muita explicação. Andamos por umas salas e tudo ia bem. Me emociono sempre que conheço um teatro novo. Ter essa experiência com meus queridos foi ainda mais emocionante.

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Quando entramos no majestoso teatro, desconfiança
O mais velho disse: não vai ter peça, né?
Eu disse que não, que iríamos só conhecer
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Estávamos ouvindo a explicação da guia quando alguém dá um grito no teatro. Um dos guris estava comigo e o meu marido e o outro mais atrás com os tios. Eu gelei, suei, tremi até perceber que não era da minha prole que tinha saído o som. Uma pequena apresentação surpresa para alegrar a visita ao teatro. A encenação percorreu a plateia.

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Claro que o ator parou ao lado do meu filho para o qual eu tinha dito que não teria peça
Claro que em dois segundos meu filho estava ao meu lado
Quase ao mesmo tempo ouvi o mais novo: é muita conversa! Porque eles não apresentam lá em cima? (Apontando para o palco)

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Tudo isso durou uns 5 anos (contagem de tempo de mãe em perigo) ou 3 minutos em contagem de tempo de pessoas em situações normais de pressão e temperatura. Quando saímos, todos que estavam na visita estavam parados no saguão e meu filho disse: eu prefiro o teatro da mamãe. Um oinnnnn coletivo e uma mãe com sorriso bobo feliz. Os guris estão crescendo.

Raquel Grabauska

O Dia dos Pais e o dia em que me senti a pior mãe do mundo (e arredores)

Raquel Grabauska
10 de agosto de 2018

Estávamos fazendo uma viagem em família. Passeio gostoso, com tempo, caminhadas sem pressa ou destino. Parávamos para contemplar o que queríamos, crianças correndo atrás dos pombos. Éramos o próprio comercial de margarina (se é que existe comercial de margarina ao ar livre).

Só uma coisa, antes de continuar a história: sou o tipo de pessoa que perde o amigo, mas não perde a piada. Sempre. Já me meti em cada fria, cada constrangimento. Mas não aprendo. Quando vi, a bobagem já saiu.

Voltando ao passeio. Eu estava andando de noite com minha querida cunhada. Vimos uma faixa com um pitoresco desenho que era IGUAL ao meu marido. Na manhã seguinte, repetimos o caminho com a família toda e eu estava ansiosa pela piada. Quando chegamos, apontei para a faixa, bem feliz mostrando aos meus filhos.

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Olhem só, uma foto do papai!!!!!

Os dois me olharam incrédulos. O menor logo mudou o foco. O maior ficou paralisado: “esse não é o meu pai!!!!!” Eu achei estranha tamanha veemência. Ele tem bastante senso de humor. Fazemos muitas piadas juntos.  Olhei pra ele, olhei pra faixa, olhei pra ele e olhei pra faixa de novo. Olhei de novo e gritei!

A pintura da faixa tinha uma grande faca cravada nas costas
Eu só não tinha percebido esse pequeno detalhe

Depois disso, haja pombos, passeios e brincadeiras pra extrair a culpa das minhas costas! Um feliz Dia dos Pais para todos os pais. Especialmente para o pai dos meus filhos, que além de ter me dado os nossos dois gurizinhos, ainda segue comigo há 15 anos. Com todas as minhas piadinhas.

Raquel Grabauska

O Museu Desmiolado

Raquel Grabauska
3 de agosto de 2018

Me senti desmiolada por quase perder. Uma exposição linda, completamente interativa e gratuita. Não tem desculpa para não ir no Museu Desmiolado.

Aqui vão os depoimentos de como foi vista por cinco crianças diferentes

Joana levantou, sentou na cama. Sorrisão no rosto: “Mãe! Tem muita coisa! Muita coisa naquele museu…”, deitou e voltou a dormir.
Joana, 4 anos

Tem uma coisa muito macia. Eu me joguei e não conseguia sair (rindo muito). É amarela. E tinha a vermelha também.
Tom, 4 anos

Adorei poder desenhar e deixar o desenho na parede. E desenhei aquelas obras que deram medo: o castelo da bruxa e as fitas.
Anita, 5 anos

Gostei das fitas coloridas que balançam e voam não me lembro direito, e em segundo, daquela outra das pedras preciosas.
João , 5 anos

Gostei do relógio gigante , porque dava pra mexer e ele girava. Gostei muito dos pufes macios.  Da mesa que tava pra tirar todas as peças de encaixe e não precisava arrumar depois.
Benjamin, 7 anos

 

A inspiração para tudo isso é o livro Museu Desmiolado, de Alexandre Brito.

Museu Desmiolado
Onde: Santander Cultural
Quando: até 12 de agosto
Horário: de terça a sábado das 10 às 19h
Domingo: das 13 às 19h

Raquel Grabauska

Viajar sem livros

Raquel Grabauska
27 de julho de 2018

A história na hora de dormir aqui em casa é lei. Mesmo com cansaço, mesmo esgotados, sempre tem história. Ano passado moramos seis meses no exterior e escolhemos a dedo o que levaríamos. Dentre as escolhas, cinco livros – e acho que saberei esses cinco pelo resto da vida.

Sempre tem a fase de repetir a história que mais se gosta. Mas seis meses é tempo demais pras mesmas histórias…

Eu gosto do livro de papel, folhear um livro, não tem igual. Mas fui obrigada a me render, claro, não quero ser uma mãe das cavernas.  Leio no Kindle e outros meio. Então, seguem sugestões que nos salvam em viagens:

Coleção Disquinho/ Histórias Completas

Coleção TABA/ Histórias Completas

Eu leio pra uma criança

Raquel Grabauska

Férias para brincar, sem pressão

Raquel Grabauska
13 de julho de 2018

As férias chegaram. E é aquele momento em que os pais e mães sempre ficam confusos sobre o que fazer. De qualquer forma, precisamos lembrar que é importante que as crianças brinquem e se divirtam, sem pressão. Há pouco tempo,  dessas coisas que agente vê por acaso e depois vira fã, encontrei isso:

“Ensine uma criança escrever aos 7 anos e ela aprenderá em menos de 1 mês. É próximo aos 7 anos que o cérebro está preparado para a aprendizagem da escrita. Nessa idade o cérebro completa o desenvolvimento das áreas 23, 44 e área de Brodmann, que são importantes para a transformação do grafema em fonema.
A função da pré-escola é a estimulação. O brincar é um importante incentivador da leitura (lembre-se que as palavras são símbolos e o faz-de-conta é simbólico, como dar vida aos bonecos, fingir que está comendo de mentirinha, etc.).
As crianças não aprendem quando forçadas, mas sim por prazer. Chega de pressão, castigos e diagnósticos de desatenção. O processo acontecerá paralelamente com a troca dos dentes. Antes não é melhor. 

Psicóloga Márcia Tosin

Virei mesmo fã. De seguir no Facebook – eu detesto Facebook. Para quem acredita nisso, para quem não acredita, para quem não sabe o que achar: as férias estão aí, e o Espaço Cuidado Que Mancha segue com a programação de sempre e ainda preparou uma programação especial para o mês de julho. Levando em conta tudo o que está dito aí em cima, que as crianças precisam brincar e aprender por prazer. Sem pressão, sem castigos.

Raquel Grabauska

Precisa-se de tédio

Raquel Grabauska
6 de julho de 2018

Faz tempo que sinto vontade de ficar entediada. O tédio nunca fez muito parte da minha vida. Depois de dois filhos então, tédio inexiste. Cada dia é completamente diferente e inusitado. E olha, sou bem fã de rotina!

Na última sexta-feira eu estava de aniversário. Comemorei com amigos queridos. No sábado de manhã, trabalhei. Depois do trabalho, confraternização com os colegas e amigos. Esquecendo a idade que completei, resolvi sair pra dançar. Praticamente um Kerb!

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Voltei às 4:30h!

Meus filhos acordam cedo. Sempre. Já estava preparada pra ter sono o dia todo. Mas…

 

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Às 7h da manhã ouço um choro. Meio sem conseguir acordar, vou cambaleando em direção ao barulho. Meu marido já estava com o filho no colo. O filho com a mão na cabeça. Muita dor, lágrimas escorrendo. Acabou o meu sono. Isso foi domingo. Estou escrevendo na terça. Contem os dias comigo.

Na segunda-feira, quando a dor de cabeça cedeu, um dente resolveu nascer. Uma noite inteira de choro. Inteira. Uma agonia. Noite acordada, tentando dar carinho e conforto para aliviar a dor. Dia de zumbi. Hoje ele acordou completamente abatido. Olhos fundos. Dava para sentir todos os ossinhos do corpo.

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No fim da manhã, parece que alguém ligou a criança na tomada. Riu, comeu, brincou. Respiramos novamente! Filho doente deixa a gente sem ar…

 

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Como já estava disposto, resolveu se limpar depois de fazer cocô. Foi bonito. As costas, então, ficaram lindas. Arruma tudo pra dar banho – em Porto alegre, inverno, 11 graus. Aquece o banheiro, pega a roupa, pega toalha. Olho pro chão e tem uma bolinha que tá quase embaixo do meu pé. Não dá tempo de desviar, pisei.

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Era um cocô. Não sei como. Na tentativa de não pisar com todo o pé no cocô, faço um movimento rápido e derrubo toda a xícara de café recém feito no outro pé. Um pé queimado e o outro… prefiro não rimar.

Preciso de um dia de tédio. Só um, por favor! 

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A ilustração de hoje é do Tom. Ele nunca gostou de desenhar e, com esse desenho (claramente é um dinossauro rex!), inaugurou uma série de ilustrações e não parou nunca mais de  desenhar. Principalmente na hora de dormir.

Raquel Grabauska

Aniversário com filhos

Raquel Grabauska
29 de junho de 2018

Eu adoro fazer as festas de aniversário dos meus filhos. Sempre gostei. Achei que não ia gostar, que não ia dar bola. Daí arrumei uma comadre festeira que me fez me apaixonar pela ideia há quase 8 anos atrás. Nos últimos tempos tenho tido ajuda de amigas queridas. O que torna a maratona um encontro feliz, divertido. Acho que me divirto mais com os preparativos do que propriamente com a festa.

Hoje é meu aniversário. Ontem ele combinaram que me acordariam com beijos. Eu  tive insônia. Ele me acordaram às 6:30h com o beijos combinados. Meu marido quis preservar meus sono (isso é sempre um lindo presente de aniversário), eu preferi acordar meio grogue e ganhar aquele beijos felizes.

Meu filho  maior foi para a escola, meu filho menor foi pra sua escola de arte. Empolgado para ver meus  presentes. É complicado para uma mãe explicar pro filho que o melhor presente é aquele abraço, aquela ligação, aquela lembrança de uma amiga que tá do outro lado do mundo. E não necessariamente o presente em si. Como explicar o prazer de receber a visita do irmão no meio do expediente de trabalho? De tomar um café e conversar? Tudo isso pode ser melhor que um presente? Pra nós adultos, claro que sim…

Ele quis muito ver meus presentes. Eu expliquei que presente de adulto é diferente. Faz 3 meses que ele escolheu que minha festa tinha que ser do Thor. Teve o Thor no meu bolo hoje. Bolo lindo e delicioso, presente de amiga da vida.

Mas o ponto alto do dia foi:

Mamãe, abre teus presentes.

Já abri, filho.

Não, mamãe, abre teus presentes!!!

Já abri, meu filho!

Mamãe, abre teus brinquedos!!!!

Nesse ano não ganhei brinquedos. Ano passado meus meninos me deram um dinossauro de montar. De igual pra igual. Me deram um brinquedo que adoraram. Claro que adorei.

 

Hoje me senti do tamanho deles. Adorei soprar as velas junto.  Meu próximo aniversário vai ser de vampiro. Decidimos hoje.

Raquel Grabauska

Viajar sem filhos

Raquel Grabauska
22 de junho de 2018

Sempre ouvi as pessoas falarem sobre como faz bem ficar longe pra sentir saudades. Tempo de qualidade, quantidade não importa. Respeito as opiniões. Não tem mais mãe ou menos mãe pra mim. Mesmo. Claro que me dá vontade de dar colo pra todos os bebês que ficam em creches ou em qualquer outro lugar que não seja um bom colo quando precisam.  Assim como sinto vontade de dar colo para muitas pessoas adultas que conheço.

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Quando meu primeiro filho nasceu, minha mãe e minha sogra me recomendaram muito sobre o perigo do colo dado aos bebês: estraga a criança

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Confesso que eu estava impressionada. Estava tendendo a não dar colo, não queria “estragar o guri”. Num dos primeiros choros, meu marido me olhou e sem titubear um segundo, deu colo pro filho. Eu falei sobre os comentários das nossas mães e ele: “não vou deixar meu filho chorando”. Chorei eu. Achei tão lindo e sábio. Ele não estava preocupado com a opinião de ninguém. Nem da mãe, nem da sogra, muito menos a minha. Ele só estava sendo pai. Criando vínculo. Foi bonito de ver. Foi bonito sentir o ruir daquela “sapiência da mulher” que tudo sabe sobre ter um filho. Ver ele agindo como um pai que ama e cuida, me ensinou muito sobre ser mãe.

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Fim de semana passado fiquei longe pela primeira vez do meu filho menor

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Quatro aninhos grudados. Não senti alívio. Tinha medo de sentir. Trabalhei, me diverti, dormi, mas foi bem bom voltar e ter a nossa rotina. Estamos todos crescendo. Logo vai ser normal ficarmos tempo longe. Por ora, quero aproveitar.

Raquel Grabauska

O poder da palavra

Raquel Grabauska
1 de junho de 2018

Quando eu era pequena, minha família passou por diversos apertos financeiros. Uma boneca legal, um passeio, alguma roupa ou uma sandália eram sonhos quase sempre inalcançáveis. Sempre perto do meu aniversário acontecia algo e a situação piorava. Parecia uma tradição, já.

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Quando eu tinha quase 7 anos, uma amiga prometeu uma festa linda. Eu podia escolher o que quisesse. Escolhi uma festa à fantasia.

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Todas as crianças ganhariam fantasias de bicho. Planejamos por dois meses. O pai dela era rico e daria de presente. Ela pediu segredo. Eles moravam numa casa tão simples como a minha, mas eram muito ricos e disfarçavam para não serem roubados. E assim fiquei, em segredo. Dois meses planejando cada detalhe, sorrindo sem perceber, flutuando no pensamento daquela felicidade que viria.
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Foi chegando perto do dia e nada acontecia. E eu entendendo. No dia seguinte veríamos a fantasia. No dia seguinte teria o … no dia seguinte.

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Chegou o dia da festa e nada aconteceu. Lembro da sensação de desmoronar. Não ter a festa foi ruim, é claro. Mas me desmanchou perceber que minha amiga não tinha falado a verdade. Lembro do assombro e tristeza da minha mãe quando contei pra ela. Lembro de perguntar: porque ela fez isso, mãe? E minha mãe, sem conseguir responder, deu aquele abraço gostoso que só a mãe da gente dá e faz sumir a dor.

Dia desses meu filho foi enganado por um colega numa troca de brinquedos. Foi muito injusto. Nós tentamos orientar, mas deixamos ele resolver a situação. Ele não quis nos ouvir, pois questionamos (para ele) o que o amigo estava fazendo. Ao perceber que não era como havia sido combinado, ruiu um tanto. E perguntou: porque ele fez isso, mamãe? Dei meu melhor abraço e falei. Dias depois meu filho mais novo estava contando algo que um amigo havia contado. O mais velho percebeu que não era verdade: mano, isso é mentira! Ao que o outro respondeu: nãoooo!! Meu amigo falou!

Palavra de amigo tem poder. Que a gente sempre possa crescer com os amigos que nos dizem palavras importantes.