O TANTO em maiúsculas foi por minha conta. Ele não gritou. perguntou com a naturalidade com que faz todas as mil perguntas do dia. Mas eu ouvi como se tivesse sido gritado. Todo meu corpo (menos a bunda) enrijeceu.
Tinha eu saído do banho, bem tranquila, limpinha e cheirosa. Estava indo do banheiro para o meu quarto me vestir. Não percebi a presença de um seguidor. Virei, me cobri com a toalha, desfiz a cara de espanto e pensei no que responder:
– porque nos últimos oito anos eu me dedico à maternidade mais do que a mim mesma;
– porque sou artista e preciso viver do meu trabalho e fico com pouco tempo para ginástica,
– porque tenho 45 anos e a genética é assim mesmo;
– porque sim ;
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Pensei ainda mais algumas coisas. Pensei em como ensinar pra um menino a respeitar as diferenças. A respeitar os corpos. Pensei, pensei, pensei. Ele ali, me olhando, com a mesma cara que estaria se tivesse me perguntado qual a cor do céu num dia nublado. Eu percebi que para ele era só uma pergunta. E me dei conta de que tudo bem. Minha bunda balança mesmo. Por todas as minhas razões. E talvez algumas outras que eu não saiba…
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Respondi que é assim mesmo
Cada bunda tem seu jeito
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Assim, como as pessoas têm cores diferentes, cheiros diferentes, tamanhos diferentes. A minha bunda é assim. E tá tudo bem. Ficamos os dois bem. Ele foi brincar e eu me vesti. Acho que depois disso comecei a rebolar mais quando caminho, sem preocupação. Não sei muito mais oq ue poderia ter falado pra ele. Mas ensinei pra mim que tá tudo bem coma minha bunda.







