Guia de Viagem

Califórnia para crianças – Disneyland

Geórgia Santos
21 de outubro de 2017

O fato de eu não ter filhos faz com que eu, naturalmente, ignore destinos que sejam interessantes e divertidos para os pequenos. Isso mudou neste ano. Não, não estou grávida. Acontece que nos meses em que vivi na Califórnia, Estados Unidos, recebi visitas muito especiais. A Nanda (minha tia) e o Ronaldo passaram 12 dias comigo e não viajaram sozinhos: levaram a Helo, filha deles que tem quatro anos; e a Victoria, minha prima e afilhada que tem 14 anos.

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Imediatamente comecei a fazer um roteiro na Califórnia que fosse divertido pra uma criança e pra uma adolescente

E deu muito certo

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Deu tão certo que os adultos adoraram também e se divertiram tanto quanto. Eu escolhi quatro programações diferentes (todas no sul da California) pra dividir com vocês ao longo de quatro semanas. Mas como sempre acontece por aqui, obviamente algumas coisas saíram do script. Mas enquanto tudo dava certo, eu vestia minhas orelhinhas de Minnie e brinquei como se tivesse cinco anos.

 

 Disneyland

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Eu e a Vic; Helo e a Minnie

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Geralmente, quando os brasileiros pensam em Disney, imediatamente lembram de Orlando e do gigante parque da DisneyWorld. Acabam esquecendo que a Califórnia guarda com todo o carinho o primeiro parque temático que o senhor Walt construiu. A Disneyland foi aberta em 1955, em Anaheim, e é a história viva desse mundo mágico. É bem menor que a versão da Flórida, mas quando se viaja com uma criança de quatro anos, isso é uma grande vantagem.

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 O que levar

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Essa etapa é muito importante, afinal, um passeio à Disney não dura por duas horas, mas o dia inteirinho. Por isso, é importante pensar em alguns itens para passar o dia:

1. Garrafa d´água é fundamental, porque o clima de Anaheim é extremamente seco. Há água para vender, mas é cara. Então em vez de torrar o dinheiro comprando água, encha a garrafinha nos bebedouros espalhados pelo parque;

2. Muda de roupa, ou uma camiseta extra. Há brinquedos em que a gente pode se molhar, como o Splash Mountain. Sem contar que, com crianças, uma roupinha extra nunca é demais;

3. Filtro solar. Não precisa explicar, né;

4. Boné ou chapéu ajudam muito. O clima no sul da California é bastante estável e chove muito pouco. Isso significa que mesmo em dias de temperaturas relativamente baixa, o sol é bastante forte – e às vezes as filas podem demorar;

5. Carregador de bateria ou bateria extra. Não há celular que resista a um dia inteiro de fotos e vídeos;

6. Lanchinho como frutas, castanhas e barrinhas. Há muitos lugares para comer na Disney, mas eu recomendo os restaurantes somente para as refeições maiores como almoço e jantar, porque se perde muito tempo – além de ser caro e, quase sempre, porcaria;

7. Carrinho de bebê – mesmo para crianças mais velhas, porque elas vão cansar. Há carrinhos para alugar no local, então não precisa se preocupar muito com esse detalhe. O problema é que esses carrinhos não são os mais confortáveis, então a criança não fica muito acomodada ao dormir. Mas quebra o galho;

8. Casaquinho ou outro agasalho, pois a temperatura cai bastante à noite, mesmo no verão;

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 Como chegar

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A melhor maneira é ir de carro e deixar no estacionamento do resort. Mas se não pilha de alugar, pode pegar um trem até Anaheim e de lá pegar um uber.

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 O que ver

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Antes de mais nada, é muito importante baixar o aplicativo. Ali você tem acesso ao mapa e, principalmente, o tempo de espera de cada brinquedo. As filas são enormes e, em alguns casos, a espera passa de duas horas. Para evitar esse tipo de problema, é só controlar o tempo de espera no app. Às vezes, em função de algum evento, paradas com os personagens ou até mesmo horário, abre uma janela de menor espera. Além disso, existe um passe rápido que pode ser utilizado em alguns brinquedos e por tempo limitado.

A organização é muito importante porque não dá tempo de ver tudo, a menos que você fique mais de um dia. Abaixo, sugestões do que eu achei mais legal. Mas obvio que é apenas o meu gosto, por isso é legal baixar o app e explorar antes mesmo da viagem.

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MAINSTREET – É a entrada e o diferencial desse parque, que ó primeiro que o seu Disney construiu. A rua tem ares históricos com a reprodução de uma pequena cidade cenográfica, restaurantes, carruagens e vários personagens dando sopa, só esperando uma fotinha;

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FANTASYLAND – É a área perfeita para os pequenos, com atrações dos filmes clássicos da Disney, aqueles que todos vimos mil anos atrás. Alice no País das Maravilhas, Pinóquio, Rei Arthur, Peter Pan. É como voltar à infância. A gente vira criança. O lugar também é especial porque é onde “moram” as princesas. Teve adulto chorando ao ver a Rapunzel. Dá pra fazer um tour e conhecer várias princesas, o castelo da Bela Adormecida e ainda assistir a uma peça de teatro incrível;

.MICKEY´S TOONTOWN – É o coração da Disneyland, é onde tem a casa do Pateta, o barco do Donald, a casa do Tico e Teco, da Minnie e, é claro, a casa do Mickey, que é uma atração à parte e uma viagem no tempo . A gente tem a sensação de estar dentro de um desenho animado. É uma delícia e vale muito a pena;

 

TOMORROWLAND – A área futurista do parque, onde estão as atrações de Star Wars e Toy Story. Mas a minha favorita é o Submarino do Nemo, em que a gente embarca em um submarino de verdade e é levado por todas as aventuras que o pai do peixinho e a Dory enfrentaram;

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ADVENTURELAND – Aqui a gente encontra as aventuras do Tarzan e uma das melhores atrações de todo o parque, na minha opinião: Indiana Jones. É simplesmente incrível, especialmente pra quem conhece os filmes de cabo a rabo. Tem o jipe, tem a bola rolando, tem o Indi descendo do teto pra te salvar. E como se não bastasse, a área ainda abriga a Enchanted Tiki Room. Eu não entrei pra ver o que acontece, mas paramos do lado de fora onde há o Tiki Juice Bar, onde eles vendem uma sobremesa maravilhosa.

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E foi aí que a viagem que parecia tranquila virou um pequenino desespero

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Paramos os cinco para comprar o que eles chamam de Dole Whip Float, que é basicamente um sorvete de abacaxi dentro de um copo com suco de abacaxi e pedaços de abacaxi. Uma delícia docinha e refrescante – e com guarda-chuvinhas de papel. Mas essa iguaria não é uma descoberta minha, TODOS que pisam na Disney procuram por esse sorvetinho. Isso significa que o lugar tem zilhões de pessoas. Isso não seria problema se as crianças ficassem sentadinhas e quietinhas em seus lugares, não é mesmo? Mas sabemos que isso não acontece e não foi diferente com a Heloísa.

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Corre pra lá e corre pra cá até que … cadê a guria?

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A mãe dela se desespera e começa a gritar: “Heloísa! Heloísa!”A gente tentou acalmar a Nanda e começou a olhar pra os lados, até que o pai avistou a menina em forma de terremoto. Estava a dois passos de todos, olhando o poço dos desejos. Ufa. A sorte é que a Helo tinha uma pulseira com todos os dados e telefones, justamente pra o caso de se perder. No fim não precisamos desse recurso, felizmente, mas é uma ótima dica. E não esquece do sorvetinho;

 

NEW ORLEANS SQUARE – É, sem dúvida, a “vizinhança” mais legal da Disney. A gente é transportado pra New Orleans, especialmente à noite, e simplesmente não quer mais sair. Sem contar que tem duas atrações clássicas do parque estão lá: Piratas do Caribe e a Mansão Mal Assombrada. Vale cada segundinho;

Além disso, fique de olho no horário de atrações que ocorrem por todo o parque, como as Paradas e Paradas Elétricas, e os pontos em que os personagens estão dando autógrafos.

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 Onde comer

Cada área do parque oferece restaurantes com refeições de todos os tipos e pra todos os gostos. Nós almoçamos na FantasyLand, na Taverena do Gaston. Sim, ele mesmo, aquele da Bela e a Fera. O lugar é super bacana, como se a gente estivesse dentro do desenho. E a comida estava uma delícia.

Fotos: Divulgação e Arquivo Pessoal

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Lisboa – A cidade favorita da minha mãe

Geórgia Santos
13 de maio de 2017

Eu vivi em Lisboa por um ano e, de fato, poderia escrever por horas sobre os lugares que conheci em Portugal, sobre o que comi e, claro, sobre os deliciosos obstáculos que encontrei pelo caminho. Mas neste final de semana, só importa o que ela tem a dizer sobre Lisboa. Ela quem? Dona Gertrudes, a Tude, também conhecida como minha querida e adorada mãe.

Mamãe e eu damos um pulinho em Fátima. A gente não gostou nem um pouquinho, mas não conta pra ninguém =P

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Lisboa é a cidade favorita da minha mãe apesar de, como não poderia deixar de ser com membros da família, muita coisa ter dado errado. Muita coisa

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A Tude visitou Lisboa três vezes. Na primeira vez, tudo correu de maneira tranquila (os problemas aconteceram em Madri, Barcelona e Sevilha, que visitamos na sequência). Na segunda eu já morava por lá e, ah, ela não imaginava o que estava a sua espera. Dois dias antes de voltar pra casa, meu pai teve febre e começou a tossir de maneira bastante assustadora, algo como um pastor alemão tentando falar. Insistimos pra que ele procurasse ajuda e uma médica foi até minha casa. Foi a vez de ela insistir pra que ele fosse ao hospital. Chegou lá e foi internado depois de dar respostas completamente sem nexo à médica que o atendia naquele momento. Ele estava com nada mais, nada menos, que Gripe A. Que evoluiu para pneumonia.

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Os dois ficaram duas semanas presos dentro do Hospital da Cruz Vermelha com meu pai delirando por falta de oxigênio e abstinência do cigarro

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Ele só foi liberado depois que eu garanti que ele teria oxigênio em casa e no transporte de volta pra casa. Sim, oxigênio no avião. E foi operado assim que chegou ao Brasil. Foi bizarro. A mãe pirou (com razão), mas isso não afetou o amor por Lisboa. Deixou ela morrendo de medo de voltar, é verdade, mas ela continuou amando a cidade

Depois de muita insistência, ela resolveu voltar. Quase um ano depois do fatídico episódio. Lisboa a esperava de braços abertos, como diz a musiquinha da TAP, mas não era só isso. Portugal a esperava também com mais um punhado de surpresas que renderiam, aproximadamente, uns 15 posts. Mas eu vou encurtar o lance e listar os episódios:

1. Saindo do El Corte Inglés, uma loja de departamentos, o alarme disparou. Dois seguranças correm na direção dela pra revistar as sacolas enquanto a gringa fica vermelha. Eu, do lado de fora fumando um cigarro, só ri. Ela, do lado de dentro, queria matar todo mundo. Foi uma comoção, de fato. Todo mundo olhando, aquele preconceito com as brasileiras que devem ter roubado uma mercadoria e tal. Deveríamos ter processado.

2. Numa bela noite, ela e minha madrinha saem pra ir ao supermercado. Minha prima e eu ficamos em casa. Nós sabíamos que havia lojas pelo caminho e que não seria uma tarefa de 15 minutos. Mesmo assim, elas estavam demorando demais, eu já estava preocupada. Umas duas horas depois elas aparecem encharcadas e morrendo (sério) de tanto rir, elas mal conseguiam respirar. Acontece que no caminho de casa, que ficava a duas quadras do lugar, elas conseguiram se perder. Só que era noite e um temporal desabava sobre a cidade. Elas começaram a dar voltar no centro comercial e, finalmente, foram para o lado errado. Nesse meio tempo, o chapéu da minha mãe sai voando pela rua alagada e a doida começa a correr atrás. Duas horas depois….

3. Num passeio ao Cabo da Roca, onde há penhascos deliciosos, ela se desequilibrou com o vento e levou um tombão. Longe dos penhascos.

4. Entediada em uma loja, resolveu esperar pela irmã do lado de fora. Pra passar o tempo, resolveu brincar de estátua viva com a sobrinha. Com direito a passar o chapéu e tudo. Eu amo minha mãe.

Eu passaria o dia escrevendo sobre a as aventura da Tude, mas vocês já entenderam, né? Então dá uma olhada no que ver e o que fazer em Lisboa. Claro, os lugares favoritos da mãe. Não é um guia definitivo, mas é o roteiro perfeito pra ela.

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Lugares pra ver

A mãe adora passear por Lisboa, bater perna, mesmo. Felizmente, é uma cidade perfeita pra isso, mesmo com as lombas.

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Chiado

É um dos bairros mais charmosos da cidade. Perfeito para caminhadas, também abriga algumas das lojas e cafés mais interessantes de Lisboa, como o Café à Brasileira, famoso pela estátua de Fernando Pessoa. Mas também é onde se pode observar alguns dos pontos turísticos mais importantes de Lisboa, como o Museu do Carmo e o Elevador de Santa Justa. Se caminhar um pouquinho além do convento, há um mirante espetacular. E se quiser subir umas lombas, aproveita pra explorar o Bairro Alto.

Rossio/Baixa

Perfeito para bater perna e descobrir as lojinhas e lojonas das ruas do entorno do centro da cidade. Vale caminhar até a Praça do Comércio, que fica à beira do Tejo.

Belém

É uma região mais afastada do centro da cidade, mas é uma das bonitas de Lisboa. Tem jardins lindos além de uma feira de antiguidades incrível aos domingos. Sem falar da possibilidade de caminhadas deliciosas à beira do Tejo. Alguns dos pontos turísticos mais legais estão por lá, como a Torre de Belém, o Padrão dos Descobrimentos e o Mosteiro dos Jerônimos. Ah, e é onde se come o famoso Pastel de Belém.

Onde comer

A mãe é malinha pra comida, mas em Lisboa não encontrou qualquer problema. É tudo uma delícia.

Os Jerônimos

Do ladinho dos famosos pastéis de Belém tem um restaurante minúsculo e nada glamouroso, mas que serve um peixe dos deuses e por um preço bastante honesto. E o gerente (ou dono, não sei) é uma figura. Fala mil idiomas e vai fazer de tudo pra que todos se sintam à vontade. Sugestão da Tude: prove os carapaus, dois peixes grelhados na brasa com azeite e alho e umas batatas ao murro. Hm!

Café Royale

É um café e restaurante que serve uma comida maravilhosa ao estilo bistrô e por um preço convidativo. Sem falar do terraço nos fundos da propriedade. Escolha perfeita pra o verão.

Solar dos Presuntos

Uma ótima escolha pra quem tiver grana pra gastar. As paredes forradas com fotos de celebridades dão o atestado. A comida é gostosa de verdade, mas é caro.

Como se movimentar

Lisboa é perfeita para andar à pé, mas não deixe de andar com os famosos elétricos, os bondes amarelos da cidade. A mãe não só adora como recomenda. Táxi também ajuda e é bem barato.

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Cambará do Sul – Parte 2: A Emboscada

Geórgia Santos
29 de abril de 2017

Foi uma semana congelante no sul do Brasil, segundo relatos que recebi. Previsivelmente, a gauchada já começa a se coçar pra viajar pra serra e passar aquele frio gostoso enchendo a cara de vinho em frente a uma lareira e coisa e tal. Três amigas e eu resolvemos fazer isso e viajamos para Cambará do Sul há quase cinco anos. E valeu a pena, mas foi uma viagem turbulenta – óbvio.

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Começou com um corpo no chão, como já contei pra vocês, mas o que viria pela frente era um potencial filme de suspense policial.

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O suposto atropelamento deixou a viagem estranha, mas bastante propensa a ataques de riso eventuais. No meu caso, de puro nervosismo. Provavelmente algo que herdei de minha mãe, considerando que não há ninguém no mundo que ria mais que ela ou o faça em situações mais inadequadas. E os risos eram realmente aleatórios, não estávamos bebendo nem fumando maconha. Só coca-cola e uns marlboros.

Quando avistamos a placa indicando que estávamos em Cambará do Sul, já havia passado de 1h da manhã. A cidade parecia o cenário de um filme do Clint Eastwood. Abandonada, escura, com uma baita neblina e sem uma viva alma na rua. Veja bem, almas, havia. Vivas, nenhuma.

Todos os celulares estavam sem bateria – lembrem, era 2012 e as fotos foram tiradas com câmera digital – e nós não tínhamos a menor ideia de como chegar à pousada. Estávamos condenadas a vagar até que alguma pessoa aparecesse. Renata começou a dirigir em círculos pela cidade, na esperança de que encontrássemos alguém que pudesse nos ajudar. Felizmente, de alguma forma, chegamos até a casa em que ficava a Brigada Militar.

Neste ponto é importante ressaltar que Fernanda e eu estávamos em meio a um dos piores ataques de riso de toda a viagem. Eu não conseguia respirar, meu diafragma estava distendido e louco pra soluçar e minha barriga estava tão tensa que a câimbra já se anunciava. Não bem câimbra, mas aquela dor que dá quando a gente corre sem ter o menor preparo físico, sabe. Por isso, Renata e Evelin, muito responsáveis, sugeriram que nós ficássemos no carro pra que os policiais não se sentissem ofendidos. Justo.

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Elas desceram e começaram a bater na porta, aparentemente sem muito sucesso. Quando já estavam voltando pra o carro, aparece alguém na porta. Sem farda e armado. Elas se borraram, Fernanda e eu rimos ainda mais

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Esclarecida a situação de estarmos vagando pela madrugada, as gurias pediram ajuda. Se desculparam pelo nosso comportamento infantil e eles, gentilmente, explicaram como chegar à pousada. Quando elas voltaram pra o carro, perguntei pra Renata se ela havia entendido, ao que ela me garantiu que sim. Mentira. Duas quadras depois ela não sabia mais pra onde ir e nós não conseguíamos mais encontrar a Brigada.

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“Sem demora, notei que um carro nos seguia. As gurias estavam céticas, me chamaram de paranóica”

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A essa altura nós já não ríamos mais. Estávamos com medo, mesmo. E tínhamos razão pra isso. Sem demora, notei que um carro nos seguia. As gurias estavam céticas, me chamaram de paranoica. Riram. Mas aquilo estava estranho. Renata resolveu testar o motorista e começou a entrar em ruelas improváveis. A cada curva que nós fazíamos, eles seguiam o mesmo trajeto. Viramos à direita. Eles também. Viramos à esquerda, eles também.

Ficamos desesperadas. Assustadas de verdade. Estávamos em uma cidade fantasma sendo seguidas por um automóvel que parecia ter quatro homens dentro – exatamente a quantidade de mulheres em nosso carro. Renata foi mais corajosa –e doida – e resolveu parar o carro e perguntar o que estava acontecendo. Não reagimos bem.

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“Tu tá louca. Eles vão nos estuprar, nos matar, a gente não vai sair viva disso. Não para esse carro. A gente vai ser presa fácil. Não faz isso!!!”

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Eu estava em pânico, a Fernanda chorava, a Évelin blasfemava e a Renata abaixou o vidro e perguntou: “O que vocês querem?” Notando o nosso desespero, o rapaz sorriu e disse: “A gente sabia que vocês iam se perder, por isso resolvemos ajudar.” Eram os brigadianos que decidiram nos seguir, garantindo que chegaríamos ao destino. “A gente leva vocês até lá, segue o carro”, explicou. Obviamente, diante do ridículo, caímos na gargalhada de novo e fizemos o que eles disseram.

Mas algo soou estranho. Eles não estavam de viatura ou fardados. Hm, não parecia certo. Ao mesmo tempo, o carro seguia para uma rua escura, de chão batido, sem casas ou prédios no entorno. Todas pensamos a mesma coisa.

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“Nós somos muito trouxas. É uma emboscada!!!!”

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Começamos a gritar, eu comecei a chorar e a Fernanda não parava de gritar que era uma emboscada. A Évelin e a Renata tentaram manter a calma, mas elas estavam apavoradas também. “Eles vão nos estuprar no mato, cortar nossos corpos em pedacinhos e ninguém nunca mais vai encontrar. Meu Deus, nossas famílias. Que horror. Arranca esse carro, foge. É uma emboscada! É uma emboscada!!!!”

Eu sei que parece coisa de quem vê muito Criminal Minds, mas a situação era tensa. Eu alternava entre risos e choro e estava muito assustada. Até que tudo ficou ainda pior. Eles pararam o carro em uma rua escura e, aparentemente, sem saída. Não conseguiríamos passar por eles. Nisso, outro carro surge do nada e nos fecha. Fodeu.

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“Eu disse que era uma emboscada, a gente vai morrer!!!”, gritou a Fernanda

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A essa altura do campeonato, todas nós acreditávamos nisso. De verdade. Quando eles desceram do carro, o discurso de despedida já começava a ser ensaiado e as lágrimas eram bastante intensas. Era o fim. Adieu. Era uma emboscada.

Exceto pelo fato de que estávamos em frente à pousada e o cara que “nos fechou” só estava entrando na garagem da própria casa. Mas também, dá uma olhada na rua do bagulho. Imagina à noite. Compreensível, né?

Sim, adivinhou, caímos na gargalhada. De novo. Só que dessa vez foi difícil de parar. Eu levei muito tempo. Acordamos o dono da pousada, demorei uma hora pra fazer a lareira funcionar (que já estava preparada e era só acender um fósforo) e quase fui expulsa do quarto ao melhor estilo Big Brother, com votação e tudo, porque não calava a boca.

Hoje “A Emboscada” virou nome de grupo no whatsapp. Mas a saga daquele final de semana não parou por aí. Ainda fizemos estragos em São Francisco de Paula…

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Lugares para ver

Fortaleza e Itaimbezinho

O turismo em Cambará é totalmente voltado pra natureza e as grandes atrações são os canyons da Fortaleza e o Itaimbezinho. Particularmente, acho o da Fortaleza mais bonito e interessante. O único inconveniente é o acesso. A estrada pra chegar até lá é horrível. Mas não tem erro, é só seguir as placas, mesmo quando parece que alguém vai te matar no meio do nada. Chegando lá, é só caminhar bastante e explorar as trilhas ao máximo – e desviar dos boizinhos – e aproveitar a vista maravilhosa. Pra quem gostas de algo mais radical, é possível fazer a trilha no riacho que corta o canyon, mas pra isso é preciso procurar as empresas especializadas que oferecem esse serviço. Os hotéis e pousadas, na maioria, oferecem pacotes com passeios exclusivos por trilhas em diversos locais da região.

Já o Itaimbezinho tem uma infraestrutura mais preparada para receber turistas, com guias, banheiros e tudo muito bem sinalizado. Há duas trilhas, que o visitante escolhe de acordo com o quanto quer caminhar. Ao longo do caminho, há recantos lindos esperando por quem está afim de explorar o matagal, com riachos e cascatas pra recarregar as energias. Só tomem cuidado com os búfalos. Não é piada. Especialmente com neblina….

Turismo rural

Eu nasci na colônia, então passear por sítios e fazendas em meio a animais não me impressiona. Mas pra quem nasceu na cidade, pode ser um passeio interessante. Há uma série de estâncias que estão prontas para receber visitantes que queiram conhecer um pouco mais do universo campeiro. Os hotéis da região estão todos preparados pra indicar o melhor roteiro pra tua viagem.

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Onde comer

Não é uma cidade grande, com grandes restaurantes. por isso, recomendo a hospedagem em um local que ofereça café da manhã. Os melhores restaurantes da cidade estão localizados no hotéis mais equipados – e caros -, que qualquer pessoa pode acessar. Mas há outras alternativas.

Sabores da Querência

É um local delicioso que vende geleias e antepastos orgânicos, produzidos no local, a Querência Macanuda. Quando nós visitamos pela primeira vez, em 2012, só era possível fazer uma pequena degustação dos produtos. Hoje o sítio está preparado para receber quem queira degustar um espumante ou uma boa cerveja artesanal. Ainda oferecem tábuas de queijos, sorvetes e outras delícias.

Restaurante Galpão Costaneira

O lugar perfeito pra quem quer experimentar uma boa comida campeira, sem falar na ótima seleção de cachaças que a casa oferece. É um espetáculo no inverno, com a comida reconfortante e fogões à lenha. A comida é maravilhosa e rola até um som bem gaudério.

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Onde ficar

Parador Casa da Montanha

Se tem grana sobrando, nem pense em ficar em outro lugar. É a experiência perfeita. Da vista à comida, dos spas à lareira. Desenhado para agradar até ao cliente mais exigente, é sofisticado sem apagar o clima rural da cidade.

Cabanas Brisa dos Canyons

Foram essas as cabanas difíceis de achar. Apesar do local ermo – que nem é tanto assim -, vale muito a pena. O preço é acessível e as cabanas são bem equipadas e aconchegantes. Uma ótima alternativa.

 

 

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Cambará do Sul – Parte 1: O corpo no chão

Geórgia Santos
22 de abril de 2017

As temperaturas já começaram a cair no Rio Grande do Sul e o primeiro instinto é se enfiar debaixo de um cobertor e ascender a lareira ou o fogão a lenha ou uma espiriteira (aquele lance de jogar álcool na panela e tocar fogo, super seguro). O segundo instinto é viajar pra Serra. Gramado, Canela e blá blá blá. Um saco, lamento. Tudo muito fake pro meu gosto. Já Cambará do Sul é outra história.

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Cambará é a essência do inverno gaudério: campos de cima da serra, um frio do cão, comida campeira, chimarrão, poncho e neblina. Perfeito

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Por esses e outros motivos, minhas amigas e eu resolvemos nos bandear praqueles lados e explorar a natureza da região, intercalando as trilhas com vinho em frente à lareira. Fernanda, Évelin, Renata e eu estávamos empolgadas naquele inverno de 2012, afinal, seria nossa primeira viagem juntas e, certamente, seria linda. Mas nem tudo correu como imaginávamos.

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Aliás, nem com a imaginação da J.K. Rowling nós chegaríamos ao que nos aconteceu naquele final de semana

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Reservamos uma cabaninha charmosa em Cambará. Ficaríamos de sexta a domingo e, na volta, ainda passaríamos em São Francisco de Paula. Como eu dava aula na sexta à noite, só poderíamos sair depois das 22h. E foi o que fizemos. Levei minhas coisas pra Universidade e as gurias me buscaram lá. Renata foi dirigindo. Estávamos tranquilas, afinal, mesmo que a estrada não fosse uma maravilha, não teria muito movimento àquela hora da noite. Estávamos certas.

A primeira bizarrice aconteceu na estrada, na ERS-020Estávamos felizes e cantantes, empolgadas com aquelas musiquinhas clássicas de roadtrips entre quatro amigas e nenhum jeans viajante.

 

Obrigada, Alemão Ronaldo, por esse momento. Continuando, passamos a viagem comendo porcaria e bebendo coisas açucaradas sem nenhuma culpa.

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Estávamos falando mal dazinimiga, trocando confidências e dando gargalhadas quando vimos um corpo na beira da estrada e um carro estacionado ao lado. Sim. Foi isso

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Ficamos em imediato silêncio e resolvemos parar pra ver o que estava acontecendo, aquele instinto sem noção de jornalista. Quando nos aproximamos do veículo que não conseguimos identificar, um homem desce do automóvel. Com uma silhueta significantemente assustadora ao melhor estilo cadeirudo à meia noite, ele caminha na nossa direção.

Ele não disse nada, não fez nenhum sinal ou tentativa de comunicação. Simplesmente caminhou na nossa direção e parecia que ele tinha algo em mãos. Mas a gente não conseguia ver, por causa da luz no nosso rosto. Ele não passava de uma sombra, na verdade.

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Me borrei toda. Corremos o mais rápido possível e saímos dali em um fração de segundos, berrando como cabritas sem a mãe

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Claro que precisávamos fazer alguma coisa, mas cinco corpos na beira da estrada não ajudariam a resolver o mistério. Chegamos à conclusão que deveríamos ligar para a polícia. Felizmente, com quatro jornalistas no carro, encontrar o telefone direto do batalhão não seria um problema. Não foi. Ligamos para o Comando Rodoviário da Brigada Militar e explicamos, com parcimônia, a situação. A verdade é que não sabíamos o que tínhamos visto, mas acreditávamos que valia a pena averiguar.

Depois deste fato, estávamos menos felizes e cantantes e mais tensas e silentes. Continuamos comendo porcaria, mas aquilo mexeu com a gente e com os nossos medos. Mas a gente não perdia por esperar….

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Como chegar

Carro ou ônibus. Há vários caminhos possíveis mas, apesar do corpo na beira da estrada, a melhor alternativa é usar o caminho pela ERS-020 quando sai de Porto Alegre.

Foto: Divulgação Prefeitura de Cambará do Sul

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San Andres – A comida suspeita

Geórgia Santos
14 de abril de 2017

Passamos pelos mosquitos de Cartagena, pelos sicários de Playa Blanca e, finalmente, chegamos ao final da saga da lua-de-mel nas ilhas caribenhas de San Andres e a comida mais do que suspeita.

Não tinha ouvido falar de San Andres até começar a pesquisar roteiros em potencial para relaxar com meu marido antes de voltar à realidade da vida. E conforme eu pesquisava, mais me convencia de que seria o final perfeito para um roteiro montado com muito amor. Afinal, é um pedaço de terra abençoado pelo universo e banhado pelo mar do caribe – sem custar os olhos, o nariz e a boca da cara como costuma ser com Cancuns da vida.

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É, sem dúvida, um dos lugares mais lindos que já conheci na minha vida. E o melhor: é Zona Franca. Isso mesmo, gentes, muitas compras e nenhum imposto. Agora me digam se não é a definição de paraíso?

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San Andres tem um probleminha, no entanto, não tem muitos lugares legais pra comer. Circulamos bastante pelo centro e após um jantar não muito agradável, chegamos à conclusão que o restaurante do nosso hotel era melhor e que era jogo comer por lá. E assim fizemos pelos cinco dias que ficamos por lá. E tudo correu bem, até que não correu mais – ou correu demais.

No último dia, já estávamos “empacotados” e vestidos para vazar. Almoçamos e fomos nos sentar em umas poltroninhas interessantes. Claro, eu comecei a passar mal. Minha pressão baixou de repente e eu senti um forte enjoo. Tentei jogar água no rosto, tirei os tênis e não passava. Me “pelei” ao máximo e me deitei na recepção mesmo e fiquei em posição fetal até o momento de sair. Quando fomos ao aeroporto, eu estava melhor, mas não 100%. Embarcamos e o enjoo voltou. Fui estranha até o Panamá.

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No Panamá, tomei um Coca e tal e melhorei. Achei que o sufoco havia passado. Que nada. Comecei a jantar e já vi que não ia descer. A essas alturas, minha dor de barriga já havia ultrapassado todos os limites da vida. Quando nos aproximamos de Porto Alegre, ficou insustentável. Corri pro banheiro e fiquei lá. Por muito tempo. Muito. Voltei desmilinguida

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Poucos minutos antes de aterrissarmos, comecei a suar. Estava correndo pra o banheiro que acolheu tão bem quando uma aeromoça me interrompe: “vuelve a su asiento, vamos aterrar”, ou algo assim. Eu só lembro de olhar pra ela e dizer: “não”. E quando o piloto iniciava a descida, eu iniciava outra coisa.

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Voltei, apertei o cinto e combinei com o Cléber: “Assim que essa merda parar (o avião, no caso), eu vou sair correndo. Então tu pega nossas coisas e me encontra na esteira de bagagem.” E assim foi. Saí correndo

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Fui ao banheiro mais duas vezes somente antes de as nossas malas chegarem. Imaginem como foi o resto do dia. Ou não. É melhor.

Não sei o que foi, não sei se foi algo que comi, se foi a água, se foi a pressão, se foi vírus, se foi bactéria. Mas que foi suspeito, foi. E, óbvio, não podia terminar uma viagem sem algo dar errado.

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Lugares para ver

Centro

Na verdade, deveria ter uma categoria especial chamada “lugares para comprar”. O centro de San Andres é bem agradável à noite – nem adiante ir durante o dia, não existe. Com um calçadão enorme e uma série de barzinhos, é ótimo pra uma caminhada. Mas é melhor ainda pra torrar dinheiro na Zona Franca que tanto amamos. Perfumes, cosméticos, bebidas, acessórios e usa série de coisas legais. Fiz um rancho.

Johnny Cay

É um dos lugares mais lindos que já vi na minha vida. Daquele tipo que não parece de verdade, como se estivéssemos dentro de uma fotografia. Os barcos saem em dois horários do centro, às 11h30 e às 12h50. O passeio inclui almoço.

A ilha é paradisíaca, absolutamente linda, com um mar de um azul que chega a doer, comida boa, música divertida e ótimos drinques. Sim, ali na foto não é água de coco.

Rocky Cay

É uma ilha minúscula, mas bem bonitinha. É um passeio legal, mas só se estiver no teu caminho. Não vale desviar pra isso. Nós tínhamos o privilégio de ter acesso pelo nosso hotel.

El Acuario

A ilha é, de fato, um aquário natural. Há uma série de piscinas formadas por bancos de corais e uma diversidade incrível, de peixes pequenos a ouriços-do-mar, pepinos-do-mar (bizarros) e arraias. A ilha tem uma pequena infra, que inclui barracas que oferecem comida, bebida e ainda armários (guarda-volumes) e venda e aluguel de equipamentos para mergulho. Além de um sapato de neoprene, que eu achei basante útil pra caminhar por lá.

Há um passeio de barco muito legal que ajuda a conhecer melhor a região. O fundo da embarcação é de vidro, então dá pra ver uma quantidade imensa de animais marinhos. Até eu, que tenho medinho, curti.

Nesse passeio é possível notar sete cores diferentes no mar de San Andres.

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Onde comer

Não sei mesmo, te vira. Mas os passeios incluem almoço.

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Onde ficar

Hotel Cocoplum Beach

Um hotel maravilhoso, com praia particular, de frente para a ilha Rocky Cay. Serviço impecável, quartos enormes, espaçosos e confortáveis. Café da manhã incluso e é uma delícia. Os drinques são uma perdição. Essa era a vibe, ó.

Como se movimentar

Táxi e barco no caso das ilhas, óbvio. Mas não tem muito mistério. Pergunte à gerência do seu hotel para providenciar os transportes.

Guia de Viagem

Cartagena 2 – As praias e os sicários

Geórgia Santos
8 de abril de 2017

Já falei aqui sobre as maravilhas de Cartagena, uma das cidades mais belas e procuradas da Colômbia. Só tem um probleminha: as praias são decepcionantes. Uma vibe meio litoral gaúcho – com todo o respeito que tenho pelo litoral gaúcho. O mar é escuro, bastante agitado, areia estranha, enfim, não são praias bonitas. Mas há opções belíssimas no entorno: a Playa Blanca Baru e o Arquipelago de Rosario. E mesmo parecendo duas lombrigas pálidas que fogem do sol, Cléber e eu não perdemos a oportunidade e começamos pela Playa Blanca. Mas foi aí que tudo começou a dar errado. Óbvio.

As pessoas podem escolher ir à Playa Blanca de barco ou carro – há uma ponte que liga a ilha ao continente. Nós conversamos com a gerente do hotel em que estávamos e ela disse que se fôssemos por terra teríamos uma experiência exclusiva, digamos assim. Iríamos sozinhos e teríamos atendimento personalizado em vez de viajarmos em um barco atrolhado de gente. E foi o que fizemos. Acontece que o irmão da moça fazia isso eventualmente (ele era mecânico originalmente) e ficou de viajar conosco. Às 7h da manhã estava nos esperando com um carro limpinho, cheiroso, aguinha e umas cumbias no rádio. Muy bueno.

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“Após uma hora e alguma coisa de viagem, avistamos um grupo de oito motoqueiros parados em uma encruzilhada”

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Aos poucos fomos nos afastando de Cartagena e indo em direção a um local bastante remoto, digamos assim. Estrada de chão batido, casebres, raras pessoas no entorno e coisa e tal. Após uma hora e alguma coisa de viagem, avistamos um grupo de oito motoqueiros parados em uma encruzilhada. Todos encostados em suas motos, como se esperassem algo acontecer. Ou alguém aparecer.

Não seguimos adiante, viramos à direita. Foi a deixa para os rapazes simpáticos montarem em suas motos e acelerarem na direção do carro. Conforme avançávamos pela via estreita e coberta pelo mato, eles se aproximavam. Até que nos cercaram. Dois ultrapassaram o carro e guiavam o caminho; quatro avançavam ao nosso lado na mesma velocidade como um pequeno comboio; Outros dois nos seguiam.

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Eram sicários, eu tinha certeza. Seríamos assassinados ali

No meio do nada

Na Colômbia

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Cléber me olhou mais pálido do que o normal, com um semblante ligeiramente apavorado, agarrou minha mão e eu senti que ele havia entendido o que estava acontecendo: estávamos paranoicos de tanto assistir Narcos e El Patrón del Mal. Lógico.

Eram apenas vendedores ambulantes, todos vindos de uma vila de pescadores vizinha, esperando os turistas para achacar. Estávamos entre os primeiros a chegar à praia e, por isso, fomos seguidos. Foi colocar o pé pra fora do carro para começar a oferta de tudo o que se possa imaginar. Até massagem, veja só.

Mas passado o susto, a viagem valeu a pena. Cada minuto de sol, mojito, pescado e mar transparente compensou o medo de morrer. Até voltarmos e o motorista quase nos enfiar embaixo de um carro durante uma ultrapassagem.

 

PLAYA BLANCA

Desculpem pelos pés do Cléber, mas o cenário era esse. E aquele pontinho acima do pé direito sou eu.

Como chegar

O lugar é absoltamente incrível: uma areia branca (rá), mal azulzinho, drinques e espreguiçadeiras. Um ótimo lugar pra passar o dia. Há duas formas de chegar: barco ou carro. Os barcos saem de um porto próximo à Torre do Relógio e tem uma desvantagem: o passeio é em grupo. Ou seja, horário pra sair, pra voltar, almoço no restaurante ao estilo refeitório com bandeja. E uma galera no entorno pra infernizar. Já de carro, que me parece a melhor opção, é uma viagem privada. Os pacotes também incluem uma refeição (pescado, arroz con coco e patacones), a diferença é que o guia entrega o almocinho na espreguiçadeira e a gente finge que é rico. É só falar com a gerência do hotel em que se está hospedado e eles arranjam a viagem, seja de barco ou carro.

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O que fazer

É um dia na praia, sem preocupações e com uma água quentinha. Há, porém, algumas atividades como mergulhos, trilhas e passeios de barco. Nós, como bons preguiçosos, passamos o dia embaixo do guarda-sol, lindamente deitados e ociosos.

Cuidados

A praia é lotadassa de ambulantes. Sério. Nós, brasileiros, estamos relativamente acostumados com isso, mas lá a coisa toma outra proporção. E eles vendem de colares a mariscos. De pulseiras a…. massagens. Sim. Aliás, as minas massagistas já chegam te pegando pra cobrar depois. Eu tava deitadona lá e uma delas chegou me apalpando. Não rolou.

A recomendaçãoo é não comer nada que os ambulantes oferecem e só aceitar massagens das meninas credenciadas. Enquanto descansávamos rolou um barraco entre duas massagistas, foi massa. Rolou até tapa na cara. A nossa deixa pra sair de lá.

ISLA DEL SOL

Como chegar

Nesse caso, o barco é a única alternativa. Também parte da Torre do Relógio, mas é uma viagem bastante longa e é feita em uma espécie de lancha – não conheço barcos. Não vista nada que não possa molhar, porque vai molhar. E guarde qualquer coisa eletrônica, porque vai molhar. Confesso que detestei a viagem, me borrei toda e achei que morreríamos afogados. Mas a gente chegou e voltou e valeu a pena. O pacote inclui um belo almoço tradicional. Esse passeio também pode ser organizado pela gerência do seu hotel.

O que fazer

É uma ilha pequena e faz parte do Arquipelago de Rosario – ou seja, há outras ilhas. Mas também há passeios, trilhas e mergulhos. Nós, novamente, ficamos deitados ao sol sem fazer absolutamente nada. Há mar, piscinas naturais e piscinas artificiais. Cabanas e redes. Ócio pra que te quero…

Cuidados

Nenhum. É uma ilha privada, tudo muito seguro e as únicas pessoas no local são as pessoas com as quais se divide o barco. Mas eu me preocupei muito com os lagartos.

Guia de Viagem

Bruxelas – O tombo

Geórgia Santos
17 de março de 2017

Quando eu era uma jovenzinha e fiz um mochilão sozinha pela Europa, passei de trem pela Bélgica e fiquei encantada com o que vi pela janelinha. Pensava em quando voltaria a ver aquele lugar tão austero e caloroso ao mesmo tempo. Sentia, de fato, algo especial ali. Anos depois, a oportunidade surgiu e, em 2014, conheci Bruxelas.

Eu vivia em Lisboa em função de um mestrado e o instituto no qual eu estudava organizou um seminário de três dias no Parlamento Europeu – phynos. Era a oportunidade perfeita para mim, que mesclava estudo, política e turismo. Ou seja, meu pequeno paraíso particular.

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Bruxelas é cosmopolita, cheia de imigrantes e uma variação enorme de idiomas que transforma o cinza do inferno

em um arco-íris

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Partimos, então, em pleno inverno. O grupo relativamente grande foi instruído a usar roupas adequadas ao Parlamento, obviamente. Ou seja, nada de calça jeans e tênis. Vesti um belo vestido envelope com cara de executiva, meia calça e sapatos de salto alto, combinados com um trench coat e um cachecol. Chiquérrima e empolgadíssima para meu dia de cientista política famosa. Nem as belas cervejas belgas acompanhadas de um delicioso waffle me empolgariam tanto quanto o roteiro intelectual que me esperava. Com uma leve garoa, nos apressávamos para atravessar a praça em frente ao prédio do Parlamento quando … POFT.

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Caí. Assim, do nada, simplesmente desabei. De joelhos. De quatro. No meio da rua.

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A linda, maravilhosa e chiquérrima executiva/politóloga – também conhecida como eu – estava espatifada no meio da rua com a bunda pra cima e embaixo de chuva. Olho pra baixo e noto que, além da dor absurda que eu sentia, minha meia estava rasgada e meu joelho sangrava. Havia uma parte da pele esfolada e, ao lado, um corte bastante feio. Meu dia começou bem.

Parlamento Europeu

Chegamos ao Parlamento Europeu e lá eu fui informada que não havia quem pudesse limpar meu ferimento. Eles sequer me ofereceram um band-aid. Nadica de nada. Lavei com água e sabão no banheiro, mesmo, e uma alma caridosa me deu um curativo que mal tapava o corte gigante que minha perna ostentava. Quanto à meia, não tive tempo de ir ao hotel trocar de roupa, fiquei com a peça rasgada, mesmo. Estava muito frio, não poderia tirar.

Empinei o nariz e saí andando como se nada fosse. Chiquérrima com a meia rasgada. Eu mencionei que o dia terminou com um jantar no Parlamento, no mesmo lugar em que são recebidos os chefes de estado? E eu com a meia rasgada

 

Mas não é um tombinho (?) que vai estragar uma viagem dessas, não é mesmo? Bruxelas merece um crédito e valeu muito a pena. Conheci até a OTAN – mas lá não apenas não podíamos tirar fotografias como era “expressamente discutir política”, como anunciava uma placa. Tenso.

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Lugares para ver

Bruxelas, apesar de ser a capital da União Europeia, é uma cidade relativamente pequena, mas tem muito pra ver. Aliás, acho melhor dizer que tem muito para curtir. A vantagem é que muitas das atrações estão no que chamam de Petite Ceinture, o pequeno centro.

Grand Place

A Grand Place, ou Grote Markt, é Patrimônio Histórico da Humanidade. Os prédios datam dos séculos 14 a 17 e serviam como espaço para os mercados da cidade. Hoje, recebe uma série de atrações, entre elas a feira de natal.

Manneken Pis

Basicamente, é menininho fazendo xixi. A estátua está ali desde 1619 e é bastante interessante. Já houve inúmeras tentativas de furto e, em datas especiais, recebe roupinhas comemorativas. Tem uma versão feminina, que é menos popular, chamada Janneken Pis, que fica escondida na mesma rua do Delirium Café.

Place de la Bourse

A praça comporta o prédio em que funcionava a bolsa de valores. É o local em que os cidadãos costumam se reunir em eventos importantes, como eleições, protestos etc. Bem pertinho, dá pra ir caminhando até a Place Sainte-Catherine, onde há  restaurantes e galerias.

Jardins do Monts de Arts

Há belos jardins e um mirante de tirar o fôlego. Sem contar que as ruelas do entorno são bem charmosinhas e abrigam o Museu Real de Belas-Artes da Bélgica e o Museu de Instrumentos Musicais.

Palácio Real de Bruxelas

É o local em que mora e trabalha o Rei da Bélgica, apenas. A visitação só é aberta durante o verão, entre 22 de julho a 4 de setembro.

Distrito Europeu

É o bairro em que ficam todos os prédios das Comissões Europeias e o Parlamento. Para quem tem interesse em conhecer um pouco mais sobre o funcionamento da União Europeia, há um espaço aberto a visitação, o Parlamentarium. É uma exposição interativa, com um tour pela história da UE que dura cerca de 90 minutos. Fica aberto todos os dias da semana e a entrada é gratuita.

Museus

Para os amantes das artes, há paradas obrigatórias: o Museu René Magritte e o Museu Horta apresentam o que há de melhor dos dois artistas.

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Onde comer/beber

Há três coisas cujo consumo é obrigatório na Bélgica: waffle, chocolate e cerveja. Não tem como fugir. Com relação ao chocolate, é possível encontrar os mais famosos como o Godiva Neuhaus, e outros mais populares como Côte D’or. São todos absolutamente deliciosos.

Chez Leon

A especialidade da casa é, justamente, a culinária típica: moules (mexilhões), peixes, carbonnades flamandes (carne cozida na cerveja escura), stoemp (purê de batatas com uma série de ingredientes), waterzooi (um tipo de sopa de frango). Fica bem pertinho do Delirium.

Delirium

É o mais famoso, nem por isso é ruim ou “muito turístico”. Ao contrário, é parada obrigatória. Para se ter uma ideia, está no Guiness por conta dos mais de 2mil rótulos diferentes de cerveja que a casa oferece. São três andares cheios desse líquido dos deuses.

Brasserie Georges 

É um dos favoritos entre os turistas que visitam Bruxelas. As porções são ótimas e os preços são amigos. E, claro, deliciosos.

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Onde ficar

Lamento, mas essa vou ficar devendo pra vocês. Fiquei hospedada em um ótimo hotel, mas não lembro o nome e sequer fiz a reserva. Lamento. Mas vale a pena ficar em local próximo do centro para poder aproveitar a cidade caminhando.

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Como se movimentar

Como Bruxelas é pequena, o ideal é se movimentar a pé. Mas também é possível andar de metrô, que funciona super bem.

Guia de Viagem

Cartagena – O calor e o mosquito

Geórgia Santos
10 de março de 2017

Lua de mel é daqueles momentos que a gente espera com certa ansiedade, por uma série de motivos bastante óbvios, e planeja minuciosamente. Quando era criança, eu dizia a todos que viajaria para as ilhas gregas após a celebração de meu matrimônio. Não rolou.

Por uma grata surpresa do destino e uma combinação de conveniência e curiosidade, Cléber e eu resolvemos passar nossa lua de mel em Cartagena de Indias, na Colômbia. E que bela decisão. Fomos de Porto Alegre ao Panamá e, rapidinho, chegamos ao nosso destino final.

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No aeroporto, estavam nos esperando a gerente do hotel em que nos hospedamos, um calor infernal de 57 graus e uma horda de mosquitos

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Ao longo do trajeto, já deu pra sentir a vibe da cidade. Um lugar diferente, em que o antigo e o novo conversam em meio a uma explosão de cores, luzes e som. Era janeiro e o verão estava na pele das pessoas, que passeavam pelas ruas da cidade. Livres. Tudo naquela cidade transpirava liberdade, calor e movimento.

Estávamos cansados e resolvemos dormir, mas só depois de bebermos um espumante rosé em temperatura perfeita sobre as flores espalhadas pela cama. Phynos. Acordamos cheios de energia e bem cedo para aproveitar o café da manhã e a piscina do hotel.

O calor e os mosquitos

Era 7h da manhã e a temperatura era de 32 graus. Delícia. Estávamos de férias, mesmo, e uma aguinha nos aguardava – não todo aquele concreto da capital gaúcha. Dei uma mordida em um patacón e o primeiro mosquito atacou. Sem problemas, já estou acostumada. Um gole no suco de abacaxi e o segundo avançou, também nas pernas. Foi colocar a granola na boca e o terceiro veio sem dó nem piedade.

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Foi aí que me deu um estalo. Cedo da manhã, calor, mosquitos aos montes, voando baixo e picando nas pernas e pés. Isso tem nome e é nome de rico: Aedes Aegypti

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Sim, a nossa viagem à Cartagena foi durante o surto de Zyka que acometeu o Brasil e, também, a Colômbia.

A partir daí eu fiquei completamente paranoica, especialmente ao lembrar que não havia levado repelente. Eu empacotei laxante mas esqueci do repelente (se bobear tinha até supositório). Fomos à piscina – que ficava no terraço do hotel – e tudo o que eu fiz foi obcecar com insetos que boiavam bem belos e faceiros. Eu olhava cada mosquito, um por um, procurando por patas compridas e listradas. A cada suspeita, eu pirava. Só descansei depois de umas 13 picadas, uma coceira infernal e a compra de um repelente.

Depois disso, aí sim, eu pude aproveitar Cartagena do jeito que a cidade de Gabo merece: com atenção, dedicação e deleite. E valeu cada minutinho. Cada picadinha. Ah, e Zyka free.

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Lugares para ver

Por mais que Cartagena fique no litoral colombiano, não espere praias bonitas. É um lance meio litoral gaúcho, nada de marzinho verde e coisa e tal. Porém, há ilhas e praias próximas à cidade como o Arquipélago de Rosário e Playa Blanca. Mas pra isso vale outro post. Quanto à Cartagena, é um lugar histórico, colorido e com uma culinária maravilhosa.

Cidade Amuralhada

Cartagena é a cidade amuralhada. As Muralhas de Cartagena tem 11 km de extensão e foram construídas para proteger a região dos piratas e outros invasores no século 16. Dentro das muralhas estão muitos dos principais pontos turísticos da cidade. Ela pode ser visitada por dentro e por cima, ou seja, é possível caminhar por ela ou simplesmente sentar para apreciar o por-do-sol. Dentro das muralhas estão as melhores lojas, restaurantes e passeios. Vale bater perna, mesmo, e explorar cada cantinho.

Torre do relógio

É uma das entradas da cidade murada. O melhor: há um sebo com livros incríveis e diversos exemplares de livros de Gabriel García Márquez. Inclusive primeiras edições. Eu garanti um exemplar da primeira edição de O Amor Nos Tempos do Cólera, que está devidamente protegido por uma caixa de vidro em minha estante.

Portal de los Dulces

Em frente à torre há um caminho de bancas de doces com as coisas mais deliciosas do mundo. Cocadas de todos os tipos e sabores e uma variedade interessante de doces de leite. Como essas cabeças de bonecas bizarras e docinhas.

Palácio da Inquisição

Dentro dos muros também fica o Palácio da Inquisição. A inquisição espanhola instalada em Cartagena em 1610 foi das mais sangrentas e não terminou até 1821. É possível ver alguns dos instrumentos de tortura utilizados, listas de livros proibidos e de pessoas perseguidas e assassinadas como forma de controle da população e fixação do poder da Igreja Católica. É um ambiente tenso e assustador, mas fundamental para entendermos um pouco de nossa história. Funciona de segunda a sábado das 09h às 18h e aos domingos das 10h às 16h. A entrada custa 16mil COPS, cerca de R$20,00.

Castelo San Felipe de Barajas

É a maior obra militar do novo mundo construída pela coroa espanhola. É uma construção imponente que oferece uma vista incrível da cidade. No caminho, é bacana parar para uma foto com os Sapatos Velhos, feito em homenagem ao poeta local Luis Carlos López, autor do poema “A mi ciudad nativa”. Na obra, ele compara a cidade com um par de sapatos velhos, pelo carinho que inspiram. O monument, criado em 1946, é obra de Héctor Lombana Piñeres.

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Onde comer/beber

La Cevicheria

Impossível viajar àquela região e não experimentar uma das iguarias mais apreciadas, o ceviche. Em La Cevicheira, é possível experimentar um dos melhores da cidade. Recomendo pedir o trio, em que é possível provar de três preparações diferentes. O ambiente tem temática marítima e mesas na calçada. Um charme.

Cl. 39 #7 14, Cartagena, Bolívar, Colombia

La Casa de Socorro

Um restaurante com comida típica colombiana, em que se prova um bom peixe, patacones e arroz con coco. O preço é acessível e fica próximo à cidade murada. Parada obrigatório para conhecer o sabor de Cartagena.

Cl. 25 #8B-112, Cartagena, Bolívar, Colombia

La Cocina de Pepina

Serve a cozinha colombiana tradicional e revisitada. Os preços são um pouco mais salgados, mas vale a visita. Os pratos são sofisticados e cheios de sabor.

Cl. 25 #10B-6, Cartagena, Bolívar, Colombia

Bazurto Social Club

O lugar ideal para bons drinques e ouvir uma bela música. Mas o charme especial fica por conta do passado: era o bar favorito de Gabo.

Getsemaní, Av. del Centenario, Cra 9 #30-42.

Teléfono: +57 (5) 664 3124 / +57 317 648 1183

info@bazurtosocialclub.com

Cafe Havana

Uma das casas mais tradicionais da cidade serve bebidas e oferece ótima música cubana ao vivo. Salsa até dizer chega. O ambiente é incrível, como se fosse uma volta ao passado, já que fica em um autêntico clube de jazz dos anos 50. Mas os preços são bastante salgados. Só aguentamos um drinque e umas cervejas. Bem carinho.

ESQUINA, Cra. 10, Cartagena, Getsemaní, Colombia

La Casa del Habano

É uma charuteria. Basicamente um cubículo em que enrolam e vendem charutos cubanos. Mas, meus amigos, serve o melhor mojito de Cartagena e uns sanduíches dos deuses. O Ropa Vieja vale cada mordida. Mas assim, eu andei lendo que há outra (ao menos o endereço é diferente do que eu vi) e que é fake e tal, ou seja, não é parte da franquia a que diz fazer parte e que os charutos são falsificados. Não entrei lá pelos charutos, apesar de ter fumado, então tá de boa. De qualquer maneira, o botequinho em que entramos era perto do Cafe Havana e serviu um almocinho delícia.

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Onde ficar

Hotel Boutique Santa Ana

Além de charmoso, ofrece um café da manhã dos deuses e personalizado. O serviço é impecável e feito sob medida para casais. O hotel conta com piscina no terraço, redes e tem ótima localização. Próximo à Praça da Santíssima Trindade, local de efervescencia cultural. Além disso, é possível ir até a cidade murada a pé. Perfeito.

Calle del Carretero (29) No. 10B – 34 · Getsemaní · Cartagena · Colombia

Teléfono: (+575) 643 6125 · (+575) 643 6451

Móvil: (+57310) 586 1393 · (+57312) 584 8511 Solo Whatsapp

Email: info@casasantaana.net · infousa@casasantaana.net

Guia de Viagem

A História da Selfie

Candice Kipper Klemm
2 de março de 2017

Muitos imaginam que a arte de fotografar a si próprio é algo recente, o que na verdade não é. A retomada desta técnica com tanto entusiasmo aflorou em meados de 2013 em um momento que as máquinas digitais haviam dominado o mercado popular da fotografia.

A palavra “selfie” é originária da incorporação do substantivo self, cujo significado em inglês é EU. Nada mais é também do que um autorretrato que, no dicionário brasileiro significa uma “imagem que se faz de si próprio”. No entanto, falarmos em autorretrato não confere o mesmo valor do que falarmos em uma selfie. Em meados de 2013 essa palavra foi considerada a palavra do ano pela Oxford English Dictionary.

“Um dos primeiros registros que temos, data o ano de 1920 onde o fotógrafo Joseph Byron se autorretrata com um grupo de amigos”

Embora a grande maioria das pessoas tenha conhecido e se familiarizado com o termo recentemente, a prática da selfie é muito mais antiga do que podemos imaginar. Um dos primeiros registros que temos, data o ano de 1920 onde o fotógrafo Joseph Byron se autorretrata com um grupo de amigos estabelecendo o mesmo comportamento que hoje presenciamos, descontração ao registrar a imagem. Joseph nasceu na Inglaterra imigrando mais tarde para os EUA onde ficou conhecido por fotografar shows da Brodway. De todas as suas mais de 23 mil fotos guardadas no museu de Nova York, as selfies, por ele tiradas, fazem parte da sua coleção lhe rendendo o título de primeiro fotógrafo a produzir uma selfie.

Hoje, ao tirarmos uma selfie a fazemos com o mesmo propósito com o qual ela surgiu, descontrair, divertir e continuar guardando além da memória o registro de nossos passos, vidas, de nossas ações, seja sozinhos ou em grupo. Não importa o tipo de fotografia, o que importa realmente é o prazer que ela nos proporciona ao capturarmos a imagem.

Nomes diferentes

A título de curiosidade vale saber que as selfies, dependendo do motivo e apresentação recebem nomes bem diferentes do que normalmente conhecendo existindo mais de 20 nomenclaturas  específicas. A selfie das pernas, por exemplo, também é conhecida pelo nome de Legsie. A selfie onde o destaque é a barba é chamada de beardie, selfies que são tiradas no interior do carro mostrando o dono são as carfie, selfie de casais, couplie, de mães com seu filhos em primeiro plano, mom selfie. Ou seja, não importa o nome dado a essa prática, o importante mesmo é se divertir.

Fonte: DIY Photo

Guia de Viagem

Globalização – Medo, Preconceito e Visão

Ana Martins
1 de março de 2017

Globalização ou não? É esta a escolha dos eleitorados europeus em 2017. Paira ainda no ar a poeira do terramoto político de 2016 no Ocidente. Ao longo deste ano, vamos ver onde a poeira irá assentar. Por cá, aguardam-se ansiosamente os resultados da onda de eleições que começa já em março nos Países Baixos, passando por França em maio e pela Alemanha em setembro – três países onde a extrema-direita tem hipóteses de chegar ao poder. Depois da reviravolta do Brexit e das eleições americanas, teme-se o pior na Europa. Mas pode ser que do caos instalado por aquela nuvem de poeira possa ainda emergir um projeto europeu com novo alento.

“Inflamam-se os sentimentos recalcados pela moral prevalente; promete-se um regresso às origens idealizadas, a um passado que nunca existiu; culpam-se as elites e os imigrantes por um presente terrível que também não existe”

Bem antes do aberrante fenómeno Trump atingir os EUA, a retórica populista e os movimentos nacionalistas que alimenta já vinham ganhando tração na Europa. Inflamam-se os sentimentos recalcados pela moral prevalente; promete-se um regresso às origens idealizadas, a um passado que nunca existiu; culpam-se as elites e os imigrantes por um presente terrível que também não existe. A única coisa que existe, aliás, é o medo de que o populismo se faz valer. Esse, sim, é bem real. E é esta a realidade ignorada, ridicularizada e esquecida pela qual os partidos de centro estão agora a pagar.

“Não admitir a pertinência de cenários alternativos não é argumento, é arrogância”

Bem vistas as coisas, também o centro europeu se serviu da retórica do medo ao fazer a apologia do status quo como direção única e óbvia para os membros da UE. Não admitir a pertinência de cenários alternativos não é argumento, é arrogância. É uma oportunidade perdida para realçar as vantagens da direção que é posta em causa pelos partidos de protesto – neste caso os valores da diversidade e do mercado livre bem como uma visão favorável à globalização – que se tornaram “dogma morto”, usando a expressão de John Stuart Mill.

Pluralismo e liberdade de expressão

As ideias do pluralismo e da liberdade de expressão defendem-se, em parte, precisamente para garantir que o que se aceita como verdade o seja por convicção, não por preconceito. Afinal de contas, quem não consegue defender em debate os valores que lhe são incutidos pela sociedade, não sabe porque os defende de todo. Limitar-se a chamar todas as visões contrárias de ultrapassadas, perigosas e “deploráveis” é já uma desistência do que se pensa defender, e é ignorar o grão de verdade que outras posições podem conter.

O medo é real. O terrorismo existe. A diversidade implica perda de homogeneidade. Uma sociedade aberta convida constante transformação e adaptação. Há razões válidas para as pessoas preferirem o que lhes é familiar ao que lhes é desconhecido. Há também boas razões para vivermos em países com economias abertas, que trazem prosperidade, desenvolvimento e variedade e lidam conscientemente com os desafios que estas implicam.

Talvez Trump tenha sido a melhor coisa que aconteceu à perspetiva da globalização. Talvez a sua administração histérica e caótica enfraqueça o apelo do que os seus homólogos defendem na Europa. Talvez os defensores europeus do nacionalismo, encorajados pela sua vitória, caiam na arrogância que fez os seus rivais perderem território. E talvez estes rivais, agora sensíveis aos medos dos europeus, ofereçam uma visão convincente de uma Europa aberta – entre si e ao mundo.