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Bendita Sois Vós #82 O diploma

Geórgia Santos
16 de dezembro de 2022

Nesta semana, o diploma. O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, foi diplomado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em uma cerimônia que foi especialmente emocionante para o petista, que compartilhou o diploma com todos aqueles que defendem a democracia.

O presidente do TSE, Alexandre de Moraes, muito aplaudido, reafirmou o compromisso do tribunal com a proteção do sistema democrático e garantiu, sem mensagens subliminares ou meias palavras, que não haverá anistia para golpistas. “Essa diplomação atesta a vitória plena e incontestável da Democracia e do Estado de Direito contra os ataques antidemocráticos, contra a desinformação e contra o discurso de ódio proferidos por diversos grupos organizados que, já identificados, garanto serão integralmente responsabilizados”, disse o ministro Moraes.

Durante a tarde, quando ocorreu a diplomação de Lula, havia meia dúzia de gatos pingados uniformizados insistindo no golpe. Nada demais. Mas à noite, viu-se outra coisa nas ruas de Brasília: bolsonaristas radicais tentaram invadir a sede da Polícia Federal (PF) e atearam fogo em ônibus e carros particulares. 

Até o momento em que esse podcast foi gravado, não há informações sobre prisões. Tampouco de alguma ação por parte do poder público federal para conter os atos golpistas. O futuro ministro da Justiça, Flávio Dino, diz que todos serão responsabilizados.

A apresentação é de Geórgia Santos. Participam Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.

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Foto: Ricardo Stuckert
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Bendita Sois Vós #78 A redenção de Lula

Geórgia Santos
2 de novembro de 2022

Nesta semana, a redenção de Lula e o nosso desabafo. Luiz Inácio Lula da Silva é eleito presidente do Brasil.

Foto: Ricardo Stuckert

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Bendita Sois Vós #76 Pintou um clima?

Geórgia Santos
19 de outubro de 2022

Pintou um clima? Temos certeza de que todo mundo viu ou ouviu falar do vídeo de Jair Bolsonaro que circulou pelas redes sociais na última semana.

Na sexta-feira (14), Bolsonaro disse a um podcast:

“Eu estava em Brasília, na comunidade de São Sebastião, se eu não me engano, em um sábado de moto […] parei a moto em uma esquina, tirei o capacete, e olhei umas menininhas… Três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas, num sábado, em uma comunidade, e vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. ‘Posso entrar na sua casa?’ Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, sábado de manhã, se arrumando, todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas de 14, 15 anos, se arrumando no sábado para quê? Ganhar a vida”, disse o presidente.

Na madrugada de domingo pra segunda, Bolsonaro fez uma live nas redes sociais para se defender. Ele disse que as declarações sobre o encontro com as meninas foram deturpadas. Que foi um encontro gravado e inclusive transmitido pela CNN. Só que o tal encontro era com mulheres venezuelanas, sim, em um centro de apoio, mas nada tinha a ver com prostituição.

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Então ou ele mentiu sobre ser o mesmo encontro ou mentiu sobre ser um caso de prostituição infantil. De todo modo, NADA justifica dizer COM NATURALIDADE que pintou um clima com meninas de 14 e 15 anos

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No domingo, o ministro e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, proibiu que o PT associasse a frase dita por Bolsonaro com pedofilia. E aqui a gente tem uma discussão sobre desinformação, sobre contextualização, sobre falsa equivalência e sobre vale-tudo eleitoral.

E ainda falamos de imparcialidade no jornalismo. Uns 50 centavos sobre uma profissão que existe para defender, entre outras coisas, os direitos humanos e a democracia.

A apresentação é de Geórgia Santos. Participam Flávia Cunha e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.

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Bendita Sois Vós #74 Chegou a hora

Geórgia Santos
29 de setembro de 2022

Nesta semana, a nossa jornada. A nossa, aqui no Bendita, que começa lá em 20 de setembro de 2018, e a nossa, do povo brasileiro, ao longo de quatro anos de governo de Jair Bolsonaro. Às vésperas da eleição, está nas nossas mãos, finalmente, mudar. Chegou a hora.

Foram quatro anos de abuso de autoridade, de violência, de destruição, de morte, de abandono, de mentira, de apagamento de memória, de exaltação daquilo que já destruiu o Brasil não tanto tempo atrás. Foram quatro anos de banalização de tragédias. De deboche, de incompetência, de crueldade, de retrocesso, de atraso. Não tem Deus, não tem pátria, não tem família que resista.

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Deus? Que tipo de cristão deseja a morte? Que tipo de cristão faz arminha com a mão? Que tipo de cristão ignora a fome dos seus? Que tipo de cristão deboche da morte?

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Pátria? Que tipo de patriota deixa a Amazônia ser destruída? Que tipo de patriota endossa o extermínio de povos originários? Que tipo de patriota deixa o povo com fome? Que tipo de patriota ri de quem não consegue respirar?

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Família? Que tipo de família ele defende que não tem amor? Que prefere filho morto? Que olha pra filha como fraquejada? Que olha para as mulheres com desprezo?

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Já são quatro anos de um governo que vive de espantalhos. Espalham medos de coisas que sequer existem enquanto ignoram problemas reais. Falam em proteger crianças, mas elas estão com fome. Falam que cuidam das mulheres, mas elas são xingadas em rede nacional pelo presidente.

Como consequência, foram quatro anos de muita resistência e resiliência. Cada um fez o que pôde, às vezes “só” existindo. A gente fez o que pôde, aqui, na nossa pequena trincheira. E agora, estamos a poucos dias de mudar o rumo da história e recomeçar.

A apresentação é de Geórgia Santos. Participam Flávia Cunha e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.

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Bendita Sois Vós #68 Os debates e o jogo do certo ou errado

Geórgia Santos
27 de julho de 2022

Nesta semana, o jogo do certo ou errado. Começamos por estratégias de campanhas que não incluem debates ou confrontos, passamos pelo desabafo de Dilma e chegamos à vida fácil de Bolsonaro. Quem erra e quem acerta na política brasileira?

Depois de não participar dos debates da eleição de 2018, Jair Bolsonaro repete a dose. O agora presidente e candidato a reeleição se dedica às lives, sem filtro e sem contestação. Ou seja, mais do mesmo. Ele não se expõe à questionamentos e, assim, fica menos vulnerável. A novidade de 2022 é que essa também parece ser a estratégia do candidato do PT. Luiz Inácio Lula da Silva não aceitou participar das sabatinas da Globonews, por exemplo, e agora fica a dúvida se comparecerá aos debates ao longo da campanha.

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Ele está certo? Há quem diga que sim, há quem diga que não. E a gente, é claro, vai dar esse pitaco

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Mas o jogo do certo ou errado não para por aí. A semana na política brasileira foi agitada. O ex… presidente … Michel Temer deu uma entrevista em que disse que a ex-presidenta Dilma Rousseff é uma mulher honestíssima. Ela respondeu: ‘Não use minha honestidade para aliviar sua traição’. E então, ela fez bem ou pode ter atrapalhado a campanha de Lula?

E continuando a brincadeira, ainda tem uma articulação para tornar Bolsonaro um senador vitalício e o pedido de arquivamento das conclusões da CPI da Pandemia. Bom, essas duas últimas é bem fácil de responder se é certo ou errado.

A apresentação é de Geórgia Santos. Participam Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.

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Bendita Sois Vós #67 Golpismo tipo exportação?

Geórgia Santos
20 de julho de 2022

Nesta semana, a admissão de que somos reféns de Bolsonaro. Eu relutei ao longo de quatro anos de dar nome a isso, mas é ele quem define nossa agenda. Ou seja, vamos falar do encontro golpista de Jair com embaixadores em Brasília, uma espécie de golpismo tipo exportaão. E de Anitta, é claro. Porque ela também manda na gente.

Na última segunda-feira, o presidente da república, Jair Bolsonaro, organizou uma reunião com embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada. O encontro foi mais uma investida contra o sistema de urnas eletrônicas. O encontro foi mais um anúncio de golpe. Mais uma ameaça ao sistema democrático. Mais um recado sobre envolver as Forças Armadas e os aliados.

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Os embaixadores reagiram constrangidos enquanto ele esperava uma ovação

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Lembrando que Jair Bolsonaro é candidato a reeleição e usou a estrututa do governo para isso. Mas afinal, é grave? Existe chance de golpe? Ele tem essa força? A gente vai discutir justamente isso. Mas sem deixar de falar na treta envolvendo Anitta, o PT, Lula, Bolsonaro e tuiteiros e tuiteiras deste nosso Brasil varonil.

A apresentação é de Geórgia Santos. Participam Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.

Vós Pessoas no Plural · Bendita Sois Vós #67 Golpismo tipo exportação
 
Foto: Clauber Cleber Caetano/PR
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Bendita Sois Vós #66 Não é a polarização

Geórgia Santos
13 de julho de 2022

Nesta semana, a violência da e na política brasileira e o horror a que as mulheres estão submetidas nesse país. E não é culpa da polarização.

No último final de semana, em Foz do Iguaçu, no Paraná, um apoiador de Bolsonaro invadiu uma festa de aniversário e matou o guarda municipal e tesoureiro do PT Marcelo Aloizio de Arruda, de 50 anos a tiros.

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O agente foi assassinado no salão de festas de uma associação, na frente da própria família

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Marcelo estava tendo uma festa temática do PT. Imagens de Lula, estrelas, muito vermelho. Foi quando o policial penal federal Jorge José da Rocha Guaranho entrou no local gritando: “aqui é Bolsonaro!”. A polícia ainda investiga se o assassinato teve viés político.

Pra tirar o dele da reta, o presidente da República teve a cara de pau de telefonar pra família de Marcelo. O guarda que foi assassinado pelo posicionamento político tem familiares bolsonaristas e eles se dispuseram a ouvir Bolsonaro, que até então não tinha prestado condolências e se disse vítima da mídia.

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Autoridades e políticos culpam a radicalização, a polarização, mas a gente vai discutir isso. Ou melhor, questionar isso

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E como se não bastasse, um anestesista foi preso no Rio de Janeiro após estuprar uma mulher DURANTE o parto. O anestesista Giovanni Quintella Bezerra, de 31 anos, foi preso em flagrante.

A apresentação é de Geórgia Santos. Participam Flávia Cunha e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no SpotifyItunes e Castbox

 

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Voos Literários

Casamento de Lula e Janja x elitismo à brasileira

Flávia Cunha
23 de maio de 2022

Desde o anúncio da festa de casamento do ex-presidente Lula com a sociológa Rosângela Silva, a Janja, realizado no dia 18 de maio, o noticiário político ganhou contornos de fofoca. Leo Dias, um colunista conhecido por expor a intimidade de celebridades, foi o responsável por disseminar os detalhes da cerimônia. De entre elas, a de que espumantes que custam 90 reais seriam oferecidos aos convidados, entre outros detalhes.

Esquerdista não pode ter luxo!

Foi o suficiente para que uma onda de ódio e críticas ganhassem força nas redes sociais e em parte da grande mídia brasileira. Afinal, Lula, um ex-presidente da República e candidato ao cargo mais importante do país, deveria ou não ter feito uma festa de casamento “luxuosa”? 

“É imoral neste momento em que tantos passam fome!”

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“Um esquerdista-comunista-petralha não pode ostentar!”

Pois me pergunto se os questionamentos a respeito de uma festa que não foi realizada com dinheiro público são pertinentes do ponto de vista político. Seria incoerência Lula pregar a redução da desigualdade social ao mesmo tempo em que se dá ao direito de ter uma festa de casamento com bebida (boa) liberada?

Elitismo à brasileira

Por trás da falaciosa polêmica, parece estar o elitismo que costuma acompanhar as críticas a representantes da esquerda brasileira. Que não podem usar Iphone nem comprar nada nos Estados Unidos por lá ser o berço do capitalismo, por exemplo. Que a esquerda caviar (ou cirandeira) é distante do povo pelo simples fato de ter mais dinheiro e por aí vai.

Os defensores dessa visão enxergam a esquerda como condenada a um compulsório voto de pobreza em nome de uma suposta coerência ideológica. Mas digamos que Lula resolvesse seguir essa linha de raciocínio…

O casamento versão “esquerdalha”

Receberia os convidados trajando camiseta puída, uma bermuda gasta e chinelos, com um corote em punho. Janja deveria abrir mão do vestido de noiva, esse símbolo da burguesia. Poderia usar um vestido simples, sem adornos. Afinal, esquerdistas não precisam ter vaidades! No convite de casamento, um alerta: traga sua bebida e 1 kg de carne para o churrasco.

No dia seguinte, certamente circulariam “notícias” a respeito da pobreza da celebração, de como era uma falta de respeito com a instituição do casamento, etc. Afinal, os adeptos do elitismo e do falso moralismo parecem se incomodar é com um ex-metalúrgico que ocupou um cargo tão importante e, ao que tudo indica, ocupará novamente. 

Os antipetistas preferem não enxergar que de comunista Lula não tem nada, já que durante seus dois mandatos buscou mais a conciliação de classes do que a revolução do proletariado. O moderado Geraldo Alckmin, atual candidato a vice, que o diga…

Sugestão de leitura para ampliar o debate

Subcidadania brasileira – Jessé Souza – Editora Leya

Trecho destacado pela coluna Voos Literários:

“Essa visão absurda e servil do brasileiro como lixo do mundo, que retira a autoestima e a autoconfiança de todo um povo, só logrou se tornar a ideia hegemônica entre nós porque se traduz em dinheiro e hegemonia política para a ínfima elite do dinheiro que nos domina há séculos. Essa ideia possibilita a união do desprezo das elites internacionais em relação à periferia do capitalismo, com o desprezo das elites nacionais pelo seu próprio povo. É apenas porque a sociologia do vira-lata serve como uma luva para a legitimação dos interesses econômicos e políticos dessas elites, o que explica que ela tenha se tornado a interpretação dominante da sociedade brasileira para si mesma até hoje.”

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Imagem: Ricardo Stuckert / Reprodução redes sociais

 

 

 

 

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BSV Especial Coronavírus #73 Terceira via entre protestos e jantares

Geórgia Santos
15 de setembro de 2021

Nesta semana, a terceira via entre protestos e jantares. Porque além do encontro de homens empoeirados, vamos falar dos protestos contra Jair Bolsonaro no último dia 12.

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Afinal, a política brasileira parece estar girando em torno da terceira via, que agora ganha um reforço mofado com a entrada de Michel Temer. Em vídeo divulgado nesta semana, André Marinho, filho do empresário Paulo Marinho – aquele que apoiou Bolsonaro em 2018 e prestou depoimento sobre o trio “Rachadinha, Flávio e Queiroz” – aparece imitando e ridicularizando o presidente da República em um  jantar na casa do especulador Naji Nahas. A imitação de Marinho provocou gargalhadas nos convidados, entre eles, Michel Temer, o novo fetiche da terceira via; o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, o presidente do Grupo Bandeirantes, Johnny Saad; e o jornalista Roberto Dávila, da Globo News.

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Aliás, girando em torno, não, andando em círculos, porque dizem que todo mundo quer uma terceira via, mas ninguém conhece esse todo mundo. Tanto que, no último domingo, 12, os protestos que pediam uma terceira via foram um fracasso de público.

Mas pera aí, os protestos não eram contra o presidente? Em teoria, sim, mas as faixas e os pixulecos eram bem objetivos: nem Bolsonaro, nem Lula. Logo, eram manifestações pela terceira via. Tanto que vimos Dória, Ciro, Leite e Mandetta desfilando e discursando. Há quem culpe o PT pelo fracasso. Mas bora desapegar da síndrome de Power Ranger, ninguém é criança aqui. Esperar que o PT apoie uma manifestação que infla boneco do Lula vestido de presidiário é um pouco demais.

E só pra gente não ficar um episódio inteiro sem falar das barbaridades de Jair Bolsonaro, ele agora resolveu fazer carinho nas Fake News e dizer que fazem parte da vida.  Disso nós já sabíamos, não é mesmo? Ainda mais depois do fiasco com os caminhoneiros na semana passada, que não acreditaram no áudio de Bolsonaro e comemoraram um falso estado de sítio. Pane no sistema, como diria Pitty. 

Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no SpotifyItunes e Castbox

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Bolsonaro, Lula e o dilema do meme da “mala”

Flávia Cunha
23 de agosto de 2021

Os memes nas redes sociais que comparam as “malas” de Bolsonaro e Lula abrem um debate interessante sobre até onde vai o humor e começa a ofensa. Nós, que somos contrários ao bolsonarismo, não precisamos ter limites na hora de ridicularizar o presidente? Depende, eu diria.

Masculinidade tóxica e disforia

Porque claro que parece engraçado debochar dessa forma de um representante tão caricato da masculinidade frágil e tóxica. Mas a verdade é que fazer piada com o corpo alheio pode ser desrespeitoso com quem não é o alvo inicial do sarcasmo.

No caso em questão, a síndrome do pênis pequeno é um mal que atinge muito homens e não se refere exatamente ao tamanho em si da “mala”. Conforme especialistas, o que acontece é uma disforia em relação ao próprio corpo, que pode levar a sofrimento psíquico e perda da autoestima. 

Ou seja, não é uma piada.

Em busca de informações para esse texto, descobri que menos de 1% dos brasileiros que procuram atendimento médico para aumentar o pênis realmente tem algum problema. A Sociedade Brasileira de Urologia adverte que essa preocupação se deve a um padrão fantasioso dentro da masculinidade.

Além disso, considero no mínimo curioso que esquerdistas estivessem orgulhosos com a “potência” de Lula, reproduzindo um clichê da sociedade patriarcal e falocêntrica na qual vivemos.  

“Mas é só um meme. Relaxa, militante!”

Para quem pensa que o meme da “mala” de Bolsonaro é apenas humor e não deve ser problematizado, alerto que esse argumento é o mesmo de quem faz piadas racistas e homofóbicas. Aliás, sempre é bom lembrar que integrantes da esquerda são homofóbicos ao fazerem insinuações jocosas sobre a homossexualidade de um dos filhos de Bolsonaro.

Capacitismo também não é aceitável

Da mesma forma, quando chamamos Bolsonaro de retardado, estamos ofendendo as pessoas com deficiência. Sendo assim, não adianta xingar o ministro da Educação por ser contrário à educação inclusiva e depois fazer “piada” capacista em relação ao presidente. Se cobramos coerência dos adversários políticos, precisamos ter também.  

Sugestões de leitura

Seja homem, de JJ Bola, escritor congolês radicado em Londres – Um livro importante para quem quer saber mais sobre masculinidade tóxica. A obra aponta como a construção atual da masculinidade é ultrapassada, prejudicando homens e mulheres.

Capacitismo: o mito da capacidadede Victor Di Marco – O capacitismo ou preconceito em relação a pessoas com deficiência precisa ser mais debatido em nossa sociedade. Esse comportamento não passa apenas pela exclusão no acesso à educação mas também tem contornos mais sutis, como o uso de expressões ofensivas. É o que alerta o autor deste livro, a partir de suas vivências como pessoa com deficiência. 

Agora tudo é preconceito?

Para mim, a regra é clara: ofender o corpo, a capacidade mental, o gênero, a orientação sexual ou a raça de alguém não é piada. É preconceito. Então, para que possamos ridicularizar Bolsonaro, basta a crítica a suas inúmeras falhas no cargo que ocupa.  Sendo assim, na minha opinião, fazer piadas a respeito do suposto micropênis do presidente nos rebaixa ao nível dos que usavam adesivos da ex-presidente Dilma na entrada de tanques de gasolina dos carros. Podemos ser melhores do que isso, não acham?

Imagens: Ricardo Stuckert e redes sociais