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OUÇA Bendita Sois Vós #22 Marielle, presente!

Geórgia Santos
16 de março de 2019

Nesta semana, o assunto não poderia ser outro a não ser o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, ocorrido há um ano. Na noite de 14 de março de 2018, a ativista e vereadora pelo PSOL foi morta a tiros no Rio de Janeiro. Marielle nasceu e foi criada na favela da Maré. Tinha 38 anos de idade, atuava há mais de dez anos na defesa dos direitos humanos, das mulheres e jovens negros, de moradores de favelas e pelo direito de pessoas LGBT. Marielle também era combativa na denúncia de execuções extrajudiciais e outras violações cometidas por policiais e milicianos. Nesta semana, um ano depois de sua morte, algumas respostas.

Na terça-feira, dia 12, a polícia civil do Rio de Janeiro prendeu dois suspeitos de participarem do assassinato da vereadora. O policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz. Ambos negam participação no crime. Mas segundo a denúncia, Lessa teria disparado os tiros e Queiroz dirigido o carro que interceptou Marielle. É um avanço, mas, como disse o delegado Giniton Lages, da Delegacia de Homicídios, nada está encerrado.

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Por isso, a nossa pergunta é: quem mandou matar Marielle?

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Mas o Bendita Sois Vós desta semana será diferente, não vamos nos propor a responder à pergunta como é de praxe. Acreditamos, ainda, na seriedade da investigação e que cabe às autoridades essa reposta. Verdade que as prisões trouxeram à baila uma série de informações gravíssimas que mostram uma proximidade suspeita com uma série de pessoas importantes no contexto da política nacional. Mas nesta semana nós não vamos discutir ou debater ou conjecturar. Vamos ouvir. Vamos ouvir a irmã de Marielle, Anielle Franco.

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“Cada um na família perdeu a Marielle de uma forma diferente”

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Em um depoimento bastante objetivo, Anielle fala de como recebeu a notícia da prisão, da falta que sente da irmã, da dificuldade em lidar com mentiras e agressividade e do projeto do Instituto Marielle Franco. Mas principalmente, ela mostra um pouco da essência daquela que, segundo ela, era o ponto de equilíbrio da família.

No Sobre Nós, Raquel Grabauska e Vida Schabbach trazem O Método, de Julio Cesar Monteiro Martins,  um texto realístico sobre o período da Ditadura Militar que faz parte da antologia de contos chamada Histórias de um Novo Tempo.

PodCasts

OUÇA Bendita Sois Vós #15 O que levamos de 2018?

Geórgia Santos
28 de dezembro de 2018

No último episódio do ano, os jornalistas do Bendita Sois Vós perguntam o que aprendemos em 2018 e fazem uma retrospectiva dos principais acontecimentos. Foi um ano intenso em que testemunhamos, perplexos, a execução de Marielle Franco e Anderson Gomes. Em seguida, a prisão do ex-presidente Lula. Greve dos caminhoneiros, Copa do Mundo, incêndio no Museu Nacional, Bolsonaro esfaqueado, eleições, Bolsonaro eleito presidente, e agora João de Deus culpando o todo poderoso pelos crimes dos quais é acusado.

Participam da conversa os jornalistas Geórgia Santos, Igor Natusch e Tércio Saccol.

No Sobre Nós desta semana, Raquel Grabauska e Angelo Primon trazem Luis Fernando Veríssimo.

Geórgia Santos

VIVA EL CANCER

Geórgia Santos
10 de setembro de 2018

Essa foto me choca. Parece impossível que alguém seja capaz de dizer isso, quanto mais escrever com tinta em pedra. Não é algo que se apague com água e sabão, nem do muro nem da memória de quem ouve e de quem diz. Ainda assim, foi dito e escrito no período que sucedeu a morte de Eva Perón, em 1952, então primeira-dama da Argentina.

Fui lembrada desse episódio na semana passada, enquanto visitava o Cemitério da Recoleta, em Buenos Aires,  onde Evita descansa não em paz. À época, os inimigos políticos do General Juan Domingo Perón picharam uma parede com a frase “Viva el cancer”, celebrando a morte da chamada líder espiritual da argentina e heroína dos descamisados.

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Celebrar a morte de alguém que faleceu vítima de uma doença devastadora
Vibrar diante de tragédias pessoais
Alegrar-se com a miséria de adversários
Já viu algo parecido? 

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As pessoas gostam de acreditar que suas tragédias são exclusivas. Só acontece comigo, gostamos de dizer. Mas não. Tragédias são universais, assim como a maldade se encontra em qualquer lugar. As pessoas gostam de acreditar que suas tragédias são fruto de seu tempo. Antigamente não era assim, gostamos de dizer. Mas não. Tragédias são atemporais, assim como a mesquinhez se encontra em qualquer momento.

Nós éramos assim antes, em 1952, e somos assim agora, em 2018

No Brasil, a morte da ex-primeira dama Marisa Letícia, esposa de Lula, também foi celebrada. Também já ouvi muitas pessoas desejarem, com fervor, a morte do ex-presidente. Assim como se encontra em qualquer esquina de Twitter as diversas celebrações pelo assassinato de Marielle Franco, que, segundo alguns, mereceu o seu destino. Em 2015, na ocasião do processo de Impeachment, Jair Bolsonaro disse em alto e bom som que Dilma Rousseff deveria sair de qualquer jeito, nem que fosse “infartada; com câncer”. Em um comício no Acre, o candidato do PSL ainda falou em “fuzilar a petralhada”.  No início do ano, a senadora Ana Amelia Lemos (PP) parabenizou os gaúchos que “deram de relho” nos petistas. Na semana passada, após Bolsonaro levar uma facada durante atividade de campanha, houve quem dissesse que foi pouco, que foi bem feito. E esses foram apenas os exemplos mais recentes aos quais minha memória se apegou.

E assim, com o passar do tempo e em qualquer espaço, em nome da política, vamos deixando nossa humanidade pelo caminho e normalizando a barbárie.