* por Renata Colombo e Évelin Argenta
Noticiar um suicídio é um tabu no jornalismo. Via de regra, quase não se usa esta motivação ao noticiar casos de polícia ou mortes trágicas. A gente chega a dizer que a pessoa foi encontrada morta e pára por aí, sem muitos detalhes. Superficialmente explicando, evitamos falar que alguém se matou justamente para não dar a ideia a quem cogita esta possibilidade. É, inclusive, uma recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Mas o assunto precisa ser abordado. É preciso falar sobre isso. De forma diferente, de forma reflexiva, colaborativa. É também papel da imprensa alertar às pessoas e mostrar que existem organismos que trabalham para ajudar quem sofre com depressão.
E por que não dar notícias boas também? Fazendo um mea culpa, damos pouquíssima atenção para notícias boas. Elas geralmente perdem de goleada quando estão no páreo com as ruins.
O Centro de Valorização da Vida, o CVV, ganhou destaque nas últimas semanas pelo aumento no número de chamados de pessoas que pensavam em se suicidar. Os pedidos de ajuda dobraram. Neste meio tempo veio a série da Netflix que fala justamente do assunto.
A polêmica de “13 Reasons Why”
A produção aborda os problemas pelas quais uma jovem passa em determinado período da adolescência e mostra, em detalhes, como ela acaba com a própria vida. Na trama, ela reúne 13 motivos para o suicídio, descreve cada um em gravações e entrega às pessoas que considera culpadas pelo seu sofrimento.
A série gerou polêmica. Enquanto algumas pessoas consideram-na adequada por abordar um assunto tão abafado, desperta preocupação em outras pelo forte poder sugestivo – psiquiatras, inclusive.
Entre as abordagens positivas, destaco a discussão sobre a depressão na adolescência, a falta de diálogo na escola sobre o assunto e os pequenos, bem pequenos sinais, que o jovem tenta mostrar quando está à beira de cometer algo tão drástico. Sem falar no fato de que evidencia o impacto que determinadas ações, aparentemente inofensivas, tem na vida de um adolescente.
A série peca, no entanto, ao justificar o suicídio da personagem. Algumas das 13 razões que levam a personagem ao suicídio são, de fato, gravíssimas. Outras, porém, por mais dolorosas que sejam, são dramas da juventude pelos quais qualquer pessoa passou ou ainda vai sofrer antes dos seus 20 anos. Algumas coisas são inerentes à idade. Não conheço jovem que não tenha sido “traído” pelo ficante ou pela amiga, que não foi chamado de apelido que odiava. Isso é horrível e as pessoas precisam saber que não é maneira de tratar ninguém, mas também não acredito que possa ser usado como motivo para justificar um suicídio em uma série de televisão. É perigoso demais.
O que mais vale nisso tudo é a discussão e o fato de que estamos falando sobre isso. Talvez, se não fosse a série, muita gente ainda estaria olhando para o telefone e pensando se vale mesmo a pena lutar pela vida. Vale sim.


iais. No caso do poder público, o bom desempenho do cara nos perfis de facebook, instagram, e por aí vai, pode até mesmo derrubar, ou no bom e velho jargão jornalístico, furar a cobertura.