Não é fácil ser mulher no jornalismo, por mais que a gente queira acreditar que não há diferenças de tratamento, de salários e coisa e tal. Especialmente quando se chega ao assunto do assédio a que somos submetidas constantemente.
Qual de nós, repórteres, nunca ouviu uma daquelas piadas infames na redação?
“Que espetáculo, hein fulaninha”
Quem nunca teve que conviver com a preferência da fonte pela jornalista mulher?
“Se é pra ela, eu conto tudo”
Quem nunca levou cantada de entrevistado e teve que sair de uma saia justa?
“Da próxima vez, em vez de um café te levo para tomar um vinho”
Falemos um pouco, verdadeiramente, sobre como é ser mulher em mais um universo machista e masculino. E aí não me refiro só ao ambiente jornalístico, a redação em si, mas a todos por onde a profissão transita, com destaque para o político e policial.
“Tua missão passa a ser não somente acompanhar os flagrantes, entrevistar e gravar, mas também tentar ser invisível”
Não existe coisa mais constrangedora do que repórter chegando em operação policial ou delegacia. Tua missão passa a ser não somente acompanhar os flagrantes, entrevistar e gravar, mas também tentar ser invisível. Sério, a gente se sente das duas uma: um ET ou um bife daqueles bem suculentos. Não é nem um pouco confortável. E olha que cobrir operação, perseguição, pode ser bastante interessante, principalmente para quem está em início de carreira.
Mulheres e o poder
Mas vamos, neste dia da mulher, à situação “mais mais” dentre as constrangedoras: ser repórter em Brasília. Político em Brasília se acha Deus – ou melhor, tem certeza que é. E nesta condição, a maioria daqueles homens, com todo aquele poder, pensa que pode olhar ou falar o que quiser e da maneira que quiser para as repórteres que circulam pelos corredores do poder. Não é raro ministros, senadores e deputados convidarem jornalistas para sair. Não é raro agirem como quem tem a resposta que tu queres e, por isso, acreditam que podem pedir o que quiserem em troca.
Só sei que em tempos de empoderamento feminino vale sempre lembrar que podemos, sim, responder e dizer não.
E aproveitando o gancho, neste dia 8 de março vai rolar um tuitaço de um grupo muito legal de jornalistas que luta contra essas “gracinhas” ridículas da profissão. Procura lá #jornalistascontraoassedio que tu vai encontrar reflexões bem interessantes.
Na minha modesta opinião, o problema não é receber flores nesta data, mas elas não serem entregues diariamente.
