OUÇA Bendita Sois Vós #30 Bolsonaro, Amazônia e a crise internacional
Geórgia Santos
5 de setembro de 2019
Nesta semana, discutimos a negligência do governo federal com relação às queimadas na Amazônia e a crise internacionalque deriva dos constantes equívocos – para não dizer outra coisa – do presidente Jair Bolsonaro. Ele chegou ao cúmulo de endossar uma piada sobre a aparência da primeira-dama francesa. O presidente da França, Emanuel Macron, disse que espera que os brasileiros tenham logo um presidente à altura do cargo.
Para compreender melhor esse panorama, conversamos com o analista de política internacional da Rádio CBN e colunista do Estadão, o jornalista Lourival Sant’Anna.
Participam os jornalistas Geórgia Santos, Igor Natusch, e Tércio Saccol. Na trilha, Aluga-se, de Raul Seixas.
Que uma mulher nunca deixe de acreditar que é maravilhosa
Fernanda Ferrão
28 de junho de 2018
Quando eu vi a foto da minha amiga Daylane Cerqueir comemorando um ano de pole dance, fiquei muito feliz. Fiquei feliz porque ela estava linda. Mas também fiquei triste, porque sabia que em breve eu também completaria um ano desde que comecei a praticar. É estranho dizer que eu ficaria triste com uma façanha dessas, mas eu tinha absoluta certeza que não tinha nada para me orgulhar.
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A cabeça das mulheres é assim, nunca está bom. E não de um jeito perseverante, mas de um jeito destrutivo, triste, desanimador
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Mas tudo bem, continuamos. E que bom que continuamos. De repente, em uma mesma semana, subi três andares na barra na segunda-feira e, na sexta, fiquei no devil sozinha e soube, inclusive, sair da barra – vi a Bianca Castanho fazer isso tantas vezes e achei que não ia rolar. Mas assim, de repente uma ova, né? Trezentos e sessenta e cinco dias olhando esse corpo grande no espelho, de hot pant e top, esticando, puxando, forçando e pensando que vai mais mas o peito grande não deixa. Foram vários dias fugindo da aula, matando a sequência de giros porque back hook é muito ruim e nem é tão bonito, vários dias em que a mão escorregava, alguns dias dando caô porque eu não queria enfrentar. Fiz duas aulas praticamente chorando, segurando mesmo e em uma delas a Eloísa De Souza Honorato me disse:“Tu consegue fazer, tu só não consegue ver”.
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Teve um outro dia em que eu vi uma foto minha e a posição estava diferente das gurias – óbvio, já que cada uma tem um corpo. Eu não consegui não chorar
Porque ser diferente do padrão é difícil mesmo quando a gente está em um ambiente com companhia acolhedora e também fora do padrão
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Mas foram muito mais dias segurando meu peso todo numa barra; muitos dias de respira e puxa; de força e alongamento; de mostrar para as amigas como eu fazia aquilo. Foram todinhos esses dias olhando nos olhinhos da Lolô e tendo certeza que ela acredita em mim, que ela me segura e me coloca pra cima. Quero que todo mundo encontre uma relação de amor e confiança como a que eu encontrei na Eloísa, que vocês encontrem um lugar sagrado como eu achei o Maravilhosas (não tem nada mais legal que um lugar colorido, com música e mina andando pra cima e pra baixo quase pelada). E mais, que vocês se encontrem em alguma atividade (se for física, melhor) que te prove todo dia que sim, tu podes! Gracias, Graziela Meyer, por ter criado essa loucura toda. Tu transformas vidas.
Amigos todos que se espantam e incentivam, continuem me chamando de maravilhosa. Quando eu deixo de acreditar, eu penso “Ah, fulano não ia se dar ao trabalho de mentir isso, né?”. Aí volto e seguimos el baile!
O cinema sempre demonstrou dificuldades para filmar as realidades sociais. São poucos os cineastas ou movimentos que conseguiram compor um retrato capaz de alargar, para a realidade da câmera (que é uma realidade completamente diversa), as tensões que circulam na sociedade. A tarefa não é fácil e não se pode condenar os aventureiros. Pensador sofisticado, Bellocchio se serve bem neste terreno quando decide nele caminhar.
Entre os contemporâneos, é nome raro ao combinar um criterioso pensamento político, isto é, dos modos de ver as tensões sociais, com um delicado olhar histórico, isto é, no seu caso, uma observação sobre as tradições culturais (religiosas, por onde se deve entender católicas) e a sua relação com o nosso tempo. Sua obra recente o faz ora com mais liberdade poética (Vincere, 2009), ora seguindo os ordenamentos mais estritos da cena política italiana de seu tempo (Bom Dia, Noite, 2003, A Bela que Dorme, 2012).
Seus dois filmes mais recentes mantêm a escrita. Belos Sonhos e Sangue do Meu Sangue, ambos em cartaz até poucas semanas, viajam no tempo, para lá e para cá, para que suas histórias criem sentidos variados. O tempo flui exíguo na trama dos filmes, ciente de sua função transformadora. Essas passagens possibilitam uma reconfiguração, no presente, das percepções sobre os acontecimentos do passado. É impressionante como Bellocchio consegue equilibrar estes tempos e, ao fechá-los e fazê-los confluir, destacar o que interessa: as confissões. É o que está guardado, adormecido, subterrâneo, aquilo que se pretende lançar ao mundo novamente.
Cineasta livre de tudo o que não contribui ao seu trabalho, ao tratamento visual que pretende dar a cada imagem, ele nos faz lembrar, com Belos Sonhos, do seu primeiro longa-metragem, De Punhos Cerrados (1965).
Nos dois filmes, há uma sensação de instabilidade permanente que irrompe da tela e nos atinge com violência. O drama de seus personagens, além da relação com a mãe, parte da necessidade de encontrar a razão das coisas: da política, da religião, da cultura, da cidade, da família, de se adequar, de pertencer.
No entanto, nunca temos uma resposta simplificadora. É preciso confrontar as imagens. Bellocchio realiza o cinema politicamente. Um cinema feito politicamente é um cinema despojado de mensagens como recurso primordial. É um cinema que parte da imagem para dar sentido ao mundo. Neste domínio temos aqui em expoente.