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Renomeando minhas “falhas”

Geórgia Santos
6 de setembro de 2018

Li um artigo maravilhoso no Man Repeller que me inspirou a fazer um experimento: renomear aquilo a que chamo de falhas. O título é bastante explicativo: Maybe the Secret to Embracing Your Flaws Is Renaming ThemTalvez o Segredo para Aceitar suas Falhas seja Renomeá-las (tradução livre). Gostei da ideia. E vou começar pelo começo.

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A partir de agora, quando se trata das características do meu corpo, não tenho falhas. Tenho COISINHAS

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Tirar a carga do nome pejorativo é um passo enorme no caminho da aceitação. Há pouco tempo, falei aqui sobre minhas inseguranças e a decisão de aceitar meu corpo e amar meu corpo. E parar de chamar os traços do meu corpo de “falhas” é um passo enorme. Então, vou renomear todas as minhas “coisinhas.”

Adorei algumas das sugestões do texto. Aquele bigodinho chato virou “angel hair“, pêlo ou cabelo de anjo. Gente, pêlo todo mudo tem, algumas mais, outras menos, mas todo mundo tem. Bora largar os pelinhos de mão. Outra ideia boa é o novo nome para as olheiras que agora se chamam “nature´s contouring“, ou contorno de natureza. As rugas são celebrações.

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O meu favorito, no entanto, é o nome novo para os cabelos com frizz:

CABELOS EM FESTA

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Muito mais adequado, não é mesmo. Mas, apesar de gostar dos nomes sugeridos por Amelia Diamond, acho que parte do processo de cura é que cada uma renomeie suas coisinhas. Nossa cara tem que estar nessa atitude. Então arrisquei e agora as coisas estão mais leves por aqui.

Esse foi um começo, um ensaio. Mas há mais inseguranças e muitos outros nomes para inventar. Me ajuda?

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Hoje, eu resolvi me amar

Geórgia Santos
17 de agosto de 2018

No início da semana, decidi fazer uma drenagem linfática. Estava inchada e desconfortável. Tinha exagerado no final de semana  – muita comida e muita bebida – e tinha exagerado nas semanas anteriores. O resultado era visível no meu corpo. Eu precisava murchar. Chegando ao centro estético, a Lisiane Garroni, massoterapeuta, perguntou o que me incomodava. Eu respondi: tudo.

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Eu respondi que tudo no meu corpo me incomodava. Tudo.

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Corrigi imediatamente, mostrando as áreas de maior retenção de líquido, mas não tinha como esconder que eu falei que tudo me incomodava a respeito do meu corpo com uma velocidade impressionante, sem nem pestanejar. Ela terminou a drenagem e o efeito foi impressionante, eu estava menor, mais à vontade, mais confortável. Eu realmente precisava daquilo. Mas saí de lá pensando se eu realmente detestava tudo a respeito do meu corpo. 

Fui pra casa e fiquei pensando nisso. Olhei meu corpo no espelho e analisei cada detalhe. Cada celulite, cada estria, cada pelinho. A papada, os cravos e espinhas, as dobras e os pneuzinhos. Os pés chatos, as mãos gordinhas. O nariz batatinha, o cabelo arrepiado. O braço grande de polenteira, Tudo.

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Ali, parada e analisando todo o meu corpo, lembrei de todas as vezes em que me senti feia ou inadequada e as tantas vezes em que chorei por isso e fiquei chocada

Voltei pra quanto eu tinha 13 anos

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Desde os 13 anos eu sinto a pressão de não ser magra. Desde os 13 anos eu entro e saio de dietas. Desde os 13 anos eu comparo o meu corpo ao de outras meninas e mulheres. Desde os 13 anos eu me torturo psicologicamente para caber em um estereótipo que não é meu e que eu não quero.

Eu tinha 14 anos na foto da esquerda, em que estou com minhas amadas amigas de infância – e de até hoje. Me sentia horrível. Hoje, olho pra essa foto e amo cada detalhe. Na foto da direita, estava em uma viagem que fiz com meus pais. Eu lembro que me sentia enormeeee naquela época.

 

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Há 17 anos eu me sinto feia e inadequada, mas eu me recuso a seguir vivendo dessa forma
Ali, parada e analisando todo o meu corpo, lembrei de todas as vezes em que me senti feia ou inadequada e as tantas vezes em que chorei por isso e decidi que não mais
Hoje, eu resolvi me amar

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Fiz 30 anos em fevereiro. Chega. Não vou mais me martirizar por algo que sequer é um problema. Estou em processo de reeducação alimentar, comecei a fazer yoga, tento controlar meu peso e, eventualmente, faço procedimentos estéticos. Continuo reclamando da papada, do braço, da celulite e outras coisas. Mas agora eu também me acho bonita e não vou me sentir mal por isso.

Qual minha desculpa? Nenhuma. Eu faço o que quero e não faço o que não quero. Eu estou bem e quero continuar assim. Fazendo as coisas que gosto, comendo as coisas que gosto e, ao mesmo tempo, cuidando da saúde do meu corpo e, principalmente, da minha saúde mental. Hoje, eu resolvi me amar. E é muito bom – finalmente – dizer isso.

Nessa reminiscência, fui catar fotos da criança feliz – e gordinha – que eu era. Saca só as curvas da fofura =)

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Que uma mulher nunca deixe de acreditar que é maravilhosa

Fernanda Ferrão
28 de junho de 2018

Quando eu vi a foto da minha amiga Daylane Cerqueir comemorando um ano de pole dance, fiquei muito feliz. Fiquei feliz porque ela estava linda. Mas também fiquei triste, porque sabia que em breve eu também completaria um ano desde que comecei a praticar. É estranho dizer que eu ficaria triste com uma façanha dessas, mas eu tinha absoluta certeza que não tinha nada para me orgulhar.

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A cabeça das mulheres é assim, nunca está bom. E não de um jeito perseverante, mas de um jeito destrutivo, triste, desanimador

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Mas tudo bem, continuamos. E que bom que continuamos. De repente, em uma mesma semana, subi três andares na barra na segunda-feira e, na sexta, fiquei no devil sozinha e soube, inclusive, sair da barra – vi a Bianca Castanho fazer isso tantas vezes e achei que não ia rolar. Mas assim, de repente uma ova, né? Trezentos e sessenta e cinco dias olhando esse corpo grande no espelho, de hot pant e top, esticando, puxando, forçando e pensando que vai mais mas o peito grande não deixa. Foram vários dias fugindo da aula, matando a sequência de giros porque back hook é muito ruim e nem é tão bonito, vários dias em que a mão escorregava, alguns dias dando caô porque eu não queria enfrentar. Fiz duas aulas praticamente chorando, segurando mesmo e em uma delas a Eloísa De Souza Honorato me disse:“Tu consegue fazer, tu só não consegue ver”.

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Teve um outro dia em que eu vi uma foto minha e a posição estava diferente das gurias –  óbvio, já que cada uma tem um corpo. Eu não consegui não chorar

Porque ser diferente do padrão é difícil mesmo quando a gente está em um ambiente com companhia acolhedora e também fora do padrão

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Mas foram muito mais dias segurando meu peso todo numa barra; muitos dias de respira e puxa; de força e alongamento; de mostrar para as amigas como eu fazia aquilo. Foram todinhos esses dias olhando nos olhinhos da Lolô e tendo certeza que ela acredita em mim, que ela me segura e me coloca pra cima. Quero que todo mundo encontre uma relação de amor e confiança como a que eu encontrei na Eloísa, que vocês encontrem um lugar sagrado  como eu achei o Maravilhosas (não tem nada mais legal que um lugar colorido, com música e mina andando pra cima e pra baixo quase pelada).  E mais, que vocês se encontrem em alguma atividade (se for física, melhor) que te prove todo dia que sim, tu podes! Gracias, Graziela Meyer, por ter criado essa loucura toda. Tu transformas vidas.

Amigos todos que se espantam e incentivam, continuem me chamando de maravilhosa. Quando eu deixo de acreditar, eu penso “Ah, fulano não ia se dar ao trabalho de mentir isso, né?”. Aí volto e seguimos el baile!