Voos Literários

3 livros sobre a relação entre comida e emoções

Flávia Cunha
25 de junho de 2019

Ansiedade é um dos sintomas mais comuns dessa nossa pós-modernidade. Muito trabalho, pouco dinheiro, reforma da Previdência, Vaza-jato, cobranças de todo o tipo via whatsapp, os amigos todos felizes nas redes sociais e aquela sensação interna de solidão. Como lidar com tudo isso? 

Tem gente que “desconta” na comida.  Vamos como alguns livros mostram a relação entre gastronomia e emoções, de diferentes formas.

COMIDA EM EXCESSO PARA FICAR INVISÍVEL

Quem diria que Shonda Rhimes, a poderosa roteirista e produtora de sucessos como Grey’s Anatomy, Scandal e How to get away with murder, seria acometida de males como insegurança e ansiedade? Em O Ano Em Que Eu Disse Sim, a criadora da Shondaland faz sinceras reflexões e revelações sobre o seu modo de reagir à pressão da indústria do entretenimento, muito longe da fortaleza que sua imagem pública poderia transparecer.

No trecho abaixo, Shonda Rhimes se dá conta de como usa os alimentos como um instrumento para fugir de seus problemas e como é difícil admitir que está insatisfeita com a obesidade:

A feminista dentro de mim não queria ter a discussão consigo mesma. Eu me ressentia da necessidade de conversar sobre peso. Sentia como se estivesse me julgando em relação à aparência. Parecia fútil. Parecia misógino. Parecia… traição, o fato de eu me importar. Meu corpo é  apenas o recipiente no qual carrego meu cérebro por aí. […] Meucorpo é apenas o recipiente no qual carrego meu cérebro por aí. Eu dizia enquanto comia potes de sorvete. Eu dizia enquanto comia pizzas inteiras. […]  A timidez. A introversão. As camadas de gordura. Sou uma escritora bastante nerd que, aparentemente, da noite para o dia, se tornou… bem, famosa. […] E as pessoas começaram a conhecer meu nome e a reconhecer meu rosto. E com isso vem muita atenção. Eu não queria que me olhassem. Não me sentia bem em ser vista. Só queria escrever e andar com os mesmos amigos com quem sempre andei e ser deixada em paz. Como se alcança isso nesta cidade? Seu corpo se torna um recipiente para o cérebro. Era um sistema de segurança muito bom.”

COZINHAR PARA FUGIR DOS PROBLEMAS

Não se esqueça de Paris, de Deborah Mckinlay, aborda a curiosa amizade à distância entre um escritor famoso em um momento de bloqueio criativo e uma solitária fã que sofre de síndrome do pânico. Em comum, o hábito de elaborar pratos sofisticados no dia a dia, como uma forma de refugiar-se da realidade.

Digitou algumas palavras e parou. Depois ficou sentado sem se mover por um instante, lutando contra o bloqueio. Em seguida, agitou os dedos e decidiu que já era tarde, que estava cansado, e releu a carta de Eve sobre as ameixas. Era sua favorita até o momento, além de ser a mais longa. Parecia estranho como a correspondência com Eve, apesar de tão recente, estava se tornando rapidamente uma parte significativa de sua vida. Ao ler as cartas, ele entrava em contato consigo mesmo, com sua melhor parte. Sentia no papel timbrado o aroma agradável e fresco de ervas. Jack queria consolidar a amizade. Aprofundá-la. Então, à uma hora da manhã, escreveu: ‘Cozinhar é o que eu faço de melhor. Quando escrevo, consigo atravessar a linha de chegada com tranquilidade, mas sem nenhum estilo específico. E, com pessoas, tendo a tropeçar no primeiro obstáculo.”

SENTINDO AS EMOÇÕES DE QUEM COZINHA

Em A Peculiar Tristeza Guardada num Bolo de Limão, de Aimee Bender, acompanhamos a trajetória da protagonista Rosie e sua relação com sua família disfuncional. O enredo começa quando a personagem, ainda criança, ganha de presente de aniversário um bolo feito pela mãe. É o momento em se dá conta de sua peculiar habilidade de perceber os sentimentos de quem preparou os alimentos:

Eu podia sentir claramente o sabor do chocolate, mas nos recantos da boca, e, como se estivesse se expandindo e abrindo, parecia que ela também se enchia com o sabor da pequenez, da sensação de encolhimento, de irritação, um sabor de distanciamento que eu de algum modo sabia que estava ligado à minha mãe. Era um sabor confuso do raciocínio dela, em espiral, quase como se eu pudesse sentir o sabor do ranger de seus dentes que dava origem à enxaqueca que a obrigava a tomar tantas aspirinas quantas fossem necessárias, todo um estoque de aspirinas no criado-mudo, como algo que faltasse no que ela dissera: “Vou só me deitar um pouco…”. Não era um gosto ruim, mas havia uma espécie de ausência da perfeição dos sabores, o que fazia com que o bolo parecesse oco, como se o limão e o chocolate estivessem apenas envolvendo o vazio. As mãos habilidosas de minha mãe fizeram o bolo e sua mente soubera como equilibrar os ingredientes, mas ela não estava lá, quero dizer, no bolo.”

RELAÇÃO SAUDÁVEL COM A COMIDA

Volto ao incrível O Ano Em que Eu Disse Sim para concluir esse texto de forma positiva. Shonda Rhimes relata que resolveu exercitar-se e ter uma alimentação mais equilibrada, o que resultou em uma autoconfiança maior para lidar com a fama:

Não há problema em querer ser vista. Não há problema em gostar de ser vista. Sou vista. […] E gosto do que vejo ali. Aquela garota parece feliz. Só foi preciso o tipo certo de ‘sim’. E  salada. Ah, sim. Betsy [a personal trainer] estava certa. Ajuda mesmo se treinar para gostar de saladas. Odeio quando ela está certa.”

  • PS: Esse texto não é uma apologia ao corpo perfeito muito menos à anorexia ou bulimia. Mas um alerta singelo para a busca de uma relação equilibrada entre saborear os alimentos e aceitação corporal. Se sentir que algo não vai bem nesse quesito, procure um especialista. Pode ser um médico ou um psicólogo. O importante é não sofrer em silêncio.

Foto: Engin Akyurt/Pexels.com

ECOO

#PlasticFreeJuly . 5 maneiras de deixar o plástico longe da comida

Geórgia Santos
27 de julho de 2018

Quando pensamos no consumo de plástico, é óbvio e automático pensarmos em produtos de limpeza, higiene e limpeza. Nas embalagens e composições. Mas você já parou para olhar quão cheia fica a lata do lixo seco depois de um supermercado? A alimentação padrão do brasileiro gera muito lixo e já passou da hora de mudar isso. O desafio do Julho Sem Plástico é um ótimo momento para dar início a essa mudança de hábitos. Então, vamos aproveitar o #plasticfreejuly para começar.

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Cinco maneiras de deixar o plástico longe da comida

  1. Sacola reutilizável – essa a gente não cansa de repetir, nada de usar sacolas plásticas; 
  2. Cozinhe a própria comida – a tele-entrega é uma tentação para os dias de preguiça, eu sei. Não foi somente uma vez em que cedi a essa tentação. Mas vamos pensar na quantidade de embalagens na proporção com a quantidade de comida. Não precisa, né?
  3. Frequente a feira e/ou compre a granel – supermercados são cheios de produtos dos quais a gente não precisa. Mas a gente compra mesmo assim, porque estão na nossa cara. Frenquentar a feira – orgânica, de preferência – é uma ótima maneira de gastar menos, ter uma alimentação mais saudável e, claro, consumir menos plástico. O mesmo vale para mercados e armazéns que vendem a granel;
  4. Saquinhos de pano ou potes de vidro – não adianta comprar na feira ou a granel e utilizar saquinhos plásticos. Se não quiser deixar as compras soltas na sacola – reutilizável =) – basta levar saquinhos de pano, bem parecidos com aqueles que a gente usa para guardar sapato. Outra alternativa é utilizar potes de vidro para comprar grãos e coisas parecidas;
  5. Garrafa reutilizável – fique longe da garrafa PET.  Utilize uma garrafa de vidro ou inox para a água e fique longe dos refrigerantes. Vinho pode =)

Imagens: Pixabay

Guia de Viagem

Como comer bem em outro país

Geórgia Santos
17 de fevereiro de 2018

Quando se viaja a outro país, a tendência é ser excessivamente cuidadoso com a alimentação, além de economizar ao máximo com comida. Pois eu sou o oposto. Essa foto aí em cima, por exemplo, é de um café da manhã maravilhoso no meu último dia em San Francisco, na Califórnia, Estados Unidos. Mais especificamente, um brunch no maravilhoso Kitchen Story, um lugar que me fez vibrar na mesma frequência que a cidade.

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Acredito que grande parte da experiência de conhecer um lugar novo esteja na cultura e na gastronomia

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Não acho que seja possível conhecer uma cidade sem provar sua comida, seu tempero, seu sabor. Da mesma forma, prefiro investir em um bom restaurante e ficar em um hotel modesto, por exemplo, do que comer sanduíches ou frango de supermercado para economizar. Ora, porque eu comeria um panini nas ruas de Roma se posso experimentar um belo spaghetti alla carbonara?

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Explorar os restaurantes de outro país é uma excelente oportunidade para conhecer mais sobre costumes e cultura

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Dito isso, eu tenho plena consciência que comer em outro país pode ser bastante difícil. Não somente pela resistência que algumas pessoas tem a novos sabores, mas também porque as tradições e etiqueta variam de acordo com a região. E isso pode ser bastante desconfortável.

Para evitar constrangimentos, pensei em algumas sugestões para aproveitar ao máximo as mais variadas experiências gastronômicas

  1. Coma na hora certa

Faça as refeições no mesmo horário em que os moradores locais. Dessa forma, tu não corres o risco de não ter onde almoçar caso os restaurantes fechem cedo, por exemplo. Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos o jantar é bastante cedo para os padrões brasileiros, por volta das 18h. Na Inglaterra é ainda pior, no final da tarde. Por isso, se tu saíres para jantar às 21h em um desses dois países, tu vais ficar com fome;

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  1. Use os utensílios corretos – ou nenhum

É preciso ter cuidado com esse detalhe, em alguns países, comer da maneira errada pode ser uma ofensa. Então informe-se. O ideal pode ser garfo e faca, hashis, ou simplesmente comer com as mãos. O lance é dar uma espiada na mesa ao lado e copiar;

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  1. Coma sem pressa

Tu estás de férias, não precisa comer rapidão para pular para o próximo passeio. Um bom restaurante pode ser tão interessante quanto um ponto turístico. Aqui no Brasil, nossas refeições costumam ser demoradas – com exceção dos dias de trabalho e correria. O mesmo acontece na Itália, por exemplo. Então não devore um prato de pasta em 10 minutos. Saboreie;

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  1. Pesquise sobre gorjetas

Já passei muita vergonha com isso. Aqui no Brasil, é costume incluir 10% de serviço na conta final. Por isso, não temos o hábito de dar gorjeta, muito menos de 20%. Mas em muitos países, não deixar gorjeta é extremamente deselegante. Por outro lado, em lugares como o Japão é considerado ofensivo. Por isso, pesquise;

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  1. Fuja de restaurantes turísticos

Geralmente, os melhores restaurantes não estão nas proximidades dos pontos turísticos. Pelo contrário. Ali estão os lugares mais caros e com pior comida disponível. Procure os restaurantes escondidos e despretensiosos para uma ótima relação de custo benefício.


Encontrei a melhor pizza da minha vida quando me perdi em Roma. Espiei por uma porta, só vi alguns italianos. Não sabia onde estava, mas que pizza.

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  1. Coma onde os locais comem

Se você entrar em um restaurante e só enxergar turistas, há algo errado. A boa comida típica está onde os moradores estão. Uma boa pesquisa antes da viagem pode ajudar bastante. Pergunte a amigos que já visitaram o lugar.

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