BSV Especial Coronavírus #33 Até quando João Alberto vai morrer?
Geórgia Santos
25 de novembro de 2020
No dia 19 de novembro de 2020, João Alberto Silveira Freitas foi espancado até a morte por duas pessoas que deveriam garantir a segurança do supermercado Carrefour, em Porto Alegre.
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Beto foi assassinado na porta do mercado
Beto foi assassinado às vésperas do Dia da Consciência Negra
Diante disso, do descaso das autoridades, do descaso da sociedade diante dessa estrutura perversa que continua a promover a opressão do povo negro, nós perguntamos: até quando o João Alberto vai morrer?
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Porque João Alberto morreu também por nossa culpa. Do Mourão, do Bolsonaro, tua e minha. Porque tuíte ou quadrado de luto no instagram não combatem racismo. Precisa mais que isso.
Ao Vós, cabe tratar do tema à exaustão. Por isso hoje nós convidamos o jornalista e professor universitário Maikio Guimarães, que, ao longo do episódio, traz os principais argumentos do discurso racista – e como combatê-lo. E com o jornalista Marcelo Nepomuceno, pra conversarmos sobre a política perversa que perpetua a lógica racista no país.
Participam do programa os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
Temos um religioso no poder. Ao menos esse é seu slogan, colocando Deus acima de tudo. Mas ao vermos as constantes críticas de Carlos, um dos filhos do presidente, ao vice Mourão, além do suposto bloqueio de acesso à conta do twitter de Bolsonaro pelo filho metido a social media, só me resta pensar: essa família segue mesmo a Bíblia?
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Selecionei alguns versículos dedicados à relação pais e filhos. A partir disso, vocês podem tirar suas conclusões se Carluxo e sua “metralhadora giratória” metafórica no Twitter e a falta de limites ao filho demonstrada por Bolso-pai respeitam os princípios bíblicos
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Vós, filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto é agradável ao Senhor. Vós, pais, não irriteis a vossos filhos, para que não percam o ânimo.” (Colossenses 3:20-21)
“Instrua a criança segundo os objetivos que você tem para ela, e mesmo com o passar dos anos não se desviará deles.” (Provérbios 22:6)
“A insensatez está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a livrará dela.” (Provérbios 22:15)
“Quem se nega a castigar seu filho não o ama; quem o ama não hesita em discipliná-lo.” (Provérbios 13:24)
“Ouçam, meus filhos, a instrução de um pai; estejam atentos e obterão discernimento.” (Provérbios 4:1)
Mas se vocês que estão lendo acham, como eu, que religião não deve interferir no Estado, vamos recorrer a um dos fundadores da ciência política moderna: Maquiavel. Em seu clássico O Príncipe, o pensador orienta os governantes a terem uma relação controlada com seus ministros, assessores e afins. No caso do atual governo, isso incluí sua família, que interfere diretamente com declarações polêmicas e também ao acompanhar o presidente em viagens oficiais, apesar de não ocuparem cargos no primeiro escalão.
Um príncipe […] deve aconselhar-se sempre, mas quando ele queira e não quando os outros desejem; antes, deve tolher a todos o desejo de aconselhar-lhe alguma coisa sem que ele venha a pedir. Mas deve ser grande perguntador e, depois, acerca das coisas perguntadas, paciente ouvinte da verdade; antes, notando que alguém por algum respeito não lhe diga a verdade, deve mostrar aborrecimento. Há muitos que entendem que o príncipe que dá de si opinião de prudente, seja assim considerado não pela sua natureza, mas pelos bons conselhos que o rodeiam, porém, sem dúvida alguma, estão enganados, eis que esta é uma regra geral que nunca falha: um príncipe que não seja sábio por si mesmo, não pode ser bem aconselhado, a menos que por acaso confiasse em um só que de todo o governasse e fosse homem de extrema prudência. Este caso poderia bem acontecer, mas duraria pouco, porque aquele que efetivamente governasse, em pouco tempo lhe tomaria o Estado; mas, aconselhando-se com mais de um, um príncipe que não seja sábio, não terá nunca os conselhos uniformes e não saberá por si mesmo harmonizá-los. Cada conselheiro pensará por si e ele não saberá corrigi-los nem inteirar-se do assunto.”
Até onde vai o poder da interferência filial no governo Bolsonaro? Mourão, magoado, já declarou que renunciará caso o presidente não o queira no governo. A quem interessa essa renúncia? Como um governo com tantos conflitos internos seguirá em frente até o fim do mandato? Aguardemos as cenas dos próximos capítulos dessa novela. Já que o nos resta mesmo é recorrer à ironia, à cultura e à filosofia para combater esse governo, que abriu guerra contra as ciências humanas.