Voos Literários

Fábula Feminista: As Rainhas dos Animais

Flávia Cunha
22 de outubro de 2019

Vocês já repararam como as fábulas, em geral, exaltam os machos e esquecem de contar sobre o papel das fêmeas na Natureza? Foi pensando em contar histórias com um olhar diferente do tradicional para seu filho de 5 anos que a jornalista gaúcha Clarissa Barreto criou o livro infantil Fábula Feminista: As Rainhas dos Animais. A obra tem ilustrações de Amarilis Lage e projeto gráfico de Clarissa San Pedro e está com financiamento coletivo aberto até 12 de novembro. Para colaborar, clique aqui.

Clarissa conta que o desejo de criar um livro para crianças surgiu quando estava escrevendo uma reportagem para a revista Superinteressante sobre golfinhos.  Ao pesquisar para uma matéria, descobri que as orcas são uma sociedade matriarcal e fiquei curiosa em conhecer outras.  Outro caso que encontrei são os bonobos, espécie de macaco  super ‘paz e amor’.  Ao contrários dos violentos chimpanzés, entre os bonobos são as fêmeas que mandam. “

Como produtora editorial, tive a oportunidade de conhecer o projeto da jornalista antes mesmo dele ir para a tela do computador. Em uma reunião, a Clarissa me pediu uma avaliação sobre a ideia.  Ao pensar em uma fábula feminista e no impacto positivo que isso geraria no público infantil, não tive dúvidas em apoiar a iniciativa. O enredo tem um enredo literário para chamar a atenção da criançada e suavizar todos os dados científicos coletados pela jornalista, acostumada a escrever para o público adulto. 

Depois desses ajustes iniciais, a agora escritora encontrou uma ilustradora e uma designer para tornar o livro uma realidade. Assim, temos uma equipe feminina para um projeto empoderador. Para quem for apoiar o projeto (apoiem!), não precisa nem questionar: o livro também é destinado para meninos. Até porque não conheço nenhuma mãe com dúvidas em levar sua filha ao cinema para assistir às aventuras de Simba e cia., do famoso Rei Leão.   

Voos Literários

Leituras para 2018 e uma retrospectiva de 2017

Flávia Cunha
26 de dezembro de 2017

2017 foi um ano “daqueles” para todos, eu imagino. Mas em vez de reclamar do que passou, vamos recorrer à literatura como uma forma de reagir ao momento sociopolítico conservador e tenso.

Para se inspirar com uma leitura, comece o novo ano com o novo romance da Carol Bensimon. Ela é uma das minhas escritoras favoritas pelo simples motivo de ser dona de uma escrita que me faz não querer desgrudar do livro até chegar em sua última página. Em O Clube dos Jardineiros da Fumaça , o protagonista é um professor de Porto Alegre que vai morar em uma região da Califórnia que concentra a maior produção de cannabis sativa dos Estados Unidos. Em pauta, a descriminalização da maconha, em um enredo que mistura realidade e ficção.

*Bônus Para quem não conhece o estilo da escritora, recomendo seu livro de estreia Pó de Parede.

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E agora, vamos a uma retrospectiva de textos, que podem ajudar a fazer o ano de 2018 mais literário e engajado

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Fevereiro – Dizem que o ano não começa antes do Carnaval. Nesse texto comentei sobre livros que tem a ver com a festa de Momo. Para quem não curte a folia, a leitura é sempre um  bom refúgio.

Março – O terceiro mês do ano é marcado pelo Dia Internacional da Mulher. Tem quem se contente com uma flor, mas o legal mesmo é apoiar a mobilização da mulherada nessa época do ano.  E respeitar as minas, sempre.

Abril – Primeiro de abril será a Páscoa em 2018, quando os adultos darão de presentes para a criançada muito chocolate. Mas e se ao invés disso, a opção for dar livros de presente? Aqui tem algumas sugestões de obras literatura infantil.

Maio – 2018 será um ano eleitoral, não podemos esquecer. E em maio acaba o prazo para regularizar o título de eleitor. Mas do que adianta ter esse documento em dia, se não houver uma consciência sobre os perrengues que estamos vivendo no Brasil? Esse texto pode ajudar em um reflexão sobre o assunto.

Junho – Esse também será um ano de Copa do Mundo. Se alguém por aí não é de futebol, não precisa se sentir mal. Eu, por exemplo, sou adepta do slogan da antiga MTV: desliga a TV e vai ler um livro.

Julho – Esse é um mês de férias de inverno para a criançada. E desculpem se posso parecer repetitiva, mas vale muito a pena incentivar a leitura dos pequenos.

Agosto – É o mês em que começará a propaganda eleitoral nas ruas e nos meio de comunicação. Como aguentar essa barra? Vamos de Caio Fernando Abreu que sempre dá certo.

Setembro – Eis que o nono mês chega, com aquele ufanismo do dia 7. Para quem anda meio sem vontade de compartilhar desse sentimento, recomendo esse texto sobre política e poder em um clássico literário.

Outubro – E chega o momento das eleições, em um cenário em que muita gente anda por aí defendendo a volta da ditadura. Nesse texto tem uma reflexão sobre porque devemos prezar a democracia, mesmo com seus percalços.

Novembro – Então, chegamos ao resultado das eleições. Desculpem parecer pessimista, mas o independente do resultado, o que deve rolar é o costumeiro “toma lá, dá cá”.

Dezembro – Mas não vamos desanimar. Para o último mês do ano, que tal um pouco de esperança, relembrando essa linda história da menina que salvou livros ao ter sua casa invadida pelas águas?

E em 2018 também terá novidades nessa singela coluna. Aguardem. Nos vemos no ano que vem!!

 

Voos Literários

Leitura para crianças – Investimento Certo Para O Futuro

Flávia Cunha
21 de março de 2017

Vivemos tempos estranhos no cenário sociopolítico brasileiro e mundial, mas sigo firme na convicção que se tem algo que vai mudar o mundo e garantir seres humanos melhores e mais íntegros, é o incentivo à leitura na infância. Eu já falei um pouco sobre o assunto aqui, mas resolvi fazer outro texto com sugestões de obras literárias para os pequenos escritas e publicadas no Brasil. Um pouco para tentar estimular a procura por livros nacionais, em tempos de exaustiva exposição das crianças a produtos derivados de franquias vindas de filmes hollywoodianos (entre eles, livros). Mas também porque as reminiscências me remetem a momentos muito únicos lendo livros brazucas. 

Clássicos infantis (Mas Que Seguem Atuais)

Monteiro Lobato: Tenho ressalvas na questão racial à obra do escritor, considerado o pai da Literatura Infantil Brasileira. (No aniversário de Lobato, 18 de abril, é comemorado o DIa Nacional do Livro Infantil). A figura da Tia Nastácia certamente é marcada pelo preconceito racial, ainda mais gritante do que hoje em dia lá em 1931, quando foi lançado o primeiro livro da turma do Sìtio do Pica-Pau Amarelo. Apesar disso, Reinações de Narizinho ainda merece meu respeito pela forma libertária de apresentar as personagens femininas: Dona Benta, a avó sábia e independente, Narizinho, a menina que sobe em árvores e desvenda o mundo de igual para igual com o primo Pedrinho, e, claro, a atrevida e desbocada Emília. Provavelmente foi depois de conhecer as aventuras dessa boneca de pano atrevida que comecei a questionar a autoridade dos adultos.

Bônus: Menino Maluquinho, do Ziraldo, Marcelo Marmelo Martelo, da Ruth Rocha, e Pluft, o Fantasminha, de Maria Clara Machado.

Autores Para Adultos Que Também Têm Obras Para Crianças

Érico Verissimo: No total, o escritor consagrado por obras como O Tempo e O Vento e Olhai Os Lírios no Campo, escreveu seis livros para o público infantil. Meu preferido é O Urso com Música na Barriga, uma história encantadora de como tratar com as diferenças. Um dos livros virou filme: As Aventuras do Avião Vermelho.

Bônus: O Mistério do Coelho Pensante e A Mulher Que Matou os Peixes, de Clarice Lispector, As Gêmeas de Moscou, de Luis Fernando Verissimo.

Para Crianças Moderninhas (Com Famílias Que Querem Estimular Esse Lado Libertário)

Por Meio da Música: A coleção Rock Para Pequenos, foi idealizada pelos donos da editora independente brasileira Ideal. O casal Felipe Gasnier e Maria Maier convidaram a escritora Laura D. Macoriello para selecionar os “personagens” dos três volumes e o designer Lucas Dutra para ilustrar os três livros. De Chuck Berry a Rita Lee, as obras buscam agradar roqueirinhos e roqueirões.

Pela igualdade de gênero: A escritora e ilustradora Pri Ferrari criou o livro Coisa de Menina, onde questiona os padrões de comportamentos impostos às crianças de ambos os sexos.  “Por que ainda dizem por aí que certas coisas não são apropriadas para as mulheres”, questiona a autora na apresentação da obra.

Voos Literários

Tem uma receita para crianças gostarem de ler?

Flávia Cunha
14 de março de 2017

Eu não sou mãe, mas tenho muitos amigos e amigas com filhos. A missão inclui inúmeras facetas, mas criar nos pequenos o hábito da leitura é uma preocupação constante em vários pais e mães que conheço. Ironicamente, a apreensão é maior entre aqueles que não tem a literatura como paixão.

Mas, se não for pelo exemplo, como fazer uma criança gostar de ler? Ou, antes disso, qual seria o objetivo de ter a leitura como hábito, em uma sociedade cada vez mais preocupada com a aplicação prática de qualquer atividade?

Incluir a leitura na rotina desde cedo ajuda as crianças a terem mais criatividade e capacidade de reflexão, mesmo antes de serem alfabetizadas. Livros ilustrados ajudam nessa “viagem” que os pequenos fazem, inventando novas histórias a partir dos desenhos. Depois, vem a fase de contar (e recontar) as histórias, muito importante para fortalecer laços entre adultos e crianças. Que pode, aliás, ser uma atividade prazerosa em qualquer horário do dia e não apenas na hora de dormir, como manda a tradição.

Vale prevenir que obviamente ninguém vai começar a gostar de ler na marra. Aliás, acho que a leitura fora da escola não deveria nunca ser algo imposto, mas visto como mais uma atividade bacana para fazer nas horas vagas, como ir ao cinema, ao teatro infantil, ao parque de diversões… Tudo é uma questão de como apresentar os livros às crianças.

Mas se a criança não gosta mesmo de ler, seguem algumas sugestões.

Para os pequenos que curtem cinema:

  • Apresente as diversas versões em livro de sucessos do cinema: Harry Potter, Jogos Vorazes, Alice no País das Maravilhas… As opções são muitas, basta dar uma pesquisa básica.

Se a criança é viciada em games:

  • Dê de presente livros baseados em games, como os da série Minecraft. Aqui tem uma matéria completa sobre o assunto.

Para meninas e meninos que gostam de música:

  • Apresente livros infantis como os de Bob Dylan, por exemplo. E já comece a incentivar o bom gosto musical desde cedo.

Para crianças ligadas no tema desconstrução de gêneros e incentivo ao girl power:

  • Meus preferidos são os livros da coleção Antiprincesas, com biografias voltadas para o público infantil de nomes como Frida Kahlo e Clarice Lispector. Aqui tem mais sugestões de obras nessa mesma linha.

Na semana que vem, darei uns palpites a respeito de livros infantojuvenis brasileiros. Tem muita coisa boa!!