Voos Literários

Paulo Gustavo, presente!

Flávia Cunha
10 de maio de 2021

A morte do humorista Paulo Gustavo contribuiu para entristecer ainda mais o já doloroso luto coletivo vivenciado há mais de 1 ano no Brasil. Ao morrer, aos 42 anos, de uma doença para a qual já existe vacina, Paulo Gustavo se tornou um símbolo do absurdo da pandemia brasileira. Ao não resistir a complicações da covid-19, sua perda também gera um alerta aos ainda negacionistas: o de que não é preciso ter comorbidades ou ser idoso para estar em risco. Sua perda pode ser, ainda, um necessário aviso aos mais ricos, que muitas vezes se acham imunes ao coronavírus, por terem garantido o acesso a atendimento hospitalar. 

Após a comoção gerada por sua morte, uma das perguntas que ficam é se o ator ainda estaria vivo caso tivesse sido vacinado. Para este questionamento, não há resposta. Mas, certamente, milhares de vidas teriam sido poupadas se a ação do governo  federal frente à pandemia fosse diferente. O próprio humorista, em suas redes sociais, lamentou diversas vezes a falta de vacinas para a população brasileira.

Luta contra o preconceito

Depois da imensa repercussão nacional e internacional da perda de Paulo Gustavo, precisamos agora reverenciar seus legados. Entre eles, a contribuição à luta contra o preconceito através de seu trabalho. É o caso de Dona Hermínia, seu personagem mais famoso. O fato de ser um ator abertamente homossexual vestindo-se de mulher para dar vida a uma mãe poderia provocar revolta entre os mais conservadores. Contrariando essa expectativa, Dona Hermínia foi um sucesso de público tanto no cinema como nos palcos. 

Humor político

Além disso, o comediante criou personagens com camadas de crítica social, mostrando que o humor de qualidade tem por característica ser político.

É o caso da esquete Senhora dos Absurdos, do programa 220 Volts. Nesse quadro, o ator mostrava o ridículo da elite carioca (e brasileira), de forma caricatural mas extremamente real. 

Atuação beneficente sem alardes

Afora seu legado artístico, Paulo Gustavo também deixa como inspiração a atuação beneficente. Fez a doação de oxigênio para hospitais em Manaus e destinou recursos para diversos projetos filantrópicos. Também ajudou financeiramente muitos colegas de profissão impactados pela pandemia. Uma comprovação, na prática, de que ser da elite econômica não significa ser egoísta ou alienado da realidade.

Paulo Gustavo em livro

Infelizmente, a incursão do ator no mundo dos livros é breve. Publicou, em 2015, Minha mãe é uma peça,  com histórias inéditas de Dona Hermínia. Na obra, a personagem dá suas opiniões ácidas sobre assuntos variados, que vão de religião a sexo. Dentre os projetos não concluídos pelo comediante, estava o de lançar um livro sobre sua trajetória. O amigo Giovanni Bianco, diretor de videoclipes de estrelas como Madonna e Anitta, promete levar a proposta adiante, como uma forma de homenagear o humorista. 

O riso como resistência

Prosseguindo as homenagens a Paulo Gustavo, que dizia que “rir é um ato de resistência”, a coluna Voos Literários vai fazer um resgate do humor político brasileiro. Serão duas postagens relembrando escritores, cartunistas e comediantes que incomodaram os poderosos da política nacional, em diferentes períodos históricos.     

Imagens: TV Globo e Multishow / Reprodução

PodCasts

BSV Especial Coronavírus #56 O sangue nas mãos de Bolsonaro

Geórgia Santos
5 de maio de 2021

No episódio desta semana, Paulo Gustavo, o sangue nas mãos de Jair Bolsonaro e a CPI da Covid. O Brasil amanheceu ainda mais triste na quarta-feira (5), com a notícia da morte de Paulo Gustavo, alguém que sempre nos fez rir. O ator morreu em função de sequelas da Covid-19, aos 42 anos. Um homem jovem, saudável, que deixa o marido e dois filhos. O presidente Jair Bolsonaro escreveu no Twitter que lamenta. Será?

.
Pois a partir dos depoimentos dos ex-ministros da saúde na CPI da Covid, fica difícil acreditar que ele lamente de verdade
.

O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta expôs um projeto de governo baseado no negacionismo e na mentira, em que o governo tentou, inclusive, alterar a bula da cloroquina. Mandetta ainda responsabilizou o ministro da Economia, Paulo Guedes, que já mostrou que não se preocupa com a vida de ninguém além da dele, e citou a participação de um dos filhos do presidente, Carlos Bolsonaro, em reuniões do governo federal. Já o ex-ministro Nelson Teich deixou claro que saiu porque percebeu que não teria autonomia e, também, divergia com relação à cloroquina.

Enquanto a isso, o ex-ministro Eduardo Pazuello foge. Depois de passear sem máscara por um shopping no Amazonas, alegou suspeita de Covid para não depor à CPI nesta semana.

Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no SpotifyItunes e Castbox

 

Vós Pessoas no Plural · BSV Especial Coronavírus #56 O sangue nas mãos de Bolsonaro
Foto: Marcos Corrêa / PR