Diante da minha perplexidade com os acontecimentos sociopolíticos dos últimos dias, recorri ao meu perfil pessoal no Facebook com uma singela pergunta: “Que livro tem a ver com o momento político atual no Brasil?” Apesar de ver muitas críticas com relação à propagação de ódio nas redes sociais, no meu caso, não tenho do que reclamar. A enquete informal trouxe sugestões relevantes de obras de diferentes estilos e épocas, mas que me fizeram refletir sobre o fato de que estamos vivendo um panorama complexo e instigante.
Raízes do Brasil – Sérgio Buarque de Holanda
“Raízes do Brasil é obra fundamental para entender aspectos que envolvem nossa formação cultural, a mistura deveras obscura entre o público e o privado, a ascensão do patrimonialismo e burocracia, mas principalmente, como não podemos dissociar absolutamente nada do que experimentamos agora da nossa herança cultural.”
Tércio Saccol, jornalista, professor universitário e colaborador do Portal Vós
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A Lei de Murphy – Arthur Bloch
“A Lei de Murphy, seja livro, filme ou quadrinhos – não interessa o veículo – a conclusão é uma só: se pode dar errado, certamente dará”
Lucia Porto, jornalista, criadora do Prateleira 1– Livros, literatura & afins: das coisas boas da vida.
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Ensaio sobre a Lucidez – José Saramago
“O Nobel de Literatura fala de uma cidade não identificada em que 70% dos eleitores votam em branco em uma determinada eleição. Sem movimento para que isso acontecesse, o fato é um desabafo. Os políticos e as instituições já não serviam mais ao povo. Já não eram dignos de confiança. Isso faz com que os governantes reajam, inicialmente, com violência e tortura. Depois, a cidade é abandonada à própria sorte.
O enredo todo me parece muito similar com o que o Brasil está passando no sentido de que as pessoas já não acreditam nos políticos ou nas instituições e estão decididas a abandonarem o sistema. Estão abrindo uma oportunidade imensa para que pessoas com pensamentos totalitários tomem o poder e decidam por elas. O que Saramago tenta mostrar é que o autoritarismo pode agir sob os panos da democracia. E que é preciso muita lucidez para enxergar.”
Geórgia Santos, jornalista, cientista política e editora-chefe do Vós
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1964: a Conquista do Estado – Rene Armand Dreifuss
“O autor foge da análise simplista de golpe militar e aprofunda o debate sobre as diferentes forças sociais que atuaram para o golpe e durante este. Foge, portanto, da dicotomia comunistas e nacionalistas – o que parece muito com hoje, mostrando o interesse em manter o status quo e ampliar os privilégios dos grupos historicamente beneficiados. Tudo a ver com nossos dias”
Deivison Campos, jornalista e professor universitário
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O dia em Que Getúlio Matou Allende, Flavio Tavares
“Através de suas memórias como ativista estudantil e repórter, Tavares analisa a politica da Era Vargas e dos anos 60, demonstrando que as instituições e o Estado de Direito no Brasil sempre estiveram subordinados à agenda de quem estava no poder.”
Eduardo da Camino, músico e proprietário do Mondo Cane Bar
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1984 – George Orwell
“Somos monitorados via mídias digitais e manipulação da mídia televisiva.”
Marcelo Martins, auxiliar administrativo
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Casa Grande e Senzala – Gilberto Freyre
“É preciso um exercício de recorrer à História para compreender momentos que vivemos e essa essa obra (junto com Raízes do Brasil, de Sergio Buarque de Holanda) são bem bacanas para compreender a formação dessa tal sociedade brasileira como é hoje. Claro, sem determinismos, mas uma forma de ir mais fundo para compreender essas brigas entre ‘o andar debaixo’ e o ‘andar de cima’.”
João Vitor Santos, jornalista do Instituto Humanitas Unisinos
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O inimigo eleito – os judeus, o poder e o anti-semitismo – Julio José Chiavenato
Sinopse: Resultado de mais de duas décadas de exaustiva pesquisa sobre esse povo massacrado e perseguido através dos séculos. Contudo, o Autor não se atém a exposição dos fatos. Vai mais longe: analisa as causas do anti-semitismo, localiza os estereótipos nas dobras do pensamento de grandes intelectuais do passado e da atualidade e indica os preconceitos racistas latentes na sociedade contemporânea”.
Indicação do publicitário e colaborador do Vós, Gustavo Mittelmann
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Brasil – 500 anos de corrupção – Sérgio Habib
Trecho que se refere ao período histórico de 1889, com a proclamação da República no Brasil, quando a nomeação de pessoas para cargos públicos era utilizada como troca pelo apoio recebido pelos eleitos:
“O funcionalismo público passava, destarte, a ser um ambiente propício onde opera-se a corrupção, contribuindo, para isso, uma intensa e pachorrenta burocracia, ao que parece, dificultada exatamente para ensejar o ‘favor’, a ‘propina’, ou o ‘jeitinho’, do tipo ‘criar dificuldades, para vender facilidades’”
Indicação do empresário Jorge Bered
Imagem: “A Pátria” (1919), de Pedro Bruno, do acervo do Museu da República
