Voos Literários

9 livros para tentar entender o Brasil atual

Flávia Cunha
10 de abril de 2018

Diante da minha perplexidade com os acontecimentos sociopolíticos dos últimos dias, recorri ao meu perfil pessoal no Facebook com uma singela pergunta: “Que livro tem a ver com o momento político atual no Brasil?” Apesar de ver muitas críticas com relação à propagação de ódio nas redes sociais, no meu caso, não tenho do que reclamar. A enquete informal trouxe sugestões relevantes de obras de diferentes estilos e épocas, mas que me fizeram refletir sobre o fato de que estamos vivendo um panorama complexo e instigante.

Raízes do Brasil – Sérgio Buarque de Holanda

“Raízes do Brasil é obra fundamental para entender aspectos que envolvem nossa formação cultural, a mistura deveras obscura entre o público e o privado, a ascensão do patrimonialismo e burocracia, mas principalmente, como não podemos dissociar absolutamente nada do que experimentamos agora da nossa herança cultural.”

Tércio Saccol, jornalista, professor universitário e colaborador do Portal Vós

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A Lei de Murphy – Arthur Bloch

“A Lei de Murphy, seja livro, filme ou quadrinhos – não interessa o veículo – a conclusão é uma só: se pode dar errado, certamente dará”

Lucia Porto, jornalista, criadora do Prateleira 1–  Livros, literatura & afins: das coisas boas da vida.

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Ensaio sobre a Lucidez – José Saramago

“O Nobel de Literatura fala de uma cidade não identificada em que 70% dos eleitores votam em branco em uma determinada eleição. Sem movimento para que isso acontecesse, o fato é um desabafo. Os políticos e as instituições já não serviam mais ao povo. Já não eram dignos de confiança. Isso faz com que os governantes reajam, inicialmente, com violência e tortura. Depois, a cidade é abandonada à própria sorte.

O enredo todo me parece muito similar com o que o Brasil está passando no sentido de que as pessoas já não acreditam nos políticos ou nas instituições e estão decididas a abandonarem o sistema. Estão abrindo uma oportunidade imensa para que pessoas com pensamentos totalitários tomem o poder e decidam por elas. O que Saramago tenta mostrar é que o autoritarismo pode agir sob os panos da democracia. E que é preciso muita lucidez para enxergar.”

Geórgia Santos, jornalista, cientista política e editora-chefe do Vós

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1964: a Conquista do EstadoRene Armand Dreifuss

“O autor foge da análise simplista de golpe militar e aprofunda o debate sobre as diferentes forças sociais que atuaram para o golpe e durante este. Foge, portanto, da dicotomia comunistas e nacionalistas – o que parece muito com hoje, mostrando o interesse em manter o status quo e ampliar os privilégios dos grupos historicamente beneficiados. Tudo a ver com nossos dias”

Deivison Campos, jornalista e professor universitário

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O dia em Que Getúlio Matou Allende, Flavio Tavares

“Através de suas memórias como ativista estudantil e repórter, Tavares analisa a politica da Era Vargas e dos anos 60, demonstrando que as instituições e o Estado de Direito no Brasil sempre estiveram subordinados à agenda de quem estava no poder.”

Eduardo da Camino, músico e proprietário do Mondo Cane Bar

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1984 – George Orwell

“Somos monitorados via mídias digitais e manipulação da mídia televisiva.”

Marcelo Martins, auxiliar administrativo

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Casa Grande e Senzala – Gilberto Freyre

“É preciso um exercício de recorrer à História para compreender momentos que vivemos e essa essa obra (junto com Raízes do Brasil, de Sergio Buarque de Holanda) são bem bacanas para compreender a formação dessa tal sociedade brasileira como é hoje. Claro, sem determinismos, mas uma forma de ir mais fundo para compreender essas brigas entre ‘o andar debaixo’ e o ‘andar de cima’.”

João Vitor Santos,  jornalista do Instituto Humanitas Unisinos

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O inimigo eleito – os judeus, o poder e o anti-semitismo – Julio José Chiavenato

Sinopse:  Resultado de mais de duas décadas de exaustiva pesquisa sobre esse povo massacrado e perseguido através dos séculos. Contudo, o Autor não se atém a exposição dos fatos. Vai mais longe: analisa as causas do anti-semitismo, localiza os estereótipos nas dobras do pensamento de grandes intelectuais do passado e da atualidade e indica os preconceitos racistas latentes na sociedade contemporânea”.

Indicação do publicitário e colaborador do Vós, Gustavo Mittelmann

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Brasil – 500 anos de corrupção – Sérgio Habib

Trecho que se refere ao período histórico de 1889, com a proclamação da República no Brasil, quando a nomeação de pessoas para cargos públicos era utilizada como troca pelo apoio recebido pelos eleitos:

“O funcionalismo público passava, destarte, a ser um ambiente propício onde opera-se a corrupção, contribuindo, para isso, uma intensa e pachorrenta burocracia, ao que parece, dificultada exatamente para ensejar o ‘favor’, a ‘propina’, ou o ‘jeitinho’, do tipo ‘criar dificuldades, para vender facilidades’”

Indicação do empresário Jorge Bered

Imagem: “A Pátria” (1919), de Pedro Bruno, do acervo do Museu da República