Reporteando

A notícia do outro lado do balcão

Renata Colombo
11 de outubro de 2017

Mesmo em lados opostos do balcão, sempre mantive uma ótima relação com os assessores de imprensa, independente de governo ou empresa. Também já “briguei” muito com assessor que não concordou com minha abordagem ou esperava pauta “chapa branca”, aquela que não problematiza. Mas tudo sempre baseado em muito respeito. Inclusive tenho amigos em assessorias que fiz depois de muito bater boca por causa de pauta.

Quando digo que “briguei”, por favor, entendam como “discuti com classe”. Inclusive vale um adendo: só perdi a calma uma vez, e foi no ar, ao vivo, com os chefes me olhando, porque o dono de uma empresa que eu provei que estava cometendo um crime tentou desqualificar meu trabalho.

.

O fato é que nem sempre a sugestão que uma empresa faz à redação é pauta e nem sempre o assessor entende isso. A diferença está no que a gente faz com este entendimento divergente sobre o que é ou não notícia

.

Semana passada recebi dados de uma pesquisa sobre a saúde dos caminhoneiros. Pedi pra enviarem mais informações sobre o assunto e usei em uma reportagem com os devidos créditos. Só que a pauta virou pra outro lado, foi ampliada, ganhou relevância nacional e acabei usando os dados da pesquisa para mostrar umas das consequências das dificuldades que os motoristas enfrentam em cumprir a lei por falta de estrutura nas estradas.

Eu não fiz a matéria conforme a empresa ofereceu. Eu não responsabilizei a empresa por nenhum dos problemas relatados. Eu não usei a empresa como case de bom exemplo porque ela é uma entre tantas outras Brasil afora. Por isso busquei entidades representativas e o governo federal.

.

Mas o assessor de imprensa não gostou que não acatei a sugestão por completo. Veio me questionar, me esculhambou e disse que minha matéria é mentirosa

.

Pra piorar, mandou uma sequência interminável de Whatsapps tentando interferir na condução da matéria e me convencer da abordagem que ele considerava correta. Depois de dizer que editor, chefe de reportagem e coordenador leram e ouviram a matéria, me limitei a um “ok”, ou então estaria até agora sendo esculhambada.

Desculpa, colega, mas o conceito de notícia é relativo e respeito sempre é bom, obrigada.

Raquel Grabauska

Dar o exemplo/ser o exemplo

Raquel Grabauska
25 de agosto de 2017

Dia desses aconteceu uma situação tensa. Uma mãe estava indo buscar seus dois filhos.  Para não atrapalhar o trânsito, ela resolveu colocar o carro parcialmente na calçada. Não atrapalhou o trânsito, mas atrapalhou demasiadamente uma vizinha  que passava em frente ao local nesse momento.

A vizinha sinalizou que aquilo estava errado. A mãe disse: é rapidinho, só vou pegar as crianças.Nisso, aquela pacata vizinha virou um leão e fez um super discurso: ela também tem uma filha. E quando não tem vaga, estaciona na outra quadra.

As duas discutiram acirradamente. Foram embora nervosas. As pessoas que presenciaram a cena, tomaram partido da mãe.

Ao saber da história, eu pensei: mas a vizinha tá certa. Todas as justificativas da mãe faziam sentido. Mas a vizinha estava certa.

.

E se passasse um cadeirante? E se passasse alguém com um carrinho de bebê? E se todos quisessem fazer a mesma coisa? E se passasse uma vizinha que gosta de fazer as coisas bem de acordo com as regras? Eram tantos “e se”…

.

Encontrei a mãe no outro dia. Perguntei o que tinha ocorrido, pois só sabia da história contada por outros. A primeira coisa que ela me disse foi: eu fiz errado. Ela me emocionou tanto com essa fala! Porque é assim mesmo. Todos temos os nossos motivos particulares. Mas fazemos parte de um todo. E se cada um conseguir respeitar um pouquinho o todo, ai, que bom seria.

Estava eu nesses pensamentos, no quanto admirei a reflexão dessa mãe, quando passou a vizinha e fomos conversar. Ela me disse: fiquei mal, não precisava ter falado com ela daquele jeito.

.

Bom, daí quase fui aos prantos, mesmo. Duas pessoas passaram por uma situação de conflito, se exaltaram, se desgastaram… E pensaram a respeito. E refletiram. E conseguiram enxergar uma à outra.

.

O argumento da mãe tinha sido: só vou pegar as crianças.

A vizinha respondeu: que belo exemplo tu tá dando pros teus filhos!

Isso foi no auge da briga. Passado tudo isso, digo: que belo exemplo que essas duas deram para os seus filhos. E para mim. E para todos nós.