Essa coluna é pra tentar ser atual falando de dez anos atrás. Uma provocação que surgiu a partir da visita que recebemos de uma turma de jornalismo da Unisinos. Perdi a conta do número de vezes que fomos convidados a falar da produtora, mostrando nossos trabalhos e processos de produção. Coisas que respondia sem piscar; que câmera, quanto de luz, formato de arquivo e assim por diante.
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Dessa vez não. Em uma tarde, refletimos, fomos questionados e nos questionamos coisas que, se tivessem sido abordadas há uma década, certamente teriam nos levado por rumos diferentes
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Pela primeira vez, falamos como empreendedores e não produtores audiovisuais. Mas é lógico que uma coisa está atrelada à outra. Sim, falando agora, é o que parece, mas há 10 anos queríamos apenas fazer o que gostávamos: vídeos. “Joguei tudo para o alto e fui fazer o que gostava”. Certo? Não.
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Ah, então é errado fazer o que se gosta? Preciso ser eternamente infeliz em um emprego que me pague as contas? Amigo, nem uma coisa nem outra
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Primeiro, porque hoje em dia só vai existir algum grau de estabilidade em determinados cargos públicos. De resto, pode escrever: uma hora você vai pra rua. Então esqueça a infelicidade eterna. Em segundo lugar, não é errado fazer o que se gosta; errado é encarar isso de forma aventureira, sem planejamento ou visão de negócios. Fizemos isso há 10 anos atrás? Fizemos. E te digo, se a produtora resistiu por dez anos e cresceu até chegarmos onde estamos hoje é porque, ao longo da caminhada fomos assumindo posturas e atitudes que, parando para pensar agora, são chamadas de Empreendedorismo.
Nós gostamos de fazer vídeos, mas precisamos fazer planilhas, devemos traçar planos estratégicos e não podemos nos dar ao luxo de não controlar de perto a relação com clientes e fornecedores.
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Mas, com tanta coisa chata, não deixa de ser fazer o que se gosta? Não, não deixa. Porque, se além de todas essas obrigações administrativas, ao invés de fazer vídeo, eu tivesse optado por abrir uma pizzaria, com certeza eu não teria aguentado passar por tudo que passamos pra chegar até aqui
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Entenda de uma vez por todas: as startups bilionárias não são chamadas de unicórnios porque ter uma é como viver um conto de fadas, mas sim porque são mitos. Há quem diga que viu, mas não deve levar mais uma mão cheia de anos para vermos que eram apenas cavalos paraguaios travestidos. Não acredite em mágica. Empreender não é um manifesto no Youtube. Trabalho e consistência devem ter a mesma dimensão ou mais que a paixão. Modelo Google? Outra lição aprendida na marra: ter uma mesa de sinuca na empresa em meio a uma crise mundial, como foi a de 2009, realmente não ajuda a encontrar saídas.
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O empreendedorismo está visceralmente ligado à Indústria Criativa. Mas o “criativo” diz respeito aos processos e produtos. Ao passo em que a inovação precisa estar presente, a consistência de planejamento e administração são ainda mais indispensáveis
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Então esqueça o unicórnio. Olhe para a sua empresa como um patinho feio. Esteja preparado para a realidade mais dura. Conte com a sorte, mas não dependa só dela. Seja competente, mas tenha planejamento. Descobri tarde, mas a tempo, que era um empreendedor. Agora, as coisas andam cada vez mais no rumo certo. Mas fica aquela dúvida: há 10 anos atrás, se tivéssemos enxergado isso de largada, seríamos um embrião pré-histórico de uma startup, quando fazíamos conteúdo online antes da grande maioria de Produtoras? Ou não teríamos encarado a aventura? Laura Andrade, da Olha Lá, tem um conselho interessante a respeito: só empreenda se você não consegue fazer outra coisa. A Laura é empreendedora.
