“Desligue a TV e vá ler um livro”
A frase do título era de uma campanha antiga da MTV, que causou polêmica há alguns anos. Hoje em dia, com a Internet, redes sociais e afins, a televisão está longe de ser a única responsável pela falta do hábito de leitura entre os brasileiros. De qualquer forma, me chamou a atenção uma tentativa de se falar de literatura em um programa televisivo bem popular.
A última edição do Domingão do Faustão coincidiu com o Dia Mundial do Livro e o apresentador resolveu aproveitar a data para sugerir clássicos da literatura brasileira. Eu estava zapeando bem no instante em que isso aconteceu e fiquei um tempo refletindo sobre essa atitude. Aqui vocês podem ver praticamente a íntegra do que ele falou, citando dados alarmantes já divulgados pela imprensa há algum tempo.
Mais de 40% da população brasileira não tem a leitura como hábito. Em média, os entrevistados por uma pesquisa do Instituto Pró-Livro afirmam lerem menos de cinco livros por ano.
Depois disso, sem nem respirar, Fausto Silva saiu metralhando 20 títulos de obras consideradas clássicas da literatura brasileira, de diferentes épocas. E acabou. Passou disso para as vídeo cassetadas, sem nem um fiapo de explicação ou de espontaneidade de porque ler é algo interessante ou enriquecedor.
Tudo muito rápido, muito raso, muito televisivo. Claro, a lista está na Internet para quem é curioso e foi pesquisar, como eu. Porém, mesmo sem o fator tempo incluído, o “serviço” prestado pelo programa da Globo não passa disso. Uma lista com o nome dos livros, os autores e o ano de sua publicação. Também não esclarece quem elaborou essa seleção ou a relevância dos títulos.
Alguns, são extremamente difíceis para o leitor comum contemporâneo, como Os Sertões, de Euclides da Cunha, e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa.
De qualquer forma, é digno de nota que os clássicos literários virem tema de abordagem de um programa de auditório do tipo que ainda tem dançarinas com trajes de gosto duvidoso como assistentes de palco.
E sem “jabá”, já que não houve nenhuma editora citada durante a fala do apresentador. Abaixo,a relação dos livros sugeridos.
A lista apresentada por Fausto Silva:
- “Gabriela, Cravo e Canela” (1958), Jorge Amado
- “Morte e Vida Severina” (1955), João Cabral de Melo Neto
- “O Tempo e o Vento” (1949), Érico Veríssimo
- “Macunaíma” (1928), Mário de Andrade
- “O Quinze” (1930), Rachel de Queiroz
- “O Guarani” (1857), José de Alencar
- “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881), Machado de Assis
- “Espumas Flutuantes” (1870), Castro Alves
- “Crônicas Escolhidas” (1977), Rubem Braga
- “Primeiros Cantos” (1846), Gonçalves Dias
- “Vestido de Noiva” (1943), Nelson Rodrigues
- “A Hora da Estrela” (1977), Clarice Lispector
- “O Menino do Engenho” (1932), José Lins do Rego
- “Claro Enigma” (1951), Carlos Drummond de Andrade
- “O Auto da Compadecida” (1956), Ariano Suassuna
- “Os Sertões” (1902), Euclides da Cunha
- “Grande Sertão: Veredas” (1956), Guimarães Rosa
- “Pica Pau Amarelo” (1920), Monteiro Lobato
- “O Ateneu” (1888), Raul Pompéia
- “Vidas Secas” (1938), Graciliano Ramos
