Eu amo Bloody Mary. O drinque desprezado por brasileiros e brasileiras é dos meus favoritos. É picante. É intenso. É forte. É vermelho. Mas Sheila, a personagem de Drew Barrymore em Santa Clarita Diet, a nova série do Netflix, leva a devoção ao Bloody Mary a um outro patamar: com real blood – sangue de verdade.
A série retrata uma mulher de meia idade absolutamente comum e sem graça. Sheila é uma entediante corretora de imóveis que acha que rapidinhas são para cães de rua. Ela não fala palavrões, veste-se impecavelmente em tons neutros e atura ofensas do chefe com um sorriso no rosto. Ela vive em Santa Clarita, na California, com o marido Joel (Timothy Olyphant) e a filha Abby (Liv Hewson). São um casal bastante comum, com uma filha tão comum quanto sua relação.
“Ela vomita muito. Muito. Tipo muito, como frisa um colega de trabalho. Ela vomita tanto que vomita o coração”
A vida é bastante pacata. Até que Sheila encarna o exorcista e vomita uma gosma verde no carpete de uma casa que está mostrando a possíveis compradores. Ela vomita muito. Muito. Tipo muito, como frisa um colega de trabalho. Ela vomita tanto que vomita o coação. E é aí que uma série normalzinha sobre uma família de comercial de margarina se transforma em uma comédia de humor negro sobre zumbis e a hipocrisia permanente na qual estamos imersos.
Sheila transforma-se em um zumbi e só consegue comer carne crua. Carne de gado, de frango, essas coisas que toda a família tem em casa – exceto pelo tempo de forno, que difere um pouco das donas de casa comuns. Até que em um rompante de quem é guiado somente pelo instinto experimenta carne humana e não consegue voltar atrás.
As cenas podem ser bastante gráficas. A imagem da amiguinha do E.T. debruçada sobre um homem estripado pode ser muito chocante. Especialmente se notarmos que ela está com os intestinos do dito cujo na boca. Mas passado o choque, o que se tem é uma produção divertidíssima e inteligente. Sheila e o marido percebem que precisam matar outras pessoas para que ela possa sobreviver. Ainda assim, tentam manter a normalidade. E assim o público é brindado com uma mãe de família fazendo sua caminhada matinal enquanto bebe um smoothie de orelhas e nariz. Isso, sim, é um Bloody Mary.
“A Netflix usa da mais fina e ao mesmo tempo escrachada ironia para criticar a família americana “perfeita”
Ao mesmo tempo em que traz o elemento dos zumbis, um clássico de filmes de terror e de séries consagradas como The Walking Dead, a Netflix usa da mais fina e ao mesmo tempo escrachada ironia para criticar a família americana “perfeita”. Santa Clarita Diet é, também, uma crítica à sociedade das aparências: queremos o sangue do vizinho enquanto trocamos sorrisos e receitas de Brownie.
Em resumo, é a única dieta que segui até o fim – devorei os dez capítulos em um só dia. E não se preocupe, os pés e fígados que Drew Barrymore devora com tanto afinco são feitos de gominha de açúcar. Nhami.
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