Mesmo quem não gosta especialmente de literatura, deve ter ficado sabendo sobre a polêmica envolvendo a cerimônia de entrega do Prêmio Camões a Raduan Nassar. Muito já foi noticiado sobre o discurso do escritor, que transformou-se em uma manifestação política contra o governo de Michel Temer e a reação do ministro da Cultura, Roberto Freire, que criticou Nassar e acabou batendo boca com a plateia.
Não é de espantar que Raduan Nassar tenha se posicionado politicamente durante a cerimônia de entrega do prêmio literário, já que na época do impeachment ele manifestou-se publicamente e por diversas vezes contra a saída de Dilma Rousseff da presidência da República. O que é lamentável no episódio é que a literatura, que deveria ser a protagonista do evento, tornou-se mera coadjuvante.
“Os internautas contrários à atitude do escritor dispararam críticas a seus livros, sem nem saberem direito quem era aquele senhor”
As redes sociais, como costuma acontecer nesse tipo de episódio, transformou-se em uma grande arena de batalha entre coxinhas e mortadelas, petralhas e golpistas, ou como vocês aí que me lêem preferirem chamar os antagonistas do atual panorama político brasileiro. Os internautas contrários à atitude do escritor dispararam críticas a seus livros, sem nem saberem direito quem era aquele senhor de 82 anos agraciado com um dos maiores prêmios literários concedidos a escritores da Língua Portuguesa.
Então, vou colocar alguns pingos nos “is” que julgo necessários.
Quem é Raduan Nassar
Raduan Nassar é considerado (ao menos por grande parte dos especialistas em literatura) um dos maiores escritores brasileiros vivos. Sua obra não é extensa, é formada basicamente pelo romance Lavoura Arcaica, pela novela Um Copo de Cólera e pelo livro de contos Menina a Caminho. Desses três, eu li Lavoura Arcaica e realmente não me chamou a atenção, pura questão de gosto. Porém, ao pesquisar a respeito da obra, soube que é premiadíssima, tendo ganho o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, entre outras distinções.
Para concluir a polêmica da escolha de Raduan Nassar com o Prêmio Camões, cabe destacar: a escolha foi feita ainda durante o governo Dilma, em maio de 2016. Dizem que a entrega foi adiada ao máximo pelo governo atual, porém não passam de especulações. É bom destacar que o prêmio foi criado em 1988 pelos governos de Brasil e Portugal e já foi concedido a grandes nomes da literatura: José Saramago, Jorge Amado, Mia Couto, Lygia Fagundes Telles etc. Nesses muitos anos de premiações para quem escreve em língua portuguesa, a reclamação é de que poucos autores africanos foram contemplados. Mas isso é discussão para outro texto do Voos Literários: a pouca visibilidade no Brasil e em Portugal da produção literária dos países africanos de língua portuguesa. Essa polêmica acho difícil vocês assistirem no Jornal Nacional.
Para ir além
- Trailer oficial de Um Copo de Coléra, filme baseado no livro de Nassar
- Trailer oficial de Lavoura Arcaica, outra adaptação cinematográfica da obra de Nassar
