A essa altura do campeonato, creio que todos concordam que vivemos sob a ameaça iminente do caos, do obscurantismo, do autoritarismo. Sim, AINDA está no campo da ameaça porque, infelizmente, tudo ainda pode piorar por estas bandas.
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Mas será possível?
Será possível que as águas possam ficar ainda mais turvas?
Como?
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A verdade é que o caminho para uma espiral sombria de piração é bem curto, basta abrirmos mão do pensamento crítico. E, lamento, estamos bem avançados. Começamos negando a ciência; depois, foi a vez de relativizar a História com a cegueira daqueles que não querem ver; agora, estamos demonizando a arte; o próximo passo é o apedrejamento.
E nesse caminho em que a gente desaprende a pensar, é cada vez mais conveniente apontar terceiros culpados pela desgraça a que estamos submetidos. A culpa é sempre deles.
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ELES é que destruíram o país. ELAS é que são umas vadias. ELES é que são corruptos. ELAS é que são ladras. ELES é que são degenerados. ELAS é que acabaram com os valores da família. ELES é que serão apedrejados
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E nesse caminho em que a gente desaprende a pensar, a culpa sempre será deles, aqueles com quem não concordamos. Nunca nossa e dos nossos incautos. Nunca minha e dos meus puros. Torna-se cada vez mais fácil e conveniente esquecer que todos somos responsáveis, de uma forma ou outra, pela realidade que ajudamos a moldar. Consciente ou não, oferecemos as pedras que serão atiradas contra quem se levantar e que serão usadas para construir o muro do feudo que se cria em nossa nova idade média. Isso acontece toda vez que proferimos uma palavra de intolerância, uma ofensa, um desejo de morte, uma reverência à tortura, um pedido de intervenção. Isso acontece toda vez que censuramos o que deve ser dito. Uma palavra. Uma pedra.
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Voltemos a pensar, antes que seja tarde
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E nesse caminho em que a gente reaprende a pensar, pensa em qual a tua parcela de culpa no caos.
