Uma treta entre o prefeito de São Paulo, João Doria, e a Amazon, depois de uma ação de publicidade da empresa nos muros da cidade, possibilitou que muita gente baixasse livros digitais de graça. Apesar de ser uma ação voltada aos moradores da capital paulistana, a promoção beneficiou usuários de todo o país.
Eu aproveitei esse momento de generosidade corporativa para baixar o livro Laranja Mecânica, de Anthony Burgess. O enredo foi consagrado no cinema pelo diretor Stanley Kubrick e mostra um futuro distópico de ultraviolência cometida por jovens delinquentes, que falam um linguajar próprio.
A experiência me deixou agradavelmente surpresa por motivos diversos. Primeiro, porque tenho um celular antigo (comprado em 2014, super ultrapassado nos nossos dias de obsolescência programada) e com um sistema operacional muito criticado por todo mundo. (não vou contar para vocês que é um windows phone, para vocês não acharem que a “blogueira” aqui é muito pobre). Apesar disso, consegui fazer download do aplicativo Kindle e ler o livro numa boa. Então, acredito que para quem tem iPhones e Androids seja ainda mais tranquila a utilização.
Outra razão para elogios é a edição muito bem feita pela editora Aleph, com uma introdução explicando a importância do texto e falando um pouco sobre a vida do escritor Anthony Burgess. Apesar de já ter lido bastante a respeito do filme, eu não tinha a mais vaga ideia das circunstâncias em que Burgess escreveu um dos maiores livros do século XX.
Nascido na Inglaterra e formado em Literatura Inglesa, ele foi diagnosticado com um tumor fatal no cérebro em 1960. Foi com a intenção de deixar uma herança para a esposa depois da sua morte que resolveu escrever de forma intensa. Foi nessa conjuntura, dois anos depois, que foi concebido Laranja Mecânica. O irônico é que o diagnóstico estava errado e o autor morreu em 1993, aos 76 anos.
Tempo suficiente para constatar a perenidade da sua criação, a história de Alex, integrante de uma gangue de adolescentes capturado pelo Estado e submetido a uma terapia de condicionamento socia. A edição da Aleph também contém observações do tradutor sobre o desafio de passar para o idioma português a escrita do Nadsat, uma gíria criada pelo escritor com influências do russo e do inglês.
A narrativa é fascinante, ao expor a violência social de forma desconcertante. Mesmo para quem assistiu ao filme, o enredo surpreende e faz a leitura valer a pena.
