“Olá, meninos e meninas. Quem fala aqui é Hannah Baker. Ao vivo e em estéreo. [..] Sem promessa de retorno. Sem bis. E, desta vez, sem atender aos pedidos da platéia. […] Espero que vocês estejam prontos, porque vou contar aqui a história da minha vida. Mais especificamente, por que ela chegou ao fim. E, se estiver escutando estas fitas, você é um dos motivos. […] Não vou dizer qual fita tem a ver com sua participação na história. Mas, não precisa ter medo. Se você recebeu essa caixinha bonitinha, seu nome vai aparecer…Eu prometo. Afinal, uma garota morta não mentiria. Espera aí! Isso está parecendo uma piada. Por que uma garota morta não mentiria? Resposta: porque ela não pode mais falar!”
Esse é um do trecho do livro 13 Reasons Why (traduzido no Brasil como Os 13 Porquês), do escritor Jay Asher. A série, baseada nessa obra, virou um grande sucesso no Netflix e recebeu elogios e críticas nas redes sociais.
Na comparação do livro com a série, o que dá para dizer é que o personagem Clay é mais atrativo na obra literária do que a sua transposição para o seriado. No livro, não tem aquela bobagem dele demorar um tempão para ouvir as fitas gravadas por Hannah. Essa escolha do roteiro achei uma falha grave, porque desperta uma certa irritação em quem está assistindo. Porém, o seriado amplia os pontos de vista do livro, restritos a Clay e Hannah, o que considerei um ponto positivo. Esse texto traz uma análise bem detalhada dessa comparação.
Em relação ao debate suscitado a respeito do suicídio, houve defesas e críticas a 13 Reasons Why. A verdade é que o suicídio é um dos tabus da nossa sociedade. A Renata Colombo comentou nesse texto aqui do Vós como é difícil tratar do assunto no jornalismo. Recentemente, o tema voltou aos noticiários por conta da morte do vocalista do Linkin Park. Quando é uma celebridade, não tem como o jornalismo fingir que essa morte não existiu, como acontece com cidadãos comuns.
Acredito que pela questão da ética jornalística praticamente impedir essa abordagem, resta à ficção tratar desse tabu. Afinal, como fingir que as mortes por essa causa não existem, quando a Organização Mundial de Saúde já alertou que esse problema de saúde pública é responsável por uma morte a cada 40 segundos no mundo?
Na minha opinião, o único demérito de 13 Reasons Why é não focar no claro problema de depressão da protagonista da história. O livro e o seriado acabam sendo sobre quais as motivações da personagem para tirar a própria vida e, consequentemente, sobre as pessoas que seriam responsáveis pelo seu suicídio. A depressão não é pontuada como a verdadeira causa.
Ainda assim, acho que a abordagem do tema do suicídio é válida, ainda mais para um público adolescente, que passa pela instabilidade natural dessa fase da vida e que ainda pode enfrentar os tormentos do bullying, como Hannah.
