ECOO

Quantas espécies perdemos para sempre?

Geórgia Santos
6 de maio de 2018

Hoje, há 1173 espécies (táxons) ameaçadas de extinção no Brasil. Levantamento do Ministério do Meio Ambiente (MMA) indica como ameaçados 110 mamíferos, 234 aves, 80 répteis, 41 anfíbios, 353 peixes ósseos e 55 cartilaginosos, 1 peixe-bruxa e 299 invertebrados.

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Brasil
448 espécies vulneráveis (VU)
406 espécies em perigo (EN)
318 espécies criticamente em perigo (CR)
1 espécie extinta na natureza (EW)

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O processo de extinção está relacionado ao desaparecimento de espécies ou grupos em um determinado ambiente ou ecossistema. Isso pode ser um evento natural, assim como o surgimento de novas espécies. Mas a humanidade acelera muitos, se não a maioria, desses processos.

Geralmente, as espécies desaparecem em função da perda e degradação do habitat, algo que acontece com o desmatamento, expansão agrícola e urbana, além da instalação de hidrelétricas, portos e mineradoras. Outro problema é a pesca excessiva, no caso das espécies aquáticas, e a caça.

Um indício de que a mão do homem é responsável pelo fato de tantas espécies estarem ameaçadas de extinção é a velocidade com que se tornam vulneráveis. No Livro Vermelho da Fauna Brasileira publicado em 2008, o Brasil tinha 627 espécies ameaçadas de extinção. Em 1989, a lista continha 218 animais, embora não incluísse peixes e outras espécies aquáticas.

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Que animais são esses?

A lista completa está disponível aqui. É comum que a gente desconheça a maioria dessas espécies, mas há muitos animais que conhecemos muito bem. Alguns são símbolo da nossa fauna, como a onça-pintada, que está cada vez mais próxima da extinção. Sem contar os pequenos animais, facilmente esquecidos, como espécies de rãs e sapos, fundamentais para o equilíbrio do ecossistema.

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Fenômeno global

Em novembro de 2014, a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN foi atualizada. Com os novos dados, chegou-se à conclusão de que mais de 22 mil espécies correm risco de desaparecer do planeta.

Neste ano, por exemplo, faleceu o último macho de rinoceronte-branco do norte. Sudan morreu aos 45 anos de idade. Eles foram rapidamente dizimados em função da caça predatória. Pesquisadores tentam recuperar a espécie com fertilização in vitro de uma fêmea de rinoceronte-branco do sul, com óvulos das últimas duas fêmeas de rinoceronte-branco do norte – e o sêmen de Sudan.

Mas há velhos conhecidos nessa lista, como o panda, o gorila das montanhas e o urso polar. Todos lembramos do urso polar faminto e desnutrido à procura de comida.

Acho que  já passou da hora de mudarmos nossos hábitos.

Imagens: Pixabay

Voos Literários

Vitor Diel – Uma dica de leitura para quem ama os animais

Flávia Cunha
13 de março de 2018

É bom quando a gente pede algo para alguém e acaba sendo surpreendido. Foi o que aconteceu comigo quando combinei de o Vitor Diel escrever uma dica de leitura para o Voos Literários. Ele resolveu escrever sobre o livro Platero e eu, de Juan Ramón Jiménez, que eu absolutamente desconhecia.

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O poeta espanhol Juan Ramón Jiménez ganhou o prêmio Nobel de Literatura em 1956 e foi influenciador  de grandes nomes da Literatura, como Garcia Lorca

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Abaixo, segue a dica de leitura do jornalista e editor da fanpage Literatura RS, destaque literário do Prêmio Açorianos de 2016. Um texto poético e sensível, combinando com a obra escolhida:

Quando falamos dos animais, falamos de nós mesmos. A relação entre essas duas espécies funciona como um espelho para os arranjos que estabelecemos com nosso psiquismo, nossa sensibilidade e nossos afetos. É em função dessa verdade, ainda um tanto opaca, que com frequência nos sentimos especialmente tocados pelas narrativas sobre os animais. Por isso, Platero e eu, de Juan Ramón Jiménez, é e sempre será uma das histórias mais delicadas e sensíveis já produzidas pela literatura espanhola.

É pelas lentes dos olhos do burro Platero que conhecemos o universo do povoado de Moguer. O personagem-narrador conduz Platero com ternura e amor por entre situações que revelam a dor, a injustiça, a alegria, a simplicidade, a malícia, a carícia, a crueldade e o lirismo que existe na vida. A ingenuidade do animal, que às vezes zurra, como zurram os burros, é também a ingenuidade do narrador, coração de poeta que sofre com a solidão e aspereza do mundo. Moguer é amarela, branca e azul, cálida e espaçosa, e está assentada no interior da Espanha do início do século XX. O vilarejo recebe de volta o narrador: o filho que retorna e visita suas memórias de infância, o túmulo do pai, a casa onde nasceu, os ciganos andarilhos, sempre com o discreto Platero ao lado.

A introdução da história já determina a doçura da narrativa:

“Platero é pequeno, peludo, suave; tão macio por fora, que parece todo de algodão, parece não ter ossos. Deixo-o solto, e ele vai para o prado, e acaricia mansamente com o focinho, mal as tocando, as florzinhas cor-de-rosa, azul-celeste e amarelo-ouro… Chamo-o docemente: ‘Platero!’, e ele vem até mim com um trotezinho alegre, como se viesse rindo, como que num desprendimento ideal. (…) É terno e mimoso como um menino, como uma menina…; mas forte e rijo por dentro, como de pedra. Quando aos domingos, passo montado nele pelas últimas ruelas da aldeia, os homens do campo, de roupa limpa e vagarosos, ficam olhando: – Ele tem aço… Tem aço. Aço e, ao mesmo tempo, prata de luar”.

A pradaria, a estrada de chão, os terraços esbranquiçados, as casas antigas, as tradições cristãs, vemos tudo pelos olhos do burrinho, que não só é amigo e companheiro, mas também cúmplice: “Trato Platero como se fosse uma criança. Se o caminho se torna escarpado e o peso é muito para ele, desço para aliviá-lo. Beijo-o, provoco, ele se irrita… Mas entende bem que gosto dele, não me guarda rancor. É tão igual a mim, tão diferente dos outros, que cheguei a acreditar que sonha meus sonhos”.

Em 136 capítulos curtos (articulados com certa independência, numa dinâmica semelhante a Vidas Secas, do brasileiro Graciliano Ramos e que também joga luzes sobre a relação homem-animal através da cadela Baleia), Platero e eu dá fôlego a reflexões sobre a solidão da existência, a inevitabilidade do fim e a importância do lirismo e da beleza na relação do sujeito com o mundo e consigo mesmo. O burrinho Platero é a lente de aumento através da qual o narrador revela-nos a realidade material; no caso, carregada de ternura, exatamente como deveriam ser todas as relações entre os homens e entre esses e os animais.

Platero e eu – edição bilíngue

Juan Ramón Jiménez

Ilustrações de Javier Zabala

280 páginas

WMF Martins Fontes

2010

A coluna Voos Literários está pedindo dicas de leituras para pessoas do meio cultural do Rio Grande do Sul. Tem mais dicas de livros bacanas aqui e aqui.

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