Voos Literários

A Literatura no Brasil é mesmo para poucos?

Flávia Cunha
12 de setembro de 2016

Vivemos um momento de crise no cenário político brasileiro. Isso não é novidade para ninguém, a não ser que você viva em Marte. (E talvez, mesmo lá, os marcianos estejam atentos ao que está acontecendo por aqui). Com esse panorama, falar sobre Literatura parece um pouco deslocado ou até mesmo uma alienação.

Porém, vale lembrar o papel relevante que as Artes ocupam nesses momentos de tensão social. As músicas de protesto durante o regime militar no Brasil e o quadro Guernica, de Pablo Picasso, como símbolo da guerra civil espanhola, são apenas alguns exemplos disso.

Soma-se a esse cenário, as redes sociais, em que cada vez mais gente compartilha informações sem ler e interpretar textos com a devida propriedade, deixando visível os problemas estruturais da educação no Brasil. O incentivo à leitura, de uma forma geral, seria importante para acabarmos com os alarmantes índices de analfabetismo funcional no país.

Mas um problema adicional à essa equação é a existência de uma parcela de intelectuais que se apropria da Literatura como em uma seita. Para esse grupo seleto, apenas alguns eleitos são os escritores de verdade e, evidentemente, seus leitores são seres superiores com a capacidade de compreender essas obras herméticas.

Mas será que somente os clássicos são realmente importantes para que haja um número mais expressivo de leitores no nosso país? Acadêmicos torcem o nariz para jovens (e adultos) que lêem Harry Potter, Jogos Vorazes, Percy Jackson e outras franquias do gênero. Mas considero que seria mais conveniente que os best sellers fossem uma porta de entrada para obras mais refinadas, de autores como José Saramago, Guimarães Rosa, Machado de Assis e até o temido James Joyce.

Tudo é uma questão de ir exercitando a mente. Afinal, nenhum corredor começa seus treinos com uma maratona. Então, leitores de primeira viagem não deveriam ser submetidos a obras complexas, que mais contribuem para afastá-los da Literatura do que despertar o verdadeiro gosto pela leitura, fundamental para uma mudança nessa conjuntura atual.

 

Dicas de Leitura:

  • Por que ler os Clássicos – Ítalo Calvino
  • Coleção Clássicos Comentados (diversos autores) – Editora: Ateliê Editorial