Quando comecei a ouvir sobre a eleição para o Conselho Tutelar esse ano, morri de vergonha. Eu nunca votei! Com a voz fraca, tímida, fui contando para as pessoas com quem eu ia conversando. E fui vendo as caras de espanto quando elas, constrangidas, também assumiam que nunca tinham votado. Nós, progressistas, pessoas de esquerda, empenhadas na luta por um mundo mais justo, lutando contra o fascismo, racismo, machismo e tantas outras lutas que nem sei dizer, nunca votamos para o Conselho Tutelar. Nós, classe média, nunca votamos.
Acontece que quem vota no Conselho Tutelar são as pessoas das comunidades da periferia. São as pessoas que mais precisam. Elas enfrentam evasão escolar, denúncia de maus-tratos, abuso sexual e acionar o CT é a única maneira que elas tem de protegerem suas crianças e adolescentes. Essas coisas não acontecem só na periferia, a gente sabe que não. Mas a classe média tem psicólogo, psicopedagoga, psiquiatra e acesso a inúmeras alternativas de proteção. Tem convênio.
Mas eu não quero que seja bom só para mim ou para os meus filhos. Nem só para ti ou para os teus. Porque enquanto não for bom para a maioria, não será para nenhum de nós que acreditamos nessa luta. E a gente pode, nesse domingo, mudar a vida de muitas crianças e adolescentes votando em conselheiros tutelares que sejam comprometidos com os direitos dessas pessoas.
Segundo dados do Cenário da Infância e Adolescência no Brasil deste ano, divulgado pela Fundação Abrinq, mais de dez milhões de crianças entre 0 e 14 anos vivem na extrema pobreza. O mesmo estudo mostra que 75% das notificaçoes de violência e exploração sexuais são contra menores de 19 anos. Em 2021, foram 20.774 notificações em todo o Brasil. Além disso, mais de 17 mil adolescentes menores de 14 anos deram à luz em 2021. Oito dessas meninas tinham menos de dez anos de idade. Imagine, mãe aos oito anos.
O Conselho Tutelar não é o bicho-papão, como muitos fazem crer. Ele existe para proteger e precisa ser fortalecido com a nossa participação. A extrema-direita se organiza há anos e, há anos, consegue ocupar esses espaços que devem ser de pluralidade e acolhimento incondicional. Por isso, não podemos nos omitir. Participar da votação é a única maneira de garantirmos proteção às crianças e adolescente.
As listas com os nomes dos candidatos e seus respectivos números para votação podem ser consultadas nos sites das prefeituras de cada município. Assim como os locais de votação.
Foto de capa: Fernando Frazão / Agência Brasil

