Raquel Grabauska

Meu colar está inteiro

Raquel Grabauska
4 de agosto de 2023

Quem anda perto de mim sabe que eu adoro um colar no pescoço. Quem anda perto sabe que quando as coisas estão pesadas, meus colares caem. Meus colares quebram. Não tem cola pra colar colar. Quando quebra, deixo ir. Um dia alguém me disse: foi um encanto que se quebrou. Haja colar.

Fui fazer um pudim. Adoro fazer pudim. Adoro fazer pudim pra quem amo. Açúcar pra calda, pra caramelizar a forma. Peguei o pote de vidro e ele achou que estava numa Olimpíada, deu um salto triplo, voou lindamente pelo ar e se espatifou por completo no chão da cozinha.

No impulso de parar a dor da queda do outro – que pretensão essa minha – coloquei o pé para impedir o contato brusco com o chão. Eu estava com uma botina que ganhei de uma amiga, por sorte. Muita sorte. Foi vidro pra todos os lados. Açúcar para todos os lados.

Meu colar está inteiro. Meu pé está inteiro. Eu estou aprendendo ficar inteira. Tem açúcar para todo lado. Dizem que derrubar sal dá azar. Tem açúcar para todo lado.

Imagem: Raquel Grabauska / Arquivo Pessoal