Semana passada tive uma dor forte e acabei parando na emergência de um hospital. Deu tudo certo, fui liberada.
Mas o que chorei…
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O primeiro choro foi pela dor. Pra sair de casa na hora de fazer os guris dormirem pra ir num hospital no feriado, não era pouca coisa. O segundo choro foi pensando neles, os filhos. Aquele medo de não ficar bem para estar com os filhos é uma sombra assustadora. O terceiro, bom, foram muitos mesmo.
Mas estava eu lá, quieta num canto, depois de fazer todos os exames e estar esperando acabarem a medicação na veia (dizer que é na veia é só pra perceberem o tempo que fiquei lá esperando o Ping-Ping das gotas). Chegou uma moça quase desmaiada, amparada pelos pais. Os dois apavorados. Muito apavorados. As enfermeiras pediram para um dos dois saírem. Saiu o pai.
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A filha pedia que a mãe apertasse sua barriga. Assim a dor aliviava
A mãe apertava a barriga e distribuía beijos
Ai, aqueles beijos…
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Vi a filha naquele sofrimento e pensei na dor dela. E na dor do menininho que tinha visto antes, chorando porque tinha o braço quebrado. Chorei disfarçadamente, pensando na dor dos filhos. Pensei naquela vontade que mãe tem de pegar a dor do filho pra si. Olhei pra mãe que beijava. Os olhos dela carregados de lágrimas. Elas não desciam. A mãe não podia chorar, tinha que ser forte pra ajudar a filha. Nesse instante ela envolveu a filha num abraço. Beijou de novo. Ai, aquele beijo…
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O choro disfarçado deu lugar a um choro solto. A dor misturou com a saudade do colo da minha mãe. Ela faleceu quando eu tinha 40 anos. Aproveitei muito. Ganhei colo até os 40
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E tudo que queria naquele momento era aquele colo. Aquele beijo. Aquele abraço. Fechei meus olhos pra chorar quietinha. Senti uma mão segurando a minha. Ao meu lado, na emergência, tinha um senhor muito debilitado. 86 anos, alzheimer. Estava sem se alimentar. A filha acompanhava o pai. Essa filha viu meu choro e foi ser minha mãe. Me deu abraço e beijo, fez passar meu choro.
Nunca vou conseguir descrever quão bonito foi. Quando acalmei, me contou que a filha tinha ido morar na Holanda. Faz dois dias que foi. Ela me viu como filha, eu a vi como mãe. Aliviou nossas dores.
