A cidade de São Paulo realiza anualmente a maior Parada do Orgulho LGBT do Brasil. Mais de um milhão de pessoas sairão às ruas neste domingo, dia 18, para celebrar a diversidade e lutar por direitos em um evento que se caracteriza pela mistura entre a alegria festiva e a seriedade reivindicatória. Contudo, algo parece desajustado na parada deste ano.
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O país vive uma conjuntura turbulenta, com um governo ilegítimo e frágil. Com 4% de apoio popular e enrolado na Operação Lava Jato, Michel Temer é sustentado apenas pelos piores interesses fisiologistas de um Congresso Nacional coberto de lama
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Em todos os cantos do país, qualquer evento, peça teatral ou cerimônia oficial tornou-se um palco para que alguém puxe um grito de Fora Temer, que instantaneamente se transforma em coro. Esta foi a marca do Carnaval deste ano, onde os blocos de rua das principais cidades do país expressaram este sentimento de repulsa ao governo.
Agora, que a situação está ainda mais grave do que em fevereiro, a Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo toma uma decisão inexplicável: escolhe como tema da edição deste ano o “Estado laico”. É evidente que a luta por um Estado laico é necessária, justa e dialoga com a proteção da população LGBT brasileira, na medida em que fanáticos religiosos neopentecostais dominam amplos setores da política e articulam iniciativas cada mais vez mais nocivas aos nossos direitos.
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Acontece que este governo representa, também, estes setores. Que, aliás, são muito bons em se misturar com qualquer governo. Não é à toa que o bispo Marcelo Crivella, hoje prefeito do Rio, foi ministro da Dilma
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A conjuntura exige da Parada LGBT de São Paulo um grito forte, alegre e colorido por Fora Temer. O movimento LGBT sempre esteve na vanguarda das lutas sociais. Simplesmente não faz sentido que a associação da parada resolva ignorar o momento histórico do país e colocar esta poderosa festa da diversidade em rota de colisão contra um governo que sequer é um aliado dos LGBTs.
Tenho a convicção de que, embora oficialmente o Fora Temer esteja ausente do tema da parada deste ano, ela acabará inevitavelmente expressando este caráter de rechaço ao governo. A população LGBT sabe que Michel Temer é um inimigo de nossos direitos. É uma pena que a própria organização da parada tenha optado por perder o trem da história.
Foto: Ben Tavener/Flickr
