Guia de Viagem

Veneza – O carnaval e o velho tarado

Geórgia Santos
25 de fevereiro de 2017

Sempre gostei de carnaval, especialmente do nosso carnaval. Desde criança. E quando resolvi que visitaria Veneza em 2007, era o carnaval que eu esperava ver.

Eu tinha 19 anos e era a primeira vez que viajaria sozinha. Tudo foi planejado minuciosamente: começaria em Amsterdam, iria para Paris de trem (uma aventura que será seu próprio post) e de lá seguiria para a Itália, também pelos trilhos, onde visitaria Milão, Verona e Veneza. Sonhava com aquelas gôndolas e aqueles caras maravilhosos remando só pra mim, com uma boina estilosa que ficaria ridícula em qualquer homem não italiano. Parecia um belo plano. Até eu chegar ao país da bota.

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“A bonita, aqui, quis fazer um mochilão pela Europa com um mochilão nas costas. Quando tentei acomodar a bagagem, o barco balançou e eu me estatelei no chão com a mochila ainda presa”

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Cheguei a Veneza de trem, depois de loooongas 13 horas de viagem. Imediatamente, embarquei em um vaporetto, que nada mais é uma espécie de ônibus-barco. Ou barco-ônibus. É um barco. E por mais charmoso que possa parecer, foi um problema logo no início. A bonita, aqui, quis fazer um mochilão pela Europa com um mochilão nas costas. Quando tentei acomodar a bagagem, o barco balançou e eu me estatelei no chão com a mochila ainda presa. Eu parecia uma tartaruga recém pescada, me debatendo no chão de uma embarcação. Foi lindo.

Veneza é cercada e entremeada por água. Deveria ter pensado nisso antes.

Chegando em terra firme, consegui me localizar de maneira rápida. É uma cidade pequena, cheia de charme e onde a melhor maneira de se locomover é a pé. Ou de barco, mas acho que essa parte vocês já entenderam.

Larguei as coisas no hotel e decidi almoçar. Nada de invenção: um sanduíche de prosciutto com tomates e manjericão, e uma bela taça de vinho tinto para iniciar os trabalhos. Depois de alimentada, percorri as ruelas entrecortadas por um vento gélido como se pertencesse àquele lugar. Talvez um dia tenha pertencido. E caminhei até chegar a Piazza San Marco, um lugar absolutamente esplêndido e atrolhado de turistas e pombos. Muitos pombos. O espaço abriga três edifícios principais, a Basílica de São Marcos, o Palácio Ducal de Veneza e o Campanário da Basílica.

Conhecendo Veneza

Comecei pelo principal e, logo que entrei, encontrei um simpático senhor. Não lembro o nome, mas digamos que fosse Paolo. Apresentou-se como professor de historia da arte e, do alto de seus 70 e tantos anos contou-me, em belas palavras, a origem daquelas edificações e das pinturas que adornavam cada uma daquelas paredes. E assim foi em todas as salas, em todos os prédios. Em cada um dos pontos turísticos. Um professor impecável ao longo de três horas. Até que me falou sobre uma igrejinha pouco visitada, que ficava mesmo ao lado de onde estávamos.

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“Juro que me vi amordaçada em um calabouço, pronta para ser esquartejada, implorando em português por minha vida na Itália”

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Paolo muito educado, muito atencioso, novamente contou a história do lugar e sua razão de ser. Um edifício sombrio, com pouca luz e arte gótica. Causou-me estranheza, confesso. Não estava confortável. Paolo viu graça e riu, até que as luzes se apagaram de vez. Juro que me vi amordaçada em um calabouço, pronta para ser esquartejada, implorando em português por minha vida na Itália. Por 30 segundos, achei que ia morrer. Passado esse meio minuto, eu tive certeza. O velho pegou na minha mão e, como se fosse a coisa mais normal do mundo, tentou me beijar. Eu recuei. Ele sorriu. Eu recuei. Fingi que alguém me ligava e corri.

Corri. Corri. Corri. Aí corri mais um pouco. Depois corri mais. Quase nadei.

Foi a primeira vez que fui assediada desse jeito, por um idoso. Confesso que no início, naturalmente, pensei que tivesse dado bandeira. Sabe como é. Mas passados tantos anos é bastante claro que não passava de um predador. Um velho tarado tentando seduzir uma guria de 19 anos. Que bom que não passou disso.

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“Confetes, cores e trajes lindos em uma festa diferente, leve, lúdica e regada a prosecco”

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Mas eu não ia deixar que um senhor descompensado estragasse minha viagem. Afinal, o carnaval estava chegando e aquela cidade era linda demais pra ficar com medo. Comprei uma máscara de porcelana linda, que até hoje adorna minha parede. Coloquei outra sobre meus olhos e, apesar da ironia, vi a mágica acontecer à base de muito brilho. Confetes, cores e trajes lindos em uma festa diferente, leve, lúdica e regada a prosecco. Era frio, mas todos estavam suficientemente quentes com a felicidade. E longe de velhos tarados. Bom carnaval =)

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Lugares para ver

Veneza é uma cidade pequena, para ser aproveitada à pé. Recomendo que seja visitada no inverno, pois o calor italiano, além de intenso, pode atrapalhar o passeio. Isso porque o cheiro do canal, que é bastante poluído, pode incomodar os turistas.

Piazza San Marco

 Como deu pra perceber, é o local mais visitado e procurado de Veneza, impossível não passer por lá. É a única praça de Veneza – as outras são os chamados campi. Por séculos, a Praça de São Marcos foi o centro religioso, administrative e cultural da cidade. Tem 170 metros de comprimento e abriga a Basílica , o campanário , as colunas e  a Biblioteca Marciana, o Palazzo Ducale, o Procuratie e a Torre do Relógio.

Basílica de São Marcos

A arquitetura é uma obra-prima que mistura influencias ocidentais e orientais – inclui mosaicos bizantinos esotéricos herdados de Constantinopla além do ícone de Nossa Senhora de Nicopeia. É uma igreja que mescla elementos góticos, românticos e bizantinos. Tem cinco cúpulas e a central mede 43 metros de altura.

A entrada é gratuita, mas existe a possibilidade de reservar um bilhete. É uma boa ideia para evitar filas e, acredita, haverá filas.

Coleção Peggy Guggenheim

É uma das mais importantes coleções de arte moderna do mundo, considerada a mais famosa. Exibe obras de Magritte, Picasso, Kandinsky, Pollock, Ernst, Braque, Dalí, Mondrian, Chagall, Miró entre outros.

Torre do Relógio

Em estilo renascentista, é um ponto de encontro entre venezianos. Antigamente, era a porta de entrada para a antiga Mercerie, que era a rua de compras em Veneza.

Ponte do Rialto

É a ponte mais importante de Veneza e atravessa o Grande Canal. Além da belíssima arquitetura, o entorno é cheio de lojinhas e barraquinhas para comprar souvenirs.

Ponte dos suspiros

É um dos pontos mais importantes e visitados de Veneza Foi construída em pedra de Ístria, no estilo barroco, no início do século XVII. Ela foi construída especificamente para ser uma prisão. Diz a lenda que, antigamente, os prisioneiros atravessavam a ponte e suspiravam.

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Onde ficar

Não vou recomendar hotéis em Veneza porque, honestamente, não lembro onde fiquei. Mas lembro o suficiente para recomendar uma estudada no mapa da cidade. Veneza é uma ilha, mas é possível ficar hospedado no continente, na Comune di Venezia, ou seja, na Região Metropolitana. É mais barato e basta pegar um vaporetto para chegar aos pontos turísticos. Mas se a ideia é ficar na ilha – e eu acho que vale a pena, os preços são mais salgados conforme se aproximam dos pontos turísticos.

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Como se movimentar

A melhor maneira é caminhando, mesmo. É uma cidade pequena e super charmosa. Ou forma é usando os vaporettos. Ainda há as gôndolas, mas é mais uma atração turística que um meio de transporte. E é um passeio caaaaaaro.

Guia de Viagem

Roma – O atraso, o frio e o hotel

Geórgia Santos
11 de fevereiro de 2017

 

O atraso

Estávamos em Lisboa, ansiosos para chegar a Roma e usarmos a desculpa do frio para jantarmos uma comida pesada e um bom vinho tinto. De fato, era apenas nisso que pensávamos naquele fim de tarde cinzento. Na massa. Por isso, não nos atrasamos e chegamos ao aeroporto no horário sugerido, com antecedência, conforme havíamos planejado. Só não tínhamos contado com o atraso na decolagem (é, amigos, atraso não é privilégio de brasileiro, como vocês poderão ver nesta e em outras publicações desta humilde coluna). Enfim, não chegaríamos mais às 19h, como previsto. E então eu noto que no papel que eu imprimi antes da viagem e que continha as informações do hotel estava escrito, em tinta borrada pelos pingos de chuva:

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Check-in até 21h

Assim mesmo, em letras maiúsculas, a famosa caixa alta. E eu não tinha visto antes de embarcar para Roma. Ou seja, fiquei inquieta quando li, porque o relógio marcava 20h (horário local) e o avião ainda estava no ar. Não ia dar tempo. De jeito nenhum.

20h05 – Desembarque

20h10 – Na esteira

20h15 – Esperando a bagagem

20h20 – Esperando a bagagem

20h25 – Esperando

20h30 – Pois é

20h40 – Então

20h45 – Resmungos

20h50 – A bagagem chegou!

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O frio

Mas aí mesmo é que não ia dar tempo. Pensei, no entanto, que eles colocam isso no papel só pra apressar a gente, assim não precisam trabalhar até tarde e coisa e tal. Sei lá. Não iam deixar alguém do lado de fora àquela hora, afinal, o dia já havia partido e era (muito) inverno.

Por isso, lá fomos nós, cheios de esperança. Eu mencionei que o Aeroporto Fiumicino – ou Aeroporto Internazionale Leonardo da Vinci, não fica na cidade? Pois, fica a uns 30km. Do aeroporto para a estação de metrô, fomos de ônibus, do subsolo rumamos ao destino final. Corríamos feito doidos dentro do possível para duas pessoas cansadas e com pinta de estátua de gelo que carregavam duas malas (ou mais, não lembro). O meu cabelo parecia um animal atropelado, e quando vi meu reflexo no espelho comecei (?) a ficar muito irritada. E com medinho.

21h35 – Perdidos em uma rua escura, extremamente suspeita, com temperatura negativa e muitas malas (ainda não lembro quantas)

O frio era daqueles que congelava as hemácias. Se fizessem um corte na minha mão, sairia um sangue pastoso, ao melhor estilo zumbi. Difícil de respirar mesmo para dois gaúchos acostumados a invernos rigorosos sem poncho. E por mais que o metrô fosse próximo ao hotel, sob tais condições a sensação era de que caminhávamos há muito tempo e sob temperaturas glaciais. Ok, eu estou exagerando, mas não muito.

Finalmente, encontramos a rua do hotel perto das 22h, mas nada do nostro albergo, Dio! As rodinhas das malas já eram amigas da Via Atilio Regolo, mas nada do albergo, Dio Madonna!

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O hotel

Depois de quase meia hora de uma caminhada que mais parecia prova do líder, descobrimos que o albergue ocupava dois andares de um prédio comercial. E que realmente fechava às 21h, porque os hóspedes ficavam com uma chave. Não tínhamos onde dormir, estava frio, tudo muito escuro e sem uma viva alma por perto. Ah, mas do outro lado da rua estava o restaurante 3Quarti. Resolvemos que o fato de estarmos desamparados e sem ter onde pernoitar não seria um problema. Nós teríamos a nossa massa.

E é aí que a viagem que deu errado começa a dar certo. Simplesmente porque é Roma. E com o melhor italiano que pude providenciar àquelas alturas, expliquei nossa situação e perguntei se poderíamos entrar no phyno estabelecimento com a nossa bagagem. Todos foram extremamente gentis e, esquecendo do problema, tivemos uma noite incrível. Que jantar, senhores. O restaurante é intimista, com decoração impecável e requinte ao melhor estilo romano. Pedi o Spaghetti alla Carbonara, já o Cléber preferiu outro prato, mas não lembro (perdão!). Tudo absolutamente delicioso. Exatamente como nós esperávamos.

Mas ainda havia o problema da hospedagem. Resolvi não pirar e não pensar em dinheiro e lembrei do nome e localização do hotel em que eu havia estado na minha visita anterior à Roma. Confesso que o nome me deu esperança: Rinascimento. Perfecto, hã? E foi. Havia um quarto disponível e, finalmente, estávamos instalados.

Claro que, para completar a noite, tive uma dor de barriga horrível combinada com uma queda de pressão ainda pior, mas Roma vale a pena.

Na manhã seguinte, fomos nós e nossas amadas malas ao albergo original e nos instalamos lá. Bem mais simples que o outro, mas um ótimo quarto, com banheiro imenso, mesa, sofá. Um pequeno apartamento, de fato. Enfim, podíamos curtir Roma de verdade. Com céu azul e tudo.

Roma

O nome é emprestado de um dos maiores impérios da história, mas hoje perdeu o glamour aos olhos de muitos. Roma não é a capital da moda nem na Itália, não é uma cidade viva e efervescente, a maconha não é liberada. Enfim, não é o principal destino de jovens mochileiros. É, ao contrário, o lugar mais procurado por católicos fervorosos e beatos devotos por abrigar o Vaticano em suas entranhas.

Mas Roma transcende modismos. É uma metrópole linda que oferece aulas de História em tijolos erodidos e passeios em tons alaranjados. E se faz tudo com o estômago feliz ao embalo de um bom vinho e muito carboidrato. Ah, e de preferência sem nenhuma culpa, porque culpa e mimimi não combinam com Roma em nenhum aspecto. Vou dividir com vocês meus lugares favoritos e alguns que não se pode deixar de ver quando se está em Roma =)

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LUGARES PARA VER

Coliseu e o Fórum Romano

O Coliseu é considerado o maior símbolo do Império Romano e o principal ponto turístico de Roma.  No auge, era capaz de acomodar 50 mil pessoas durante o “circo” ou “divertimento” da população, que consistia em batalhas sangrentas entre gladiadores, animais e até execuções. É um lugar impressionante, com uma energia pesada, como se todos os que sofreram dois mil anos atrás ainda estivessem presos naquelas paredes. Aproveite e visite as ruínas do Fórum Romano, o ingresso pode ser o mesmo.

PS.: há outro local do período do Império que pode ser interessante. O Circus Maximus era um estádio para jogos e corridas de biga – lembra do filme Ben-Hur? Mas confesso que hoje é um pouco frustrante por se tratar de um parque relativamente abandonado.

Piazza di Spagna

O conjunto conta com a fonte La Barcaccia, de Bernini, e com a famosa Scalinata di Spagna, uma escadaria do século 18 onde os turistas e romanos costumam sentar para descansar enquanto observam o movimento e tomam um gelato. Ao fundo, há a igreja Trinità dei Monti, que começou a ser construída em 1502. Ao final da escada, começa a famosa Via de Condotti, que conta com lojas das marcas mais famosas como Gucci e Versace. É de chorar no cantinho.

Fontana di Trevi

É usado como reservatório de água desde a antiguidade e foi construída no ponto final do Acqua Vergine, um dos mais antigos aquedutos que abasteciam a cidade de Roma. Construída em 1762 por Nicola Stevi, é um dos mais procurados pontos turísticos de Roma. Reza a lenda que jogar uma moeda na Fontana di Trevi garante mais uma visita à cidade. Não sei quanto a ti, mas eu achei que valia a pena.

Ah, se possível, visite a fonte também à noite, é um espetáculo à parte.

Pantheon

Antes, esse templo fora dedicado aos deuses romanos. Hoje, é um templo cristão. É um dos poucos monumentos da arquitetura greco-romana que permanence em bom estado. Além disso, é local do descanso final de personalidades como o pintor renascentista Rafael. A estrutura é impressionante com a cúpula que chega a 43m de altura.

Piazza Navona

A praça conta com três belíssimas fontes: Fontana dei Quattro Fiumi, Fontana di Nettuno e Fontana del Moro. O local foi transformado em praça no século 15, por ordem do Papa Inocêncio X, que contratou Bernini – olha ele aí de novo – para construir a fonte central. O local, na minha opinião, é mais atraente à noite, com seus ambulantes e restaurantes. Ah, a Embaixada do Brasil fica na Piazza Navona.

Campo De Fiori

Confesso que se não tivesse me hospedado próximo ao Campo de Fiori na primeira vez que estive em Roma, talvez não tivesse percebido seu encanto.

De segunda a sábado, acontece ali a maior feira aberta de Roma. Há de tudo. Comida, flores, souvenirs, pastas e por aí vai. Os produtos são impecáveis e é possível comprar massas diversas e produtos feitos à base de trufas. É também a única praça de Roma que não tem nenhuma igreja. Por outro lado, há uma série de restaurantes que servem um ótimo vinho. Os fervorosos que me desculpem, mas é sagrado o suficiente pra mim.

Castel Sant´Angelo

O Castelo é nada mais, nada menos, que o túmulo do Imperador Adriano, construído em 139 d.c. Fica bem próximo ao Vaticano e é uma construção impressionante às margens do Rio Tibre (que também merece atenção).

Cidade do Vaticano

Basílica de São Pedro – Foto: Geórgia Santos

A Praça de São Pedro é outro projeto de Bernini e foi construída no século 17. O local abriga a Basílica de São Pedro e é também onde vive o Papa. Há sempre uma movimentação intensa de católicos esperando pela sorte de ver o Santo Padre de perto, mas o Vaticano é muito mais que isso. É história.

No centro da Praça de São Pedro há um obelisco egípcio que foi levado à Roma por Calígula. Há uma lenda na cidade que diz que as cinzas de Júlio César estavam em uma bola dourada, no topo do obelisco, até a idade média.A entrada na Basílica é de graça.

Mas não pode sair de lá sem ver o Museu do Vaticano. É onde fica a Capela Sistina, cujo teto é adornado com afrescos de Michelangelo. Aliás, há peças belíssimas no interior do museu e inclusive espalhadas pelo jardim. Definitivamente, não é um passeio somente para católicos.

É possível adquirir o ingresso na bilheteria do Museu ou online, clicando aqui. As filas costumam ser grandes, mas vale a pena e costuma andar ligeirinho.

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ONDE FICAR (entendeu porquê eu comecei por este item, né?)

Hotel Rinascimento

Via del Pellegrino, 122, Roma

Hotel requintado, não muito barato, mas com ótima localização.

Attilio Regolo

Via Attilio Regolo 12 D, Vatican City – Prati, 00192 Rome, Italy

Atenção para o Check in até às 21h, mas é um ótimo local para ficar e muito bem localizado.

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ONDE COMER

Roma é algo como a casa da bruxa na história de João e Maria, é como se fosse comestível. Há somente um segredo para evitar comida ruim: faça suas refeições o mais distante possível de pontos turísticos. Geralmente, os restaurantes no entorno de lugares tão movimentados costumam ser caros e péssimos.

Você pode comer um panini na rua por 2 euros, mas eu acho que quando em Roma, faça como os romanos e coma um belo prato de pasta ou uma maravilhosa pizza. Há restaurantes impecáveis que servem pratos excelentes por cerca de 12 euros.

Como eu disse, a cidade toda é comestível, mas eu vou dividir com vocês meus três restaurantes preferidos.

3 Quarti

Via Atilio Regolo, 21/23, Roma, quartiere Prati

Mercatto Hostaria

Piazza Campo de Fiori, 53, Roma

Meu lugar preferido em Roma. Um restaurante despretensioso que serve uma pasta espetacular. Mesmo durante o inverno, o ideal é jantar do lado de fora, com lareiras e cobertores no colo. Cléber pediu um Spaghetti alla Carbonara e eu um Gemelli Bolognese, tudo combinado com um Primitivo Soleone =)

Enoteca e Taverna Capranica

Piazza Capranica, 104

Comi a melhor pizza da minha vida, aqui. Mas assim, brasileiros normalmente se frustram com a pizza italiana. Estamos acostumados a toneladas de queijo e 60 tipos de coberturas atrozes. Não é o caso, a cobertura é suave, leve e, nesse caso, a massa é bem fininha. Jesus, sonho com essa pizza até hoje – em caso de dúvidas, aquelas coisinhas escuras são trufas.

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COMO SE MOVIMENTAR

É muito fácil transitar por Roma, porque os pontos turísticos se concentram no “centro histórico” da cidade. Se tiver tempo de sobra, é perfeitamente possível – e recomendável – andar a pé. Caminhar é o melhor meio de locomoção para conhecer esse lugar incrível. É a única maneira de conhecer cada viela e descobrir igrejas escondidas, restaurantes preciosos e, claro, se perder.

Mas se não for tua praia, tem o metrô e ainda os táxis. Como a cidade é relativamente pequena, o táxi acaba não saindo caro, especialmente se não for um passeio solo.

 

Fotos: Geórgia Santos

 

 

Guia de Viagem

O Novo Velho Continente

Ana Martins
12 de setembro de 2016

Crise! É o clima político que percorre o Ocidente—de norte a sul aí no “novo mundo”, de canto a canto aqui pelo velho. Em poucos anos vivemos, não uma, mas muitas crises sucessivas. E do seu cúmulo, o velho continente já não nos parece tão familiar. Paira no ar a sensação de que a Europa que até ora conhecemos mudou, sem se saber bem para o quê.

“A história é feita de longos períodos em que nada parece mudar, e de momentos em que o mundo parece ter mudado de repente”, ouvi um dia um Professor dizer. Estes “momentos” começaram em 2008 com o estalar da crise financeira, mas têm ocorrido a um ritmo cada vez mais acelerado nos últimos dois, quase três, anos.

Despertámos em choque no início de 2014 com a anexação da Crimeia pela Rússia. Um momento que trouxe à memória europeia a era de conflitos que julgávamos ter deixado no século XX. Parecia ser coisa do passado. Mas de um passado bem mais distante são os atos de violência inqualificável praticados em nome de um Deus, pensávamos.

2015 começou com o ataque islamista (fundamentalista, entenda-se—não islâmico) a Charlie Hebdo, e acabou com os ataques de Paris em novembro. Seguiram-se este ano os ataques no Aeroporto de Bruxelas e mais recentemente em Nice. Novidade não eram—vimos ataques destes ao longo da última década. Mas a insistência em tão curto espaço de tempo operou uma mudança na nossa perspectiva. Um ataque terrorista entristece-nos, preocupa-nos, revolta-nos, mas já não nos surpreende. E isto sim é novidade!

Coisa do passado parece-nos também o apoio crescente à extrema-direita que se alimenta de sentimentos racistas, xenófobos e nacionalistas que aqueles acontecimentos só vieram intensificar. Há quem veja nestes sentimentos a causa do momento histórico que fez toda a Europa estremecer há poucos meses atrás: o Brexit. Houve, convém dizer, argumentos sãos e sérios do lado Leave. Mas o certo é a incerteza que esta decisão inédita trouxe para o futuro do Reino Unido e da União Europeia. Teme-se pela coesão das duas uniões, especialmente desta última com as eleições francesas e alemãs a caminho—dois países onde a extrema-direita tem ganho terreno.

Já na Península Ibérica, a ascensão do outro extremo—à esquerda—lançou Portugal e Espanha em situações sem precedente, ainda que diferentes. Há um ano os dois países atravessavam eleições em simultâneo. Em Portugal o partido de centro-esquerda aliou-se aos partidos da extrema-esquerda formando um governo famosamente apelidado de “gerigonça”. Mas um ano depois, Espanha nem gerigonça tem! Irá a eleições pela terceira vez antes do final deste ano—um recorde!

Novidades eleitorais e referendárias à parte, o que é mais preocupante são as vozes antieuropeístas numa União Europeia instável, incerta e desacreditada. Fora dela ficará certamente a Turquia depois de uma tentativa de golpe de Estado levar o país a dar uma guinada para o autoritarismo desvelado. E pelo meio fica uma crise ainda mais difícil de resolver: a dos refugiados Sírios e de outras partes de um Médio Oriente sem paz à vista. Esta é a mais urgente e desumana das crises que afetam a Europa. É um problema que aprofunda as suas divisões, medos e hesitações, e que a faz questionar-se acerca dos seus valores fundamentais.

Todas estas crises evidenciam uma crise ainda mais profunda: a crise de identidade europeia. Diz-se que a UE é um OPNI (Objeto Político Não Identificado). E este mistério está no cerne da discussão entre e no interior dos seus Estados-membros que ponderam o grau de “união” que querem na União, já para não mencionar se querem continuar a ser parte dela.

Mas crise é sinal de mudança que, não vindo a bem, vem a mal. Estas crises podem parecer inesperadas, mas os sinais estavam à vista para quem os quisesse ver. A liderança europeia, até agora inerte, confronta-se com as questões de fundo que tem evitado. O que virá das crises financeira, de segurança, estrutural, política e humanitária está nas suas mãos. Pode ser que desta crise existencial o velho continente saia esclarecido quanto à sua identidade e direção nesta era globalizada.

Daqui da Europa prometo partilhar com o Vós o que vou percebendo deste novo velho continente.

Até breve,

Ana