Sempre gostei de carnaval, especialmente do nosso carnaval. Desde criança. E quando resolvi que visitaria Veneza em 2007, era o carnaval que eu esperava ver.
Eu tinha 19 anos e era a primeira vez que viajaria sozinha. Tudo foi planejado minuciosamente: começaria em Amsterdam, iria para Paris de trem (uma aventura que será seu próprio post) e de lá seguiria para a Itália, também pelos trilhos, onde visitaria Milão, Verona e Veneza. Sonhava com aquelas gôndolas e aqueles caras maravilhosos remando só pra mim, com uma boina estilosa que ficaria ridícula em qualquer homem não italiano. Parecia um belo plano. Até eu chegar ao país da bota.
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“A bonita, aqui, quis fazer um mochilão pela Europa com um mochilão nas costas. Quando tentei acomodar a bagagem, o barco balançou e eu me estatelei no chão com a mochila ainda presa”
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Cheguei a Veneza de trem, depois de loooongas 13 horas de viagem. Imediatamente, embarquei em um vaporetto, que nada mais é uma espécie de ônibus-barco. Ou barco-ônibus. É um barco. E por mais charmoso que possa parecer, foi um problema logo no início. A bonita, aqui, quis fazer um mochilão pela Europa com um mochilão nas costas. Quando tentei acomodar a bagagem, o barco balançou e eu me estatelei no chão com a mochila ainda presa. Eu parecia uma tartaruga recém pescada, me debatendo no chão de uma embarcação. Foi lindo.
Veneza é cercada e entremeada por água. Deveria ter pensado nisso antes.
Chegando em terra firme, consegui me localizar de maneira rápida. É uma cidade pequena, cheia de charme e onde a melhor maneira de se locomover é a pé. Ou de barco, mas acho que essa parte vocês já entenderam.
Larguei as coisas no hotel e decidi almoçar. Nada de invenção: um sanduíche de prosciutto com tomates e manjericão, e uma bela taça de vinho tinto para iniciar os trabalhos. Depois de alimentada, percorri as ruelas entrecortadas por um vento gélido como se pertencesse àquele lugar. Talvez um dia tenha pertencido. E caminhei até chegar a Piazza San Marco, um lugar absolutamente esplêndido e atrolhado de turistas e pombos. Muitos pombos. O espaço abriga três edifícios principais, a Basílica de São Marcos, o Palácio Ducal de Veneza e o Campanário da Basílica.
Conhecendo Veneza
Comecei pelo principal e, logo que entrei, encontrei um simpático senhor. Não lembro o nome, mas digamos que fosse Paolo. Apresentou-se como professor de historia da arte e, do alto de seus 70 e tantos anos contou-me, em belas palavras, a origem daquelas edificações e das pinturas que adornavam cada uma daquelas paredes. E assim foi em todas as salas, em todos os prédios. Em cada um dos pontos turísticos. Um professor impecável ao longo de três horas. Até que me falou sobre uma igrejinha pouco visitada, que ficava mesmo ao lado de onde estávamos.
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“Juro que me vi amordaçada em um calabouço, pronta para ser esquartejada, implorando em português por minha vida na Itália”
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Paolo muito educado, muito atencioso, novamente contou a história do lugar e sua razão de ser. Um edifício sombrio, com pouca luz e arte gótica. Causou-me estranheza, confesso. Não estava confortável. Paolo viu graça e riu, até que as luzes se apagaram de vez. Juro que me vi amordaçada em um calabouço, pronta para ser esquartejada, implorando em português por minha vida na Itália. Por 30 segundos, achei que ia morrer. Passado esse meio minuto, eu tive certeza. O velho pegou na minha mão e, como se fosse a coisa mais normal do mundo, tentou me beijar. Eu recuei. Ele sorriu. Eu recuei. Fingi que alguém me ligava e corri.
Corri. Corri. Corri. Aí corri mais um pouco. Depois corri mais. Quase nadei.
Foi a primeira vez que fui assediada desse jeito, por um idoso. Confesso que no início, naturalmente, pensei que tivesse dado bandeira. Sabe como é. Mas passados tantos anos é bastante claro que não passava de um predador. Um velho tarado tentando seduzir uma guria de 19 anos. Que bom que não passou disso.
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“Confetes, cores e trajes lindos em uma festa diferente, leve, lúdica e regada a prosecco”
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Mas eu não ia deixar que um senhor descompensado estragasse minha viagem. Afinal, o carnaval estava chegando e aquela cidade era linda demais pra ficar com medo. Comprei uma máscara de porcelana linda, que até hoje adorna minha parede. Coloquei outra sobre meus olhos e, apesar da ironia, vi a mágica acontecer à base de muito brilho. Confetes, cores e trajes lindos em uma festa diferente, leve, lúdica e regada a prosecco. Era frio, mas todos estavam suficientemente quentes com a felicidade. E longe de velhos tarados. Bom carnaval =)
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Lugares para ver
Veneza é uma cidade pequena, para ser aproveitada à pé. Recomendo que seja visitada no inverno, pois o calor italiano, além de intenso, pode atrapalhar o passeio. Isso porque o cheiro do canal, que é bastante poluído, pode incomodar os turistas.
Piazza San Marco
Como deu pra perceber, é o local mais visitado e procurado de Veneza, impossível não passer por lá. É a única praça de Veneza – as outras são os chamados campi. Por séculos, a Praça de São Marcos foi o centro religioso, administrative e cultural da cidade. Tem 170 metros de comprimento e abriga a Basílica , o campanário , as colunas e a Biblioteca Marciana, o Palazzo Ducale, o Procuratie e a Torre do Relógio.
A arquitetura é uma obra-prima que mistura influencias ocidentais e orientais – inclui mosaicos bizantinos esotéricos herdados de Constantinopla além do ícone de Nossa Senhora de Nicopeia. É uma igreja que mescla elementos góticos, românticos e bizantinos. Tem cinco cúpulas e a central mede 43 metros de altura.
A entrada é gratuita, mas existe a possibilidade de reservar um bilhete. É uma boa ideia para evitar filas e, acredita, haverá filas.
Coleção Peggy Guggenheim
É uma das mais importantes coleções de arte moderna do mundo, considerada a mais famosa. Exibe obras de Magritte, Picasso, Kandinsky, Pollock, Ernst, Braque, Dalí, Mondrian, Chagall, Miró entre outros.
Torre do Relógio
Em estilo renascentista, é um ponto de encontro entre venezianos. Antigamente, era a porta de entrada para a antiga Mercerie, que era a rua de compras em Veneza.
Ponte do Rialto
É a ponte mais importante de Veneza e atravessa o Grande Canal. Além da belíssima arquitetura, o entorno é cheio de lojinhas e barraquinhas para comprar souvenirs.
Ponte dos suspiros
É um dos pontos mais importantes e visitados de Veneza Foi construída em pedra de Ístria, no estilo barroco, no início do século XVII. Ela foi construída especificamente para ser uma prisão. Diz a lenda que, antigamente, os prisioneiros atravessavam a ponte e suspiravam.
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Onde ficar
Não vou recomendar hotéis em Veneza porque, honestamente, não lembro onde fiquei. Mas lembro o suficiente para recomendar uma estudada no mapa da cidade. Veneza é uma ilha, mas é possível ficar hospedado no continente, na Comune di Venezia, ou seja, na Região Metropolitana. É mais barato e basta pegar um vaporetto para chegar aos pontos turísticos. Mas se a ideia é ficar na ilha – e eu acho que vale a pena, os preços são mais salgados conforme se aproximam dos pontos turísticos.
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Como se movimentar
A melhor maneira é caminhando, mesmo. É uma cidade pequena e super charmosa. Ou forma é usando os vaporettos. Ainda há as gôndolas, mas é mais uma atração turística que um meio de transporte. E é um passeio caaaaaaro.



