O último pedido do meu irmão mais velho antes de morrer foi que eu levasse uma laranja para ele no hospital. Ele não chegou a comer e eu demorei muito a fazer as pazes com as laranjas. Agora, de vez em quando tem um dia que me dá uma gana de comer uma, como em homenagem a ele. Saboreio, lembro da nossa vida juntos, do churrasco e das comidas deliciosas que ele fazia, dele cantando comigo ou assobiando do jeito mais bonito e melancólico que já ouvi.
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Esses tempos pude colher laranjas, muitas laranjas, e, nossa, como me fez bem
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Enquanto colhia, conversava em silêncio com elas. E com ele. Nós nos divertimos muito nessa colheita, eu tinha muita coisa para contar. E as laranjas também gostaram das minhas histórias.
Distribui as laranjas para muitas pessoas queridas. Algumas viraram geleia. Algumas eu comi. Elas entenderam que não era pessoal, a dona laranjeira já deu os frutos que podia me dar esse ano. Ela vai se cuidar, se fortalecer e quando estiver pronta, se estiver pronta, novos frutos virão. Pensando na laranjeira sem laranjas, penso no assobio do meu irmão, mesmo que ele não esteja mais aqui.
