Pedro Henrique Gomes

Cinema novo

Pedro Henrique Gomes
15 de setembro de 2017

Não há nenhuma dúvida de que vivemos um golpe. O golpe, no entanto, ao que me parece, não foi contra um partido político. Nós fomos os golpeados.

Semana passada a Cinemateca Capitólio exibiu uma mostra que desenhou, para quem ainda não entendeu, que a trágica evolução política brasileira desde o início do século passado tem poucas novidades. Seu roteiro, obscenamente previsível, está talhado na memória visual de filmes como os do Cinema Novo. A mostra Cinema Novo – Brasil em Transe trouxe alguns dos filmes que fizeram parte de uma geração de cineastas e obras que, na atualidade de seus temperamentos políticos, (ainda) falam do nosso tempo – visto que o autoritarismo e o baixo teor democrático que experimentamos até agora nos corroi por dentro e por fora. O enredo se repete primeiro como tragédia.

A mostra exibiu Os Herdeiros, de Cacá Diegues, Terra em Transe, de Glauber Rocha, O Desafio, de Paulo Cesar Saraceni, Quem é Beta?, de Nelson Pereira dos Santos, Desesperato, de Sergio Bernardes Filho, O Bravo Guerreiro, de Gustavo Dahl, e Cinema Novo, de Eryk Rocha.

Teve de tudo. O poder político enredado ao econômico, a concentração da riqueza nacional, financeira ou não, as arapucas políticas, as sabotagens, os crimes, os golpes de Estado, a miséria dos populares, o populismo, a violência, as ditaduras, a tropicália, a Bossa Nova, as utopias, as desilusões, em suma, o sangue, o suor e as lágrimas. Para entender o cinema brasileiro e o Brasil precisamos passar por estes filmes, no que eles têm de envelhecido e de atual, na sistematização e no rigor formal das ideias de Glauber (como bom eisensteiniano) e na alegoria de Nelson Pereira.

Passadas décadas, ainda não aprendemos.

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Em cartaz, também na Cinemateca, está Coração de Cachorro da Laurie Anderson – que vale todas as nossas atenções. Publico hoje ainda as minhas impressões sobre o filme.