Samir Oliveira

Crivella, essa parada é nossa!

Samir Oliveira
11 de maio de 2017

O prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella, do PRB, quer acabar com a Parada do Orgulho LGBT na cidade. Um evento que existe há 22 anos e que, em 2016, levou 600 mil pessoas às ruas. Trata-se do terceiro maior evento municipal, com um impacto estimado em R$ 470 milhões na economia da cidade.

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Mesmo que não trouxesse impacto econômico nenhum, é um evento necessário, pois sua dimensão é política, pedagógica e de resistência

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É uma atividade festiva e de luta por direitos. Um dia em que LGBTs podem sair às ruas e demonstrar seus afetos sem medo. Ser quem são de forma plena e livre. Celebrar o orgulho e combater o preconceito. Não é pouca coisa em um país onde um LGBT é assassinado a cada 26 horas.

No primeiro ano de sua gestão, Crivella já disse que não irá destinar recursos públicos à Parada. Um ataque sem precedentes à população LGBT. Utiliza o argumento dos recursos públicos como cortina de fumaça para esconder a homofobia da atual administração. Isso não tem nada a ver com disponibilidade de verbas. É uma decisão política e ideológica de um governo liderado por um bispo licenciado da Igreja Universal. Um sujeito que já declarou que a homossexualidade é um “mal terrível” e que já sugeriu que gays são fruto de uma tentativa de aborto mal sucedida. Mais uma prova de que, no Brasil, o Estado laico existe apenas na letra morta da Constituição. Fosse o contrário, o prefeito deixaria seus dogmas religiosos de lado ao tratar de políticas públicas.

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Além de cortar verbas, o prefeito quer modificar a forma como a Parada é feita. Organizada há 22 anos pela ONG Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT, a Parada envolve dezenas de entidades em sua realização

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É um evento autônomo do movimento social, feito pelas mãos de militantes LGBTs e apoiadores da causa. Mas Crivella quer retirar as entidades que lutam por nossos direitos da jogada. A prefeitura quer fazer uma licitação para organização da Parada. Parece uma piada de mal gosto. Como se fosse um evento que pudesse ser organizado por uma produtora, por agentes externos à causa LGBT. Como se a Parada não fosse a expressão legítima dos anseios, desejos e inspirações da população LGBT.

Os defensores do prefeito argumentam que Crivella não vai acabar com a Parada, apenas vai retirar os recursos que a prefeitura injeta no evento. “Que busquem patrocínio na iniciativa privada”, dizem. Como se fosse simples. Como se existissem milhares de empresas dispostas a apoiar a causa LGBT sem transformar nosso dia de luta em uma espécie de estande de venda de seus produtos. Ou pior: como se não fosse obrigação do poder público investir em cultura, turismo e apoiar um movimento que luta por igualdade e direitos civis. Na prática, o corte de verbas do município inviabiliza um evento que requer estrutura de segurança, trios elétricos, banheiros químicos e placas de sinalização para mais de 500 mil pessoas.

Felizmente, há resistência. Os movimentos sociais que lidam com a causa LGBT no Rio de Janeiro estão muito mobilizados. O vereador David Miranda, filiado ao PSOL e único parlamentar assumidamente gay da cidade, articula um abaixo assinado para pressionar o prefeito. A campanha “Essa parada é nossa” está a todo vapor. Precisamos mostrar ao Crivella que o amor é maior que o ódio. Que sua política de ataque aos nossos direitos vai fracassar, pois nós somos muitos e não estamos sozinhos. Clique aqui e apoie o abaixo assinado!

Foto: Fernanda Piccolo.